Rakuin no Monshou Volume 01 — O Dragão Ruge para a Estrela do Crepúsculo — Capítulo 06
[Batalha na Fortaleza Zaim]



Depois disso, Mephius e Garbera, que sempre foram inimigos mortais, ficaram completamente desalinhados e só conseguiram encarar a fortaleza de Zaim à sua frente.

Passados cerca de cinco dias desde o início da campanha, a desconfiança em relação ao príncipe Gil também aumentou no campo de Mephius. Havia rumores de que ele não interferia nos planos de Ryucown porque queria conquistar os sentimentos de sua futura esposa, a princesa Vileena.

Mas como não havia nenhum desenvolvimento no assunto, até a própria Vileena sentia como se estivesse pisando em ovos.

Falando sobre o que Orba fazia naquele momento, ele vagava pelo acampamento sempre que tinha a chance. Embora nunca desse ordens importantes para atacar, ficava por aí fazendo pedidos estranhos aqui e ali, e todos no acampamento tinham dificuldade em lidar com eles. Os pedidos iam desde o posicionamento dos guardas até o cardápio do jantar.

Não se afaste muito daqui, alteza. Nunca se sabe onde os soldados de Garbera podem estar escondidos! — gritaram os soldados Mephianos enquanto Orba descia as encostas da área montanhosa. Eles faziam parte do mesmo grupo, então não era milagre que houvesse soldados de Garbera entre eles.

Então, galopando ladeira abaixo, Gowen sussurrou no ouvido de Orba:

— Orba, seja mais cuidadoso.

Gowen e os outros, como guarda-costas pessoais, eram encarados com olhares vazios pelos demais soldados. Aqueles ex-escravos haviam sido nomeados guardas imperiais por um capricho do príncipe. Deixando os nobres de lado, os gladiadores eram alvo natural do ódio e da inveja dos soldados convencidos, que se vangloriavam de arriscar suas vidas a serviço de Mephius.

O outro lado dessa floresta? — Orba perguntou aos aldeões que trouxera consigo, sem se importar.

Eles eram Garberanos, é claro. O fato de quem lhes falava ser o príncipe de Mephius complicava as coisas, mas estar cercados por soldados armados com espadas e armas naquele momento, obviamente, não os deixava com vontade de se opor ou enganá-lo.

Há um rio. O leito é largo, mas, ainda assim, se os soldados do Lorde Ryucown avançarem em grande número por ali, serão vistos facilmente deste acampamento.

Orba ficou na ponta dos pés. No início, só enxergara a paisagem comum de um rio. Mas agora percebeu que, se concentrassem os soldados ali, provavelmente seriam avistados de imediato.

Quais são suas ordens? — Gowen perguntou, mantendo um tom respeitoso diante dos soldados. — Basicamente, será quase impossível preparar uma emboscada contra as forças de Ryucown aqui.

— Se for Ryucown.

Dando sua resposta enigmática, Orba partiu para outro local. Aqui e ali, alguns soldados e oficiais curvavam a cabeça, mas, embora fizessem a saudação perfeita, quase não havia respeito em seus olhos quando viam o "príncipe Gil". Ele até ouviu vozes sussurrando que prefeririam confinar o príncipe Gil e nomear o general Oubary como comandante, se isso significasse evitar que a vitória escapasse de suas mãos.

Deixando os soldados para trás, Orba dirigiu-se aos cercados onde os dragões eram mantidos. Os dragões menores, usados na guerra, estavam todos amontoados ali. Entre eles, viam-se as formas dos dragões médios e grandes do grupo Tarkas. Havia domadores empregados pelo exército, mas Orba chamou Hou Ran, que se tornara membro da Guarda Imperial.

— Orba, já tirou a máscara?

Ahh — um sorriso tenso surgiu em seu rosto devido às palavras diretas de Ran. — Como estão os dragões?

Os filhotes do exército estão sempre de mau humor. Quase todos estão drogados. Não consigo me conformar com isso, Orba. Faça algo com aqueles caras, já que você ficou tão importante.

Parecia que Ran também estava de mau humor. Com "aqueles caras", ela provavelmente se referia aos domadores.

Entendi. Mas mesmo como príncipe é impossível resolver isso agora. Por enquanto, vou garantir que os dragões do Grupo não recebam mais drogas. Estou sendo levado para lá e para cá, mas se os dragões ficarem irritados, terei mais um problema para resolver.

— Óbvio.

Em relação à mudança repentina de ambiente, talvez ela fosse quem mais se adaptara. Esticando a mão entre as grades, acariciou os focinhos dos dragões como sempre fazia, para surpresa dos outros domadores.

Então, enquanto Orba e os outros perambulavam pelo acampamento, depararam-se com um problema surgindo na borda do acampamento, quando o sol já se punha. A pessoa em questão era a princesa Vileena, do Reino de Garbera. A escotilha do hangar do navio de guerra estava aberta. Várias aeronaves velozes de reconhecimento estavam alinhadas, mas Vileena era impedida pelos soldados de embarcar em uma.

Soltem-me! — Vileena disse, corajosa como sempre. — Larguem-me! É inútil tentar me impedir!

Mas, Vossa Alteza. A senhorita é uma convidada aqui em Mephius. Além de protegê-la, não podemos acompanhá-la a lugar algum sem ordens expressas.

Por isso eu disse que irei sozinha! — Vileena retrucou, agitada, quando seus olhos encontraram os de Orba, que se aproximava. — Se querem ordens, por que não perguntam ao príncipe ali?

Tudo bem, recuem — Orba ordenou.

Depois que os soldados se afastaram com olhares insatisfeitos, apenas ele e a princesa ficaram no hangar. Ainda com a mão no assento da aeronave, Vileena lançou-lhe um olhar fugaz. As aeronaves de Mephius eram modeladas principalmente como wyverns, mas, para além disso, quase não havia diferenças em relação aos modelos de Garbera.

O que está tentando fazer? — ele perguntou.

O quê? — a jovem princesa ergueu uma sobrancelha. — Posso fazer uma pergunta de volta? O que você quer fazer, Vossa Alteza? É porque você não faz nada que só me resta agir.

Oh? Está me dizendo que vai se juntar aos seus compatriotas e derramar sangue?

