Hai to Gensou no Grimgar | Grimgar of Fantasy and Ash Volume 11
Capítulo 04
[Meu Querido Professor e Ele]
Quando isso começou?
Eu realmente odiava voltar para casa.
Ficar em frente à porta me fazia sentir como se estivesse sendo trancado em um lugar ridiculamente apertado, e isso me deixava nauseado.
Sempre foi assim? Não podia ser. Quando começou? Eu realmente não sabia.
De qualquer forma, eu odiava minha casa.
Hoje, eu queria muito cantar. Convidei algumas pessoas, fomos para o karaokê, estendemos, estendemos mais e mais. Uma pessoa foi embora, depois outra, e mais outra. Quando todos disseram que precisavam ir para casa, terminei relutantemente, mas, no fim, ficamos lá por um total de quatro horas. Generosamente, paguei a conta toda. Afinal, fui eu quem os convidou, certo? Enquanto cantava como louco, também comia e bebia, então não estava com fome.
A essa hora, provavelmente alguém já estava em casa. As luzes estavam acesas, também.
Peguei a chave na bolsa e destranquei a porta. Ela se abriu. Entrei.
O truque era fazer tudo isso de uma vez só. Se eu parasse no meio do caminho, teria vontade de fugir. Não que isso fosse adiantar.
Mesmo que eu dissesse para irmos a algum lugar depois, tínhamos acabado de passar quatro horas no karaokê. Ninguém viria comigo. Brincar sozinho também não era divertido. Às vezes podia ser bom. Hoje mesmo fui a um fliperama sozinho.
As luzes do hall de entrada acenderam quando o sensor captou meus movimentos. Havia sapatos de salto alto. Os sapatos da minha mãe.
Tirei meus sapatos e entrei na casa.
Subi as escadas do hall para o segundo andar. Entrei no meu quarto e acendi a luz. Joguei minha bolsa no chão e, tentando não pisar nos objetos espalhados, fui para a cama.
Sem tirar o uniforme, mergulhei na cama e me virei de costas.
Olhando distraído para os pôsteres no teto, pensei: Huh, quando foi que coloquei esses aí?
Os pôsteres variavam: de idols, revistas de mangá, a filmes. Havia de tudo. Depois de ficar sem espaço nas paredes, comecei a colocá-los no teto também.
Tirei as meias e as joguei em qualquer lugar. Meu pé direito tocou algo. Era uma mini bola de basquete. Peguei-a com os pés, joguei para o alto e a peguei com as mãos. Sentando-me, mirei na cesta de basquete em miniatura no canto do quarto. Arremessei.
— Vamos lá! Entra...!
A bola foi implacavelmente rejeitada pela cesta.
— Ahhhh! Que droga! Já chega disso!
Fiquei irritado e decidi dormir.
Não... Eu adoraria dormir, se conseguisse, mas ainda não era possível.
— ...Ahhh. — Soltei a voz sem motivo.
Puxei meu cabelo.
— Argh. — Resmunguei.
Suspirei.
Soltei um: “Uhhh”.
Depois, mudei o tom: “Ehhh”.
Troquei de novo: “Ohhh”.
Heh heh. Ri sozinho.
— ...Que tédio.
Deitado de bruços, pressionei meu rosto contra o travesseiro. Ele cheirava a produtos de cabelo, xampu e outras coisas. Não era nada agradável. Mas eu não odiava. Não era bom, mas também não era ruim.
Talvez a vida seja assim, pensei de repente.
— Pode ser... Talvez seja isso mesmo. É. Droga, sou incrível. Nossa. Minha garganta está seca...
Levantei e cocei a cabeça. Devia ter passado na conveniência e comprado algo para beber. Mas agora sair de novo era muito trabalho. Não tinha escolha.
— Acho que vou descer...
Saí da cama, deixei meu quarto e desci para o primeiro andar. Havia um corredor estreito saindo do hall de entrada. A porta à esquerda era o banheiro, e a porta no final levava à sala de estar.
Quando abri a porta, a TV estava ligada. Minha mãe ainda estava com as roupas de sair, sentada no sofá e bebendo alguma coisa. Provavelmente vinho, como de costume.
Havia uma adega absurdamente grande nesta casa, com quase cem garrafas. Quase todas as noites, minha mãe bebia vinho em uma taça ridiculamente grande.
Minha mãe lançou um olhar na minha direção e não disse nada. Se tivesse dito qualquer coisa, eu teria ficado bravo, mas ser ignorado também era irritante.
Passei pela sala até a cozinha e comecei a revirar a geladeira.
— ...Droga. Por que essa casa só tem água com gás e mineral? Que porcaria é essa? Não dá pra acreditar.
Quando murmurei isso sem querer, ouvi minha mãe estalar a língua, e isso me incomodou ainda mais.
— ...O quê? — perguntei. — Não falei nenhuma mentira. Tem algum problema comigo?
— Por que você tem a boca tão suja? Não sei a quem você puxou. Mas deve ter sido ao seu pai, com certeza.
Minha mãe aparentemente estava bêbada. Mas isso não significava que eu era obrigado a engolir calado. Bati a porta da geladeira com força.
— Quando você diz “meu pai”, está falando do seu marido? Ou é de outra pessoa?
— Hein? Outra pessoa? Do que você está falando? — ela retrucou.
— Como vou saber? Você parece não gostar muito do seu marido, então pensei que talvez esteja tendo um caso. Ou, sei lá, já teve antes?
— Para de falar besteira.
— Não é besteira. É um problema bem sério. Será que eu sou mesmo filho do velho?
— Não diga bobagens. Mas é verdade, você não se parece com seu irmão ou sua irmã. Eles não são mal-educados como você.
— Tá dizendo que o mano e a mana não são como eu, que eles são alunos exemplares, é isso? Sabia.
— O quê? Tá com inveja? A razão de você ser um fracasso é que não faz nenhum esforço, não é? Isso é culpa sua.
— Não tô com inveja. Quer dizer, claro que tô com ciúmes, sim. Eles me deixaram sozinho nessa casa de merda e saíram assim que puderam. Tipo, que droga é essa? Sério. Sério mesmo.
— Se você pensa assim, por que não sai também?
— Não precisa me dizer isso. Assim que eu terminar o ensino médio, tô fora.
— Se não quer depender dos seus pais, por que não larga os estudos e arruma um emprego?
— Nossa, você é incrível, hein? Não conheço muitos pais que dizem pro filho largar o ensino médio.
— É só se você não quer ficar nessa casa. Se vai brincar com o dinheiro que seus pais ganham, pode pelo menos parar de reclamar tanto?
Fiquei tão irritado que chutei o balcão da cozinha.
Minha mãe gritou: — O que você tá fazendo?!
— O que parece que eu tô fazendo?! Chutei, ué!
— O jeito como você desconta sua raiva nas coisas é igualzinho a ele!
— Isso não me deixa nem um pouco feliz!
— Não tô tentando te deixar feliz!
— Hoje é meu aniversário, droga...!
Depois que soltei essas palavras, não consegui tapar minha boca. Era tarde demais.
Honestamente, por que eu disse isso? Obviamente, não tinha intenção. Não importava nem um pouco que fosse meu aniversário. Isso não tinha nada a ver com essa conversa.
Além disso, pense bem. Quando foi a última vez que comemoraram meu aniversário? No ensino fundamental? Terceira série, talvez quarta? Só podia ser isso. O clima nessa casa estava péssimo havia tanto tempo. E depois que minha mãe começou a trabalhar, as coisas pioraram ainda mais.
Meu pai só vinha pra casa umas duas vezes por semana. Mesmo quando vinha, era tarde da noite. Provavelmente tinha outra casa. Minha mãe devia ter um amante também. Apesar disso, ela aparecia todo dia.
Eu nem sabia quantas vezes já tinha visto minha mãe e meu pai brigando. Sempre me perguntava: se eles se davam tão mal, por que não se divorciavam?
Meu irmão conseguiu um emprego no ano passado. Minha irmã está na universidade. Nenhum dos dois aparece mais aqui em casa.
Para meu irmão e minha irmã, aparentemente era assim que viam a situação: “Bem, é entre eles como marido e mulher. Deixa eles fazerem o que quiserem. Eles estão nos mandando dinheiro como deveriam.”
Bom, claro, eles podiam pensar assim. Sem dúvida. Quando meu irmão conseguiu um emprego, meu pai comprou um carro caro para ele, e quando minha irmã teve sua cerimônia de maioridade, encomendaram um lindo quimono para ela. Quando meu pai ocasionalmente ia a Tóquio a negócios, ele comia sushi com meu irmão em Ginza. Minha irmã mantinha contato frequente com minha mãe.
Foi meu pai quem comprou aquele anel da Tiffany’s para minha irmã, ou foi minha mãe? Bem, foi um dos dois.
Eu não tinha expectativas em relação aos meus pais. A questão era que eu recebia dinheiro. Tinha uma conta exclusiva, e quando o saldo ficava baixo, fosse porque eles faziam depósitos ou por outro motivo, o saldo aumentava sozinho.
Nunca me faltou nada. Isso era suficiente. Não havia necessidade de esperar nada deles.
Quem se importa com aniversário? Era só um dia entre 365 no ano. Naturalmente, eu não tinha contado aos meus amigos que hoje era meu aniversário. Mesmo que perguntassem, eu não diria.
“Como assim, você não sabe meu aniversário? Cara, você é inútil”, seria minha única resposta.
Mesmo assim, eu me esforçava para descobrir os aniversários dos meus amigos e planejar festas para eles. Comprava pequenos presentes, essas coisas. Por que não? É o básico da decência humana. Eu não esperava nada em troca, tá? Só fazia isso porque queria.
Sim, isso não importava. Sério, não importava. Assim como o fato de hoje ser meu aniversário.
— E? — Minha mãe parecia ainda mais perto de perder a paciência, por algum motivo.
Ela ia explodir comigo, sendo que eu é que deveria estar bravo? Virando sua taça, ela segurou o vinho na boca por um momento antes de engolir. Eu não suportava o jeito que ela bebia.
— E... nada, na verdade — murmurei.
— Se é dinheiro que você quer, eu já estou te dando, não estou? Por que não compra o que quer?
