— Meu Krai Babyyyyy! Liz chamou.

— Você está sempre tão animada,— eu disse.

Ela se jogou em meus braços, e como sempre, eu a segurei. Nossas bochechas se tocaram, e ela esfregou sua pele quente e macia contra a minha. Ela exalava um cheiro levemente doce e agradável. Eu provavelmente conseguiria identificar a Liz só pelo seu perfume.

Não havia excesso de gordura nos braços e nas pernas de Liz, e ela parecia flexível como uma fera selvagem, mas quando estava tão perto de mim que eu conseguia ouvir as batidas do seu coração, seu corpo era macio ao toque. Estiquei a mão e acariciei sua cabeça. Ela soltou um grito de êxtase enquanto enterrava o rosto no meu pescoço.

Liz Smart adorava ser afetuosa. Sitri também não parecia odiar isso, mas Liz se jogava em mim sempre que tinha uma chance. Às vezes, ela tentava me abraçar mesmo sem motivo. Os outros membros geralmente estavam ausentes e ocupados com seus treinos, então, desde os velhos tempos, era meu papel pegar seus abraços. Ela esfregava o nariz contra mim e passava os lábios no meu pescoço. Como resposta ao seu carinho apaixonado, eu envolvi meus braços em torno de suas costas e a apertei com força. O toque de Liz se tornava cada vez mais intenso, e embora eu estivesse nervoso com isso no começo, eu já tinha me acostumado. Agora, eu ficava apenas um pouco nervoso. Embora isso fosse raro, eu sempre me certificava de dizer a ela para não se grudar em mim quando estivesse nua. Ela não tinha modéstia.

— Vamos lá, Krai Baby. Vamos continuar, — ela reclamou. — A gente pode, né? Por favor?

Tino, que estava atrás, colocou a mão sobre a boca de Liz, com as bochechas vermelhas enquanto observava sua mestre se esfregar contra mim.

— L-Lizzy, você não pode ser tão sem vergonha… —Tino disse.

— Mmm….— Liz murmurou docemente. As palavras da sua aprendiz pareciam não ter efeito.

— Ela deve estar cansada ultimamente,— eu disse. — Isso não é vergonha, é apenas uma maneira eficaz de cuidar da saúde mental dela.

— É isso? —Tino perguntou. — Nunca ouvi falar disso antes.

— Mas é a verdade. Está escrito em livros também, sabia? Tenho certeza de que ela vai fazer essas coisas com o namorado dela quando tiver, mas até lá, vou ser eu a abraçar a Liz.

— Eu... Eu não acho que ela vai ter um namorado nunca...

Liz, sua aprendiz está sendo bem rude. Embora fosse verdade que Liz era violenta e impaciente, ela também tinha muitos pontos bons. Sentindo pena dela, eu desamarrei o laço que prendia seu cabelo e passei as mãos pelas suas belas madeixas loiro morango. Embora estivesse sempre em combate, o cabelo dela era sedoso e suave, e meus dedos não se prendiam em nenhum nó. Liz adorava quando alguém penteava seu cabelo. Só de tocar sua cabeça ela tremia e me apertava ainda mais forte. Eu poderia ter penteado o cabelo dela direitinho se tivesse as ferramentas certas, mas por enquanto, ela tinha que se contentar com os meus dedos.

Liz começou a se grudar em mim quando tinha dez anos. Ela havia decidido se tornar uma caçadora e começado seu treinamento. Naquela época, nossas capacidades físicas eram praticamente as mesmas, e não havia uma diferença notável de talento. Cada um de nós encontrou um mestre para estudar e começamos a treinar. Dentro do nosso grupo, o mestre de Liz era o mais rigoroso no que dizia respeito ao treinamento.

Nossa cidade natal era pequena, e a pessoa de quem ela se tornou aprendiz não era de nível alto, mas seu mestre lhe deu um treinamento absurdamente difícil e severo. Não se poderia imaginar uma criança passando por tudo isso. O pior de tudo era que esse método implacável não era feito por amor—não, o treinamento de Liz era simplesmente desnecessariamente duro. Liz nem sequer foi ensinada nas técnicas para se tornar uma Ladina. Do amanhecer ao anoitecer, ela corria, treinava os músculos e era forçada a fazer batalhas simuladas. Quando chegava em casa após seu dia, eu não aguentava vê-la tão exausta.