— N-Não é isso! Algo assim…!

Prestes a explodir de raiva, Vileena respirou fundo, não querendo se irritar com seus comentários.

Sem a ajuda de Mephius, as forças de Garbera serão dizimadas. O sangue já foi derramado. Não suporto assistir a isso.

Mesmo se eu atacar, será inútil. Além disso, não posso fazer nada de qualquer maneira.

De repente, ele começou a falar de maneira mais descontraída. Conseguia manter as aparências diante de outros nobres e generais, mas, diante dela, não conseguia disfarçar. Essa princesa era direta demais, e, para ele, ocultar sua origem social inconscientemente lhe dava uma estranha sensação de culpa.

— O que quer dizer?

Quero dizer que Ryucown sabe muito bem que Mephius irá atacá-lo.

Então você armou algum tipo de armadilha? Mas mesmo assim, por que age com tanta indiferença? E se eles tiverem medo e apenas tremerem, sem fazer nada?

As coisas já estão em movimento. Nós os cercamos com a "princesa Vileena" como nossa bandeira. Tenho certeza de que tudo já começou, e logo chegará ao fim. Mesmo que algo ainda aconteça, não mudará a situação atual.

— Isso...

Percebendo o que o príncipe insinuava, Vileena baixou a cabeça. Com o pôr do sol, um leve rubor corou suas bochechas. Como se tivesse engolido novamente todos aqueles sentimentos — raiva, vergonha —, ela ergueu a cabeça.

Reconheço minhas falhas. A verdade é que eu ia me encontrar com Ryucown sozinha, embora saiba que não posso resolver isso por mim mesma. Mas, por isso mesmo, você precisa sair do meu caminho. Se eu puder ao menos fazer minha voz ser ouvida quando falar com Ryucown em pessoa, já que ambos nos consideramos garberanos, talvez seja possível abrir seus olhos para outra conclusão. Algo além de uma morte honrosa em batalha.

Mas, acima de tudo, se perdermos você, provavelmente tudo desmoronará. As mãos que mal se uniram às de Garbera serão cortadas.

Você está certo, eu admito... — Vileena respondeu emburrada.

Seu rosto, bonito como flores no parapeito da janela, logo se distorceu de ódio enquanto mordia os lábios.

Céus... — Orba murmurou mentalmente — Essa princesa tem orgulho e dignidade no que diz, mas por que às vezes parece que estou falando com alguém da vila?

Tendo ganhado vantagem, Orba estava prestes a dispensar a princesa quando:

O fato de você estar tão calmo é um mistério para mim — ela disse. — Amanhã, as forças de Ryucown e Garbera podem se enfrentar novamente. Se isso acontecer, aqueles soldados morrerão em vão. Você é capaz de carregar os sentimentos de todos aqueles homens? Não é você quem odeia ver vidas desperdiçadas em nome da nação e da nobreza?

Sem dúvida, ela dissera aquilo por ironia, mas as palavras perfuraram o coração de Orba como adagas. Ofegante, desta vez foi ele quem baixou a cabeça, envergonhado.

Ela pode ter razão...

Orba não considerara os sentimentos dos soldados em relação à batalha. Era mais importante determinar o resultado do que lamentar os sacrifícios. Era como enxergar uma partida de xadrez. No entanto,

Esse é o pensamento dos nobres que mais odeio.

E, ao mesmo tempo,

Mas acredito que, agora, isso é necessário.

Quando era apenas um garoto de uma vila rural, quando fora forçado a matar como escravo, tanto o ódio quanto a intenção de matar eram reais, mas também era verdade que não poderia vencer se quisesse proteger a vida de cada soldado.

Sob o céu flamejante, como óleo em chamas, Orba ficou paralisado, seu coração ardendo com aquela contradição.

— O que o perturba?

Como ele permanecia em silêncio, claramente em estado de choque, Vileena franziu ligeiramente a testa e mudou o tom.

— Nada... — ele disse.

Mas não é o que parece, sabia?

Orba afastou-se quando a princesa se aproximou.

Não é isso — ele respondeu. — Princesa, se as tropas Mephianas participassem ao lado de Garbera, a batalha seria mais intensa, resultando em pilhas de cadáveres. Todos no exército de Ryucown lutam prontos para morrer. Por isso temos que esperar. Dessa forma, estou pensando nos soldados. Espere... Se eu conseguir a vitória do jeito que planejo...

O final de sua frase dissolveu-se na brisa da tarde e desapareceu. Sem perceber, Orba apertava os punhos com tanta força que os músculos de seus braços se contraíam.

No dia seguinte, ao anoitecer do sexto dia desde o acampamento, a princesa Vileena terminou sua refeição em seu quarto a bordo da nave. Embora fosse irracional pensar assim, considerando-se que estavam em um campo de batalha, ela sentia uma inquietação constante desde o amanhecer até o crepúsculo, passando os dias olhando para o exterior.

Era de se esperar, mas basicamente não tinha com quem conversar, pois não pudera trazer Theresia consigo. Havia pajens Mephianos no acampamento, mas mantinham distância de Vileena a menos que fosse estritamente necessário.

Normalmente, Theresia estava sempre ao seu lado para cuidar rapidamente de tudo. Ela iniciava as manhãs de Vileena dedicando tempo para pentear seus cabelos. Theresia sempre se irritava porque a princesa não era tão diligente quanto ela e nunca conseguia ficar parada, mas aquela era uma rotina desde a infância para Vileena. Acreditava que poderia fazer isso sozinha desta vez, mas a tarefa levou muito tempo naquela manhã e foi puro tédio. Agora ela sabia que, todas as manhãs, Theresia, que tinha pouco tempo livre, sempre se esforçava para preparar diversos assuntos de conversa.

Mesmo estando no solo de sua terra natal, Garbera, sem Theresia ali, era a primeira vez que – mesmo que não admitisse – sentia uma solidão como se tivesse sido abandonada em terras estrangeiras.

Seis dias...

Apenas isso. Mas pareciam seis anos, como se cada segundo a dilacerasse. No dia anterior, as forças de Garberanas tinham atacado a fortaleza novamente e, como sempre, Mephius apenas ofereceu apoio indiferente com bombardeios.