— Não é isso...!
— Eu sei que você não vai ficar feliz se eu te comprar algo, então pode parar de esperar por isso? — ela rosnou.
— Eu nunca disse que queria que você comprasse algo, e eu não quero!
— Então o quê?! Seu irmão e sua irmã me mandaram mensagens no meu aniversário e até me enviaram presentes, mas você nem sequer me desejou feliz aniversário, sabia?! Não acha um pouco demais esperar que eu celebre o seu depois disso?! Você não faz nada, mas reclama que eu não faço isso ou aquilo! Você é igual a ele! Quando olho para você, me dá nojo!
— Então passe mal! — gritei. — Vomita, vomita até as tripas saírem! Engole seu vinho e depois bota tudo pra fora, sua vadia!
— Como você se atreve...!
De repente, minha mãe engasgou. Ela deixou cair a taça e levou as mãos à boca. Curvou-se no sofá.
Oh, droga. Tentei desviar o olhar rapidamente, mas era tarde demais. Vi claramente o momento decisivo.
— O que está fazendo, nessa idade? — murmurei.
Eu sabia que ela estava bebendo muito, mas não pensei que chegaria ao ponto de vomitar. Isso me deixou enjoado também. Se eu não tomasse cuidado, ficaria nauseado. E, se isso acontecesse, seria o pior. O absoluto pior.
Minha mãe parecia ter desistido e decidiu deixar tudo sair ali mesmo. Ela se inclinou sobre a mesa baixa em frente ao sofá, tossindo e engasgando.
Eu devia ter deixado essa mulher e voltado para meu quarto. Apesar disso, quando percebi, já estava pegando uma caixa de lenços e jogando para ela.
— ...Obrigada — disse minha mãe de forma constrangida, em voz baixa, enquanto começava a limpar as mãos e o rosto.
Nojento. Isso era patético demais. Eu nunca gostei da minha mãe, mas essa foi a primeira vez que senti um desprezo tão forte por ela.
— Um pano... — comecei a dizer, mas me calei. Porém, minha mãe aparentemente já tinha me ouvido.
— No banheiro, embaixo da pia...
— Tá, tanto faz.
Sem pressa, mas com passos longos e rápidos, fui até o banheiro e abri as portas do armário sob a pia. Baldes, panos e produtos de limpeza. Tentei encher um balde de água, mas a torneira atrapalhava, e não consegui colocar na pia.
— Sério que tenho que usar o chuveiro...?
Sem alternativa, usei o chuveiro para encher o balde e joguei o pano dentro. Quando levei o balde e o sabão para a sala de estar, minha mãe disse: — Me desculpe.
Por quê, exatamente, ela estava pedindo desculpas? Queria perguntar, mas não queria saber a resposta.
Deixei o balde e o sabão, voltei para o meu quarto, apaguei a luz e me joguei na cama. Assim que me cobri, tirei o uniforme, ficando apenas de camiseta e roupa de baixo.
Virei de lado e me encolhi. Eu ficava mais calmo nessa posição, com o braço direito entre as pernas e o esquerdo segurando os joelhos.
Mas era meu aniversário, eu queria murmurar.
Sério, que piada.
Meu velho tinha cabelo permanente natural, mas meu irmão mais velho e minha irmã mais velha não tinham nem um fio cacheado. A propósito, o cabelo da minha mãe era completamente liso. Dos três irmãos, eu era o único cacheado. Puxei ao meu pai.
Mas, sinceramente, eu tinha certeza de que ele me odiava. Nunca tinha me elogiado, nem uma vez. Mas me lembro de incontáveis vezes em que ele ficou bravo comigo.
Ultimamente, ele nem mesmo brigava mais comigo. Mal nos encontrávamos. Talvez ele não me odiasse, mas simplesmente não ligasse. Meu irmão mais velho e minha irmã mais velha também não pensavam em mim. Mesmo hoje, no meu aniversário, nenhum dos dois me mandou uma mensagem.
Eu tinha amigos. Muitos amigos. Sempre fui popular, sabe? Nunca faltavam pessoas para sair comigo.
Se eu dissesse que ia pagar, todos vinham. Se eu não pagasse? Quem sabe. Eles estavam acostumados. Eu sempre os bancava. Não iam crescer para se tornarem adultos decentes.
Eram lixo. É, lixo. Nada além de lixo.
Lixo. Lixo. Lixo. Lixo. Lixo. Lixo. Lixo. Lixo.
Este era um mundo podre, cheio de nada além de lixo coberto por mais lixo.
Argh, eu não me importava mais. Nada fazia diferença. Talvez fosse melhor ficar aqui, desse jeito, para sempre. Eu gostava de espaços apertados, afinal.
Estar sozinho não era ruim. Todo mundo era lixo, afinal. Nada além de lixo.
Vamos, pelo menos me mandem uma mensagem. Hoje era meu aniversário.
Mas e daí? Não importava. Não tinha nada a ver com isso. Não significava nada. Droga, eu estava cansado. Tipo, sério, tão can...
※ ※ ※
— ...Uh? — Ranta murmurou, esfregando os olhos.
Por um instante... ele tinha dormido?
— Sério? — murmurou.
Não se lembrava do que era, mas parecia que tinha tido um sonho. Provavelmente um sonho ruim.
Cara, eu sou corajoso mesmo, Ele pensou, rindo baixinho.
Ranta estava numa árvore.
Para descrever a árvore com uma metáfora, era como se dezenas... não, centenas de cobras estivessem entrelaçadas, se apoiando umas nas outras enquanto tentavam alcançar o céu. Ranta estava escondido, encostado no tronco.
Claro, ele não estava ali para passar o tempo ou brincar. Obviamente. Ranta achava importante manter sempre um toque de brincadeira, mas, considerando que o cara que o perseguia, o velho Takasagi, era uma ameaça concreta e estava no seu encalço, ele não podia se dar esse luxo agora.
Por isso, quando a voz de Takasagi começou a se aproximar, Ranta percebeu que estava em apuros. Saiu do esconderijo na sombra da árvore e foi para dentro dela.
O tronco da árvore, que parecia feito de centenas de cobras entrelaçadas, não só parecia assim: era realmente formado por muitos troncos finos. Graças a isso, com um pouco de procura, ele encontrou uma abertura que parecia grande o suficiente para ele entrar.
Ele sabia que era uma jogada arriscada. De fora da árvore, provavelmente não dava para vê-lo. Da mesma forma, ele não conseguia ver o exterior, então era forçado a adivinhar a situação pelos sons.
Tinha dado trabalho entrar, então provavelmente sair também não seria fácil. Isso significava que, se Takasagi descobrisse sua localização, ele não teria como fugir.
Seu coração estava disparado, para dizer o mínimo.
O velho gritava constantemente: — Ranta! Rantaaaaa!
A voz do velho estava cada vez mais perto.
Honestamente, sabe de uma coisa? Acho que talvez, só talvez, eu tenha me ferrado.
Sim. Bem, claro? Se perguntassem se ele realmente pensava isso, não era bem assim, ou talvez um pouco, mas talvez não. Isso seria derrotismo, sabe? Ele era um homem que nunca duvidava de seu sucesso, okay? De que adiantava pensar no que aconteceria se falhasse? Ele resolveria isso quando chegasse lá. Era um homem raro, com sabedoria, coragem e nobreza tudo em um só pacote, afinal...
Ele não estava com medo. Nem um pouco. Isso podia ser dito com certeza.
Como prova, Ranta não se mexeu nem um centímetro quando, bem ali perto—era difícil dizer exatamente quão perto, mas provavelmente bem perto—ele ouviu a voz de Takasagi gritando: — Rantaaa!
Ele prendeu a respiração e ficou parado. Estava apavorado? Não, não, não. Não era isso, tá? Ele estava convencido de que ia ficar bem, entendeu? Era tudo tranquilo daqui para frente, afinal, sabe? Cara. Sério.
Queria poder mostrar a você quão calmo e autoconfiante Ranta-sama estava naquele momento, ele pensou, com um sorriso. Mostrar ao mundo inteiro e anunciá-lo para todos ouvirem. Algo como: “Aqui está o grande Ranta-sama, o mais poderoso de todos os cavaleiros das trevas!”
Seja como for, já que não podia fugir, ele tinha que ficar em silêncio. Estava honestamente e verdadeiramente preparado para isso.
Mas, obviamente, não esperava cair no sono, okay...?
Agora, então.
Quanto tempo eu dormi?
Exatamente quantos minutos haviam se passado desde que ouviu a voz de Takasagi extremamente perto? Dezenas de minutos? Ou algumas horas?
Ele pensou nisso, mas—
É, sei lá. Como eu saberia? Sobre a duração do tempo e tal. Mas devo aguentar por mais um tempo, certo? Esse é o momento de ser paciente, certo? O velho ainda pode estar por perto, afinal, não é? Se ele estiver, eu estaria encrencado, e muito. Tipo, uma quantidade insana de encrenca. Paciência, paciência. A árvore. Torne-se parte da árvore. Não, torne-se a própria árvore. Eu sou uma árvore. Tão árvore. Não importa como olhem pra mim, não tem nada além de árvore. A árvore mais arvoreante. Perfeitamente árvore...
Ele... tentou ser paciente, sabe?
Estou sendo paciente.
Mas, ainda assim...
É difícil.
Isso é sofrimento.
O que é isso? Treinamento?
Meditação?
Sou um monge agora?
Por que eu seria um monge? Não sou nenhum santo. Isso não faz sentido. Mas, sério?
Eu tô querendo mijar.
Mijar aqui provavelmente não seria uma boa ideia. Talvez ele tivesse que considerar isso num cenário de pior caso, no entanto. Era desnecessário dizer que Ranta-sama era um realista, e, se fosse preciso, ele faria o que fosse necessário. Mas agora, era tão urgente assim? Isso era uma situação de crise? O fim do mundo estava próximo? Não, né...?
Deixa eu falar logo. Um homem não pode vencer sua bexiga. Isso é um fato.
