Hai to Gensou no Grimgar | Grimgar of Fantasy and Ash Volume 11 Capítulo 06
[Manter as Aparências]




Comecei a tossir do nada. Será que estou doente? Tipo, com algo realmente grave? Não? É, provavelmente não. É só uma tosse. Não tem nenhum significado por trás disso. É uma tosse sem sentido. Uma tosse sem propósito. —Espera aí, por que estou pensando nesse tipo de coisa chata? Sou mesmo um idiota.

Ranta estava incomodado por algum motivo e olhou para a esquerda, depois para a direita. Ele esfregou os olhos. Mas fazer isso não o ajudaria a enxergar melhor.

Tá bem escuro...

Pelo tom do céu que espreitava entre as árvores, o sol ainda não deveria ter se posto. Apesar disso, a floresta densa do Vale dos Mil estava envolta em névoa.

Não estou com medo. Bem, não. Por mais noites que eu passe sozinho, é impossível apagar o medo e a incerteza. Não adianta bancar o durão. Não é como se alguém estivesse assistindo. Eu poderia fingir ser forte, mas isso não significaria nada.

Kehe... — Zodiac-kun, o demônio, soltou uma risadinha atrás dele.

No passado, ele teria dado uma bronca no demônio, mas agora isso nem o incomodava tanto. Os demônios agiam como se fossem outra pessoa, com uma personalidade própria, mas não era isso que eles eram. Diziam que as revelações de Skullhell se refletiam nas ações de um demônio. No entanto, o demônio era fundamentalmente um espelho do seu cavaleiro das trevas, uma extensão dele. Mesmo que o demônio parecesse muito diferente do cavaleiro das trevas, era apenas um reflexo de um lado oculto do cavaleiro ou uma parte dele que ele desconhecia.

Hehehe... Vai lá, pisa na bola... Vacila agora... Se arrebenta de vez... — provocou.

Nah, mas eu não acho que isso vai acontecer comigo, sabe? — respondeu Ranta. — Não tem como, né?

...

Vai me ignorar agora, é?

...

Some logo. Cai fora—Não, foi mentira. Tô mentindo, beleza? Não desaparece, tá bom?

O que... devo fazer...? Kehe...

Comando: Não desapareça.

Tch...

O quê? Por que esse estalo de língua tão sinistro...?

Zodiac parecia insatisfeito, mas o demônio não desapareceu.

Quando um lorde da guilda dos cavaleiros das trevas de Altana demonstrou como controlar um demônio, Ranta se lembrava vagamente de que ele usara a palavra “Comando” para fazê-lo obedecer. Parecia funcionar quando ele tentava, então começou a usar de vez em quando.

Um demônio era subserviente ao seu cavaleiro das trevas. Se o demônio desobedecesse, isso seria apenas uma prova de que o cavaleiro das trevas não conseguia se controlar. Por extensão, significaria que ele não se entendia.

Afinal, porque o demônio era ele mesmo, era impensável que não pudesse entendê-lo.

Naturalmente, Ranta tinha total domínio sobre si mesmo. Era impossível não conseguir se controlar. Ele sentia que já havia se convencido disso há muito tempo, sem qualquer dúvida. Isso devia ser prova de que ele não se entendia nem um pouco. Nunca tinha pensado profundamente sobre isso. Provavelmente, nunca quis.

Eu sou eu. O eu que está aqui agora é 100% eu. Isso não basta?

Mas o que quero dizer com 100%? O que quero dizer com eu? Quem diabos eu acho que sou? Quem? Não tem como responder a isso. Quero dizer, eu realmente não me entendo. Nunca consegui me enxergar.

O que eu estava olhando antes? Se eu nem conseguia ver a mim mesmo, e quanto aos outros? Tipo, eu estava julgando Haruhiro e o resto de forma precisa? Ou só tinha uma visão distorcida deles, decidida pelo que era conveniente pra mim?

Isso também seria parte de mim... é o que eu acho que isso significa. Esse é o tipo de pessoa que eu sou. Egocêntrico, egoísta e sem arrependimentos. Por que sou assim?

No final das contas, pode ser que eu não espere nada das outras pessoas. Vocês, aposto que nenhum de vocês gostava de mim, né? Eu sempre soube disso. vocês nunca gostariam de mim, gostariam?

Yume, Shihoru e Mary me odiavam. Nunca pensei, nem por um momento, que estavam fingindo me odiar e, na verdade, gostavam de mim. Nunca pensei nisso.