Claro que não apenas Garbera estava insatisfeita, mas vozes também se levantavam no lado mephiano. Vileena sabia que não apenas os oficiais, mas também alguns soldados rasos criticavam o príncipe.

Desperdiçando forças desse jeito, Garbera teria que desistir do apoio de Mephius e pedir mais reforços à capital. E mesmo que as tropas mephianas aumentassem, Ende provavelmente não ousaria invadir território garberano. Considerando isso, parecia ser também o motivo pelo qual o lado garberano evitava criticar Mephius publicamente.

Pois, se isso acontecesse, a guerra só se intensificaria. Como o príncipe dissera, Ryucown não cederia diante da força bruta. No entanto, havia também soldados que se juntaram a ele. E segundo as palavras de um oficial que estivera no acampamento anteontem:

Os familiares daqueles que seguem Ryucown, os muito velhos ou doentes para ir à fortaleza com ele, todos cometeram suicídio.

Ou assim ela ouvira.

Provavelmente não suportaram a humilhação de serem expostos como família traidora, e, se capturados, seriam acorrentados e usados como reféns. Ela se perguntava qual era a verdade. Mas, por isso, os soldados que seguiam Ryucown estavam preparados para tudo. No caso deles, isso só fortalecia seus laços. Continuariam lutando com todas as forças até o último homem cair sob balas.

Vileena levantou-se pela enésima vez naquele dia. Caminhou ao longo da parede do quarto e olhou as cordas que conectavam as aeronaves. Deu alguns passos e então, pela enésima vez, voltou.

Mordeu o lábio inferior. Era um mau hábito que Theresia sempre a repreendia por ter.

Aqueles da realeza não devem revelar seus verdadeiros sentimentos. Quando todos o irritam, ria; quando todos riem, mostre seriedade. Vossa Alteza, seu rosto é o rosto de seu país.”

Ela sabia o que significava. Não podia ser uma princesa rebelde para sempre. Pois, desta vez, suas ações impulsivas poderiam influenciar o país. Sem hesitar, Vileena levantou-se novamente. Embora sua ideia de falar diretamente com Ryucown tivesse sido rejeitada, não podia descartar essa possibilidade. Decidiu encontrar Gil Mephius mais uma vez.

Embora haja rumores de que ele não quer sair do acampamento...

Diziam que em Mephius, esperavam uma batalha fácil, e queriam se livrar deste conflito infrutífero o quanto antes. E a fonte desses rumores não era Garbera, mas vinha do acampamento mephiano. Vários soldados ouviram, vazado pela guarda imperial, que o príncipe temperamental já estava cansado de "brincar de soldado" e queria voltar correndo ao palácio.

Vileena, com a raiva flamejante como sempre, estivera prestes a confrontar Gil e exigir explicações. No entanto, Theresia comentara antes que ainda não podia formar uma opinião sobre ele, e Vileena pensava o mesmo. Acreditava que o motivo de ele não ordenar um ataque não era covardia, mas sim porque não percebia ou não se importava com as críticas ao seu redor.

Ele está pensando em algo.

Na conversa de ontem, Gil fiz um comentário que sugeria isso. O problema era ele. Assim como no caso de Ryucown, se quisesse entender suas verdadeiras intenções, precisaria se aproximar para ver o que havia em seu coração. Se descobrisse esse "algo", e se pudessem trabalhar juntos, seria ótimo.

Isso mesmo. Eu esqueci completamente!

Vileena lembrou-se de sua determinação inicial nesse casamento. Investigar os assuntos internos de Mephius e manipular o príncipe "tolo". Deixou escapar um sorriso sem querer.

Isso mesmo, isso mesmo! O príncipe e eu podemos pensar juntos nisso, e se ele não gostar, eu simplesmente o chutarei até que goste.

Coincidentemente, enquanto se sentia ridicularizando a si mesma, ouviu-se uma batida leve na porta justo quando ela ia se levantar.

— Príncipe Gil?

Sentindo-se pega de surpresa, como se suas intenções tivessem sido expostas, Vileena pronunciou seu nome no impulso. A porta abriu-se e seu rosto corou. Era apenas um pajem buscando sua bandeja. Vileena forçou um sorriso incomum, com as bochechas ardendo de vergonha, e entregou a bandeja com suas próprias mãos.

Então, quando ele curvou a cabeça graciosamente, ela notou que não era o pajem habitual.

— Princesa...

Ao ouvir a tensão em sua voz, um mau pressentimento cruzou seu coração.

Por favor, ouça-me com calma, se desejar — ele sussurrou. — Venho do acampamento garberano. Mas não é porque simplesmente desejo uma audiência…

Foi naquela noite.

Um homem de aparência desleixada entrou no quarto do príncipe Gil. Ele fazia parte da guarda pessoal, mas, para seu pesar, havia se infiltrado no acampamento garberano pouco antes de se encontrar com uma figura importante de Mephius — o gladiador conhecido como Iver.

Rapidamente, chamou Gowen e Shique, que ficaram surpresos ao ver Orba vestindo uma armadura.

O que está acontecendo, Orba?

Você ouviu algo de Iver? Não me diga que o inimigo não é Ryucown, mas o exército Garberano!

Nos últimos dias, eram eles dois que mais se espantavam com as ações insensatas de Orba. Apesar das palavras que ele proferiu a seguir, seu semblante permaneceu indiferente.

Isso mesmo — ele disse, mostrando-lhes algo que segurava na mão. — Eles pretendem nos atacar de uma vez. Apressem-se com os preparativos. Eu levarei nosso presente e darei um jeito nisso.

Uma máscara de ferro, imitando o rosto de um tigre, brilhou opaca sob a luz do quarto.





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◇◇◇


O sol estava quase se pondo .

Um pequeno grupo se aproximou da base da colina onde Mephius havia montado seu acampamento. Havia, é claro, uma vigilância rígida no local, mas eles passaram facilmente pelo portão que ali fora erguido. Apresentaram-se como representantes do acampamento garberano, alegando terem marcado um conselho de guerra com o lado mephiano.

No entanto... o horário combinado era, na verdade, uma hora depois.

Ao atravessarem o portão, observaram cuidadosamente os arredores. Então, no momento preciso, um de seus membros incendiou o depósito de pólvora no sopé da colina.

