Hai to Gensou no Grimgar | Grimgar of Fantasy and Ash Volume 12
[Histórias Extras]




Cena #5: Meu Peter-kun


Mimori-san tinha mais de um metro e oitenta de altura. Ela não sabia exatamente quanto, mas com certeza era mais do que isso.

Desde que passou dos um metro e oitenta, começou a trapacear na hora de medir sua altura. Curvava o pescoço e os quadris, olhava para baixo, fazia qualquer coisa para parecer um pouco mais baixa. Mesmo quando o médico da escola a repreendia, Mimori-san não ligava. Ficava em silêncio, não importava o que dissessem, e o médico acabava desistindo.

Por isso, Mimori-san não sabia ao certo sua própria altura. E nem queria saber.

Quando entrou no ensino médio, foi convidada para entrar nos times femininos de basquete, vôlei, softball, atletismo, judô e kendô. Mas não se juntou a nenhum deles. Seus colegas diziam que era um desperdício.

Mimori-san não respondia nada, mas pensava que não era da conta deles.

Logo, surgiu uma oportunidade para jogar basquete na aula de Educação Física. Mimori-san arremessou a bola do meio da quadra. Só fez isso porque qualquer outra coisa daria mais trabalho, mas, por algum motivo, a bola entrou.

Os colegas insistiram que ainda dava tempo para ela entrar no time de basquete, que deveria fazê-lo de qualquer jeito. Mimori-san apenas ficou em silêncio, decidindo que nunca mais arremessaria uma bola, nem mesmo nas aulas.

Mimori-san tinha um cachorro em casa. Era um poodle francês chamado Peter-kun. Peter-kun era enérgico, fofo e amigável, mas, por alguma razão, Mimori-san era a única da família de quem ele não se aproximava.

Sempre que ela chamava “Peter-kun!”, ele encolhia o rabo e fugia. E se ela tentava fazer carinho, Peter-kun disparava como se tivesse visto um fantasma.

Mimori-san não gostava de assustá-lo, então geralmente o observava de longe.

Na escola, a turma decidiu construir uma grande lanterna de papel para um carro alegórico no festival escolar.

O desfile em que arrastariam a lanterna era um evento tradicional aguardado pela comunidade local.

Mimori-san se interessou o suficiente para ajudar a desenhar os enfeites, mas não conseguia expressar suas opiniões e acabou desistindo no meio do caminho. Em seguida, passou a cortar a madeira para a estrutura do carro alegórico, mas errou várias vezes e quebrou algumas peças. Seus colegas cobriram os erros dela, mas, sentindo-se culpada, resolveu parar.

Por recomendação, tentou pintar os papéis que seriam colados na lanterna. No fim, não só pintou o papel, mas também as mãos e o uniforme. Isso poderia ser resolvido facilmente lavando tudo, mas seus colegas fizeram um grande alarde e disseram que ela deveria ir para casa. E assim ela foi.

Situações assim aconteceram algumas vezes, e, pouco a pouco, Mimori-san foi ficando apenas como espectadora.

A confecção do carro alegórico gerava muito lixo. Um dia, teve uma ideia e decidiu levar todo o lixo para o ponto de coleta. Perguntando para os colegas “Isso aqui é lixo?”, passou recolhendo os descartes. Quando tinha acumulado o suficiente, levava tudo de uma vez.

Ela não gostava de admitir, mas era alta, tinha um corpo grande e era forte. Tentou carregar o máximo de lixo possível, mas subestimou o peso e quase tropeçou ao descer as escadas.

Ah, Mimori-san. Eu levo isso. — Um dos garotos da turma, que passava por ali, pegou parte do que ela estava carregando.

Graças a isso, ela evitou cair da escada, o que facilitou as coisas. Mas, de alguma forma, sentiu-se um pouco contrariada. Como não conseguia explicar, ficou em silêncio.

...O que foi? — perguntou o colega de olhos sonolentos, hesitante.

Nada, não.

Ah, tá bom então. — Ele pegou mais um pouco do lixo dos braços dela.

Você pegou mais.

Foi mal. Não era pra pegar?

Não é que não era pra pegar. Mas...

Mas...?

Sem responder, Mimori-san continuou descendo as escadas.

Um pedaço de lixo caiu de seus braços, e seu colega de olhos sonolentos rapidamente pegou.

Mimori-san o encarou.

Ha ha... — Ele soltou uma risada forçada.

Mimori-san mordeu levemente os lábios e apressou o passo. Seu colega caminhava um pouco à frente, sempre olhando para trás para ver se ela deixaria cair mais alguma coisa.

Eles descartaram o lixo no local adequado.

Só sei o seu primeiro nome — Mimori-san comentou.

Huh? Ah, é mesmo. Nunca conversamos antes, né? Meu sobrenome é...

Haruhiro.

