Dare ga Yuusha wo koroshita ka | Who Killed the Hero Volume 02
Capítulo 06
[Garnahazza 1]
Leonard estava em uma taberna em uma cidade ao oeste de Gastan, procurando por seu próximo trabalho. Aquela área estava próxima aos intensos campos de batalha contra o exército do Rei Demônio, atraindo não só aventureiros, mas também mercenários, criando uma atmosfera agitada e perigosa.
Em meio àquela confusão, um homem se aproximou de Leonard.
— Você é Leonard? Aquele que dizem ter derrotado demônios em vários lugares?
O homem era rechonchudo, com o rosto redondo, parecendo sorrir mesmo sem fazer uma expressão.
— Sim, sou eu. Quem é você?
— Sou Ralph. Estou procurando alguém para um trabalho. Mas não pode ser qualquer um. Quero alguém habilidoso para aceitá-lo.
Ralph mantinha um sorriso amigável.
Pedidos de trabalho através de tabernas não podiam especificar aventureiros em particular. Por isso, pessoas como Ralph abordavam diretamente os aventureiros que desejavam contratar. Contudo, esse método era demorado, então não era muito comum.
— Tudo bem. Nós fazemos o trabalho direito, mas nossos preços são altos. Por causa disso, nossa reputação entre os clientes não é das melhores. Não seria melhor procurar em outro lugar?
Leonard ergueu o canto da boca em um sorriso autoirônico.
— Bom, ultimamente o número de aventureiros que sabem lutar de verdade diminuiu drasticamente. Estava buscando aventureiros que façam o trabalho bem, mesmo que custe um pouco mais.
— É mesmo? Mas você pode arcar com nossos preços?
Leonard examinou Ralph de cima a baixo.
Apesar de suas roupas não serem surradas, ele não parecia rico. Ralph tinha a aparência de um cidadão comum que se encontraria em qualquer lugar.
— Sou apenas um intermediário. Há um cliente separado. Então, preciso apresentar aventureiros competentes, entende?
Ter um intermediário para pedidos não era incomum. Pessoas que podiam se mover discretamente eram necessárias para indivíduos de alto status ou mercadores ricos.
— Entendo. Então, qual é o trabalho? Não dá para começar nada sem saber do que se trata, certo?
— É um pouco complicado. Que tal mudarmos de local? Este lugar não é ruim, mas não é adequado para nossa conversa. Conheço um bom lugar onde podemos alugar uma sala e conversar. Aceitando o trabalho ou não, eu cubro as despesas. Você vai ganhar uma noite de bebidas e refeições sem fazer nada. Não é um mau negócio, certo?
Ralph era habilidoso em conversar. Sua expressão alegre, combinada com seu jeito de falar, baixava a guarda das pessoas e as atraía.
— Parece bom mesmo. Mas tem certeza? Eu sou do tipo que não hesita em aproveitar uma refeição grátis.
— É exatamente esse tipo de pessoa que queremos. É um trabalho difícil que exige coragem.
Dizendo isso, Ralph conduziu Leonard para fora da taberna.
O lugar para onde Leonard foi levado era outra taberna frequentada por mercadores abastados.
A aparência do estabelecimento era limpa e organizada, exigindo certa coragem e dinheiro para entrar pela primeira vez.
Ralph abriu a porta sem hesitar.
Lá dentro, a decoração era harmoniosa, com móveis de alta qualidade. Não havia muitos clientes, mas aqueles presentes estavam bem vestidos.
Talvez por isso, os frequentadores sentiram algo de estranho em Leonard ao vê-lo entrar e lançaram olhares desconfiados. No entanto, quando Ralph os cumprimentou habilmente, eles retribuíram o cumprimento com um sorriso e logo perderam o interesse.
Ralph conversou com os funcionários com familiaridade, reservou uma sala e guiou Leonard até lá.
A pequena sala privativa tinha uma mesa e duas cadeiras. Logo, um atendente trouxe bebidas e comida, organizando-as habilmente sobre a mesa antes de fechar silenciosamente a porta reforçada, como se dissesse: “Sintam-se à vontade para conversar em particular agora.”
— Então, sobre o que é esse trabalho?
Leonard perguntou diretamente, bebendo um gole sem hesitar.
— Que tal discutirmos depois de comermos um pouco? Estou com bastante fome, na verdade.
Dizendo isso, Ralph incentivou Leonard a aproveitar a comida e as bebidas, enquanto também comia e bebia. Eles trocaram algumas palavras, com Ralph começando a falar sobre seu passado e, habilmente, conduzindo Leonard a compartilhar um pouco de sua história também.