Em um único instante, a noite tranquila do acampamento foi dilacerada. Uma explosão ensurdecedora ecoou, seguida de labaredas que se alastravam por todos os lados.

Aproveitando o caos que se instalara, como se tivessem cutucado um vespeiro, o som de cavalaria aproximou-se do lado oposto à explosão. Uma das sentinelas, que primeiro percebeu a aproximação da unidade de dragoneiros garberanos, morreu quando as garras de um dragão o rasgaram como papel.

Quase ao mesmo tempo, os portões principais da fortaleza de Zaim rangeram ao se abrir. Um grupo de elite, dragoneiros, cavaleiros e aeronaves, irrompeu com a força de um canhão.

Tinham um único objetivo: a aeronave de comando do exército me ph iano, a   Dhum .

O ataque surpresa deixou Oubary incapaz de reagir adequadamente.

Ativem a propulsão de éter até o nível três imediatamente e elevem-se! Ordenem aos dragoneiros que protejam a nave de comando!

Ele pressentia que enviar um mensageiro por aeronave já seria tarde demais.

Parecia que o príncipe, em meio à emergência, trancara-se em seus aposentos e não sairia. Sem perceber, Oubary rangia os dentes.

— Malditos garberanos!

Ele bateu o punho no painel de controle. A traição dos garberanos e o ataque do exército de Ryucown, é claro, não podiam ser coincidências. A suspeita de que tudo foi planejado desde o início cruzou a mente dos líderes mephianos. Talvez tivessem tentado afastar o exército de Mephius desde o princípio, encenando toda essa rebelião de Ryucown.

Reorganizem as formações de batalha agora mesmo! Ataquem o exército de Ryucown pela frente e as forças garberanas pelo flanco!

Não podemos, general Oubary!

O comandante dos Dragões Alados, Rogue, imediatamente se opôs. Sua armadura estava mal ajustada, provavelmente vestida às pressas — ele certamente acabara de acordar.

Se ficarmos parados, seremos esmagados em um ataque em pinça! É melhor preparar uma retirada imediata e abandonar este acampamento!

Oubary quase gritou com ele, mas conteve-se a tempo. Aquele general, dez anos mais velho, percorrera inúmeros campos de batalha. E ninguém esperava que Oubary, conhecido por sua abordagem de  força bruta , conseguisse lidar com uma situação dessas. Assim como naquela vez no Forte Apta, no sul.

— Merda!

Oubary mordeu os lábios finos, contrariando sua postura habitual. Tudo acontece u justo quando ele ach ou que seria a oportunidade perfeita para se destacar. A culpa era do príncipe e de sua abordagem otimista de  "vamos esperar para ver" . Parecia que teriam que abandonar a fortaleza afinal. E, se assim fosse, seria quase impossível silenciar a facção anti-monarquista de Garbera.

O príncipe ainda não saiu? — Simon invadiu a ponte, gritando, vindo de outro corredor.

Um pajem e seus guarda-costas estão protegendo a porta. Ninguém passa sem a ordem expressa do príncipe.

Ele veio para cá e essa é sua ordem!? — Simon gritou, sem querer, diante do soldado. Parecia um homem completamente diferente de seu eu habitual, imediatamente se arrependeu.

— E a princesa Vileena?

Sim. Vários guarda-costas do príncipe também a escoltam.

Ele fora rápido em preparar tudo. Enquanto suas suspeitas sobre o príncipe aumentavam, ainda era uma emergência. Havia outras prioridades.

Não conseguiram contato com o quartel-general garberano?

No fundo da ponte, Fedom gritava até ficar rouco.

Enviamos uma aeronave há algum tempo, mas ela ainda não retornou.

Whoosh...

Naquele momento, um vento forte sacudiu a nave de comando. Com tudo isso, nem mesmo as formações de batalha puderam ser organizadas. Uma aeronave pequena precisava acumular apenas uma pequena quantidade de éter, mas seu raio de ação cobria, no máximo, alguns quilômetros. Precisavam aumentar a distância deste local o mais rápido possível.

Mas ser ia rápido o suficiente?

Com sua força principal já fora do forte, não conseguiriam mais reagir ao ataque.

A nave, que mal começara a se mover, era alvo de bombas que caíam como chuva. Duas, três vezes — e as pernas de Simon continuavam a tremer.

Enquanto isso, na Fortaleza de Zaim...

No andar superior da fortaleza, havia um salão amplo, cercado por varandas em todos os lados, de onde se podia ver os fogos da guerra consumindo os soldados. Na varanda que dava para o campo de batalha, uma única aeronave estava escondida, preparada para evacuar o comandante caso a fortaleza caísse.

No entanto  ele,  um homem imóvel como uma estátua, com os reflexos das chamas distantes brilhando em seus olhos, não tinha a menor intenção de usá-la. Ela só estava ali porque seus seguidores imploraram, a todo custo, que ele tivesse um meio de fuga.

Vestido armadura e com uma espada pendurada nas costas, ele era alto e, apesar da juventude, emanava uma grandiosidade que mantinha os outros à distância. Permanecia absolutamente imóvel, uma mão no cavanhaque bem aparado, parecendo-se com um daqueles heróis retratados nas pinturas que adornavam os corredores dos castelos.

Ele era  Ryucown , outrora um cavaleiro do Reino de Garbera, general da Segunda Frota Aérea. Um homem que já almejara a glória nacional, mas que agora recebia ódio e desdém de Mephius — e era temido por muitos. Ali, ele observava as chamas que consumiam os frutos de sua estratégia.

Era um ataque surpresa, coordenado com o acampamento garberano. A infiltração de agitadores entre as tropas inimigas dera resultados. Segundo os últimos relatos, um grupo de generais e soldados rebeldes, não mais que cem homens, lançaria um ataque surpresa naquela noite sem lua. O caos também se instalaria no quartel-general garberano. Convencidos de que Mephius estava cercado por inimigos, talvez não conseguissem enviar reforços a tempo.

Primeiro, leia as linhas do inimigo. Depois, trace sua estratégia. Antes de desferir o golpe, certifique-se de que ele será certeiro. Este pode ser o último movimento que você fará.