Bem, ele estava com os ouvidos atentos como um radar—só que não, porque ouvidos não ficam atentos como um radar, isso você faz com os olhos—mas, deixando de lado se ouvidos podem ser como radar, ele prestou atenção enquanto segurava a bexiga e não ouviu nada que indicasse que alguém estava por perto. Então, provavelmente, estava tudo bem.
Takasagi com certeza tinha passado por ali. No entanto, ele não estava mais por perto. Assim como o fim do mundo, Takasagi não estava ali.
Ninguém tinha o direito de reclamar se ele chegasse a essa conclusão. Tipo, ele não aguentava mais segurar. Não podia. Ele tinha que mijar, mijar, mijar, droga. Se não o fizesse, ia virar um demônio do mijo. Ele podia implorar por ajuda, mas ninguém ia ajudá-lo, então teria que lidar com isso sozinho.
Basicamente, eu vou fazer isso!
É a única opção! Só isso!
Empurrando os troncos flexíveis, ou galhos, ou o que quer que fossem, ele saltou para o mundo exterior. Naturalmente, olhou em volta e confirmou que não havia ninguém por perto.
Olha, olha, olha, tá vendo? Não tinha ninguém, viu? Assim como ele pensou, certo? O que significava, basicamente, que estava tudo dentro do planejado, não estava? Nossa, ele ia explodir.
Não, calma, não entre em pânico, disse a si mesmo. Ele cantarolou algo enquanto relaxava, mas rapidamente abaixou as calças e...
— Ah... — Sua voz escapou.
A sensação de A-L-I-V-I-O...
Mas, nossa, como estava saindo. E como estava. Estava jorrando. Ele tinha segurado tanto assim?
Pensando bem, fazia uma eternidade que ele não ia, então tinha que estar segurando muito, mas será que tanto mijo cabia numa única pessoa? Como assim? Esse volume de urina. Não era estranho? Era difícil acreditar que tudo isso era dele. Será que seu sistema urinário estava conectado a algum outro lugar? Tipo, um tanque com urina de dez pessoas? Ele suspeitava que, na verdade, esse mijo vinha dali...
— Ooh... — Ele estremeceu.
Parece que acabou tudo.
Ranta esqueceu de guardar as partes íntimas na calça enquanto soltava o suspiro mais profundo de todos.
Essa sensação de realização, não era algo para subestimar.
Tipo, sei lá. Talvez eu tenha nascido para este momento? E assim, vou começar a caminhar de novo para criar minha lenda?
Para exagerar um pouco, naquele momento, Ranta estava mergulhado numa sensação de ter se tornado um deus todo-poderoso e onisciente. Tudo ia dar certo, e nada era impossível. Ele acreditava nisso, então, quando de repente ouviu seu nome sendo chamado, nunca esperou por isso.
— Ranta!
Foi por isso que não parecia real, e Ranta virou-se lentamente.
Um homem com um olho e um braço só saiu da sombra de uma árvore, a cerca de dez metros de distância.
— Então era aí que você estava, hein? — disse ele.
O primeiro pensamento de Ranta foi algo como: Essa deveria ser a minha fala, mas ele não conseguiu dizer nada. Em vez disso, um soluço escapou.
— Eep...
Takasagi parou de andar e franziu o cenho.
— Ei. — Ele fez um gesto com o queixo.
Com isso, Ranta finalmente respondeu: — ...Sim, senhor.
O que eu tô fazendo dizendo “Sim, senhor”? Não somos professor e aluno, pensou ele, profundamente envergonhado por um momento.
No entanto, pensando bem, o relacionamento deles não tinha sido tão diferente do de um mestre e um aprendiz por um curto período.
Bem, talvez isso seja normal então, pensou Ranta. Não, não é. Será que é? Hm. Qual é a certa...?
— Por enquanto, dê um jeito nessa coisa aí — disse o velho.
— ...Que coisa?
— Não me diga que saiu do esconderijo só para mijar.
— Ah...!
Ranta percebeu que a “coisa” ainda estava exposta e rapidamente a colocou de volta dentro das calças. Com um movimento atrapalhado, sacou RIPer e assumiu uma posição de combate.
Takasagi não dava o menor sinal de colocar a mão na bainha de sua katana. O que será que ele enxergava com aquele olho direito? O que exatamente aquele homem estava pensando? Sua expressão parecia dizer algo como “Talvez seja hora de um cigarro”, mas claramente não era isso.
Ranta respirou fundo. Seu corpo parecia encolher. Você não pode se mover assim. Esse velho vai te derrubar com um só golpe. Concentre-se, cara! Ele se alertou. Ou será que você deveria relaxar? Difícil dizer. Espera aí, como é que você pode relaxar, seu idiota?!
A distância entre ele e Takasagi era de cerca de sete metros. Será que ele devia usar o Leap Out para se aproximar com um ataque surpresa? Não, de jeito nenhum. Esse adversário não era alguém que cairia nessa.
Takasagi estava sozinho? Tinha aliados? Ele gostaria de olhar ao redor, mas seria perigoso tirar os olhos de Takasagi agora. Muito perigoso. Seria praticamente suicídio. Sério, sério, esse velho é insano. Isso é ridículo.
Em pouco tempo, Ranta já estava suando.
— Só quero dizer uma coisa... — Takasagi suspirou. Ele girou o pescoço, e houve um som de estalo vindo da articulação. Aquele barulho fez Ranta saltar, e ele sentiu uma vergonha ardente por ter reagido assim.
— ...O-O-O quê?
— Você não tem nem uma chance em um milhão de me derrotar agora.
— S-Se é uma chance em um milhão, vale a pena tentar, pelo menos...
— Eu disse que você não tem nem essa chance em um milhão.
— Isso é o que você pensa! Não dá pra saber até eu tentar!
— Então tente. Estou aqui.
Takasagi sacou sua katana com facilidade.
Seu braço esquerdo pendia inerte, e a ponta da espada quase tocava o chão.
Mesmo eu sei disso, pensou Ranta, cerrando os dentes. Não sou idiota. Estou bem ciente de que ele não é um adversário que eu posso vencer. Qual é a diferença entre nossas habilidades?
Se Ranta fosse nível 50, Takasagi seria nível 99...
Huh? Nível? Que tipo de nível? Bem, nível de combate, ou algo assim? Seja como for, mesmo que não fosse o dobro de sua força, Takasagi estava perto disso. E isso já era uma diferença enorme. Para dar um exemplo, Ranta tinha cerca de 1,70m de altura, então o dobro seria algo como 3,40m. Se ele lutasse contra um cara assim, sua chance de vencer seria zero.
Havia alguma abertura que ele pudesse explorar?
Fundamentalmente, não havia nenhuma.
Esse homem nunca se descuidava. Se parecesse que havia uma brecha, isso era ainda mais motivo para ter cautela; provavelmente seria uma armadilha.
Como esse homem de um braço só, um olho só e de meia-idade era tão poderoso?
Por um curto período, Takasagi havia treinado Ranta como um mestre treina um discípulo. Então, claro, Ranta tinha pensado sobre isso à sua maneira. Qual era o segredo do poder de Takasagi?
Em termos de habilidades físicas, provavelmente não eram acima da média. Isso significava que ele não era excepcionalmente rápido ou forte. Quanto à resistência, ele já não era jovem, então devia estar além do auge. Seria a experiência? Ele tinha isso, obviamente. Mas isso certamente não podia ser tudo.
Não era só Takasagi. Havia algo que todos os caras fortes pareciam ter em comum, e isso era determinação. Se havia algo sobre os caras fortes, acima de tudo, era que nada os abalava. Mesmo em uma crise em que deveriam pensar: Estou ferrado. Vou morrer com certeza, eles permaneciam completamente calmos, não é? Eles tinham a coragem necessária para ser assim.
Será que todos os caras durões eram insensíveis? Será que não sentiam medo ou ameaça?
Provavelmente não era isso. Se fosse, seriam apenas idiotas.
Não era que eles não tivessem medo; era que sabiam que agir assustados não ajudaria em nada, e lidavam com a ameaça reconhecendo-a como tal, mas sem se deixarem dominar por ela. Era isso, não era?
Takasagi era assustador. Super assustador. Tão assustador que, mesmo já tendo se aliviado, Ranta podia acabar molhando as calças. Quando ele tinha um inimigo tão assustador bem na sua frente, o que poderia fazer?
Ele parou de suar.
Sua respiração, que estava ofegante até então, se normalizou.
Os lábios de Takasagi se curvaram para cima de um lado.
— É, isso é bom.
Ele acha que é meu professor ou algo assim?
Não, se eu ficar bravo, as coisas vão continuar como antes. Preciso olhar para a situação como ela é e aceitá-la. Não sei o que Takasagi quer, mas isso não importa. Há muito o que aprender com ele. É isso que importa.
— E agora, sensei? — perguntou Ranta.
O único olho de Takasagi estreitou-se um pouco.
— Não sou um professor de palavras. Você vai ter que aprender enquanto fazemos.
— Ah, é? Bem, tudo bem então. — Ranta saltou direto para trás. — Isso me serve melhor também!
Exhaust. Para quem assistisse, podia parecer que ele estava apenas pulando, mas era diferente. Quando uma pessoa comum tentava pular alto ou longe sem impulso, ela dobrava os joelhos, agachava e então os esticava rapidamente para saltar. Cavaleiros das trevas faziam diferente. Eles usavam um método especial em que, em vez de dobrar, torciam os tornozelos, joelhos e quadris, gerando instantaneamente uma explosão de força.
Além disso, alternando o impulso dos calcanhares e das pontas dos pés, aumentavam ainda mais a propulsão. Essa técnica especial, chamada de Shadow Step, era, de certa forma, o que definia um cavaleiro das trevas. Usava músculos das pernas que geralmente não eram utilizados, então não podia ser aprendida apenas observando, e provavelmente só um cavaleiro das trevas sabia exatamente como funcionava.
Por causa de Shadow Step, as panturrilhas dos cavaleiros das trevas eram anormalmente desenvolvidas e deformadas. Além disso, o uso do Shadow Step não só aprimorava as habilidades de movimento, como Exhaust, Leap Out e Missing, mas também aumentava a precisão de várias técnicas de ataque, como Hatred.