Kuzaku também não gostava de mim. Bem, ele me odiava bastante. Eu tolerava isso um pouco, porque ele era mais jovem e menos experiente, mas se não fosse por isso, eu teria rebatido com mais força.

Fiquei pouco tempo com o Manato, mas ainda tenho a sensação de que ele sabia lidar comigo muito bem. Ele era um homem inteligente. Provavelmente pensava que deixar suas opiniões pessoais—gostar ou não de mim—afetarem seu julgamento seria um erro, e estava acostumado a controlar suas emoções. Esse era o tipo de pessoa que ele era. Isso tornava as coisas mais fáceis para mim.

O Moguzo era um mistério. Não, não havia nada misterioso nele. É que ele era uma pessoa única, e isso o tornava intrigante para mim.

Ele era um cara legal. Um cara realmente bom. Colocava os outros antes de si mesmo, nunca interferia onde não era chamado, e sempre dava o seu melhor. Ele ia além dos seus limites pelos companheiros e acabou morrendo por isso. Naquela luta contra Zoran Zesh na Fortaleza de Observação Deadhead. Se o Moguzo não estivesse lá, Renji, Kajiko e as Wild Angels teriam problemas. No mínimo, alguns deles provavelmente teriam morrido. Talvez todos os soldados voluntários tivessem sido exterminados.

O Moguzo devia saber disso, então fez o que precisava. Se ele não tivesse resistido naquela situação, todos teriam morrido. Ele sacrificou sua vida por todos nós. Esse era o tipo de pessoa que ele era. Não acho que o Moguzo me odiava. Eu realmente acredito nisso. Fiz muitas coisas que poderiam ter feito com que ele me odiasse, mas aquele cara não odiaria os companheiros com quem lutava lado a lado.

E então tinha o Haruhiro.

Ele me odiava, obviamente. Não seria exagero dizer que ele me detestava por eu ser o cavaleiro das trevas problemático. Mas ele fazia um esforço enorme para lidar comigo. Era mais do que impressionante; era exasperante. Ele era idiota? Quero dizer, sério, aquele cara... Deve ser um masoquista completo.

Não acho que eu fazia questão de causar problemas para o Haruhiro. Não era minha intenção, mas também nunca tentei facilitar as coisas para ele. Eu sempre pensava: “Você se adapta a mim. Faça as coisas ficarem mais fáceis para mim, organize tudo e crie um ambiente apropriado. Faça com que eu me sinta bem usando meus poderes incríveis. Você é o líder, não é? Se você é o líder, isso deveria ser óbvio. Essa habilidade de se ajustar? Basicamente, isso é tudo.”

Bem, Parupiro, sabe de uma coisa? Tenho certeza de que é difícil para você também, mas é assim que as coisas são, certo? Não é como se fosse fácil para mim. Sua sorte acabou quando você assumiu o papel de líder. Desista. Ou trabalhe duro. Não é meu problema. Eu não sou você. Ninguém mais pode ser eu, e ninguém mais pode ser você. Estamos todos sozinhos, afinal, não é?

Cara, que tipo de pessoa eu sou? Alguém que não espera nada dos outros, mas deixa tudo nas mãos deles e ainda espera que me mimem.

Não que refletir sobre isso agora vá adiantar alguma coisa... — murmurou.

Ehe... Hehehe... Macaco inferior que não consegue refletir sobre os próprios erros... Hehehe...

Ranta se virou e lançou um olhar irritado para Zodiac-kun. O demônio estava com aquele negócio de novo, droga. Usava algo como um lenço roxo na cabeça. Seus olhos pareciam buracos, e havia algo como uma boca aberta logo abaixo. Na mão direita, segurava uma faca, e na esquerda, um porrete. Mesmo flutuando, tinha duas pernas estranhamente realistas.

Então, você não tinha deixado de ser Zodiac-kun para virar Zodie...? — reclamou Ranta.

Kehe... Quando você não faz oferendas... não fique se achando... Fique quieto e morra para sempre...

Comando: Não me mande morrer.

...Desapareça.

Sinônimos também não valem, entendeu?

...Seja eliminado.

Usar passiva é a mesma coisa, droga.

Onde foi parar o você que amava a liberdade... Ranta...?

Com liberdade vem responsabilidade.

Heh... Heheheh... Responsabilidade, huh... Essa é a palavra que menos combina com você...

Mesmo agora, quando acabei assim por assumir responsabilidade pelos meus próprios atos?

Você se arrepende, Ranta...? Que ousadia a sua... Ehehe...

Não. Não me arrependo.