Aos poucos, a conversa entre eles foi mudando, levando a uma exploração mútua de seus respectivos caráteres.
— É verdade. Sem dinheiro, nada neste mundo pode ser realizado — disse Ralph, assentindo de maneira apropriada e exibindo as expressões e reações que seu companheiro desejava. Ele era habilidoso na arte de ouvir os outros.
— É por isso que exigimos honorários adequados pelo nosso trabalho, mas as pessoas simplesmente não entendem. Só ficamos com uma má reputação — respondeu Leonard, aparentemente de bom humor.
— A propósito, Leonard, entre nós, o que acha da situação atual da guerra? — perguntou Ralph, baixando levemente a voz.
— Não há muito o que pensar. O lado humano não tem chance de vencer. Tudo o que podemos fazer é rezar para que a humanidade não pereça enquanto ainda estivermos vivos. — respondeu Leonard, de forma indiferente.
— Então essa é sua avaliação. Como esperado, ouvir isso de alguém que realmente lutou contra os demônios têm um peso diferente — disse Ralph, assentindo repetidamente.
— É óbvio. Os demônios são mais fortes que os humanos. Eles têm mais força física e poder mágico. Também são inteligentes. Além disso, agem de maneira coordenada sob a liderança do Rei Demônio. Em comparação, o lado humano ainda está dividido em sua resposta entre os países. Seria estranho pensar que podemos vencer.
— Sim, infelizmente parece ser essa a direção que as coisas estão tomando.
— ...Isso tem alguma coisa a ver com seu pedido? — O tom de Leonard baixou.
— Você disse que faria qualquer coisa por dinheiro, Leonard. Está correto? — Ralph perguntou, evitando a questão de Leonard e lançando outra em seu lugar.
— Sim, faço qualquer coisa se o preço for justo. Não há nada acima do dinheiro neste mundo. Até a vida pode ser comprada com dinheiro, desde que o valor seja apropriado.
Ralph colocou uma pequena bolsa de couro sobre a mesa. Um som metálico abafado ecoou quando o metal se chocou.
— Este é um adiantamento. Considere como fundos para preparação.
Quando Leonard inclinou a bolsa sobre a palma da mão, moedas de ouro deslizaram.
— Bem generoso. Então, qual é o trabalho?
— Assassinato — disse Ralph, e a escuridão tomou conta dos olhos anteriormente amigáveis.
— …Isso não parece muito pacífico. Quem é o alvo?
— O Herói.
— O Herói? A quem você se refere?
O rosto de Leonard demonstrava confusão.
— Ainda não sabemos.
— Não estou entendendo.
A expressão de Leonard ficou séria.
— Pense nisso como um plano de contingência. Como você disse, Leonard, é provável que o lado humano perca. A vitória do exército demoníaco é quase certa. No entanto, se há um fator imprevisível, é a existência de um Herói. Meu cliente opera sob a premissa de que o exército demoníaco vencerá, e seria problemático se isso mudasse.
— Quer que eu traia a humanidade e mate o Herói? — Os olhos de Leonard brilharam friamente. No entanto, Ralph permaneceu impassível.
— Você é um homem inteligente, Leonard. Consegue ver para onde isso está indo. Não é hora de decidir de que lado está? Há mais pessoas do nosso lado do que você imagina. Alguns são até nobres e mercadores ricos. Estão pensando no que virá após a derrota da humanidade. Todos os sábios estão fazendo isso.
Ralph sussurrou que Leonard não estaria sozinho e que não havia motivo para se sentir culpado.
Na situação atual, em que a derrota da humanidade parecia inevitável, aquilo soava como uma tentação irresistível.
— Se você se juntar ao nosso lado, sua vida será garantida mesmo que o exército demoníaco vença. E, se por acaso o lado humano vencer, se todos mantivermos a mesma história, nada será exposto. Não acha que é um acordo com poucos riscos e grandes recompensas?
— Entendo.
Num instante, Leonard sacou sua espada e a posicionou contra o pescoço de Ralph.
— Parece que fui subestimado também.
Embora Ralph não demonstrasse sinais de pânico, gotas de suor começaram a escorrer de sua testa.
— O adiantamento não foi suficiente?
— Não, é que sua garantia para minha vida é insuficiente.
— ...O que quer dizer?
A voz de Ralph tremia levemente enquanto a lâmina pressionava seu pescoço.
