Nageki no Bourei wa Intai shitai | Let This Grieving Soul Retire Volume 02 – Capítulo 10 [História Paralela: Diário de Crescimento de Sitri]
Sitri Smart havia chorado muito. Ela era tão tímida comparada à sua irmã, Liz, que às vezes eu não conseguia acreditar que eram parentes. Antigamente, ela vinha chorando para mim por qualquer motivo. Seu irmão, Ansem, era quieto e estoico, e sua irmã era... bem, Liz, então a responsabilidade de oferecer um ombro amigo recaía sobre mim, o líder do grupo.
Por outro lado, eu não sabia de nada. Bem, eu tinha conhecimento básico e vocabulário sobre caça ao tesouro, mas isso ainda era insuficientemente especializado para compreender a maioria do que Sitri dizia. Ainda assim, eu era um ouvinte eficaz para Sitri porque ela não buscava conselhos práticos nem mais conhecimento. Ela era dedicada, trabalhadora e inegavelmente talentosa (talvez eu seja tendencioso); a única coisa que lhe faltava era confiança.
Eu presumia que ver os outros ficando cada vez mais fortes a abalava. Para mim, Sitri já era incrivelmente capaz, mas ela sempre tinha uma opinião baixa sobre si mesma e mantinha padrões muito altos. Como Alquimistas precisam ser habilidosos em muitas áreas, Sitri sempre se fazia a mais estudiosa de todos nós. A única coisa que eu podia fazer era dar conselhos bem inúteis com confiança. Foi exatamente o trabalho árduo dela que a tornou a Alquimista sempre sorridente e mais estudiosa que eu conhecia.
Este... é um registro do crescimento de Sitri ao longo dos anos, escrito por seu conselheiro inútil:
Sitri, com quinze anos na época, veio até mim com lágrimas nos olhos.
— Quero ser útil também…
— Você já é — eu disse.
Os Grieving Souls tinham uma das melhores capacidades ofensivas e defensivas de qualquer grupo que eu já tinha visto, e Sitri era a espinha dorsal de nossas operações. Ela cuidava de tudo: reabastecia nossos suprimentos, pesquisava informações sobre cofres e fantasmas e até negociava quando necessário. Mesmo não sendo a melhor lutadora do grupo, não podíamos operar sem ela. Ela era tão útil que praticamente não sobrava nada para eu fazer. Na maior parte do tempo, eu apenas ficava ao lado de Sitri observando, sem me preocupar em desempenhar as funções de líder do grupo.
Eu realmente acreditava no que disse, mas Sitri balançou a cabeça.
— Não durante as batalhas! Eu... quero participar das lutas! Não aguento ficar só dando ordens à distância! — disse ela enquanto enterrava o rosto no meu peito.
— É... uh-huh.
Eu acariciei sua cabeça para acalmá-la.
Mas esse não é o trabalho de um Alquimista, certo? Pensei.
Ela já contribuía infinitamente mais para o grupo do que eu e ainda queria fazer mais. Além disso, nossas batalhas eram sempre intensas; achei que seria melhor para ela continuar em um papel de suporte em vez de se tornar mais uma atacante. Nós éramos muito sedentos por sangue naquela época.
Pela primeira vez em algum tempo, contemplei seriamente o dilema dela.
— Bem... então por que você não tenta jogar poções ou algo assim?
Na época, o papel de Sitri nas batalhas era dar direção e apoiar os outros membros antes e depois do combate. O combate era intenso demais para ela intervir diretamente, mas se ela pudesse pelo menos curar os outros membros durante as batalhas, isso faria uma enorme diferença para nosso grupo.
Sitri olhou para mim e inclinou a cabeça. Ela disse:
— Você quer dizer... que eu deveria preparar veneno para jogar nos inimigos?
— O quê?! B-Bem, tenho certeza de que você é boa em preparar veneno, mas…
Por que ela está tão determinada a matar coisas?
— Mas a maioria dos venenos existentes é inútil contra monstros e fantasmas…
— Isso não é ilegal? — retruquei.