Tentando bancar o durão... Kehehe...

Sério, não estou tentando bancar o durão — retrucou Ranta. — Provavelmente há muitas coisas que eu nunca teria percebido se isso não tivesse acontecido. Não vou dizer que foi o melhor, mas estou satisfeito com isso. Não importa o que aconteça comigo daqui pra frente, a única coisa que não vou fazer é me arrepender.

He...

Fui muito legal agora?

...Bleeeeeeeeeeeeeeeeeh.

Você tá vomitando?!

Esse era mesmo o seu demônio. Nunca esquecia o senso de humor. Um bom humor era essencial para qualquer homem. Com humor vinha a compostura. Mulheres eram mais atraídas por homens tranquilos do que por homens estressados. Não que houvesse mulheres por perto, claro.

Ele deveria descansar? Ou continuar?

Ranta fazia essa pergunta a si mesmo a cada algumas dezenas de minutos. Dezenas? Talvez fosse mais frequente. Talvez fosse a cada poucos minutos. Ele não tinha como controlar o tempo, então não sabia ao certo.

Quando a noite se aproximou, a floresta ficou barulhenta. Não que fosse silenciosa durante o dia, mas o barulho noturno era diferente. Ele não podia enxergar no escuro, então sua audição parecia estar mais aguçada. Tornava-se sensível a qualquer ruído, dependendo quase inteiramente dos sons ao seu redor.

Talvez a gente não devesse falar — disse Ranta em voz baixa. — Ei, Zodiac-kun. Comando: Fica quieto, a menos que você perceba algo realmente ruim se aproximando.

Depois que fez Zodiac-kun calar a boca, os sons incessantes da floresta se intensificaram ainda mais nos seus ouvidos.

Sons. Sons. Ele não podia se deixar levar pela avalanche de barulhos que o cercava.

Escute e organize os sons, dizia a si mesmo. É extremamente difícil, mas preciso tentar. O que estou ouvindo perto de mim? Meus próprios passos. O som dos insetos. Só isso, né? E aquele som agudo de “fii, fii, fii, fii”, do que é? Não faço ideia. E aquele “cah, cah, cah, cacacacacah”? Como vou saber? Eu não sou um professor de florestas noturnas.

Isso é irritante. Claro, sou um cavaleiro das trevas, não um professor de florestas noturnas. Mas, afinal, o que é um professor de florestas noturnas? Não importa. Se for necessário, eu me tornarei um professor de florestas noturnas, ou seja lá o que for. Preciso fazer isso. Ou talvez não? Sei lá.

Será que é imprudente continuar com tanta escuridão ao redor? Estou no meu limite, não estou? Isso é claramente perigoso. Talvez devesse descansar? Se eu dormir, quando acordar já será manhã. Bem, se algo acontecer enquanto eu durmo, eu lido com isso depois. O velho deve estar dormindo agora também, certo? Ele ainda está me perseguindo? O objetivo dele era me levar de volta, mas eu não tenho intenção de ir. Nesse caso, ele não poderia simplesmente desistir e voltar? Se ele já desistiu, não há necessidade de pressa. Posso ir devagar e priorizar minha segurança.

Não dá.

Estou com medo.

Isso é assustador pra caramba!

Assustador demais, tá bom?! Meu coração está disparado! Nunca senti tanto medo antes! Por quê?!

...Oh.

Até agora, ele estava fugindo. Tentava não ser pego, é claro, e ficava com medo sempre que percebia um perseguidor, mas estava lidando com Takasagi e o grupo dele. Eles não o matariam assim, sem mais nem menos, sem antes tentar conversar. Pelo menos era o que Ranta acreditava, e, na verdade, ele estava certo.

Assim, enquanto Takasagi e seus homens o perseguiam, Ranta, de certa forma, não estava sozinho. Pelo menos, não sentia o peso da solidão de forma tão real.

No vasto Vale dos Mil, que provavelmente estava cheio de perigos, ele sequer sabia para onde estava indo.

Além disso, para onde ele estava indo? O que ele estava tentando fazer?

Ele pensava vagamente: Acho que vou voltar para Altana. Mas não tinha uma ideia clara do que faria ao chegar lá.

Se eu encontrar Renji, talvez ele me deixe entrar na party dele, pensou vagamente. Eu recusei antes. Talvez isso não aconteça.

Ele conseguiria voltar para Altana?

Diante daquela situação, sem nenhum motivo para acreditar, Ranta não era idiota o suficiente para pensar com confiança: Sim, acho que consigo.