A diferença de poder entre os dois era óbvia, mas Takasagi não era um cavaleiro das trevas. Havia coisas que Ranta, como cavaleiro das trevas, podia fazer e Takasagi não.
Se havia algo em que Ranta tinha vantagem sobre Takasagi, era isso: o fato de ele ser um cavaleiro das trevas.
— É só conversa, Ranta...?
Takasagi avançou imediatamente. Para um homem de meia-idade, ele era absurdamente rápido ao arrancar. Dito isso, não era tão rápido quanto o Exhaust de um cavaleiro das trevas.
Sem dizer uma palavra, Ranta usou Exhaust uma segunda, depois uma terceira vez, ganhando ainda mais distância de Takasagi. Se pudesse usar Exhaust para sempre, seria possível fugir assim. No entanto, obviamente, isso era impossível. O Vale dos Mil tinha muitas árvores e o terreno era irregular.
No meio de seu quarto Exhaust com Shadow Step, enquanto desviava de árvores, quase prendeu o pé em um galho seco. Ele não podia se dar ao luxo de cair. Tropeçando um pouco, Ranta parou.
Takasagi estava se aproximando. Ainda estava a mais de dez metros de distância. Bem, talvez doze ou treze metros. Ranta tinha espaço para manobrar.
— Até logo, velho...!
Ranta virou as costas para Takasagi. Se isso fosse uma brincadeira de pega-pega, sendo mais jovem, Ranta não perderia.
Além disso, ele tinha uma vantagem inicial de doze metros, então podia fugir. Fazer parecer que iria lutar, depois escapar. Isso era bem a cara de Ranta. Um movimento comum, mas eficaz.
Enquanto confirmava as posições das árvores, Ranta correu por mais vinte metros.
A distância entre ele e Takasagi mal havia mudado.
E os caras da Forgan? Por enquanto, ele não via nenhum. Será que eles não estavam por ali?
É hora?
No momento em que pensou isso, Ranta saltou para trás com Exhaust sem hesitar.
Torcendo o corpo no ar, ele usou Leap Out. Ele se lançou contra Takasagi.
Takasagi... riu.
Ria. Ria o quanto quiser.
Ranta desceu RIPer em um golpe diagonal.
Hatred. Um golpe com toda a sua velocidade e força, mas a katana de Takasagi desviou facilmente. Ranta estava sendo tratado como uma criança.
Claro.
Eu sabia que seria assim.
Ranta recuou imediatamente usando Exhaust. Em seguida, usou Missing. Com essa habilidade, explicando de forma simples, ele balançava a parte superior do corpo para a esquerda ou direita e saltava na direção oposta. A maioria das pessoas confiava na visão, o que tornava fácil enganá-las com esse movimento. O oponente se fixava nos movimentos do cavaleiro das trevas, seguindo instintivamente a direção para onde o tronco dele balançava. No entanto, Ranta se movia para o lado oposto, dando a sensação de que desaparecia por um instante.
Mas Takasagi não se deixou enganar. Seu único olho estava fixo em Ranta.
Isso significava que truques como aquele não funcionariam contra um veterano endurecido como ele.
Se não fosse por mais nada, pelo menos estava claro agora. Takasagi parecia alguém que se destacava em enganar os adversários, afinal. Mas Ranta não tinha intenção de lutar com ele dessa maneira.
Ranta usou Leap Out na diagonal para a esquerda, afastando-se cerca de sete ou oito metros de Takasagi.
Takasagi não se moveu. Ele estava esperando. Será que ele tinha percebido tudo?
Impressionante, velho. Mas eu não vou desistir só porque você consegue prever meus movimentos. Eu vou continuar.
Ranta torceu o corpo, usou Exhaust e, em seguida, combinou com Leap Out. Era o mesmo ataque de antes, mas desta vez ele não brandiu a RIPer.
Ele estocou.
Anger.
Takasagi não bloqueou com a katana. Ele desviou suavemente para a esquerda.
Aí vem um contra-ataque... ué?
Ranta usou Missing, fingindo que ia para a esquerda, e então saltou para a direita.
Takasagi não levantou a katana. Parecia ter hesitado, mas quem saberia ao certo? O movimento da parte superior de seu corpo com o Missing deveria ter um efeito ainda mais forte a curta distância, então talvez até mesmo Takasagi tivesse pensado: Oh!
Será que ele poderia usar isso?
Era hora de testar.
Mesmo que mantivesse a calma e usasse toda a sua força e habilidade, isso não seria suficiente por si só. O poder de Ranta estava muito longe de se equiparar ao de Takasagi, então ele precisava de algo a mais.
Ele usou Exhaust e Leap Out novamente para ganhar distância, torceu o corpo e então usou as mesmas habilidades para avançar na direção de Takasagi.
Ranta assumiu a posição de Hatred. A distância era a mesma de Hatred também.
Takasagi estava se preparando para bloquear com a katana. Talvez desta vez, ao invés de desviar o ataque, ele pretendesse repelir.
Antes que isso acontecesse, Ranta usou Missing, fingindo que ia para a esquerda, e saltou para a direita enquanto balançava a espada.
Parecia que ele tinha conseguido surpreender Takasagi, que recuou para evitar a lâmina de Ranta.
— Interessante.
Ah, é? Isso é interessante para você, velho? Bem, eu só estou começando, pensou Ranta, mas não disse nada. Era preciso muita perseverança para lutar sem falar. Mas Ranta precisava fazer isso.
Ele usou Exhaust e Leap Out para se afastar de Takasagi.
Remova tudo o que for desnecessário.
Finalmente ele começava a entender.
Eu nunca estive sério de verdade. Quero ficar mais forte. Eu vou ficar mais forte. Eu com certeza vou. Eu só falava da boca pra fora. Talvez eu achasse que estava dando meu máximo, mas isso nem chegava perto.
Pois é, né? Quando surgia uma crise, eu me esforçava ao máximo. Mas isso vale para qualquer um. Não importa o quanto alguém seja um idiota despreocupado, a pessoa fica desesperada quando as coisas ficam ruins. Eu só fazia o que qualquer um faria, mas me achava demais, pensando que estava agindo da forma certa.
Eu era ingênuo.
No fim, fui complacente.
Deve haver mais coisas que eu poderia ter feito, mas eu não fiz.
Então, o que eu fiz?
Eu culpei os outros.
“Estou fazendo o que devo fazer muito bem, então qual é o problema com vocês? Vocês são um bando de inúteis sem nenhum talento, não é? Bem, acho que não posso culpá-los. No fim das contas, somos apenas os restos. Um bando de peixes pequenos. Eu sou diferente, no entanto, sabem? Quero dizer, eu já sabia disso desde o começo. Eu percebo muitas coisas. Nunca esperei nada de vocês, para começo de conversa, tá bom? Apenas façam o melhor que puderem. Mas, de qualquer forma, se tivermos sucesso, será graças a mim, e se falharmos, será culpa de vocês. Haruhiro. Especialmente você. É culpa sua por ser o líder sem ter aptidão para isso. Não é por isso que estamos nesse estado lamentável? Porque você erra em tudo. Se é isso que vocês conseguem fazer, então por que eu deveria ser melhor?”
Não é como se eu realmente pensasse assim, Ranta refletiu. Mas parte de mim olhava para vocês com uma sensação de superioridade. Mesmo que vocês façam tudo o que puderem com a única vida que têm, há limites para o que conseguem fazer. Quero dizer, olhem para vocês.
Eu sou diferente. Porque estou com vocês, parece que não consigo subir na vida, mas se eu me juntasse a uma party melhor, eu trabalharia como um louco e alcançaria coisas incríveis. Eu sou um cara que o próprio Renji reconheceu, tá bom? Eu sou feito de outra matéria comparado a vocês. Outra matéria.
Mesmo acreditando nisso, no fundo, ele provavelmente também sentia uma pontada de incerteza.
Ranta girou o corpo e usou Exhaust, seguido de Leap Out, fechando a distância com Takasagi. Dessa vez, foi com Anger.
Takasagi apoiou o peso na perna direita e ergueu ligeiramente a katana. Apesar disso, a ponta ainda estava abaixo da cintura, em uma postura defensiva e baixa. Ele observava, atento ao que Ranta faria. Takasagi havia ficado cauteloso. Ranta o forçou a erguer a guarda.
Mas não fique feliz, disse a si mesmo. Não deixe isso subir à cabeça.
Ranta não desencadeou Anger. Em vez disso, usou Missing no último momento, fingindo ir para a direita e saltando para a esquerda. No entanto, não balançou a espada. Takasagi acompanhava seus movimentos com os olhos perfeitamente. Sua katana não se movia nem um centímetro.
E que tal isso?
Ele usou Missing mais uma vez.
Takasagi ergueu a katana ligeiramente.
Ranta atacou com Hatred.
A katana de Takasagi colidiu com RIPer, e faíscas voaram.
Quando as lâminas quase se entrelaçaram, Ranta usou Reject. Com os pulsos, cotovelos, ombros, cintura e até as pernas, ele empurrou o oponente para longe.
Takasagi deu apenas um passo para trás antes de se estabilizar. Ele avançou contra Ranta.
Ranta recuou com Exhaust. Mais Exhaust. E mais uma vez.
Takasagi não perseguiu.
Ranta respirou fundo e relaxou. Tenho potencial—ou pelo menos deveria ter.
Mas, sério, sério, é só isso que eu consigo?
O verdadeiro eu é mais forte?
A razão de eu não conseguir mostrar todo o meu poder é porque ando com um bando de fracotes?
Mas, mesmo assim...
Se eu me esforçasse ao limite dos limites, até onde não pudesse mais, com treino ou qualquer coisa, e isso fosse tudo o que eu fosse capaz de fazer, eu ficaria mais do que chocado.
Eu sei. Gritar o tempo todo no meio do combate é inútil. Eu invento esses nomes de ataques especiais, mas eles não são tão especiais assim. O Haruhiro e os outros estão se esforçando de verdade, de verdade mesmo, até o limite deles, e eu... na verdade, estou sendo salvo por eles. Eu sei. Mas esse não é meu estilo, é? Ficar focado em uma única coisa feito um idiota e continuar nisso. Ficar pensando demais sobre isso e aquilo. Eu sou assim, e eles não tentam me parar de verdade, então qual o problema?
