Seija Musou | The Great Cleric Vol 02
– Arco 2: O Labirinto e as Valquírias –
Capítulo 09 [Treino matinal com as Valquírias]



Naquela manhã, logo depois de tomar minha caneca de Substance X, uma batida na porta interrompeu minha prática de Manipulação Mágica.

— Quem é?

— Bom dia. Sou Ripnear, membro do Regimento de Paladinas Valquírias da Lady Lumina. O treinamento começará em breve, então vim buscá-lo.

— Obrigado, só um segundo.

Antes de qualquer coisa, lancei Purificação em mim mesmo para me livrar do cheiro residual de sempre. Segundo o grimório, magia de limpeza era completa e mais eficaz do que qualquer outro método de higiene. Era particularmente útil como enxaguante bucal... e para economizar papel higiênico.

Do outro lado da porta (e consideravelmente mais baixa que meu nível de visão) estava uma garota fofa, com grandes olhos redondos e cabelos loiros e fofos que caíam em ondas. Sua armadura simples contrastava fortemente com sua aparência frágil.

— Obrigado por vir até aqui. Sou Luciel. Prazer em conhecê-la.

— Não precisa agradecer. Apenas estou cumprindo as ordens da Lady Lumina. Curandeiros normalmente não podem entrar no campo de treinamento das paladinas por conta própria. Agora, vamos.

Apesar da maneira digna como falava, eu simplesmente não conseguia vê-la dessa forma. Ela tinha um ar aconchegante e fofo, e seu jeito de falar só reforçava essa impressão, como se estivesse se esforçando para parecer mais séria de propósito.

Segui Ripnear pelo castelo, tentando ao máximo não rir.

— Uau, isso aqui é bem grande.

O campo de treinamento era espaçoso o suficiente para abrigar uma pista de corrida de quatrocentos metros.

— O nosso é bem pequeno comparado aos outros — Ripnear comentou.

— Sério? Tem vários desses por aqui?

— Você chegou. Obrigada, Ripnear. Luciel, venha — Lumina me chamou.

O restante do regimento já estava reunido, e Ripnear correu para se juntar à formação. Eu esperava que um esquadrão de paladinas fosse mais numeroso, mas havia apenas onze delas, incluindo Lumina. E todas eram tão jovens.

— Hmm... só tem mulheres aqui?

— Sim. Isso é um problema?

Lumina e as outras me encararam.

A verdade é que eu não queria bater em uma mulher. Meu mestre era outra história, mas uma cicatriz em uma garota jovem era bem diferente de uma em um cara mais velho.

— Sei que provavelmente todas vocês são mais fortes do que eu, mas não sei se consigo atacar uma mulher.

— Não? Então parece que meu julgamento anterior estava correto. Você é mesmo um ignorante. Perdoe-me, mas nosso tempo é curto. Vamos em frente. Apresente-se.

E era isso. Eu era um ignorante. Será que elas eram tão fortes assim?

— Ah, claro, desculpe. Olá, pessoal, sou Luciel, um curandeiro. Trabalho aqui como exorcista. Queria retomar meu treinamento e a Srta. Lumina gentilmente me deu a oportunidade de treinar com vocês. Farei o possível para não atrapalhar. Obrigado por me receberem.

— Prestem atenção, meninas — Lumina se dirigiu ao time. — Este curandeiro é peculiar. Durante dois anos, ele foi treinado em combate na Guilda dos Aventureiros. Agora, quero que mostrem a ele como uma paladina treina. Sua magia de cura manterá ele de pé. Apresentem-se quando houver oportunidade. Entendido?

— Sim, senhora! — o regimento respondeu em uníssono.

— Ótimo. Como sempre, começaremos com o aquecimento. Depois, passaremos para duelos de um contra um, um contra dois e dois contra três. Preparadas, meninas?

Lumina começou a correr e as outras paladinas a seguiram prontamente.