Er... Sim, esse é meu primeiro nome...

Eu sou Mimori.

...É, eu já sabia?

Pode me chamar de Mimorin. Se quiser.

Certo... Mimorin?

Seu colega de olhos perdidos e sonolentos lembrava um pouco o Peter-kun.





Cena #6: Seu Pecado


Moguzo segurava a cabeça e resmungava.

Hmmm...

Ranta, sentado ao lado dele, percebeu e perguntou: — Hum? Que foi, Moguzo?

Ah, bem... — Moguzo tentou explicar, mas se atrapalhou.

Ranta exclamou: — Opa! Peraí! — Então, olhou para o celular e, de repente, começou a rir feito um idiota.

...O que você tá vendo?

Huh? Vídeos. É o Pikahyon. Pikahyon. Você sabe o que é isso, né?

Pikaryon?

Não. Pikahyon, cara. O quê? Você não sabe? Nossa, Moguzo, você tá por fora. Desse jeito, nunca vai conseguir atravessar essa sociedade moderna e perigosa e sair do outro lado ileso. Mas, pensando bem, você não parece ser do tipo que sai correndo por aí.

A-Ah... Eu prefiro andar devagar e tranquilo...

Isso não é um problema, né? Cada um tem seu ritmo. Mas eu corro! No máximo! Vou atravessar a vida na velocidade da luz!

Ranta-kun, às vezes, sei lá, parece que você tá com pressa de viver...

Hã? Eu pareço estar com pressa? Eu? Correndo feito louco? — Ranta pareceu envergonhado. Pelo visto, ele tinha interpretado aquilo como um elogio.

A-Acho que sim...

Bom, talvez? Sempre fui do tipo que vive no limite. Afinal, o tempo não espera por ninguém, né? Tem que aproveitar ao máximo. A vida é curta, tem que viver bem. Ah, mas peraí, Moguzo, cara, você tava gemendo antes, né?

N-Não, eu não tava gemendo.

Não tava? Claro! Seria bizarro te ouvir gemendo! Gemendo, em plena luz do dia, sentado na sua carteira! ...Ei, peraí! Tá todo mundo me olhando estranho! Estão me encarando como se eu fosse um tarado! Me lançando aquele olhar de ‘Por que você tá fazendo piadas indecentes, seu Grande Lorde Pervertido?!’! Isso é culpa sua, Moguzo!

Hã...? M-Minha culpa...?

Bom, tanto faz, não ligo.

Ah. Não liga...

Eu poderia insistir, mas não vou tirar nenhuma piada de ouro daqui! Então, vou sair fora imediatamente! Decisão sábia, né? Eu tomo decisões sábias. Sou um verdadeiro Wiseman. Pegou? Eu sou Mr. Wise.

A-Ah, sim. Isso quer dizer que você é esperto. Porque wise em inglês significa sábio...

Isso foi óbvio demais! Dá um toque especial! Vamos, seja um tornado!

Você não faz o menor sentido, pensou Moguzo, mas, por enquanto, apenas disse: — D-Desculpa... — e se desculpou.

Ranta suspirou, cruzou os braços e perguntou: — Então...? Por que você tava resmungando? Tá com algum problema? Alguma preocupação? Coisa de jovem? Alguma garota, talvez? Se apaixonou, hein?

Não... Não é nada disso.

Não é? Que chato. Você é um cara incrivelmente entediante. Sim, sim, é sim. Mas então, o que é? Ah, já sei. Deixa eu adivinhar. É isso, né? Você quer ir pro karaokê hoje.

...P-Por quê?

E você vai cantar.

Moguzo ficou em silêncio.

Você é péssimo cantando. Mas as pessoas vão te pressionar pra cantar mesmo assim. E aí, você tá preocupado com o que fazer. Acertei?

...V-Você acertou.

O quê?! Eu acertei?! Eu chutei aleatoriamente! Como assim eu acertei?! E peraí, com quem você vai? É uma garota? É, né? É sim, né? Ah, juventude!

Humm... É com a minha família.

Famíííííííííília...?

C-Com minhas duas irmãs mais novas. Ah, e minha prima. Minha amiga de infância que mora ao lado meio que vai junto também...

A-Amiga de infância? U-U-Uma... Ga-garota?

...S-Sim...?

VOCÊ É UM PECADORRRRRR!

De repente, Ranta virou a carteira de cabeça para baixo.

A sala de aula ficou em silêncio.

O rosto de Ranta estava coberto de lágrimas.

Você, meu caro, cometeu um pecado. Eu conto duas irmãs mais novas, uma prima e uma amiga de infância. Você vai ao karaokê com quatro garotas! Esse é o seu pecado, Moguzo... Como penitência, me leve junto.

...Eu não me importo — respondeu Moguzo, por fim.

O quê, você não se importa?! Aí sim!


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