Seija Musou | The Great Cleric Vol 03
– Arco 4: O Curandeiro Que Mudou o Mundo –
Capítulo 05 [Artesãos Lendários]



 Chegamos à forja, e uma multidão de funcionários veio nos receber com reverências. Não para mim, mas para Grand e Trett. A chegada de figuras tão ilustres tinha transformado a oficina em um verdadeiro alvoroço. Aqueles homens não eram meros artesãos—eram superestrelas no ofício.

Virei-me para Catherine.

— Eles são tão famosos assim?

Para mim, pareciam apenas um anão rabugento e um homem-raposa esquisito, mas, para ser justo, eu nunca tinha conhecido outros da espécie. Não tinha referências para confirmar minhas suspeitas.

— Você achou que eu estava brincando? — ela perguntou. — Eles são extremamente famosos. Grand é o mestre do Sindicato do Comércio em Rockford, um paraíso para artesãos e ferreiros, e também um dos maiores ferreiros que você vai encontrar.

E um dos mais agarrados também, pensei.

— Por que alguém como ele está fazendo pessoalmente o meu equipamento?

— Agradeça a Sua Santidade por isso. Grand ficou muito satisfeito ao ver que o trabalho dele pode levar um curandeiro através de um labirinto.

— Não posso ser o primeiro a ter feito isso. — Ou eu era o primeiro curandeiro a usar o equipamento dele ou Grand tinha problemas de memória.

Catherine sorriu e fez um sinal com a cabeça para o anão.

— Pergunte a ele mesmo. Agora, sobre Trett, ele não é só um mestre artífice. Toda a sua família vem de uma linhagem de alfaiates renomados. Ele é um dos únicos cinco no mundo capazes de fazer aquele travesseiro de anjo que você tem.

— Sério?! Ele faz aqueles travesseiros? Não acho que conseguiria dormir sem um agora! Ah, foi mal. Acho que me empolguei um pouco.

Infelizmente para Grand, Trett acabou de me conquistar. Fiquei curioso para saber que outras maravilhas ele poderia fabricar para um bom sono.

— Eu entendo perfeitamente. Eu também uso um. São incríveis, não são?

— Com certeza. Não me diga que ele tem mais truques desses na manga.

— Ouvi dizer que ele tem um conjunto de habilidades bem diversificado, mas boa sorte para conseguir um horário com ele, considerando a quantidade de clientes que tem ao redor do mundo. Você é um sujeito de sorte, Luciel.

Era tudo obra do Senhor Sorte. Tudo parecia conspirar a meu favor graças a ele. Ultimamente, eu tinha começado a duvidar de sua presença, mas agora sabia que devia ser apenas um tipo de amor severo. Não podia depender do bom Monsieur para tudo, ou um dia minha sorte acabaria me dando o troco.

— Cara, tem gente talentosa por toda parte.

— Você é um deles, sabia? Devia confiar mais em si mesmo.

Só de pensar nisso, um arrepio percorreu minha espinha. Monstros mortos-vivos eu conseguia enfrentar. Pessoas? Nem tanto. Catherine me dava muito mais crédito do que eu merecia. De alguma forma, isso me tranquilizava.

— Olha, eu ainda morro de medo de lutar. Sou só um cara comum com um talento para magia sagrada — falei. — Nada de especial.

— Não sei se um cara comum conseguiria conquistar um labirinto.

— Tudo o que eu quero é levar uma vida tranquila. Só isso, por favor.

— Então faça isso. — Catherine sorriu. Meu desejo não podia ser tão impossível assim.

— Eu vou.

A agitação em torno de Grand e Trett finalmente se acalmou, e os dois começaram a tirar minhas medidas.

— Abaixa a espada devagar — Grand instruiu —, como você sempre faz.

— Assim?

— Para. Segura aí.

Grand fez algumas medições enquanto eu segurava a posição e depois analisou meu alcance de movimento para ajustar o equipamento perfeitamente. Em seguida, precisávamos decidir onde tecer o círculo mágico para obter o máximo de efeito. Depois disso, me colocaram em alguns testes e ajustaram as anotações conforme necessário. No geral, o processo foi tranquilo. Mas que ingenuidade minha pensar que isso significava que sairia rápido dali.

Repeti os movimentos que me mandavam fazer inúmeras vezes, enquanto verificavam e reavaliavam cada detalhe, até o ponto em que comecei a me sentir como um golem sem cérebro. Só fui liberado quando já estava no meu limite. Eu nunca teria conseguido aguentar aquilo até o fim se não fosse a sinceridade nos olhos deles, que refletiam a paixão que tinham até pelos aspectos mais triviais do trabalho.