— Tenho licença para lidar com eles, claro
— ah, entendi…
Desde quando ela conseguiu essa licença?
Com máxima sinceridade, Sitri disse:
— Só preciso criar um veneno totalmente novo: algo que possa matar fantasmas e monstros com apenas uma gota.
— O quê?!
— Agora que você mencionou isso, estive focada demais em cura e suporte — mas com minha mira o veneno pode acertar Liz ou Luke.
— E-E-E-E-Espere só um segundo! — exclamei surpreso com sua confusão.
Minhas intenções haviam sido completamente distorcidas na tradução! Então respirei fundo e tentei fazê-la entender.
— Sabe... você pode confiar mais nos seus amigos, Sitri. Apenas deixe os ataques para Luke e Liz — pensei. Afinal de contas, isso é tudo o que eles aprenderam a fazer.
Sitri bateu palmas como se tivesse tido uma revelação; suas lágrimas já haviam secado.
— Entendi... — disse ela. — Só preciso ajudá-los a desenvolver imunidade ao veneno para não serem afetados mesmo se forem atingidos... Isso os ajudaria a sobreviver a outros venenos também. Que ideia revolucionária! Por que estava tão preocupada? Tenho tanta pesquisa para fazer! Obrigada, Krai!
Com isso, Sitri sorriu para mim e saiu correndo antes que eu pudesse dizer qualquer coisa.
Sitri tinha dezesseis anos na época quando veio até mim com os lábios apertados e lágrimas nos olhos.
— Krai, não consigo mais fazer isso... Sou inútil…
— Venha aqui. Respire fundo — comecei a consolá-la.
Sitri pulou nos meus braços.
Hoje em dia seu crescimento físico na área dos seios estava ficando bem perceptível quando ela me abraçava assim. Era um pouco desconfortável para mim sentir essas curvas suaves através da grossa túnica dela — não que eu estivesse prestando atenção nisso no momento delicado dela.
— Os inimigos contra os quais estamos lutando são ágeis demais para eu acertá-los com meu veneno! — disse ela enquanto soluçava.
— É... uh-huh…
A tática de jogar veneno de Sitri havia se mostrado mortal. Com apenas uma gota seu veneno derretia monstros — até mesmo aqueles com exoesqueletos impenetráveis. Em alguns cofres ela matava mais inimigos do que Luke ou Liz. Isso obviamente acendeu uma chama no coração deles. Por um tempo Sitri, Liz e Luke competiram para ver quem conseguia matar mais monstros e fantasmas durante nossas missões.
Com voz trêmula Sitri pressionou seu corpo contra o meu:
— O que devo fazer...? Nesse ritmo você vai me expulsar do grupo…
— Isso não vai acontecer — respondi. Mas você é uma Alquimista — deveria estar na retaguarda!
De alguma forma Sitri conseguiu se colocar na linha de frente para meu terror absoluto. Vê-la entrar em ação não fazia bem à minha pressão arterial. Jogar frascos atrás de frascos de veneno parecia errado para ela.
— Por que você não tira um momento para refletir sobre a essência do papel de um Alquimista? Tenho certeza de que está cansada de jogar frascos por aí também…
"A essência do papel de um Alquimista..." ela repetiu.
Enquanto falava, ela encostou o ouvido no meu peito, como se estivesse tentando ouvir meu coração. Eu diria o mesmo sobre Liz, mas havia algo estranho nas garotas da família Smart: elas agiam como se não me considerassem um homem.
— Quando você coloca dessa forma... talvez, como Alquimista, eu devesse contribuir com criaturas mágicas em vez de venenos — disse ela.
— Hã...? É... uh-huh. — Quem sou eu para discordar? Pelo menos essa nova ideia seria melhor para mim.