Tenho energia sobrando. Ainda tenho espaço para crescer. Isso é fácil para mim. Fácil. Por que eles levam tudo tão a sério? Eles são sérios demais. Que bando de estraga-prazeres. Sério mesmo.
Vocês são tão sérios, e isso é tão chato. Não é legal, okay. Quero dizer...
Quero dizer, vocês se esforçam ao máximo, se cobrem de sangue e lama, continuam se esforçando, e, se isso não der certo, o que acontece...?
“Eu não consigo me dar bem com eles” Eu pensei. “Nossas filosofias são diferentes. Nossas crenças não batem. Existe uma diferença entre o modo como eles pensam e como eu penso. No fim, somos incompatíveis. Esse não é meu lugar.” Mas, bem, continuar com algo porque já comecei? Isso existe. Aguentei firme e consegui chegar até aqui.
Mas, eventualmente, nossos caminhos iriam se separar. Sempre seria assim. Porque tinha que existir, em algum lugar, o lugar onde eu pertenço. Pessoas de quem eu realmente gostasse, de coração. Eles me valorizariam de verdade, e eu os respeitaria também.
A razão de eu ser assim, Haruhiro, é culpa sua.
Não é minha culpa. Eu não estava errado. Eu não sou fraco.
Eu sou o vilão. Todos me odeiam. Tudo bem. Não me incomoda nem um pouco. Esse tipo de papel, na verdade, é mais fácil de interpretar, sabe?
Eu não preciso ser amado. Se eu aceitar isso, não preciso me preocupar com as necessidades de vocês. Não preciso me contorcer. Posso fazer o que eu quiser. É, falem o que quiserem. Não importa o que vocês pensem, eu estou bem, droga.
— Rantaaa.
Takasagi ergueu sua katana. A mão esquerda, que segurava o cabo da arma, estava próxima ao queixo. A lâmina inclinava-se um pouco para a direita de Ranta. Seu pé esquerdo estava à frente. Os joelhos dobrados e os quadris abaixados.
Ranta não entendia muito sobre o uso de uma katana, mas, especulando, aquilo provavelmente era uma postura tanto ofensiva quanto defensiva.
Na próxima vez, logo no início, ou seja, quando Ranta tentasse atacar, Takasagi pretendia esmagá-lo. Não deixando sequer que ele começasse, por assim dizer. Takasagi já tinha visto o suficiente dos movimentos de Ranta e os compreendido. Pelo menos, era nisso que Takasagi confiava.
Ele acha que pode me subestimar.
Bora ver então!
Se acha que pode me parar, vem tentar!
Se fosse o mesmo de antes, Ranta teria deixado o sangue subir à cabeça e avançado contra Takasagi daquele jeito. Isso seria não demonstrar nenhum crescimento.
Estavam a oito metros de distância. Ranta deliberadamente parou.
— ...Hã? — Takasagi franziu ligeiramente a testa.
Não se preocupe. Não perdi a coragem. Sou um cavaleiro das trevas.
Ele podia lutar como um cavaleiro das trevas. Era sua única vantagem.
E um cavaleiro das trevas tinha mais do que apenas habilidades de movimento.
— Ó Escuridão...
Quando Ranta começou a conjurar seu feitiço, Takasagi avançou. Ranta, de alguma forma, conseguiu continuar a entoação sem perder a concentração.
— Ó Senhor do Vício, Demon Call.
— Seu cão de Skullhell...! — A katana de Takasagi avançou. Não foi um corte nem uma estocada. Era como se o braço de Takasagi tivesse se fundido à katana, transformando-se em um chicote.
Foi por muito pouco. Se tivesse sido um instante mais lento ao recuar com Shadow Step, Ranta teria caído vítima da katana de Takasagi. Se tivesse entrado em pânico e fugido um pouco antes, mesmo conseguindo manter a entoação enquanto corria, o feitiço talvez não tivesse sido concluído.
No lugar onde Ranta estava um momento antes, bem atrás de Takasagi, uma espécie de nuvem negra arroxeada apareceu. A nuvem rapidamente formou um redemoinho.
Ofegando, Takasagi começou a se virar, então saltou para o lado.
A nuvem já estava tomando uma forma familiar. Parecia um humano coberto por um lenço roxo, empunhando uma faca na mão direita e uma arma semelhante a um porrete na esquerda. Apesar de flutuar, tinha duas pernas bem definidas, o que lhe conferia um aspecto estranhamente “real”. Seus olhos pareciam buracos, e abaixo deles havia algo como uma boca em forma de fenda.
Seu nome era Zodiac-kun.
O demônio do cavaleiro das trevas Ranta.
— Kehe... Ehehehehe...! Quanto tempo, Ranta inútil...! Vá morrer dez mil vezes agora mesmo...!
— Não... — Takasagi balançou sua espada com força. — Quem vai morrer é você!
Zodiac-kun deu um salto mortal flutuante para trás, desviando do golpe de Takasagi.
— Kehe... Kehehe... Quer morrer antes do Ranta, idoso...?
— Eu não sou idoso! Estou apenas na meia-idade!
Takasagi avançou contra Zodiac-kun. Ele parecia surpreendentemente irritado.
Zodiac-kun recuava, escapando de Takasagi. Às vezes fazia mais um salto mortal flutuante ou se torcia para desviar da katana de Takasagi.
Enquanto recuperava o fôlego, Ranta observava Takasagi. Será que alguém como ele perderia a compostura tão facilmente? Ele não sabia. Poderia ser um truque, ou talvez Takasagi fosse sensível ao envelhecimento e tivesse se irritado sem querer. Ranta não conseguia dizer qual era o caso.
Takasagi era um bom ator. Não revelava o que sentia com facilidade. Isso significava que ele estava atuando? Tentando atrair Ranta? Ou seria seu objetivo confundi-lo?
Cada movimento tem um propósito.
Isso é uma batalha, huh.
Tenho que usar minha cabeça ao máximo assim?
Que saco. Não consigo fazer isso. Melhor resolver isso de uma vez. Não é hora de dizer adeus ao meu velho eu, que pensava assim?
— Ó Escuridão, Ó Senhor do Vício, Dread Venom! — Ranta invocou um miasma escuro e tentou envolver Takasagi nele.
Takasagi fugiu do miasma e de Zodiac-kun. Ele corria com uma agilidade que ninguém esperaria de um homem de meia-idade, afastando-se rapidamente. O miasma tinha pouca capacidade de persegui-lo. Porém, Ranta havia previsto a direção em que Takasagi recuaria.
Ranta usou Leap Out para pular na direção de Takasagi e desferiu um Slice. Ele balançou RIPer em um movimento em forma de oito. Não, no meio do movimento, a espada de Ranta foi desviada pela katana de Takasagi.
— Kehe...! — Zodiac-kun alcançou Takasagi e estava descendo com sua arma parecida com uma faca.
Foi aí que Takasagi fez algo incrível. Ele provavelmente girou, cortando diagonalmente para baixo com sua katana, e imediatamente, sem parar, girou novamente e golpeou para cima.
Zodiac-kun, de alguma forma, bloqueou com sua arma, e Ranta fez o mesmo com sua espada, mas...
Ranta caiu de costas, com as mãos dormentes, quase deixando sua espada cair, enquanto Zodiac-kun foi arremessado a cinco ou seis metros de distância.
Que poder.
Eu mal consegui ver também. Foi diabolicamente rápido, sabe...?
Não, agora não era hora de se surpreender. Ranta se inclinou e usou Exhaust, criando alguma distância entre ele e Takasagi.
Que merda...
Vai se ferrar, velho.
— Então você consegue, se tentar, Rantaaa. — Takasagi bateu com o lado plano da katana no próprio ombro esquerdo, exibindo um sorriso torto.
Isso é fácil para você, né?
É, faz sentido. Agora há pouco, Takasagi tinha deixado Ranta escapar. Enquanto Ranta estava sentado no chão, ele poderia tê-lo partido ao meio, se quisesse. Ele deliberadamente escolheu não fazer isso.
Takasagi soltou uma risada gutural.
— Você acabou de morrer uma vez.
Por quê? Por que ele não me matou? Ele quer que eu fique em dívida com ele? Será que ainda está bancando o professor ou algo assim? Vai se ferrar. Vai se ferrar até morrer.
— ...É. — Ranta aceitou tudo.
Zodiac-kun estava olhando para ele, mas não soltava nenhuma das provocações verbais que eram sua especialidade. No fundo de seus olhos parecidos com buracos, algo brilhou—ou talvez Ranta só estivesse imaginando.
— Você está certo. — Ranta reconheceu, suspirando. — Mas eu não estou morto. Isso significa que eu ainda posso lutar com você.
— Nem tanto. — Takasagi deu de ombros e fungou. Ele olhou para baixo, mas logo ergueu o rosto e fixou seu único olho em Ranta. — Só vou dizer uma coisa. Vamos perdoar você só dessa vez. O chefe não está bravo. Não sei sobre o resto, mas se eu ficar do lado do chefe, eles vão obedecer. Volte comigo, Ranta.
Ranta tentou abrir a boca. Mas o que ele deveria dizer...?
Tenho que te ouvir? É isso que você realmente sente, velho? Você não está tentando me pegar de surpresa, está? Não faria isso, né. Você faria se precisasse, claro, mas não contra mim. Mesmo sem fazer isso, você pode me matar. Nesse caso...
Você está falando sério?
Quer dizer isso de verdade?
Você veio até aqui, não para me matar por ter apunhalado você pelas costas, mas para me trazer de volta?
Você vai me perdoar?
Eu, que basicamente cuspi na cara de vocês? Eu posso ser perdoado? Você está dizendo que posso voltar para a Forgan? Isso é mesmo...
Ranta piscou. Não uma vez. Ele piscou repetidamente. Sentiu algo se acumulando no fundo do nariz. Seus olhos estavam irritados. Ele quase estalou a língua. Cerrou os dentes.
Não faça isso.
Não diga essas coisas para mim.
Eu finalmente me decidi a sair, e você vai me segurar.
— ...Eu estava no meu limite — disse Ranta.