Foi então que...

— Milorde!

Um soldado adentrou o salão, uniu os calcanhares e inclinou-se em uma respeitosa reverência. Ryucown ainda mantinha o posto de guarda militar, mas desde que liderara um exército de mil seguidores, todos passaram a chamá-lo de  "lord e " . No fim, eram todos camaradas que haviam escapado de inúmeras lâminas e sobrevivido a chuvas de balas juntos.

Muitos deles perderam companheiros ou familiares para Mephius. E, ainda que fosse por causa do talento de Ryucown, isso forjara entre eles um laço inquebrável.

Permita-me parabenizá-lo. Os soldados acabaram de retornar d a nave   Dhum .

— Ah, é mesmo?

Sim. A princesa Vileena também foi trazida em segurança.

O soldado anunciou isso em voz alta, com lágrimas nos olhos. Essa era sua esperança mais sincera. No momento, os seguidores de Ryucown não passavam de rebeldes, não importava o quanto sofressem por seu país ou quão puras fossem suas intenções. Mas, para assegurar seus nomes na história, ou melhor, para  mudar o rumo do futuro de Garbera , ele precisava da princesa Vileena.

Se conseguisse conquistá-la, poderia assumir o movimento político através da linhagem real garberana. Ela era idolatrada pelo povo, e isso lhe daria o apoio da nação. Além disso, Ryucown estava convencido de que a princesa tinha o espírito mais forte entre todos os membros da família real.

— Ela não foi ferida, foi?

— Não.

Muito bem. Tragam-na até mim.

Pouco depois, escoltada por um soldado,  Vileena  entrou no salão.

Seu rosto estava pálido como papel, mas seus olhos, ainda vivos, fitaram Ryucown com intensidade.

Ele sentiu uma pontada de nostalgia. Eles haviam se encontrado um ano atrás, quando ficaram noivos, mas Ryucown lembrou-se de um tempo ainda mais antigo, quando Vileena tinha apenas nove anos.

Durante a rebelião de Bateaux, quando a fizeram de refém, Ryucown infiltrou-se no castelo com um grupo de elite para derrotar o traidor. Quem os guiara fora a própria princesa. Mesmo sendo uma criança, ela mostrara-se astuta, e Ryucown admirara sua coragem.

Depois, o herói que decapitou Bateaux ajoelhou-se diante da princesa e recebera um beijo em sua face.

Foram quatro, talvez cinco anos desde então. Naturalmente, seu corpo amadurecera. Ainda mantinha um ar juvenil, mas em três anos, seria uma beldade capaz de causar problemas não só em Garbera, mas em todos os reinos vizinhos, e talvez até no mundo além-mar.

Ryucown inclinou-se respeitosamente.

Há quanto tempo, Vossa Alteza.

— General Ryucown. Você...

Vileena atirou as palavras como uma flecha, como se tentasse mascarar sua hesitação com vigor.

Seu coração parecia em tumulto. Para Ryucown, ela lembrava um pequeno barco de madeira, com as velas içadas alto demais, subindo sobre ondas brancas, tão imprevisível que nem mesmo o timoneiro saberia para onde iria.

Cerca de dez minutos antes do ataque, um homem disfarçado de pajem aparecera em seus aposentos n a   Dhum , afirmando ser um enviado do acampamento garberano. Ele revel ou que parte de Garbera, em conluio com Ryucown, planeja va um ataque surpresa à nave de comando .

Princesa, irei levá-la até o Lorde Ryucown.

Vileena empalideceu e, num ato impulsivo, levantou-se para avisar o príncipe.

Perdoe-me...

Querendo ou não por aquela reação, o soldado agira rápido. Vários outros, que aguardavam nos fundos, impediram-na de gritar ou se mover, tapando sua boca e imobilizando seus braços e pernas. Enquanto resistia, sua consciência esvaía-se lentamente — eles provavelmente haviam embebido um pano com uma droga sonífera.

Quando acordou, estava na Fortaleza de Zaim, com as chamas do campo de batalha refletindo em seus olhos.

— Você...

Sei muito bem o que espera que eu faça — Ryucown interrompeu suavemente as palavras de Vileena.

O vigor habitual não estava nos olhos da princesa enquanto ela o encarava. Suas emoções ardiam como fogo, mas, por algum motivo, não transbordavam. Assim como Ryucown, sentimentos profundos despertavam nela após tanto tempo.

Um ano atrás, quando ficaram noivos, Ryucown, que enfrentou incontáveis batalhas na linha de frente, sequer conseguia olhá-la nos olhos.

Agora, seus traços nobres estavam mais evidentes, marcados pelo cansaço e pela dor. Seu refinamento urbano fora corroído, ou talvez substituído por algo mais selvagem. A armadura prateada que vestia fora presente do próprio rei quando tornou-se cavaleiro.

No entanto, devo manter minhas convicções. Com todo o respeito, o povo não segue mais a família real. A linhagem é importante, mas se dependermos apenas dela, o país entrará em declínio.

Mas uma guerra civil só arruinará Garbera! Por que prolongar uma batalha tão inútil?

Não estou deixarei que isso se arraste. Na verdade, o início desta batalha terminará com uma grande vitória nossa. E nossa vitória terá um impacto duradouro e imenso. Garbera temerá novos rebeldes surgindo em seu território, tornando impossível mobilizar grandes tropas. Para proteger sua honra, Mephius também não terá escolha a não ser entrar em campo. Quando perceberem que não podem vencer facilmente, usarão isso como desculpa para recuar imediatamente. E quando isso acontecer... só será necessário um último golpe decisivo para acabar com tudo.

Fora da fortaleza, a batalha continuava a rugir.

Enquanto o fogo da guerra iluminavam a noite, desafiando a escuridão, Vileena cerrou os punhos delicados. Ela não queria ver aquilo. Era exatamente por isso que havia decidido se casar com o príncipe de Mephius, endurecendo seu coração.

Pretendo me tornar um mártir para lançar os alicerces da paz — Ryucown disse, mostrando-lhe seu manto negro forrado de vermelho. — Por favor... confie sua vida a mim.

Mais ao longe, duas, três vezes, o som de canhões ecoou.