Aquilo era solidão.

Ele estava verdadeiramente sozinho, sem um único amigo no mundo.

Ele queria descansar. Para recuperar o fôlego e minimizar os riscos, era o mais sensato a se fazer. Não precisava dormir. Bastava deitar ou até sentar. Ele sabia disso.

Mas ele não conseguia descansar.

Se parasse, provavelmente enlouqueceria. No mínimo, choraria. Na verdade, Ranta já estava com lágrimas nos olhos. Ele se envergonhava, mas não tinha controle. Estava chorando. Não, ele não tinha nem o luxo de se sentir envergonhado.

Ele só podia manter seu demônio materializado por trinta minutos seguidos. Antes que percebesse, Zodiac-kun já tinha desaparecido, e Ranta quis gritar.

Se vai embora, me avisa! Me avisa antes de sumir!

Entre soluços, ele se apressou em refazer o Demon Call. Zodiac-kun reapareceu e, como Ranta tinha ordenado, continuava em silêncio. Ele não podia reclamar, pois foi ele mesmo quem deu o comando. Se cancelasse a ordem, seria admitir derrota.

Não, esse não era o problema. Se continuasse com aquele bate-papo no estilo de comédia com o Zodiac-kun, bem, isso o distrairia, mas era como se ele mesmo fizesse o papel de bobo e sério ao mesmo tempo, e isso parecia vazio.

Não, não, não, esse não era o problema. Era algo mais... Espera, por que ele tinha ordenado que o Zodiac-kun não falasse, afinal? Ele nem se lembrava mais, mas um homem nunca volta atrás em sua palavra, e seu orgulho não o deixaria admitir que estava se sentindo solitário e pedir para o Zodiac-kun soltar uma ou duas histórias engraçadas.

É isso mesmo. Se o Zodiac-kun me pedisse, eu estaria disposto a ceder, mas não posso me rebaixar. Além disso, meu demônio é como uma parte de mim, então é estranho pensar quem está pedindo o quê... Em outras palavras, o Zodiac-kun não pode adivinhar meus sentimentos e me fazer rir com uma piada? Por que não? Hein? E aí? Estou perguntando aqui. Não, acho que não estou perguntando, né. Não estou perguntando. Mesmo sem eu pedir, você deveria entender. Entenda, por favor. Por que você não entende? Estou triste. Isso é difícil. Sério, muito difícil...

O ambiente estava ficando um pouco mais claro, e ele conseguia distinguir melhor os contornos das árvores e do terreno. Em apenas uma noite, sentia que tinha envelhecido vinte, talvez trinta anos. Era o quanto ele estava exausto.

Acho que isso significa... que estou seguro...? — murmurou.

Não. Era cedo demais para pensar isso. A noite nem havia terminado.

Mais um esforço.

Estava quase lá.

Quase onde? O que vai acontecer?

Mesmo que o dia amanhecesse, não havia garantia de que estaria seguro. Quando ele finalmente poderia descansar?

A qualquer momento. Se estivesse preparado para aceitar as consequências, poderia descansar em qualquer lugar e da forma que quisesse.

É só uma questão de estar preparado para aceitar isso. Mas isso significa desistir. Não, significa mudar de rumo. Cheguei tão longe. Estou no meu limite. Continuar andando é uma dor insuportável. Nunca pensei que um único passo pudesse ser tão desgastante. Devo descansar. Se não o fizer, vou desabar. Não tenho outra escolha.

Tome a decisão e deixe-se descansar. Tenho certeza de que tudo ficará bem. As coisas que me preocupam não vão acontecer. Vou tirar um cochilo rápido, e quando me sentir melhor, poderei me mover novamente.

Ele parou.

Certo...

Até sua voz estava fraca.

Viu? Agora não há escolha além de descansar.

Ele tentou se sentar no chão.

Heh... Ranran...

...Hã?

Ao ouvir seu nome ser chamado, ele se virou. “Quem está me chamando de Ranran?” Ele quis dizer, mas agora não era hora para isso.

Zodiac-kun estava tentando se virar.

Ranta reagiu rapidamente usando Exhaust. Logo depois, ou mais precisamente ao mesmo tempo, Zodiac-kun foi jogado no chão por algo.

O que quer que fosse, havia saído de algum lugar próximo, pulando dos arbustos atrás de Ranta e Zodiac-kun para atacar o demônio. Antes que Zodiac-kun pudesse revidar, aquilo cravou as presas na área próxima dos olhos parecidos com buracos do demônio.

