I Parry Everything: What Do You Mean I’m the Strongest? I’m Not Even an
Adventurer Yet!
Volume 01 — Capítulo 09
[A Câmara de Audiências
e a Lâmina Negra]
O pai de Lynne se levantou de sua imponente cadeira no topo do estrado e caminhou lentamente até mim. Ele havia dito que eu era mais jovem do que esperava, mas, para mim, a surpresa foi o contrário. Talvez ele apenas parecesse mais velho do que imaginei por conta de sua postura digna e imponente.
— Preciso avisar — disse eu, hesitando por um instante. — Não venho de uma família nobre nem nada do tipo. Não faço ideia de quais são os bons modos que devo usar aqui, então posso acabar fazendo algo rude sem querer. Tudo bem para você?
Etiqueta era um conceito completamente estranho para mim, então achei melhor me prevenir. No entanto, assim que falei, notei a sobrancelha de Ines se contrair — embora ela tenha permanecido ajoelhada ao meu lado. Será que eu disse algo errado? Eu realmente não fazia ideia. Isso tudo seria muito mais fácil se simplesmente me dissessem quando eu errasse...
— Ha ha! — O pai de Lynne riu. — Não me importo nem um pouco. Podemos deixar essa preocupação com etiqueta para os nobres e sua turma. Para falar a verdade, as coisas vão ser bem mais fáceis desse jeito.
— É mesmo? — respondi. — Bom saber. Valeu.
O pai de Lynne parou descontraidamente bem à minha frente.
— Oh, não há necessidade de agradecer. Cortesias à parte, sou eu quem deve lhe agradecer.
Ele pegou minha mão com as duas dele — notei de imediato como eram enrugadas e marcadas por cicatrizes — e então abaixou a cabeça em uma reverência profunda.
— Permita-me agradecer como se deve. Se não fossem suas ações hoje, minha filha não estaria mais entre nós. Nenhuma gratidão será suficiente para retribuir o que fez, mas, do fundo do coração, lhe digo isto: muito obrigado. De verdade.
Eu podia não saber nada sobre a etiqueta da nobreza, mas a sinceridade em suas palavras e gestos falavam por si só.
— Tudo bem — respondi. — Não foi nada. Suas palavras já são mais que o suficiente.
Diante disso, o pai de Lynne me lançou um aceno satisfeito. Eu havia aceitado a gratidão deles com sucesso. Muito bem, eu. Olhei para Lynne, querendo saber se já podia ir embora, mas—
— Ainda assim — disse o pai de Lynne —, não posso deixar alguém a quem devo tanto partir de mãos vazias. Seja dinheiro, terras ou um palácio, diga qual é sua recompensa, e eu farei tudo ao meu alcance para concedê-la. Então, qual é o seu desejo?
De alguma forma, acabei preso em uma repetição do que havia acontecido com Lynne antes. Isso era algum tipo de tradição da família? Estava começando a perceber que eles provavelmente não iam me deixar sair sem aceitar alguma coisa.
Ainda assim, eu só tinha um desejo: ficar mais forte, aprender habilidades por conta própria e partir em aventuras como um aventureiro de verdade. Meu caminho para alcançar isso ainda era longo e árduo, mas, no mínimo, era algo que dinheiro não poderia comprar.
— Não tenho nenhum desejo desse tipo — respondi. — Desculpe, mas não quero recompensa.
— Entendo — disse o pai de Lynne. — Então você não deseja terras nem dinheiro...
Ele fez uma pausa, parecendo refletir por um momento, e então disse:
— Que tal tesouros? Como deve saber, nosso país possui a masmorra mais antiga do mundo e, dentro do tesouro da nossa família, há todo tipo de raridade que se possa imaginar, recuperada de suas profundezas ao longo dos séculos. Há muitos artefatos úteis ali que dinheiro algum pode comprar. Ora, eu até permitiria que pegasse metade de todo o tesouro, se quiser. O que me diz?
— P-Pai?! — exclamou o irmão de Lynne, olhando para o pai com uma expressão de completo choque. — Isso já é exagero demais!
Para ser sincero, a oferta também me deixou um pouco em apuros. Eu não fazia ideia da quantidade de coisas que havia naquele tesouro, mas tinha certeza de que não queria nada daquilo. Provavelmente era tudo inútil para mim de qualquer forma; eu estava mais do que satisfeito com meu estilo de vida atual. Além disso, eu nem tinha onde guardar o que quer que me dessem.