Aproveitando o ímpeto, as forças de Ryucown pressionavam o exército me ph iano com força.

Surpreendidos pelo ataque inesperado e pela traição de um grupo de garberanos, as tropas mephianas estavam completamente dispersas. Alguns soldados tentavam escapar das chamas pulando para dentro das naves de guerra, que ainda ganhava altitude, enquanto outros abandonavam o navio em debandada.

Era papel do líder inspirar coragem e unir os soldados em combate. No entanto, aqueles homens que agora agiam de forma tão desonrosa eram veteranos da guerra de dez anos contra Garbera. Muitos até haviam sido condecorados por atos de bravura.

Se tivessem um bom comandante, dez em cada cem homens escolheriam morrer para permitir sua fuga. Mas, infelizmente, o príncipe que deveria cumprir esse papel não dera nenhuma ordem, e era evidente que o capitão Oubary perdera a compostura. O pânico contaminara até os soldados rasos.

Isso não está nada bom — resmungou o grande general Rogue, que emergira no convés para avaliar a situação.

Considerando recuar, ele analisou friamente o campo de batalha. Ainda tinham superioridade numérica, mas sabia que essa vantagem podia evaporar em um piscar de olhos.

Oubary não era um mau comandante. Quando tinha o vento a seu favor, conseguia transformar até o mais hesitante dos soldados em um herói. Porém, da mesma forma, em situações adversas, contagiava todos ao redor com seu desespero.

Eles precisavam de alguém com firmeza. Alguém que agisse com vigor.

Não há como eu deixar meus ossos serem enterrados em terras garberanas — Rogue murmurou para si mesmo, um protesto vindo do fundo de seu coração.

Nenhum general deveria desejar um local ou forma específica para morrer. Mas cabia a ele proteger o príncipe em batalha ou, ao menos, garantir-lhe uma morte nobre.

Lembrou-se de sua família, deixada para trás em Mephius. Enquanto pensava nisso, soldados mephianos correram em sua direção, apenas para tombarem com balas atravessando suas cabeças. Seus uniformes estavam manchados de sangue como em um desenho infantil. Rogue colocou o capacete e sacou sua espada com um clarão metálico.

— Venham, traidores de Garbera! Se quiserem dar mais um passo, terão que passar por cima do cadáver de Rogue Saian! Mas este velho não morrerá sozinho! Levarei cem, não, mil homens comigo! Quem quiser me enfrentar, pense em sua família uma última vez!

Enquanto rajadas de balas vinham do inimigo, Rogue saltou da nave que começava a ganhar altitude. Vários soldados, inspirados por seu discurso, reuniram-se ao redor do velho general. O inimigo avançava como uma avalanche. Uma bala arranhou sua bochecha esquerda; outra perfurou o maxilar de um soldado ao seu lado, que caiu de costas.

Justamente quando Rogue se preparava para investir contra eles com um sorriso mortal, uma voz cortante ecoou:

— FOGO !

O grito vinha não do inimigo, mas do bosque no alto de uma colina próxima às forças de Ryucown. Uma saraivada de tiros rápidos seguiu-se, derrubando cavaleiros e dragões em jorros de sangue.

Quando os disparos cessaram, outra ordem foi dada:

— ATACAR !

Espadachins emergiram dos arbustos, brandindo lâminas reluzentes. Seu ataque foi tão feroz que cabeças e membros voaram, misturando-se à escuridão da noite.

— Ohhh...  — Rogue soltou um suspiro de admiração quando o chão tremeu.

Dragões de porte médio surgiram atrás das linhas inimigas, guiados por dragoneieros montados em espécimes menores.

— Avante, avante !

— Abram caminho, ou serão esmagados!

Aqueles dragões deviam estar escondidos desde o pôr do sol, aguardando o momento certo. Nem Ryucown nem Rogue esperavam por isso.

Era uma tática ensinada por Hou Ran. Difícil de acreditar que uma única pessoa pudesse fazer tamanha diferença no campo de batalha.

Ataque em pinça.

As tropas de Ryucown caíram no caos.

Rogue não esperou mais e também partiu para o ataque. Com um golpe preciso, decepou o braço de um soldado que tentava embarcar na aeronave, seja porque estava fugindo do inimigo, ou talvez buscando a cabeça do príncipe.

Enquanto o sangue escorria de sua lâmina, o general correu em direção ao comandante que liderava o ataque surpresa.

Era um homem de cabelos brancos e pele bronzeada, de idade próxima à sua.

— Um aliado? Com todo respeito, não reconheço seu rosto.

— Ah, bem...  — O comandante de cabelos brancos, Gowen, sorriu sem jeito. —  Somos a Guarda Imperial do Príncipe Gil Mephius. Até pouco tempo atrás, éramos apenas gladiadores.

— O quê?

Rogue ficou pasmo. Ouvira falar que o príncipe recrutou gladiadores como guarda-costas, mas considerara apenas mais um capricho do "príncipe tolo".

No entanto, aqueles homens tinham a coragem digna de estandartes. Com espírito indomável, devastavam as fileiras de Ryucown usando espadas, machados, lanças e armas de fogo com maestria.

Era exatamente por isso que Orba os trouxe como trunfo. Ele não confiava em suas características individuais, mas sabia que eram indisciplinados, agindo por instinto. Porém , como príncipe, fizera uma promessa:  aqueles que trouxessem cabeças inimigas receberiam recompensas, inclusive sua liberdade.

Pela primeira vez, matar lhes dava a chance de  ganhar a própria vida de volta . Por ouro e liberdade, enfrentariam mil lâminas e chuvas de bombas sem hesitar.

— Mesmo assim, é impressionante. Montar uma emboscada e deter o avanço inimigo numa emergência dessas...

— Não, não. Tudo foi ideia do príncipe. Alguém como eu não teria tal capacidade.

Gowen, sem querer, usou uma linguagem mais formal diante do comandante mephiano, tentando manter a dignidade de um guarda imperial.

— O príncipe percebeu sinais de traição no acampamento garberano e previu que as forças de Ryucown atacariam. Nos posicionou de antemão no caminho deles. Ele estudou o terreno durante o dia e-! ARTILHARIA , alvejem aquela aeronave inimiga!

Interrompeu-se para dar novas ordens.