Quando um demônio recebia uma quantidade letal de dano, ele se desfazia tão facilmente quanto um castelo de areia. Isso aconteceu, e o agressor talvez tenha ficado surpreso com isso. Mas rapidamente assumiu uma postura baixa e avançou na direção de Ranta.

O que é isso?

Uma fera? É preta. Não, tem manchas. É um lobo? Não, é um gato? Um leopardo ou algo assim?

Oh, droga. É rápido.

Ele não tinha espada. A tinha perdido na luta contra Takasagi. Isso era mais grave do que qualquer situação.

Ranta sacou sua faca reserva enquanto recuava com Exhaust, mas o que ele podia fazer com uma arma dessas?

Ele usou o Exhaust novamente.

Não adianta. Não consigo me afastar. E além disso, está se aproximando rápido. É algo muito superior a um humano ou orc. É rápido demais. Não adianta. Não consigo fugir.

Ranta estava completamente perdido. Talvez fosse por isso.

Ngah...?!

Era uma árvore. Ele bateu as costas em uma árvore. Que erro.

Estava vindo. O que provavelmente era um leopardo rugiu e saltou sobre ele.

Ranta foi imobilizado. A pressão era incrível. Ele estava preso ao chão, incapaz de mover os braços.

Ranta usava um elmo. Sua viseira móvel foi arrancada. Parecia que o leopardo a tinha rasgado com uma mordida.

Ohhhhhhhhhhhhh...?!

O que aconteceu em seguida foi insano. Ele tentou morder seu rosto. Instintivamente, Ranta torceu o pescoço. O leopardo acabou mordendo sua cabeça, não seu rosto.

Ohhh, ohhhhh, ohhhhhhh...?

Ele estava mastigando. Seu elmo. Sim. Seu elmo. De alguma forma, o elmo estava resistindo às presas do leopardo.

Não...?

Ai?!

Dói quando você faz isso, okay?

Ohhhhhhhh, ohhhhhhhhhh, nããããããão...?

O elmo. Sob a imensa pressão das presas. Provavelmente, as presas tinham perfurado o elmo. Elas estavam entrando na cabeça de Ranta. Talvez não muito fundo ainda, mas doía, então com certeza estavam cravadas nele. Além disso, parecia que o elmo estava prestes a amassar, ou já tinha começado, e seu pescoço parecia que ia se partir.

Eu tô morto. Tô muito morto aqui. Ele vai me comer.

N-n-não sou gostoso, então e-e-espera, não me come, não me come, não me come! Não me comaaaa, uahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh...? — Ele estava começando a entrar em pânico.

Calma, disse a si mesmo. Agora é hora de se acalmar.

Ah! Ahhhh! Ó Escuridão, Ó Senhor do Vício, Dread Terror...!

Uma névoa arroxeada surgiu e foi sugada pelo nariz e pela boca do leopardo.

O efeito foi instantâneo. O leopardo saltou para longe de Ranta.

Ranta imediatamente rolou para o lado e se pôs de quatro. Ele saltou com o Leap Out.

Enquanto fugia, olhou para trás para ver o leopardo. O animal soltava um grito agudo, típico de felinos, enquanto saltava de um lado para o outro. Parecia que havia algo aterrorizante à sua frente, e ele tentava afastar aquilo com as patas dianteiras. Era essa a impressão que passava.

Aterrorizando o alvo com a ameaça do deus das trevas, Skullhell, e roubando sua capacidade de tomar decisões corretas. O Dread Terror estava funcionando. Seria perfeito se ele pudesse fugir agora, mas provavelmente as coisas não seriam tão fáceis.

O leopardo rugiu e se virou para ele. Estava vindo. Em pouco tempo, avançou em sua direção a toda velocidade.

Será que isso estava caminhando para sua morte, talvez?

Para usar magia das trevas, ele precisava parar. Se parasse, o leopardo o alcançaria num instante e o derrubaria. Enfrentá-lo era impossível. Aquele leopardo era maior que Ranta. Ele não tinha chance com aquela faca.

O leopardo provavelmente não tinha muita resistência, então, se Ranta conseguisse continuar correndo, poderia cansá-lo. Mas ele era rápido. Rápido demais. Logo o alcançaria. Havia apenas uma coisa a fazer.

Para o leopardo, Ranta era uma presa. Ele devia estar tentando comê-lo. Estava com fome. Queria comer. Nesse caso, só precisava alimentá-lo. Sim. Ele podia dar um braço.