Mesmo que o velho dissesse aquilo, eu não deveria estar dizendo essas coisas. Isso não é bom. Fique de boca fechada. Eu os apunhalei pelas costas. Foi uma traição clara, e eu fiz isso com um: “Heh, o que acharam disso?”
Não importa o que eu diga agora, é só uma desculpa. Tudo bem. Foi por isso que eu os traí desse jeito. Para que, mesmo se eu quisesse voltar, não pudesse.
— Se eu continuasse com vocês... eu me tornaria um membro da Forgan, de corpo e alma — disse Ranta. — Eu sentia que começaria a amar vocês de verdade. Viver e morrer com vocês. Sentia que começaria a aceitar isso sem nenhuma dúvida... Esse era meu limite. Eu estava em uma encruzilhada. Eu tinha que fazer uma escolha. Me tornar um membro da Forgan, ou...
— Ou o quê?
— ...Continuar sendo eu mesmo.
— Quando você diz “você mesmo”, o que quer dizer?
— Tipo... O eu de antes de encontrar vocês.
— O você que estava perdendo tempo, brincando com um bando de moleques que mal conhecia?
— Não era que eu estivesse brincando.
— Huh?
— Pareceu que estávamos brincando, né? Mas cada um deu o seu melhor à sua maneira. Passamos por muita coisa, e alguns até morreram.
— Se você está vivo, todo mundo morre eventualmente. Você e eu também. Até o nosso chefe, que parece impossível de matar. Mesmo Arnold, o morto-vivo, se você partir a cabeça dele ao meio, ele fica quieto de vez. E daí?
— ...Eu tinha um parceiro. Não fui forte o suficiente e deixei ele morrer.
— Você “deixou” ele morrer? Palavras grandes, hein, Ranta. Você se acha tão importante a ponto de carregar a vida e a morte de outras pessoas nas costas?
— Se eu tivesse mais controle, ele talvez não tivesse morrido.
— Não, está errado. Ele morreu porque não teve a sorte ou o poder pessoal para lutar contra o destino. É assim que todos nós morremos, cada um por conta própria.
— Tenho certeza de que você está certo — disse Ranta. — Velho, provavelmente é exatamente como você diz. Se eu ficasse na Forgan, eventualmente pensaria como você. Mesmo que vocês se deem bem, não são grudados de forma estranha. Cada um se sustenta sozinho. Mesmo andando com caras que pensam como você, sabe que vai estar sozinho quando morrer. É assim que é. Vocês são homens de verdade. São incríveis, e eu respeito isso. Quero ser como vocês também.
— Então seja como nós. Não vacile por qualquer coisa e viva com coragem, seja a vida longa ou curta. É essa a determinação que você precisa.
— Seria uma mentira.
— O quê?
— Esse não é o tipo de pessoa que eu sou. Eu poderia ficar na Forgan e imitar vocês. Tenho certeza de que me divertiria. Mas esse não sou eu de verdade.
— Um conselho de um cara de meia-idade. Ouça, Ranta. Não existe algo tão importante quanto um “você verdadeiro” que está por aí em algum lugar. Isso não serve só para você. Serve para mim também. Não ache que há um caminho preparado de antemão para nenhum de nós. Se você vê um caminho à sua frente, é uma ilusão. O caminho é deixado para trás conforme você o percorre. Quando você olha para trás e vê as pegadas que deixou, aquilo é você. Um segundo depois, elas podem mudar completamente de direção. Isso também é você. O “você verdadeiro” não é algo que se busca e encontra. A forma como você vive decide quem você é. Em outras palavras, isso é você.
— Você fala bastante — Ranta riu, mas Takasagi sorriu levemente, sem vergonha.
— Já estou ficando velho, afinal. Não parece, né?
— Parece, sim, droga.
— Parece, É?
— É. Dá para perceber que você viveu o dobro do que eu. Honestamente, o que você disse me atingiu. Basicamente, você está dizendo que, não importa quem eu seja ou quem eu tenha sido, se eu decidir, posso ser quem eu quiser, certo? Se eu quiser viver como um membro da Forgan, posso fazer isso...
Ranta respirou fundo e depois soltou o ar.
Takasagi não disse nada. No entanto, se Ranta permanecesse em silêncio, Takasagi acabaria pressionando por uma resposta ou repetindo a pergunta: “Você vai voltar?”
Ele não queria que Takasagi dissesse essas palavras. Apesar do curto tempo, Takasagi realmente tinha treinado Ranta como um professor. Mesmo agora, estava lhe ensinando coisas. Será que gostava de fazer isso? Provavelmente.
Se fossem apenas suas habilidades, ele não seria tão confiável entre os caras da Forgan, nem estaria em uma posição de autoridade e liderança. Jumbo talvez não fosse muito exigente, mas ainda assim era humano.
Será que Takasagi estava cuidando de Ranta porque ambos eram humanos? Talvez fosse parte disso. De qualquer forma, Takasagi tinha vindo buscá-lo.
Ranta estava grato.
Mas nunca diria isso em voz alta.
— No começo, só me juntei a vocês para salvar minha pele e ajudar aquela mulher inútil — disse Ranta. — Foi só por conveniência. Eu pensei que poderia me dar bem com vocês, e achei que não seria ruim passar um tempo com a Forgan também. Se eu estivesse com vocês, não teria que pensar em cada detalhe, poderia beber boa bebida, festejar e ter uma vida e morte divertida. Foi o máximo, droga! Foi tão bom que me deu nojo! Não importa o inferno que eu tenha que atravessar, eu tenho um motivo para abrir o Ramen Moguzo & Ranta! Que motivo, você pergunta?! Porque decidi que é isso que vou fazer! Eu sou! Um cavaleiro das trevaaaaas...!
Ele perdeu o rumo no meio da frase, mas havia algo fervendo dentro dele, tão quente que parecia prestes a explodir.
Isso era sangue. Sangue quente. Algo que ele não tinha sentido nenhuma vez enquanto estava com a Forgan.
Naquela época, era morno. Entendi. Então era isso.
Quando eu estava com o Parupiro e o resto, eu estava sendo mole comigo mesmo, e isso me deixava morno no final. Mesmo assim, eles eram um bando de perdedores tão inúteis que a situação geralmente era severa, e crises de vida ou morte eram quase diárias, então meu sangue acabava fervendo sozinho. Porém, quando tentei fugir para a Forgan, fiquei morno de novo.
Eu podia respeitar Jumbo, admirar Takasagi e fazer amizade com várias pessoas. Esse é o meu caminho na vida?
Digo que não.
Era realmente atraente, e tenho certeza de que teria sido bom, mas não é isso que eu, o grandioso eu, busco do fundo do meu coração e alma.
— Kehehehehehehe...! — Zodiac-kun soltou uma risada sinistra de repente.
Takasagi ficou um pouco tenso e virou-se para encarar Zodiac-kun.
— Ehe...! Ehehehehehe...! Muito bem dito, Ranta...! Seja amaldiçoado até a morte...!
— Você...
Takasagi ficou sem palavras. Bem, claro. Até o velho ficaria chocado.
Quero dizer, até eu estou perdido aqui, tá bom?
Zodiac-kun estava mudando diante de seus olhos.
Espera, Zodiac-kun, aquele troço parecido com um lenço... Você estava realmente usando isso?
O lenço agora estava se enrolando, ou melhor, se descascando, e uma figura lisa que não era exatamente masculina nem feminina, que era humanoide, mas claramente não humana, apareceu. Tinha uma cabeça, mas sem rosto! Não havia olhos, nem nariz, nem boca.
Sério? Isso é meio nojento.
Embora tenha sido por apenas um segundo, ele conseguiu ver o corpo nu de Zodiac-kun, algo pelo qual estava curioso, mas não queria realmente ver. O troço parecido com um lenço que foi arrancado do demônio se despedaçou e caiu, transformando-se em algo como fios que se enrolaram ao redor de Zodiac-kun. Além disso, as armas parecidas com faca e porrete fizeram um “bam” e também se transformaram em fios, assumindo novas formas nas mãos de Zodiac.
— He... Hehehehehe...Hehehehehehehehehehe... Hehehehehehehehehehehehehe...
Isso é insano.
Sério, insano.
Minhas lágrimas.
Meu nariz escorrendo.
Ranta estremeceu.
Havia alguém com uma armadura roxa-escura cobrindo todo o corpo magro, sem deixar lacunas, segurando uma longa arma tipo naginata com uma lâmina muito curvada em ambas as mãos.
O formato da arma, o design da armadura, não poderiam ser mais sinistros, e isso era indescritivelmente incrível.
Sim. Isso é o que importa.
Certo?
Isso é o que importa, certo?
Se estamos falando de cavaleiros das trevas, é assim que deve ser, certo?
— ...Maneiro pra caralho — disse Ranta.
— Ehe... Ehehehe... Me elogie mais... Morra me elogiando...
— Não, espera aí, Zodiac-kun—Isso é você?
— Ehe... Hehehe... Exijo um -san, seu pedaço de lixo fraco...
— Uh, tá bom, então, Zodiac-kun-san...?
— ...
— Zodias-san? Melhor assim?
— ...
— Ah! Que tal mudarmos seu nome para Zodie? Daí eu adiciono um -san, ficando Zodie-san.
— ...-sama.
— Zodie-sama? Sama, é? Hm... — Ranta inclinou a cabeça para o lado. — É, sobre esse -sama. Zodie-sama. Isso não soa certo. Não é ruim, acho. Que tal Zodi-sama? Nah, pensando bem, -sama não parece certo. Nem -san. Mas, falando nisso, você é meu demônio, não é? Espera aí, o que está fazendo evoluindo sozinho?! Eu nem fiz aqueles rituais de oferecer sacrifícios a Skullhell para acumular vícios ultimamente! Faz séculos que não faço isso! Mesmo que quisesse, não teria como! Eu rezava no meu coração, mas estávamos em Darunggar, e então aconteceu um monte de coisas!
— Sobre isso...
— O quê?
— Heheh...
Algo como fogo-fátuo acendeu nos olhos de Zodie e tremeluziu. Não era só isso. Havia uma leve aura reminiscentemente venenosa emanando de todo o corpo do demônio.