Comparado ao regime ridículo que ela tinha que enfrentar, o treinamento que ela dava a Tino era cheio de afeto. Eu tentei parar Liz várias vezes. O regime diário dela era absurdo, não importava como fosse visto. Nenhuma criança deveria ser forçada a sofrer assim. No entanto, a obstinada Liz não escutou minhas palavras e continuou.

Foi então que percebi que todos estavam olhando apenas para o futuro. A única pessoa com tempo livre era eu—tinha sido expulso dos portões por todas as pessoas a quem fui e me disseram que eu não tinha talento. Eu era a única pessoa com tempo livre inútil. E então, rapidamente procurei o que poderia fazer.

Encontrei um único livro. Ele listava métodos para acalmar e acalentar a mente e a alma; parecia simples o suficiente para que eu pudesse seguir os passos. Eu ainda me lembrava da primeira vez em que abracei o corpo cansado de Liz. Ela chorou. Estava tão cansada que mal conseguia dar outro passo, e as lágrimas caíam dos seus olhos enquanto ela correspondia ao meu abraço.

Desde então, Liz adorava se esfregar nas pessoas. Ela não desistiu. Continuou a passar por um treinamento severo, e passou a ser uma rotina diária abraçar seu corpo exausto. Seu mestre inútil só sabia como cansá-la e não ensinou uma única técnica a Liz, mas ela rapidamente superou o mestre péssimo em um ano. Na verdade, ela quase matou seu mestre em uma batalha simulada e logo foi transferida para um novo. A única coisa que aprendeu de seu mestre antigo foi a ser implacável, e isso foi exatamente o que os fez sofrer até quase morrer. Eu só conseguia encontrar ironia nessa situação.

Era raro ela ficar extremamente cansada nesses dias, mas ela ainda gostava de ser afetuosa. Isso fez com que uma pessoa sem talento como eu interpretasse a situação de forma errada e se apegasse à falsa crença de que até eu poderia fazer algo que valesse a pena. Por isso, trabalhei duro assim que Luke me fez o líder. Eu deveria ter apenas seguido o manual e não ter ideias engraçadas. O mundo é um lugar difícil... Mas, como isso acabou favorecendo a Liz, eu não tinha muito o que reclamar.

Liz não parecia nem um pouco brava quando brinquei com o cabelo dela. Suas bochechas estavam coradas e ela me deu um sorriso largo. Para mim, ela era uma dama com força sobre-humana, mas não estava me apertando até a morte. Havia vários casos de caçadores poderosos acidentalmente exercendo força demais e machucando seus parceiros normais, mas nosso abraço também era uma maneira de Liz controlar sua força. Ou pelo menos foi o que o livro me disse.

— Krai Baby... Vai, continua, manda ver...

— Tem mais disso?! — gritou Tino.

— O truque é acariciar a cabeça dela com muito amor — respondi. — Faz isso quando eu não estiver aqui, ok, Tino?

— Não tem como eu fazer isso! Uh... Mestre?

Levantei Liz, com os braços dela ainda ao meu redor, e me deitei no sofá, virado para o teto. Os olhos úmidos de Liz estavam fixos em mim. Afastei a franja dela, e ela pegou minhas palmas, encostando a bochecha nas minhas mãos.

— Porque ela é orgulhosa e tem autocontrole, você tem que elogiá-la bem — expliquei para uma Tino atônita, que assistia em silêncio. — Olha, quando ela me mostra a barriguinha assim, significa que está demonstrando carinho.

Apontei para a barriguinha suave e exposta de Liz. Ela estava com um bronzeado bonito, o que a fazia parecer ainda mais atraente.

— Mestre... Hum, que livro você leu? — Tino perguntou com cautela.

— Hmm? Acho que era o volume 2 de The One Who Traverses Paradise — respondi.

— M-Mestre, isso é só um romance. E por que você leu só o volume 2?

— Foi o único volume que estava à venda. E, além disso, dá pra aprender muito com romances.

Era um romance de aventura onde o personagem principal era um caçador. Eu sabia que era uma obra de ficção, mas estava repleta de provações e crescimento, e aprendi bastante com o livro. Eu adorava lê-lo, mas à medida que fiquei mais ocupado, só consegui ler o segundo volume. Algumas das estratégias falsas que contei para o Luke estavam baseadas naquele livro.

— Eu especialmente achei que o vínculo de confiança entre o personagem principal e seu parceiro era ideal — disse. — Posso te emprestar o livro da próxima vez, mas só tenho o volume 2.