— Não — respondi. — Desculpe, mas também não quero isso.
— Hmm... — O pai de Lynne parecia pensativo. — Então o que você quer? Em vez de eu continuar adivinhando, talvez seja mais rápido se você simplesmente me disser.
— Para ser honesto, não quero uma recompensa grandiosa nem nada do tipo. Seu agradecimento já foi mais do que suficiente para mim.
No fim das contas, tudo que fiz foi tirar Lynne de uma encrenca com uma vaca descontrolada; não foi nada demais. Além disso, com a quantidade de habilidades que ela tinha, eu tinha certeza de que ela conseguiria lidar sozinha. Eu não passava de um tolo ignorante que se meteu onde não foi chamado.
Ainda assim, fiquei surpreso com o forte senso de dever de Lynne e de seu pai. Dava para ver que dinheiro não era problema para eles, mas, por mais rico que alguém fosse, achei um tanto exagerado continuar insistindo em dar presentes para uma pessoa que disse que não queria nada. Mas talvez fosse assim que as coisas funcionavam por aqui.
— Então você não tem desejos materiais? — perguntou o pai de Lynne. — Hmm. O que faremos com isso, então?
Parado no lugar, ele ergueu o olhar para o alto teto da câmara, imerso em pensamentos.
Er... não era só “desejos materiais”; eu genuinamente não queria nada. Ponto.
— Fico me perguntando — murmurou o pai de Lynne, como se falasse consigo mesmo —, que outra coisa seria uma recompensa adequada por salvar a vida de minha filha?
Então, como se tivesse tido uma ideia, ele caminhou de volta para a luxuosa cadeira onde estivera sentado antes e pegou a espada negra e desgastada que estava exposta na parede atrás dela.
— Que tal isto? — perguntou ele ao retornar, colocando a espada em minhas mãos.

— Isso é uma espada... certo? — perguntei.
— É sim. Embora possa não parecer muito.
Agora que eu a segurava e podia vê-la de perto, não tinha certeza se era realmente uma espada. Claro, tinha o formato certo, mas estava terrivelmente gasta e enegrecida por completo, com lascas aqui e ali ao longo das bordas da lâmina. Não parecia capaz de cortar nada — e quanto mais eu a examinava, mais via entalhes e amassados na parte plana da lâmina também. Havia pouquíssimas áreas lisas ao longo de seu tamanho considerável.
Resumindo, era mais um pedaço achatado de metal do que uma espada. Não sabia do que era feita, mas fosse o que fosse, era extremamente pesada; mal consegui me manter de pé quando o pai da Lynne me entregou. Quase parecia que era feita inteiramente de um metal ainda mais denso do que chumbo.
— P-Pai?! Mas essa é a—!
— Qual é o problema, Rein? — o pai de Lynne disse ao filho. — Já me aposentei do serviço ativo, então isso não passa de uma decoração para mim. Não é uma alternativa muito melhor do que deixá-la jogada por aí sem uso?
— M-Mas—!
— Ainda temos aquela réplica que fizemos, não temos? Tenho certeza de que ninguém vai notar se colocarmos ela no lugar. Ines, Gilbert — mantenham isso entre nós. Entendido?
— Como desejar — respondeu Ines.
O lanceiro hesitou por um momento antes de dizer:
— Sim, como quiser.
Enquanto ouvia a conversa deles, encarei o pedaço achatado e enegrecido de metal em minhas mãos e tentei decidir se aquilo realmente era uma espada. Eu poderia mesmo aceitar isso deles...?
— Isso não seria algo realmente importante? — perguntei. — Se for, eu não posso aceitar.
— Oh, não — respondeu o pai de Lynne. — É apenas algo que encontrei durante minhas viagens. Originalmente, não tinha dono; eu simplesmente tomei gosto por ela e a empunhei por um tempo. Só isso.
— Algo que encontrou durante suas viagens...?
— De fato — disse ele. — Para você, isso é apenas um pertence usado meu. Certamente é algo que você estaria disposto a aceitar?
Olhei mais uma vez para a espada negra em minhas mãos. Um presente de segunda mão do pai da Lynne, hein? Quanto mais a examinava, mais áspera e desgastada parecia. Sua lâmina estava tão enegrecida que parecia absorver toda a luz que a tocava, e um pano gasto de um material igualmente escuro estava enrolado no cabo. Sim, “gasta” era a descrição perfeita para essa espada. E, para completar, era tão pesada que meus braços já estavam cansando só de segurá-la.