— É um segredo da empresa... Ehe... Contorça-se e sofra até morrer lentamente...
— Mas vocês nem são uma empresa!
— Skullhell está observando...
— Hã?
— Eu sou... Skullheeeell... O Deus das Trevaaaas...
— N-Não pode ser! Skullhell?! O próprio?! Você se manifestou?! Não, espera, não é “o próprio”, acho que você é tecnicamente um deus...
— Técniiiicamente...?!
— D-Desculpa! Não tecnicamente! Você é totalmente um deus, Deus! Quero dizer, caramba, olha essa aura divina! Ei, Deus! Você é tão divino! Um deus entre deuses! Se não fosse você, Skullhell-sama, nem haveria deuses em lugar nenhum!
— Fúria... Heh...
— E-Eu sinto muito...!
Havia apenas uma coisa a fazer ali.
No momento em que teve essa ideia brilhante, seu corpo já estava se movendo. Ele saltou, contorcendo o corpo no ar, e, ao aterrissar com tanta força que quase bateu a cabeça no chão, caiu de quatro e pressionou a testa contra a terra. Era sua cartada final.
ESTA ERA A DOGEZA!
NÃO!
ESTA ERA A DOGEZA SALTITANTE!
— Eu imploro...! Perdoe-me, Skullhell-sama!
— Heheheh... Heh...
— Eu faço qualquer coisa, tá bem?! Talvez “qualquer coisa” seja demais?! Erm, eu faço tudo, menos entregar minha vida. Bom, sinceramente, espero que aceite só essa demonstração dos meus sentimentos, mas eu vou fazer o que puder para negociar, sério...
— Você não parece... arrependido o suficiente... Ehehe...
— V-Você acha?! Eu não acho, não! Ei, velhote, você concorda comigo, né?!
— Está jogando a conversa para mim? — Takasagi perguntou, incrédulo. — Quão descarado você pode ser?
— Você está vendo, não está? Sou descarado assim, tá legal?!
— Não tenho palavras...
— Vai me abandonar?! Seu covarde!
— Sério, o que eu deveria dizer...?
— Pense por si mesmo, idiota! Opa, fui longe demais agora. Desculpa, desculpa. — Ranta riu, levantou-se e posicionou RIPer em prontidão. — Táaa bem, não sei como aconteceu, mas acho que sair matando várias coisas de maneira bem Cavaleiro Das Trevas fez meu Zodie evoluir ou algo assim! Agora, bora fazer as coisas na vibe cavaleiro das trevas e destruir o velhote!
— Você é um pedaço de lixo natural, não é? — Takasagi exibia uma expressão de exasperação.
Não era só que seu corpo não estava tenso; ele parecia até relaxado. Talvez fosse mais do que apenas falta de tensão; talvez sua guarda estivesse baixa. Se fosse isso, ótimo.
Zodie, possuído por Skullhell—mas não de verdade, já que o demônio só estava fazendo isso como uma piada—girou a longa naginata ameaçadora uma vez, então começou a se aproximar lentamente de Takasagi.
— Ó Escuridão, Ó Senhor do Vício... Dread Aura. — Ranta imediatamente convocou um ar negro arroxeado, envolvendo-se nele.
Esse ar era a manifestação do favor de Skullhell, aumentando as habilidades físicas de um cavaleiro das trevas, e essa melhora crescia com a quantidade de vício acumulado. Em algum momento, Ranta havia acumulado vício suficiente para fazer Zodiac-kun evoluir para Zodie.
Estou no meu auge.
Meu corpo está leve. Parece que meu peso caiu pela metade.
Cara, isso é incrível.
O poder não está apenas transbordando, sabe?
Parece que vou ter uma hemorragia nasal.
Mesmo assim, ele não podia deixar isso subir à cabeça. Era rápido para se empolgar e tropeçar. Era um mau hábito de Ranta. Não importava o quão quente sua alma estivesse, ele precisava manter a cabeça fria.
Se fosse honesto consigo mesmo, queria gritar. Soltar um grito de guerra. Mas não faria isso. Não porque fosse inútil. Porque seria negativo.
Takasagi lançou um olhar para Ranta, depois para Zodie. Houve uma leve tensão no braço esquerdo de Takasagi quando ele balançou a katana. Ele abaixou o queixo, colocando-se em uma linha reta entre Ranta e Zodie. Takasagi não encarava Ranta ou Zodie, mas também não lhes dava as costas.
Pega ele! Ranta deu a ordem e Zodie avançou.
Não restava nenhum sinal do tempo em que Zodie era o adorável Zodiac-kun. Ao mesmo tempo, Ranta via uma representação de si mesmo no demônio, e já estava criando um apego. Contudo, um demônio era apenas um demônio. Podia humanizá-lo e adorá-lo em seu tempo livre, mas tinha que usá-lo eficientemente na batalha.
Seja frio, Ranta disse a si mesmo. Não, era um erro demonstrar afeição por um demônio desde o início.
— Heeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee...! — Zodie girou sua longa naginata em direção a Takasagi.
Ranta saltou com Leap Out, mas não direto para frente. Ele tentou contornar para trás de Takasagi. Era óbvio que Takasagi queria evitar isso, mas Zodie estava ali.
A katana de Takasagi rebateu a longa naginata de Zodie.
Zodie usou o impulso do golpe para girar a naginata e desferiu outro ataque.
Takasagi deu um salto diagonal para a esquerda. Foi nesse momento que Ranta o atacou.
Anger.
Takasagi torceu o corpo para desviar da espada de Ranta.
E, antes que Ranta percebesse, lá estava o contra-ataque.
A katana de Takasagi fez um movimento semelhante a um ataque de backhand, difícil de prever. Se o corpo de Ranta não estivesse afiado pela Dread Aura, ele provavelmente não teria conseguido reagir e se esquivar tão rápido.
Mesmo assim, Ranta perdeu o equilíbrio e mal conseguiu escapar com outro Leap Out. Takasagi não teve chance de segui-lo e atacá-lo.
— Eeeeeeeee...! Eeeeeee...! Eeeeeeeeeeeeeee...! — Zodie atacou com sua longa naginata. Estocada, estocada, continuava atacando Takasagi.
Takasagi não bloqueava com sua katana. Ele desviava os ataques com facilidade. Porém, ele não ignorava Zodie para ir atrás de Ranta. Ele não podia.
Zodie não estava tentando matar Takasagi. Não havia como Zodie vencer Takasagi sozinho, então o demônio apenas o mantinha ocupado, focando apenas nisso. Na verdade, era Ranta quem estava comandando o demônio para agir assim.
Mesmo assim, mesmo com Zodie cumprindo um papel de tanque, aquilo não duraria muito. Takasagi logo entenderia os padrões de ataque de Zodie. E quando isso acontecesse, Zodie cairia. E rápido.
Ranta torceu o corpo e encadeou um Exhaust com outro Leap Out para investir contra Takasagi.
Hatred.
Embora a respiração de Takasagi estivesse ofegante por um breve momento, ele afastou a longa naginata de Zodie com sua katana e imediatamente se voltou para Ranta—Não, isso não era tudo.
Quando a naginata foi desviada, Zodie ficou completamente exposto à sua frente.
Takasagi entrou no alcance de Zodie, derrubou o demônio com um empurrão e, virando-se novamente para Ranta, desferiu um golpe diagonal com sua katana.
Quando Takasagi derrubou Zodie, isso foi contra as expectativas de Ranta, que já estava no meio de seu golpe.
Parecia que o tempo estava se estendendo enquanto a katana de Takasagi se aproximava lentamente. Ranta tentava inclinar o corpo para trás para desviar, mas não conseguiria a tempo.
Por que estou lento também, não só o velho?! Se nós dois estamos lentos, qual é o ponto?
Sua raiva era mal direcionada. Ele sabia disso. O tempo não tinha culpa. Mas por que parecia estar se movendo devagar? Era como se sua mente estivesse mais rápida, e ele tinha tempo para argumentar consigo mesmo sobre o que fazer. Pensar não adiantava, se ele não conseguia agir rápido.
A katana de Takasagi parecia prestes a atingir o queixo de Ranta.
Faltava tão pouco. Se conseguisse inclinar o corpo só mais um pouco, desviaria por um fio de cabelo.
Mas ele não conseguia.
Se ele me acertar bem na parte inferior da cabeça, vai doer pra caramba, e eu não vou conseguir lutar direito. Contra um inimigo experiente como esse velho, será o fim, não é?
Não.
Não acabou. Eu não vou morrer... Provavelmente. Eu não vou morrer.
Nesse caso, ainda tenho cartas para jogar. Levar o menor ferimento possível e contra-atacar. Consigo fazer isso, certo?
Sim, consigo. Vou fazer. Eu sou um cavaleiro das trevas. E daí? Que cavaleiro das trevas já desistiu com elegância? Cavaleiros das trevas são teimosos até parecer ganância. Provavelmente, pelo menos!
Mas... hein?
Que estranho.
A katana de Takasagi perdeu o ímpeto. Talvez eu consiga desviar disso?
— Gwah...! — O corpo de Ranta arqueou de repente. Sua cabeça bateu no chão.
Ai!
Uma ponte, certo? É assim que chamam essa posição?
— Hungh...! — Era óbvio que ele não podia ficar assim, então usou a cabeça como ponto de apoio, girou o corpo inteiro, pegando impulso, e se levantou com um salto. — Hoh...!
Takasagi, com um olhar desconfortável, estalou a língua ao errar o golpe e avançou com uma estocada direta usando sua katana.
— Argh...!
Isso não é típico de você, velho.
Ranta gritou e desviou a katana de Takasagi, atacando-o logo em seguida com um corte. Takasagi bloqueou com sua lâmina e, antes que suas espadas se cruzassem, ajustou o ângulo e empurrou.
Takasagi queria manter distância. Ele não queria cruzar lâminas. Se era assim, Ranta não o deixaria escapar.
— Ngh...! Rah...! — o som escapava involuntariamente da boca de Ranta.
Takasagi era astuto como uma velha raposa. Usava pequenos movimentos, empurrões e puxões, mudanças na direção que encarava e para onde olhava, tudo para desestabilizar Ranta. Ele estava claramente tentando afastá-lo.