— Não fique aí parado — Lucy me repreendeu, quebrando meu transe.

— É só uma corridinha — Queena acrescentou.

— Entendido!

Corri no final do grupo.

Por dois anos inteiros, de manhã e à noite, eu corri por horas a fio. Então, correr não era problema. Ou melhor, era o que eu diria se a realidade me permitisse alguma coisa.

— Levante os joelhos, Luciel! Corra com propósito! Sua cura não vai carregar suas pernas! — Lumina gritou ao me ultrapassar junto com as outras paladinas.

Ao contrário do que ela podia pensar, eu estava correndo o máximo que conseguia. Era tudo que eu podia fazer para manter o ar entrando nos meus pulmões. Mas a dura verdade era que, para essas garotas, aquilo não passava de um leve trote.

Neste mundo, a capacidade física era determinada por atributos — isso era um fato. Se você não tivesse os números, não conseguiria. Essa limitação era uma parede intransponível, e eu tinha acabado de me chocar contra ela.

Parecia inútil, como se meu treinamento com Brod não tivesse sido nada além de uma gota no oceano para essas mulheres. Assim como os atributos determinavam as capacidades de alguém, também definiam suas chances de sobrevivência. Era simplesmente assim que as coisas funcionavam.

Mas eu não aceitava isso. Recusava-me a deixar níveis e classes arbitrários decidirem o que eu podia ou não fazer. Então, ignorei esses conceitos, deixei de lado minha relutância em treinar com um regimento de mulheres e foquei no que eu podia fazer naquele momento — treinar com as Valquírias.

Trinta humilhantes minutos depois, após ser ultrapassado mais oito vezes pelas garotas, o trote terminou.

— Formem grupos e comecem os duelos. Luciel, quero ver suas habilidades de perto. Pegue sua lâmina e me ataque com intenção de matar — Lumina ordenou.

— Vocês não usam espadas sem fio para treinar?

— Hmm, não se preocupe, você não vai me ferir — ela sorriu. — Mas suponho que, se conseguir me acertar, eu deva lhe conceder uma cortesia.

Ela não carregava espada nem escudo, e eu sabia que isso não era um insulto a mim. Ela simplesmente era boa demais. Mas para mim, tudo bem.

— Vou provar que atributos não são tudo.

Assumi minha postura com meu estilo característico de espada e lança. Com um grunhido, lancei minha lança para frente e, usando o impulso, girei para desferir um golpe com a espada. Antecipei seu desvio e recuei para dar um chute—

— Está completamente aberto!

Minha visão se embaralhou e, de repente, eu estava vendo estrelas no céu, como quando Brod me jogava.

— Esse é o estilo que você usou na masmorra?

— É...

— Sem nenhuma experiência em combate com duas armas? Sua imprudência me espanta. Fique de pé e prepare-se. Ataque-me usando exatamente as técnicas que aprendeu na Guilda dos Aventureiros.

— Certo.

Me estabilizei e saquei meu escudo, praticamente intocado, assumindo a postura que Brod havia me ensinado. Isso me trouxe lembranças dos dias de treinamento.

— Preste atenção, Luciel; a maioria dos oponentes que você enfrentar será mais forte do que você.

— Ha, provavelmente.

— Não é provavelmente. Pode apostar nisso. Se estiver enfrentando alguém sozinho, nada supera dar o fora, mas o mundo não é só arco-íris e flores.

— Certo.

— Mas tem algo que você tem e que as outras classes de combate não têm.

— Magia de cura?

— Bingo. E agora você já pegou o jeito de conjurar magia em movimento.

— Mais ou menos. Já faz um ano e meio que venho praticando.

— Você não pode vencer alguém mais forte que você, então use a cabeça. Arme armadilhas.

— Armadilhas? Tipo o quê?

— Como fingir que está desprotegido no meio de um feitiço.

— Isso... não parece que vai acabar bem pra mim.