— Bem-vindo de volta — Catherine disse. — Você estava começando a parecer meio vazio depois de um tempo, mas conseguiu superar.

— É bom poder me mexer livremente de novo — brinquei. — Eita, já escureceu. Preciso mesmo ir embora.

Não era como se houvesse um toque de recolher, e eu era um adulto que podia vagar pela noite à vontade, mas tinha deixado meu time esperando por mais tempo do que planejava. Eles provavelmente estavam sentados, esperando alguma notícia minha.

No entanto, o ferreiro anão, que acabara de terminar o trabalho, tinha outra ideia em mente.

— Agora não vem estragar a diversão. Vamos beber, e você vai me contar que tipo de arma gosta.

— Oh-ho, essa é uma ótima ideia — Trett acrescentou. — Jovens sempre têm tantos sonhos. Adoraria ouvir suas ideias. Nos acompanha, Cattleya?

— Eu? Ah, tudo bem. Mas só por um tempinho — ela respondeu, fingindo (muito mal) relutância.

E lá fomos nós noite adentro, com os dois velhos me flanqueando com seus apertos de ferro mais uma vez.

Chegamos a um bar-restaurante pequeno e acolhedor.

— Nossa, que lugar aconchegante — comentei.

— Isso mesmo — Grand sorriu. — É o único lugar na cidade onde você vai me ver bebendo.

Achei um pouco exagerado. O ferreiro devia ter alguma história com aquele lugar.

— Tem algo especial aqui?

— Especial? Foi aqui que eu me tornei ferreiro.

— Você nem sempre foi um? Seu primeiro objetivo era ser cozinheiro?

Ele caiu na gargalhada.

— Não, sem fornos pra mim. Pelo menos, não os de cozinhar. Naquela época, eu era só um ferreiro novato, mal conseguia segurar um martelo. Mal ganhava dinheiro suficiente pra comer. Mas o velho que administrava esse lugar continuava comprando minhas facas, aquelas porcarias malfeitas.

— Parece um sujeito excêntrico.

— Isso ele era. Comprava e comprava meu trabalho malfeito como se fosse o maior prazer da vida dele. Então um dia perguntei o motivo, e sabe o que ele me disse?

— Pelo futuro da arte? Porque ainda eram utilizáveis? — Não faço a menor ideia.

— Por quê, eu tenho o privilégio de usar facas feitas pelas mãos do futuro maior ferreiro do mundo. Mas ainda assim, adoraria ver um trabalho que você realmente tenha paixão em fazer", ele disse. Não consegui nem olhar nos olhos dele de tanta vergonha. O jeito que ele sorriu para mim… Foi ali que jurei que nunca mais deixaria uma peça de metal medíocre sair da minha forja.

Eu conseguia entender por que Grand se sentia tão grato a esse homem. Era preciso alguém especial para te motivar a ser não apenas o melhor, mas o melhor que você, especificamente, poderia ser.

— Isso é incrível. O que será que chamou a atenção dele?

— Porque eu nunca escondi o quão ruins eram minhas facas. Me considero sortudo por ter conhecido esse cara.

A honestidade de Grand ressoou comigo. Se conhecer esses dois malucos era algo bom ou ruim, dependia inteiramente de mim e do que eu faria com isso. Talvez fosse algo especial, mas guardei esses pensamentos para mim.

— Estou ansioso para ver o que vocês dois vão criar com esses materiais.

— E pode esperar mesmo! Vamos forjar peças dignas de lenda com esses materiais. Cadê o seu copo? Precisamos brindar!

— Ah, desculpa, mas eu prometi ao meu mestre que minha primeira bebida seria com ele. Ele é o mestre da Guilda dos Aventureiros em Merratoni.

Grand me encarou fixamente por alguns segundos antes de cair na gargalhada.

— Tomar um gole com o mestre nos dias de hoje? Gostei de você, moleque! Certo, você bebe com ele primeiro, mas depois é a minha vez. Vamos fazer isso na próxima vez que precisar consertar seu equipamento.

— Nossa, que tal dividir um pouco dessa diversão?— Trett reclamou.

— Eu adoraria me juntar, se tiver espaço,— Catherine acrescentou.

Com a adição de um Trett sóbrio (mas nem por isso menos barulhento) e Catherine, a atmosfera aconchegante foi para o ralo. A sobriedade deles não durou muito, e os bêbados passaram a noite inteira me dando tapas nas costas com entusiasmo. Muitas magias de Cura seriam usadas naquela noite.


Tradução: Carpeado
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