Não havia dúvidas: Takasagi não queria cruzar espadas.
Pensando bem, era óbvio. Takasagi tinha um porte maior do que Ranta. Provavelmente mais força nos braços também. Mas ele só tinha um braço. Se competisse diretamente em força contra Ranta, que empunhava sua espada com as duas mãos, Takasagi enfrentaria dificuldades, mesmo sendo habilidoso com a katana.
Por mais mestre que fosse, não podia usar algo que não tinha: o braço dominante perdido.
Era verdade que a habilidade de Ranta não se comparava à de Takasagi. Por causa disso, Ranta tinha superestimado o adversário. Basicamente, tinha ficado assustado.
Ele não podia se deixar levar pela confiança, mas também não podia hesitar demais. Se sua determinação fosse como uma balança, precisava mantê-la equilibrada. Isso não era fácil. Porém, mesmo difícil, ele faria o possível.
— Droga...! — Takasagi gritou.
Talvez impaciente, Takasagi tentou varrer a perna direita de Ranta com a sua própria. Ranta não estava apenas atento à katana, mas também a ataques com as pernas, então achou que poderia lidar com isso. Nesse momento, uma imagem surgiu em sua mente, e seu corpo se moveu por conta própria.
Elevando sua espada em um movimento giratório ascendente, ele deslizou a lâmina ao longo da katana de Takasagi. Com isso, a ponta de sua espada ficou posicionada para atingir o rosto de Takasagi.
Takasagi também girou sua lâmina, tentando desviar a espada de Ranta para cima.
Ranta escolheu não resistir e, após elevar a espada, virou-a para baixo. A ponta voltou a mirar o nariz de Takasagi.
O único olho de Takasagi se arregalou.
Ranta avançou com a espada.
Takasagi torceu o corpo, arfando, e deu um salto para trás.
Foi superficial. Muito superficial. A espada de Ranta havia feito apenas um corte de uns dois centímetros na bochecha direita de Takasagi. Era apenas um ferimento leve.
Ranta recuou usando Exhaust e respirou fundo. Hora de se concentrar novamente. Ele precisava focar no próximo movimento.
Mas, ainda assim...
Eu consegui, parceiro.
Ele queria gritar o nome de seu parceiro em agradecimento, mas segurou o impulso.
Agora não é hora de sentimentalismos. Certo, parceiro?
— Wind, huh. — Takasagi girou levemente o ombro esquerdo, depois cuspiu no chão. Seu olho estava fixo em Ranta. Estava diferente de antes. Selvagen, mas incrivelmente frio. Aquilo era... sede de sangue.
— O quê, você é um guerreiro? — Takasagi zombou. — Não é um cavaleiro das trevas?
Ranta não respondeu. Estava no meio de uma batalha séria. Não ia perder tempo com palavras. Mesmo que quisesse falar, duvidava que conseguisse. Era como se tivesse engolido uma pedra; sua voz simplesmente não saía.
Takasagi.
— Você é mais habilidoso do que eu esperava, Ranta. Se eu te treinasse por alguns anos, com certeza você seria bem útil.
Velho...
Droga, você é assustador.
Se eu desviar os olhos por um segundo... Não, se eu sequer respirar, posso ser cortado. Isso não pode estar certo, né? Pelo menos acho que não. Mas será que é verdade? Posso dizer com certeza que não serei cortado? Não sei. Não dá pra ter certeza. De qualquer forma, esse Takasagi agora é completamente diferente do de antes.
Um matador de homens—essa foi a palavra que passou pela cabeça de Ranta. Seria essa a verdadeira natureza de Takasagi?
— Da minha parte, era isso que eu pretendia fazer, — disse Takasagi. — Para o bem ou para o mal, no nosso grupo, todos somos meio irresponsáveis. Entre nós, esse tipo de relação de mestre e discípulo é fundamentalmente impossível. Achei que estava bem com isso, mas estou ficando velho. Estupidamente, pensei que poderia tentar treinar alguém. Você tinha uma boa dose de experiência e já tinha visto o inferno. Também tinha coragem. Isso, muitas vezes, é mais importante do que talento. Quero dizer, se você deixar um gênio por conta própria, ele vai crescer sem você. Você é medíocre, mas não é um material ruim para trabalhar. Eu estava pensando em enfiar tudo o que eu sei em você. Achei que seria um bom jeito de passar o tempo. Estou decepcionado.
Ranta balançou a cabeça.
Não vacile.
Não importa o que Takasagi diga, não posso deixar isso me afetar. Ignore-o. Não ouça.
Além disso, por que estou deixando esse velho falar tanto? Ele está perdendo o fôlego. Tem que haver uma abertura para aproveitar. Não pode não haver nada. Mas, apesar disso...
Não só Ranta não conseguia avançar, como a mão que segurava a espada tremia levemente.
Ei, Zodie. Faça alguma coisa. Nada, huh.
Zodie, que havia sido derrubado antes, já tinha se levantado há muito tempo. O demônio podia atingir Takasagi com sua naginata de onde estava agora, mas não se movia.
O que eu sou, um sapo congelando porque uma cobra está me encarando?
Não. Eu não sou um sapo. Vou devorar essa maldita cobra. Engoli-la inteira.
Ranta se preparou para pular, mas Takasagi o antecipou. Não parecia coincidência. O timing fazia parecer que ele havia lido seus movimentos.
Quando percebeu, Takasagi estava bem na sua frente.
Ele é enorme.
O velho, com seu único olho arregalado e os lábios torcidos num leve sorriso, parecia um gigante. Ranta tentou se defender com RIPer. Embora, não intencionalmente. Foi um tipo de reflexo instintivo de autodefesa.
Mesmo assim, a espada de Ranta bloqueou a katana de Takasagi. Ou talvez Takasagi tivesse deliberadamente atingido a espada de Ranta. Ele a havia esmagado, você poderia dizer. Ou melhor: espancado-a brutalmente.
Houve um som incrivelmente alto. A katana de Takasagi parecia um dos pilares de um gigante. A espada de Ranta estava gritando. E Ranta estava quase gritando também. A única coisa que não fez foi fechar os olhos. Isso era o melhor que conseguia fazer.
Olhe, ele dizia a si mesmo. Continue olhando. Se eu não mantiver os olhos abertos e olhar, vou morrer. Ele vai me matar. Embora, mesmo olhando, ele ainda possa me matar.
— Wahahahahaha...! — Takasagi gargalhava.
Que tipo de criatura horrível é essa? Esse cara é humano? Ele é um monstro.
Ranta não pensava nisso; ele sentia. Aquele homem havia se libertado das limitações de ser humano. Era uma loucura. Era claramente impossível.
Não era uma questão de vencer ou perder. Esse não era o problema. Ele estava a um passo de sua força de vontade se quebrar.
Mas eu ainda estou vivo, não estou?
Mesmo agora, ele se lembrava. Aquilo estava gravado em sua memória e nunca se apagaria.
A Fortaleza de Observação Deadhead. O orc guardião. A armadura de um vermelho venenoso que cobria seu corpo maciço. O cabelo preto e dourado que escapava do elmo. As duas terríveis cimitarras. O portador das duas espadas, Zoran Zesh.
Até Renji havia sido arremessado, mas seu parceiro não vacilou. Ele tentou acertá-lo com um Thanks Slash.
Zoran não era apenas enorme; ele era rápido. Ele atingiu o parceiro de Ranta antes que pudesse ser atingido. Primeiro no ombro esquerdo. Depois na parte superior do braço direito. Antebraço esquerdo. Quadril direito. Lado esquerdo da cabeça. Até o topo da cabeça.
Mesmo depois de tantos golpes, seu parceiro ainda estava de pé, com Zoran claramente incomodado.
Por que esse humano não cai? Ele devia estar perplexo e assustado também.
Foi graças ao parceiro de Ranta que conseguiram derrubar Zoran. Porque, até que sua força se esgotasse—não, mesmo depois disso—seu parceiro permaneceu de pé.
Moguzo.
Não preciso gritar que é graças a você que consigo aguentar aqui. Vou arriscar minha vida e provar isso.
Se eu fizer isso, será a prova de que você viveu.
Não é que ele falhou em bloquear a katana, mas sim que não conseguia mais fazê-lo. RIPer estava em uma situação crítica e foi arremessada. No entanto, essa também era sua última chance.
Quando a espada saiu da mão de Ranta, Takasagi recuou o braço como se fosse matá-lo com o próximo golpe e, naquele instante—
— Ramen...!
Por que aquela palavra saiu? Naturalmente, estava ligada à loja de ramen de Moguzo e Ranta, que um dia eles abririam. Em outras palavras, era esperança, era ganância e era a expressão de sua vontade de viver a qualquer custo.
Ranta recuou com o melhor Exhaust que conseguiu realizar.
Naturalmente, Takasagi o perseguiu de perto. Para um homem de meia-idade, ele era rápido!
O que você é, velho, uma fera selvagem? Bom, eu já esperava isso.
— Keeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee...!
Zodie atacou Takasagi por trás. O demônio tinha mantido Takasagi ao alcance de sua longa naginata o tempo todo. Não tinha conseguido se mover antes porque Ranta estava intimidado, mas, assim que conseguiu, atacou imediatamente.
Takasagi teve que responder. Se não o fizesse, seria cortado pela longa naginata.
No fim, Takasagi desviou e evitou a naginata de Zodie. Sem perder o ritmo, gritou: — Oorah...! — e fez um golpe incrível que parecia estender seu braço. A katana perfurou o peito de Zodie sem erro.
— He... — Zodie transformou-se em algo como vapor negro, que se dissipou num instante.
— Rantaaa! — Takasagi se virou e gritou.
Ranta não conseguia mais ver o rosto dele. Ou melhor, não estava olhando para Takasagi.
Ele correu.
Estava determinado a correr.
Ele não pensava: Eu não vou morrer, ou, Eu quero viver, ou, Eu vou viver, ou qualquer coisa do tipo. Corpo e alma, ele corria. Era só nisso que ele estava focado.
A direção não importava. Ele nem estava conscientemente fugindo. Ranta apenas corria e corria.
Ele continuou correndo com tudo o que tinha.
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