— Normalmente, você usaria o ataque do inimigo contra ele com esse tipo de isca, invertendo a situação. Mas você simplesmente não é bom o suficiente pra tentar isso. Eles contra-atacariam sem esforço.

— Ai... Bom, você não tá errado, mas ainda assim não gosto do rumo disso.

— Você vai levar o golpe por completo e, em seguida, contra-atacar enquanto se cura. Basicamente, essa é a única estratégia que você tem.

— Um ataque suicida? Sabe que se eu errar uma vez, já era pra mim.

— Relaxa. Você vai dominar isso até o fim desses seis meses. Pode contar com isso.

— E-eu não gostei do som disso.

— Pensei que você não queria morrer.

— Você pode me garantir que eu não vou morrer treinando pra não morrer?

— Não vou mirar nos seus pontos vitais. Vamos começar pelos braços e pernas.

— Então, eventualmente, você VAI mirar nos meus pontos vitais?

— Assuma sua posição.

— Espera, Mestre? Pode responder à pergunta primeiro? Mestre!

— Espero que esteja pronto!

— Gyaaahhh!

— Luciel, por que você está chorando? Está sentindo dor? Peço desculpas se fui muito agressiva.

As lembranças trouxeram lágrimas aos meus olhos.

— Ah, não, eu só estava lembrando do meu treinamento (infernal).

— Só posso imaginar o quão (maravilhoso) ele deve ter sido, para te emocionar assim.

— Enfim, estou pronto agora.

Lancei uma Barreira de Ataque e ergui minha espada e escudo.

— Pode começar.

Baixei minha postura e avancei contra ela. Dessa vez, foquei nos fundamentos—minha movimentação—mantendo minha postura firme como uma rocha. Ainda assim, parecia inútil. Eu estava seguindo o manual à risca, mas a diferença entre nossas habilidades era grande demais.

Lumina encontrou uma abertura e atacou as falhas na minha defesa com contra-ataques que eu só conseguia bloquear com meu escudo no último segundo. Respondi com ataques próprios. E assim seguimos, trocando golpes sem resultado. Nada sairia desse treino desse jeito, então resolvi arriscar. Havia uma técnica que eu queria tentar.

Balancei minha espada em um arco largo da esquerda para a direita, deixando meu centro completamente exposto. Essa isca era uma das poucas coisas que Brod já havia elogiado em mim. Segundo ele, minha falta de habilidade fazia parecer menos uma armadilha e mais um erro genuíno.

Lumina caiu na isca.

— Ó santa mão da cura. Ó sopro fecundo da terra. Ouça minha prece. Conceda minha energia em um sopro angelical e cure esta ferida. Cura Avançada l!

Quando meu corpo começou a brilhar, virei minha espada com toda minha força para a esquerda—mas acertei apenas o ar. Lumina havia simplesmente desaparecido.

— Manobra esplêndida!

E então tudo escureceu.

— ...acorda... Ac...rda... Acorda, eu disse!

Uma dor aguda atravessou minha bochecha.

— Aaaiii! — gritei, me levantando num pulo. Lucy e Queena estavam ao meu lado. — Espera, onde eu tô? No campo de treinamento?

— Boa percepção. O treino acabou, então vamos todos comer — disse Lucy.

— Lady Lumina nos deixou encarregadas de você.

— Ah, certo, eu desmaiei. Obrigado por esperarem por mim.

Levantei-me e lancei um Curar na minha bochecha latejante.

— Ela te derrubou bonito, Luciel. Tô até impressionada.

— Estou surpresa que ela tenha reconhecido um curandeiro — Queena concordou.

Inclinei a cabeça, confuso.

— De qualquer forma, ainda tem mais treino pela frente. Vamos, hora do café da manhã.

— Melhor nos apressarmos. Somos os últimos.

— Ah, verdade.

As garotas me apressaram até o refeitório.


Tradução: Carpeado
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