— N-Não, obrigada — respondeu Tino. — Na verdade, eu tenho os livros e li a série toda. Hum, sobre o parceiro...

Olhei para ela surpreso. Parecia uma grande coincidência Tino saber sobre a série; ela foi escrita há mais de uma década. Olhei para a barriga exposta de Liz e passei a mão na pele suave e macia dela. Ela soltou um grito agudo e se contorceu, mas era evidente que gostou. O romance dizia que os sinais do parceiro não deviam ser ignorados. Liz estava de bom humor hoje, e dei um aceno firme de satisfação antes de passar para o próximo passo. Tirei da gaveta da mesa um bumerangue feito de osso.

— Er, Mestre... — Tino disse delicadamente. — O parceiro do personagem principal em The One Who Traverses Paradise é Reanne. E, se minha memória não me engana, e eu posso estar errada, quer dizer, não seria a Reanne uma loba?

— O quê? — perguntei.

Fiquei chocado ao ouvir aquelas palavras e o bumerangue escorregou da minha mão. Liz arfou feliz enquanto saltava para frente e pegava o brinquedo, exibindo suas habilidades de reação incríveis.

— Krai Baby, eu não entendo esse treinamento de jeito nenhum — fez biquinho, rodopiando o bumerangue no dedo. — Não gosto disso. Talvez tivesse sido útil no passado, mas minha agilidade já é muito boa, não é? Eu sinto que isso não vai me ajudar em nada. Eu preferia que você me acariciasse mais.

Ao contrário dos romances, Liz, como de costume, não gostava de brincar de buscar. Espera, uma loba? Sério? Isso não pode ser...

— Mas aquela loba falava — insisti.

— Er, eu tenho quase certeza de que o personagem principal tinha a habilidade especial de entender as palavras da loba... — respondeu Tino, com os olhos voltados para baixo.

Desviei o olhar e virei para Liz, que me olhava com os olhos úmidos. Sério? Quer dizer, sim, havia menções de uma cauda abanando, mas eu simplesmente pensei que a loba fosse um ser humano, tipo uma menina meio besta ou algo assim. Tenho certeza de que o volume 2 não dizia claramente que ela era uma loba, e ela era mais forte que o parceiro e bastante inteligente.

— É uma história de aventura entre uma loba fêmea muito inteligente e grande e um garoto que pode entender as palavras da loba, não é? — perguntou Tino.

Agora que ela mencionou... havia algumas coisas estranhas acontecendo. A Reanne frequentemente lambia o rosto do personagem principal sempre que se abraçavam, e havia vezes em que ele a carregava. Durante a cena do banho, todo o corpo dela era esfregado com cuidado, e ela era usada como travesseiro quando eles dormiam. Eu até pensei que eles estavam um pouco próximos demais, mas simplesmente imaginei que caçadores fossem assim. Eu me enganei. Acho que o personagem principal não parecia nem um pouco nervoso ou envergonhado de estar com seu parceiro porque ele era um cara profundo.

Espera, sério? Uma loba? Então meus gestos de carinho por Liz nos últimos cinco anos foram algo direcionado a uma loba?! Sério?! Uau, eu sou um completo idiota! Liz se levantou e esfregou o corpo contra o meu. Eu a abracei e dei tapinhas na cabeça dela. O brilho no seu pelo é esplêndido!

— Eu-eu sabia disso, claro — gaguejei. — Eu só estava testando você, Tino.

— R-Right, claro! — respondeu Tino. — Você me surpreendeu por um momento! Mas não pensei que você tivesse lido minha série favorita. A Reanne é tão boa e absolutamente adorável! Eu entendo por que ela é a parceira ideal! E o personagem principal a vê como uma pessoa, mesmo ela sendo uma loba.

— Mhmm, sim... a Reanne realmente é tão fofa... mesmo sendo uma loba.

Sempre achei que Liz fosse uma criança mais travessa que a Reanne. Oh meu Deus, o que eu faço? Para esconder meu pânico, imitei o que li no livro e comecei a coçar atrás das orelhas de Liz.

— Krai Baby — ela sussurrou no meu ouvido. — Vamos continuar isso na banheira, hmm? Já faz um tempo, então você poderia lavar minhas costas? Por favor?

— Você pode fazer isso sozinha, não pode? — respondi. — Deveria ser mais modesta. Não é como se você fosse uma loba, afinal.