Certo, decidi. É pra eu sobreviver. Esse é um preço baixo. Sem problemas. Eu vou viver. Eu vou sobreviver. Vou me manter firme, manter a cabeça fria, focar em como sobreviver e fazer minha escolha. Eu vou fazer isso. Eu consigo. Acredite.

Ranta parou de repente. O leopardo estava quase sobre ele. Estava bem na sua cara, por assim dizer.

Missing.

Fez parecer que ia para a direita, mas foi para a esquerda.

O leopardo o seguiu sem hesitar. Sério? Isso era puro instinto natural.

Mais uma vez, Missing. Dessa vez, ele fingiu ir para a direita e foi para a esquerda.

Aguenta firme, pernas!

O leopardo vacilou para a direita um pouco, mas continuou seguindo de perto.

Hah...!

Não foi Leap Out ou Exhaust. Ranta torceu o corpo e saltou praticamente em linha reta para cima. Não alto, mas baixo e rápido.

Ele planejava fazer o leopardo que avançava passar direto por ele. Não, não era isso.

Ele se agarrou nas costas do leopardo.

Estava preparado para sacrificar um braço, se necessário, mas não ia desistir dele desde o começo.

Ranta envolveu o braço ao redor do pescoço do leopardo, segurando o torso com ambas as pernas. Ele cravou a faca no lado do pescoço da criatura. Tentou perfurar fundo, mas o leopardo gritou e saltou. Ele se chocou de costas contra uma árvore próxima.

Quem sofreu o impacto direto foi Ranta, que estava agarrado às suas costas. O impacto quase o fez perder a consciência.

Eu não vou soltar. Eu não vou a lugar nenhum.

Ngahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh...!

Ele moveu a faca.

Morra. Morra. Morra, maldito.

O leopardo se debatia, arranhando o braço esquerdo de Ranta. As garras. A força delas era incrível.

Seu braço esquerdo foi rasgado.

Era o momento—não de ser teimoso.

Saia daqui, pensou. Ele rolou e se levantou. O leopardo pulou para pegá-lo.

Ranta fugiu usando Exhaust e Missing, de alguma forma conseguindo escapar, mas o leopardo não desacelerava. Era como se aquele ferimento no pescoço nem coçasse.

Ranta arrancou o elmo esmagado, jogou-o no leopardo e recuou com Exhaust. Isso estava começando a pesar nas pernas. Até onde ele conseguiria ir? Teria que descobrir. Porque determinação sozinha não seria suficiente.

Era hora de procurar uma forma de virar o jogo, mas ele não tinha nenhuma. Mais uma vez. Ele teria que fazer a mesma coisa de novo. Se fosse só mais uma vez, talvez conseguisse dar um jeito. Quando não pudesse mais se mover direito, teria que fazer sacrifícios.

Não era teimosia. Tampouco uma determinação patética. Era uma crise clara, uma situação de vida ou morte, e ele estava no limite, mas, estranhamente, estava calmo.

Se não estivesse, teria ficado em choque quando um objeto longo e fino caiu do alto.

Naturalmente, ele se surpreendeu, mas estava estranhamente tranquilo, então conseguiu reagir imediatamente. Aquele objeto longo estava cravado no chão bem na frente de seus dedos. Era uma katana.

No instante em que largou a faca, Ranta puxou a katana do chão. Com o cabo próximo ao ouvido esquerdo, segurou-a com ambas as mãos. Pé direito à frente, pé esquerdo atrás.

O leopardo estava próximo. Perto demais.

Ele moveu o pé esquerdo para frente, girando o pulso enquanto descia a lâmina diagonalmente para baixo e para a direita.

Ele sentiu o impacto de algo.

O leopardo passou pelo lado direito dele, tão perto que quase o tocou, e caiu.

Essa katana... — murmurou Ranta.

À sua frente, à esquerda, havia algo que não poderia ser chamado de colina, mas uma elevação abrupta no terreno.

Alguém tinha jogado aquela katana de lá. Só podia ser isso. Não havia como algo tão conveniente simplesmente cair do céu, então ele podia dizer que as chances de ser outra coisa eram nulas.

Ele sabia que seria inútil, mas escalou a elevação.

Não foi inútil. Não havia ninguém lá, mas havia uma bainha de katana descartada.

Ranta se agachou e pegou a bainha. Assim que a segurou, seus joelhos cederam.

Ele soltou um soluço silencioso.

Não chore.

Não posso derramar lágrimas.

Segure com tudo que tenho, e respire.

Aquele velho... — Ele tentou rir, mas não conseguiu. — Que idiota...


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