Criar criaturas mágicas, junto com preparar venenos e poções, era uma habilidade reservada aos Alquimistas: eles criavam formas de vida artificiais como homúnculos, golems, slimes e mais. Não havia muitos caçadores alquimistas na história para Sitri se inspirar, mas ouvi dizer que até os Alquimistas que trabalhavam em laboratórios mantinham um ou dois golems como guarda-costas. Seguir esse caminho certamente parecia melhor do que jogar frascos incrivelmente letais de veneno nos inimigos.
— Mas, Krai, eu já pesquisei sobre isso: slimes, homúnculos, golems, quimeras... todos são frágeis demais, pelo menos para as caçadas que fazemos.
— Bem…
— Quimeras são as mais duráveis de todas, mas construir uma forte requer os corpos de monstros poderosos. Pelo nível de dificuldade para conseguir os ingredientes, não seria muito... A combinação errada pode levar à imunodeficiência... Considerando o potencial de crescimento... — Sitri divagava com os olhos marejados.
Embora eu não entendesse a maior parte do que ela dizia, parecia que ela já tinha pensado e se esforçado bastante nisso. Como ela mesma disse, suponho que dificilmente existam criaturas mágicas capazes de acompanhar caçadores de alto nível. Se criar criaturas mágicas desse calibre fosse fácil, todos os Alquimistas estariam fazendo bicos como caçadores.
— É... uh-huh. Caçadores são praticamente os únicos que conseguem atravessar cofres de alto nível — eu disse.
Quanto mais eu pensava nisso, mais parecia melhor para Sitri continuar em um papel de suporte. Batalhas mais difíceis significariam uma necessidade maior de apoio.
Sitri me olhou com os olhos vermelhos de tanto chorar.
— Caçadores são praticamente os únicos que conseguem atravessar cofres de alto nível... — ela repetiu. — Sim! Só preciso de caçadores!
— Hã?
Sitri agora murmurava incoerentemente nos meus braços. Nesse estado, nem minhas palavras conseguiriam alcançá-la. Momentos assim me lembravam que ela era realmente irmã de Liz.
— Quimeras... uma mistura das partes mais fortes... Se forem todos humanos, não precisarei me preocupar com necrose... fortalecê-los com material mágico... Com humanos, a taxa de absorção do material mágico…
— É... uh-huh... — eu disse enquanto penteava o cabelo dela com os dedos enquanto continuava.
— Mas como posso conseguir isso...? Não podemos caçar outros caçadores... podemos, Krai?
— Uh, não... Não podemos. — Como esse pensamento surgiu nela? — Crime é ruim, Sitri, só para deixar claro. O que vai volta sabe?
Massacrar monstros e fantasmas diariamente parecia ter afetado o senso moral dela. Talvez ajudar meus amigos a manterem sua humanidade fosse uma das poucas coisas que só eu poderia fazer. Talvez esse fosse meu propósito na vida…
Sitri bateu palmas.
— O que vai volta... Crime... Caçadores criminosos... A grande prisão... Você está certo! Lá haverá muitos ingredientes, muitos caçadores talentosos... — Sitri divagava incoerentemente.
Às vezes me perguntava se ela era inteligente demais para eu entender suas palavras.
De repente, ela abaixou o olhar e disse:
— Mas... você realmente acha que eu consigo?
Os ombros frágeis dela tremiam.
Seja lá o que estivesse aspirando fazer, sua insegurança ameaçava dominá-la. Com seu talento e as habilidades que trabalhou tanto para desenvolver, ela poderia fazer qualquer coisa.
Tudo o que eu podia fazer era encorajá-la. Eu a segurei firme e acariciei suas costas.
— Não sei do que você está falando, mas você pode fazer qualquer coisa se realmente quiser — eu disse.
Depois de alguns momentos no meu abraço, Sitri voltou a ficar firme novamente; suas lágrimas haviam secado.
— Você está certo. Nunca vou saber se não tentar. Obrigada, Krai! Melhor começar a planejar!
— Certo! Boa sorte!
Mais um trabalho bem feito.
Com um sorriso satisfeito assisti Sitri partir para seu projeto.
— Eu estraguei tudo, Krai…
Sitri veio até mim completamente desanimada.