— O quê?  — Rogue murmurou novamente.

Como ordenado, uma salva de bombas atingiu o flanco inimigo. Um dragão Goll de porte médio rugiu e caiu.

— Mas não recebemos nenhuma ordem.

— Bem... Pessoas como nós não conseguem ler os pensamentos do príncipe o tempo todo  — Gowen respondeu solenemente. —  Mas se ele previu a traição entre os garberanos, em uma situação onde não sabia quem era aliado ou inimigo, talvez temesse vazar informações cruciais.

— "Se quiser enganar o inimigo..." Certo?

Rogue suspirou, olhando para o céu, mas logo recuperou a postura e observou as tropas inimigas se aproximando.

— General, precisamos recuar por agora  — disse Gowen. —  Precisamos nos reagrupar na Dhum e pôr fim a est e combate .

— Concordo.

Os dois ficaram ombro a ombro, como velhos camaradas, e coordenaram a retirada de suas tropas. Enquanto recuavam, Gowen observou os reforços inimigos se aproximando com ainda mais ímpeto.

O moral deles não cair ia tão fácil.

Embora não dissesse em voz alta, Gowen não se iludia com a pequena vitória. Seu objetivo não era apenas deter o inimigo ou auxiliar a fuga da aeronave de comando, ele precisava  imobilizar o grosso das forças de Ryucown a qualquer custo.

Mas até agora tudo saiu como planejado, Orba. Caso contrário, você estaria em perigo.

Nesse momento, uma sensação gelada percorreu seu corpo quando um canhão atingiu uma árvore próxima, espalhando estilhaços e fogo. Ele se agachou, protegeu-se e correu em direção ao Dhum. O sangue de veterano em suas veias, há muito adormecido,  voltava a ferver.


◇◇◇


— Os gladiadores?

Simon recebeu a notícia e ficou sem palavras. É claro que era difícil acreditar de repente. Mas era verdade que o ataque inimigo havia enfraquecido.

Naquele momento, o pajem Dinn e vários guardas imperiais entraram na ponte de comando.

— Tenho ordens do príncipe.

— O quê?

Oubary mostrou os dentes, tão surpreso quanto Simon.

Depois de tudo isso, que tipo de "ordens" nosso príncipe herdeiro trêmulo tem?

Cuide com suas palavras! — Dinn falou, deixando a agitação transparecer em seu rosto.

Foi decisão do príncipe investir com sua própria guarda pessoal.

Oubary encarou o garoto. Ele estava ladeado por homens de aparência rude à sua esquerda e direita. Mas mesmo agora, achava que isso devia ser algum tipo de piada.

Foi então que Dinn transmitiu a mensagem do príncipe para os presentes na ponte. Os soldados abaixo deveriam se organizar em tal formação para enfrentar as forças de Ryucown, pois não demoraria para que o grosso do exército garberano entrasse no combate...

Ele disse: “Um esquadrão de cavalaria e infantaria se juntará à guarda imperial até que haja reforços de Garbera, para atacar os traidores de ambos os lados. A força principal se concentrará na aeronave de comando Dhum para bombardear as forças de ataque vindas do forte.”

O interior da nave ficou em um silêncio tenso quando perceberam que não estavam fugindo da batalha.

Bem – pensou Simon, acariciando o queixo – O "atual" príncipe é o mesmo príncipe que eu conheci?

Idiotice — Oubary rosnou baixinho. — Não vamos apenas sofrer perdas se reposicionarmos nossas tropas no meio da batalha?

Não, o número de inimigos não é tão grande.

— General Rogue!

O velho general Rogue Saian apareceu na ponte, ofegante. Seu capacete e armadura estavam encharcados de sangue inimigo, que subia como vapor. No entanto, o sorriso em seu rosto tinha uma intensidade arrepiante.

Graças às ações da guarda imperial, recuperamos a moral de nossas tropas. Num momento como este, senhor Oubary, deve-se fazer um apelo.

Mas seu olhar dizia:

Não foi você mesmo que disse para atacar o inimigo há pouco?

Como isso foi insinuado a Oubary, não havia muito que ele pudesse responder.

Exatamente — Dinn interveio desta vez. — O príncipe também está incentivando todos do alto da ponte... Não conseguem ouvi-lo?

De fato, no convés superior, erguendo a bandeira nacional em um mastro, um homem levantava a voz para os muitos soldados ao seu redor.

Com o rosto totalmente coberto por um capacete, vestindo uma armadura prateada, o "príncipe" repreendia os soldados que continuavam a fugir do caos, incentivando-os a retornar às suas fileiras.

— Por favor, príncipe.

Embora o "príncipe" levantasse a voz, ele tremia sob toda aquela armadura. Seu físico e altura eram os mesmos de Orba, ou melhor, de Gil, considerando as pessoas ali, mas na verdade era o gladiador Kain.

Eu tenho um vocabulário pobre. Não posso simplesmente repetir o que me foi dito... então VÃO... LUTEM! VOCÊS SÃO SOLDADOS QUE CARREGAM O ORGULHO DE MEPHIUS. ENTENDERAM? ACABEM COM ISSO AGORA!


◇◇◇


Ryucown e Vileena ainda estavam frente a frente, com as luzes das chamas refletindo atrás deles.

O que quer dizer com "confiar minha vida"?

Quero que você se torne minha esposa.

A proposta de Ryucown foi direta ao ponto, e Vileena sentiu como se sua respiração parasse por um momento. Ela apertou novamente suas mãos pequenas e imediatamente recuperou a força de sua determinação.

E o que você planeja depois disso?

Vou declarar que um novo rei ascendeu ao trono de Garbera.

Ele puxou a espada que estava pendurada em suas costas e fez seu anúncio como se tivesse acabado de pensar nisso.

O que você acha que pode alcançar com apenas um forte?

Se derrotarmos o exército de Mephius hoje, muitos oficiais e soldados virão para mim. Revoltas surgirão por toda Garbera, acelerando os preparativos para meus planos.

E tudo isso acabará ajudando Ende. Se você conseguir isso, mais cedo ou mais tarde toda Garbera será subjugada por Ende.