Dito isso, quando pensei na espada como uma ferramenta para meu treinamento, ela começou a parecer bem mais atraente. Na verdade, com seu peso e formato, provavelmente seria perfeita para trabalhos pesados no canteiro de obras.
— Tudo bem... — disse. — Nesse caso, aceitarei com gratidão.
Só podia supor que o pai da Lynne ficou satisfeito com minha resposta, pois seu rosto marcado por cicatrizes se abriu em um grande sorriso. Estava bem claro que nem ele nem sua filha me deixariam partir sem uma recompensa de algum tipo, e se aceitar essa espada era um compromisso razoável, então eu diria que saí no lucro.
— Que tal testá-la com um golpe? — sugeriu o pai da Lynne.
Parei para considerar a pergunta e então disse:
— Assim? — antes de balançar a espada negra com uma mão. Como eu esperava, era incrivelmente pesada — mas não tanto a ponto de ser impossível de manejar. Graças ao [Aprimoramento Físico], não havia nada com o que me preocupar.
— E então, como se sente? — perguntou ele.
— Pesada — respondi. — Mas eu dou conta.
O pai de Lynne riu.
— Ha ha! Então você consegue manejá-la com uma mão, hein? Sabe, apesar da aparência, essa espada é bem resistente. Já salvou minha vida inúmeras vezes...
Enquanto falava, o olhar do pai da Lynne ficou distante, como se estivesse relembrando o passado. Então a espada era importante para ele, afinal. Comecei a pensar que talvez não devesse tê-la aceitado. Mas, por outro lado, tive a sensação de que tentar devolver algo que eu já tinha aceitado seria um grande erro.
— Nesse caso — disse —, farei questão de usá-la com cuidado.
— Isso me deixaria feliz. — Ele me deu outro sorriso caloroso e então continuou: — Agora, por acaso tenho outro pedido a lhe fazer. Você estaria disposto a treinar minha filha um pouco? As coisas têm estado perigosas ultimamente, sabe. Isso preocupa um pai.
— Eu? — perguntei, surpreso. — Treinar a Lynne?
Era uma proposta inesperada atrás da outra, hein? Considerei a ideia por um instante antes de dar minha resposta.
— Desculpe, mas... acho que não tenho nada para ensinar a ela. Além disso, ela não deveria escolher os próprios instrutores? Não sei nada sobre criar uma criança, mas tenho certeza de que ninguém gosta de um pai intrometido, certo?
— Hah! Verdade!
Eu tinha acabado de recusar o pedido dele, mas o pai da Lynne riu como se eu tivesse contado uma piada. Tive a impressão de que sorrir era algo natural para ele. Em contraste, todos ao nosso redor ficaram tensos — especialmente Ines, que agora me lançava um olhar assustador.
— Eu disse algo errado? — perguntei hesitante.
— Oh, não, de forma alguma — respondeu o pai da Lynne. — Na verdade, não me lembro da última vez que tive uma conversa tão agradável.
— Fico feliz em ouvir isso. Bem, se isso é tudo, posso ir agora?
— Claro. Me desculpe por tê-lo prendido aqui. E mais uma vez, como pai da Lynne, obrigado.
— Não foi nada. De verdade. Na verdade, acho que sou eu quem deveria pedir desculpas por aceitar uma recompensa tão grande.
Apesar de eu realmente não querer nada, acabei saindo dali com algo bastante importante. Mas, no fim das contas, talvez fosse o melhor desfecho. A espada negra estava surrada e desgastada, mas isso só me deixava mais à vontade para aceitá-la. Parecia ser bem resistente, e tive a sensação de que seu peso seria perfeito para o treinamento que eu precisava fazer. Além disso, por ser bem larga, poderia ser útil para limpar calhas. Eu a testaria logo pela manhã.
— Muito bem, então — disse —, é melhor eu ir andando.
Agora que finalmente podia partir, despedi-me de Lynne e dos outros, saí do castelo e fui apressado para minha hospedagem, planejando parar em um banho público no caminho para lavar o suor do dia.
Ou pelo menos, esse era o plano.
— Minhas desculpas, mas preciso falar com você. Venha comigo.
Ines, a vassala da Lynne, me parou antes que eu pudesse escapar. Fiz o que ela pediu e a segui, mas, para ser honesto...
Tive a sensação de que isso não seria nada bom.
Tradução: Carpeado
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