Acusada de ajudar na fuga da grande prisão, Sitri estava em uma séria encrenca. Todas as evidências circunstanciais apontavam para Sitri estar envolvida. Não havia provas definitivas contra ela, mas parecia que nós, os Grievers, éramos os únicos que acreditávamos na inocência dela.
Usei todas as conexões que fiz desde que me mudei para a capital para tentar defender Sitri; mas só consegui lançar uma pequena sombra de dúvida sobre sua culpa.
Todos os caçadores de alto nível que fugiram da prisão ainda estavam foragidos e a Terceira Ordem estava freneticamente procurando por eles e por qualquer evidência física do culpado.
Honestamente nunca me senti tão impotente na vida.
— Vou aceitar o apelido; parte da culpa é minha também. Não adianta nada se o culpado não foi capturado. Há muitas coisas que posso aprender com isso. Na próxima vez... na próxima vez não cometerei esse erro. Serei melhor — disse Sitri.
Ela permaneceu forte. Mesmo diante da grande desonra e da pior punição que um caçador poderia receber ela não mudou. Lágrimas já não enchiam seus olhos; eles brilhavam com determinação em vez disso.
Uma Alquimista completa estava diante de mim.
— Mas consegui colocar minhas mãos em alguns ingredientes maravilhosos. Então no final deu tudo certo — disse ela sorrindo enquanto olhava para frente novamente.
***
O choque de encarar (ou melhor, encarar uma sacola) aquela criatura foi quase o suficiente para me fazer vomitar. Eu havia visto muitos caçadores descontrolados ao longo dos anos, mas nada tão fora do comum quanto aquilo. Se Sitri me dissesse que aquela coisa que pairava acima de mim era um novo membro potencial dos Grieving Souls, eu teria me aposentado na hora.
— É maravilhoso! Nesse ritmo, ele pode continuar a se adaptar a cofres de tesouro de nível mais alto. Orgânico é o caminho! Eu desperdicei muitos dos ingredientes, no entanto... De qualquer forma, o nome dele é Matadinho! — explicou ela.
Em resposta, Matadinho gritou, — Matar…
— É... uh-huh? — eu disse, completamente enojado. Nunca havia visto uma criatura como aquela antes. — O que é isso?
— Hum... uma criatura mágica — disse Sitri.
— Uma criatura mágica?!
Eu teria ficado menos surpreso se ela me dissesse que a coisa era um verdadeiro demônio.
Com os ombros de Matadinho subindo e descendo ao fundo, Sitri sorriu para mim e disse:
— Sim, uma criatura mágica — minha obra-prima! Considerando os ingredientes usados, já sei que ele pode absorver material mágico a uma taxa impressionante. Quanto mais cofres eu o levar, mais forte ele se tornará!
Matadinho já parecia forte demais para o meu gosto... O que era mais perturbador, no entanto, era o fato de que ela planejava levar a coisa por aí como um animal de estimação…
O que isso tem a ver com alquimia? Pensei. Que tipo de criatura mágica é essa afinal?! Isso é pura loucura!
Brilhando através dos buracos na sacola de papel estavam os olhos de Matadinho — eu queria vomitar!
Sitri, com os olhos baixos, sugeriu timidamente:
— Isso realmente me ajudou a ganhar mais confiança. Então estou pensando em aprofundar minhas pesquisas sobre outras criaturas mágicas. Eu havia me impedido de realizar tais pesquisas antes... Não sei se vou conseguir, mas—
Mascarando meu nojo perfeitamente, eu aconselhei calmamente:
— Sitri, por que você não vai fazer algumas pesquisas com outros Alquimistas em um laboratório fora do clã? Tenho certeza de que isso será melhor do que fazer isso sozinha.
— O quê...?
E que eles lembrem você do que está certo e do que está errado, eu pensei.
Tradução: Carpeado
Para estas e outras obras, visite Canal no Discord do Carpeado – Clicando Aqui
Se gostou do capítulo, compartilhe e deixe seu comentário!