Não sou tão tolo assim. Ende voltou sua atenção para Mephius. Tudo o que querem é obter uma posição no oeste. Melhor ainda se Garbera estiver em desordem, para que não precisem se preocupar com ela. É por isso que não se manifestaram abertamente nem enviaram homens. Eu também não faria. Mesmo que não tenhamos sucesso aqui, estaremos atendendo ao plano deles de aumentar as hostilidades com Mephius novamente. Embora seja difícil confiar verdadeiramente em uma aliança tão relutante, é muito melhor do que a humilhação de unir forças com Mephius.

AMBOS FAZEM POUCA DIFERENÇA! — Vileena confessou em voz alta, com toda a força que estivera contendo. — Faz pouca diferença para nossos cidadãos. Quantos milhares de pessoas se tornarão vítimas de seus planos egoístas e orgulho fútil?

Vileena nem percebeu que essas eram as mesmas palavras que o príncipe Gil usara contra ela antes. Ryucown, por outro lado, não deu trégua.

Sua família real não foi erguida sobre uma pilha de cadáveres? Vamos acabar com esse argumento infantil. Tendo o verdadeiro orgulho de Garbera, agi apenas porque quero fazer uma nação de verdadeiros cavaleiros! Olhe para o mundo, princesa! Este é um conflito que acabará com um governo de traição, opressão e duplicidade! São apenas os cavaleiros de espírito puro que podem verdadeiramente salvar este mundo!

— ......

A cavalaria é uma coisa maravilhosa! Os eleitos são impelidos a uma autodisciplina em seu dever, sempre desejando ter um espírito puro. Esses são o tipo certo de pessoas para conduzir nossa política. É bom que os camponeses dependam de alguém chamado rei ou imperador em tempos difíceis, mas o país só está envolvido em uma guerra sangrenta devido à simples ganância. Como está, Garbera, o país dos cavaleiros, perdeu seu ideal de orgulho. Então, primeiro terei que mudar Garbera, não, devo devolvê-la às suas raízes! Garbera, como um verdadeiro país de cavaleiros!

Aplaudo seu patriotismo. Mas se é assim, para que você precisa de um corpo comprometido com a família real mephiana?

— O que quer dizer?

O que quero dizer é que este corpo já trocou seus votos matrimoniais...

Era uma mentira, e obviamente Vileena não podia deixar de sentir repulsa por dentro. No entanto, ela não hesitou nem um pouco. Ela queria esmagar completamente esse Ryucown, que parecia estar completamente possuído por algo.

Você mente, Vossa Alteza... Você conhecer as sutilezas de um homem e uma mulher? Tal ato não é possível.

Você só diz isso porque não quer aceitar. Agora, se eu perdi essa pureza de que tanto fala, e se já fui possuída por essa "existência imunda" de um mephiano, você deveria me apunhalar com essa espada agora mesmo. Não é esse o seu ideal?

Vileena falou em lágrimas, apertando a ponta da espada com os dedos e pressionando-a contra seu pescoço.

Ryucown abriu os olhos amplamente. Mais ao longe, o som da artilharia rugiu novamente como um trovão. O guerreiro garberano segurando a espada e a princesa aclamada como a flor de Garbera se encararam.

Você ficou tão satisfeita com Mephius?

Se simplesmente os rotularmos como bárbaros, só podemos ser acusados de ignorância. Além disso, o país não tem nenhum laço de sangue. É como você disse. A família real não é uma pedra fundamental, o senso de orgulho de seus vassalos e seu povo é o mesmo. — você pode encontrar a mesma luz naquela nação. Quem, afinal, seguirá um homem que pode decidir sozinho o que é esse orgulho?

Você abandonou seu orgulho e seu país, princesa — Ryucown decidiu. — Ou talvez possamos concluir que a jovem princesa Vileena cresceu. A senhorita tem o espírito de um soldado. No entanto... por causa disso, será um obstáculo para nossa causa. Se sua alteza viver e não puder reconhecer nossos pontos de vista...

Ele subitamente puxou sua espada para trás. No entanto, parecia bastante imponente ao colocá-la sobre o ombro.

... Eu pelo menos quero que proteja o orgulho da família real garberana morrendo.

— O quê?

Infelizmente, em retaliação pela traição de Garbera à sua aliança, nossa princesa Vileena foi morta pelas mãos do príncipe de Mephius.

Se isso acontecer — Vileena falou, com a voz rouca. — Garbera não se unirá sob uma única causa?

A situação só pode melhorar daqui para frente.

Vileena desviou os olhos da ponta da espada. Lá ela viu os olhos de Ryucown, tão calmos como sempre. O que era tão diferente nele do jovem que se infiltrara em um castelo com apenas alguns homens cinco anos atrás? Era o mesmo naquela época? Esta era a ação de um homem que sinceramente acreditava nos ideais ardentes que tinha quando jovem e não deixaria que esses ideais envelhecessem.

Adeus, princesa. A primeira condecoração que recebi em minha vida foi seu beijo infantil.

Sua espada desenhou um arco cintilante. A princesa só piscou uma vez durante aquele tempo. Uma lágrima caiu no instante em que ela baixou as pálpebras, refletindo a espada que se aproximava.

Vileena estava chorando. Ela estava frustrada com sua própria impotência, embora realmente acreditasse que poderia entrar em um acordo com ele se se encontrassem cara a cara. Este ato de violência causado pela "pureza" de Ryucown a desanimou. Pela primeira vez desde que nasceu, Vileena sentiu desespero, e estava destinada a ter sua vida terminada imediatamente depois.

Então, o brilho da espada foi direcionado para o pescoço esbelto de Vileena.

Cling!

Um tilintar requintado interrompeu o arco da espada pouco antes de alcançá-la. Era uma adaga que foi subitamente lançada, e Ryucown mudara a trajetória de sua espada para interceptá-la.

— QUEM É VOCÊ!?

Ele voltou seu olhar para a entrada, de onde um espadachim surgiu entre os pilares. Embora estivesse vestido com uma armadura garberana, Ryucown não reconheceu aquele rosto. Ou melhor, não conseguia discernir o rosto do homem.

O espadachim que avançou, carregando uma espada em sua mão direita, tinha o rosto coberto por uma máscara de ferro.


Tradução: Rudeus Greyrat
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