— Quero que um demônio garanta nossas vidas. Essa é minha condição. Caso contrário, não posso confiar em você. Seus superiores são demônios, certo? Eles são criaturas orgulhosas, como cavaleiros. Diferente dos humanos, eles não mentem. Mas, se prosseguirmos através de você, há um risco de discrepâncias na história. Existe a possibilidade de que você esteja fazendo promessas por conta própria. Então, para que a promessa tenha valor, preciso falar diretamente com um demônio.
— Falar diretamente com um demônio? Não, eu...
— Belzera. Conhece esse nome, certo?
— ...Como sabe esse nome?
O suor continuava a escorrer pela testa de Ralph.
— Sou um sobrevivente de Malica, sabia? Claro que conheço o nome do líder do inimigo. O Rei Demônio pode estar no topo da hierarquia dos demônios, mas quem comanda o exército invasor é Belzera. Se conseguirmos entrar em contato com ele, não há risco de o acordo ser anulado depois. Estou errado?
Ralph, que vinha traindo a humanidade com a maior tranquilidade, era um homem bastante audacioso, apesar de sua aparência, mas estava abalado pelas palavras de Leonard.
Parece que ele entende bem os demônios.
Na verdade, Leonard estava certo. Ralph agia sob ordens gerais de Belzera, com uma considerável liberdade de ação. Até o método de assassinato do Herói era deixado a seu critério.
O motivo de Ralph para trair a humanidade não era apenas pela alta probabilidade de derrota humana.
Entre os humanos, existia uma organização formada por aqueles que haviam mudado de lado para o exército dos demônios, onde a posição era determinada pela contribuição, e não pelo status social. Os demônios avaliavam corretamente os esforços de cada um e promoviam qualquer pessoa que considerassem capaz.
Ralph havia trabalhado durante anos como aprendiz de um comerciante, mas, como o comerciante favorecia parentes de sangue, suas habilidades nunca foram reconhecidas, o que o deixou frustrado.
Isso o levou a nutrir ressentimento contra a sociedade humana como um todo, o que o fez acabar trabalhando para uma organização alinhada ao exército demoníaco. Lá, sua posição cresceu de acordo com suas contribuições, e, pela primeira vez, Ralph sentiu que suas habilidades estavam realmente sendo reconhecidas.
Será que os demônios, que reconhecem a habilidade sem qualquer preconceito, não são superiores aos humanos?
Ralph começou a acreditar nisso e a trabalhar cada vez mais para a organização. Atualmente, ele havia alcançado uma posição de liderança em toda a organização. Lá, seu status era mais elevado do que o de nobres ou de mercadores ricos.
No entanto, apesar de sua posição elevada, Ralph era um homem que construíra seu caminho sozinho e frequentemente lidava com tarefas importantes sem ajuda. Foi por isso que, ao ouvir rumores sobre Leonard, investigou cuidadosamente sua reputação e agiu para recrutá-lo pessoalmente. Por seu desprezo pela humanidade, Ralph era um homem que não conseguia confiar nas pessoas.
Ameaçado pela espada, Ralph reconsiderou sua visão sobre Leonard.
A investigação dizia que Leonard era “um aventureiro habilidoso, mas ganancioso por dinheiro”, mas parecia que ele também era astuto e conhecia muito sobre os demônios. Após conversar com ele, Ralph teve a impressão de que Leonard era um homem capaz de fazer julgamentos racionais e distantes, além de ter uma forte desconfiança em relação à sociedade humana.
Será que vale a pena apresentá-lo a eles?
Após ponderar várias possibilidades, Ralph chegou a uma conclusão.
— Entendo. Vou providenciar um encontro. No entanto, terá de ser em um local de nossa escolha. Isso será aceitável? Provavelmente será em uma área sob influência do exército do Rei Demônio.
Essa era uma condição inegociável. Ou melhor, mesmo que pedisse para Belzera vir ao território humano, ele não aceitaria.
— Não há problema — disse Leonard, embainhando a espada, com uma expressão satisfeita. — Três de meus companheiros virão comigo. Eles também vão querer garantias diretas para suas vidas.
Ralph pensou que isso não seria um problema. Por mais habilidosos que fossem, eram apenas quatro pessoas. Cercados por demônios poderosos, não seriam tolos o suficiente para considerar lutar.
※ ※ ※
— O que pretende fazer?
Naquela noite, o Profeta apareceu no quarto de Leonard.
— Estava observando?
— Sim. Você estava esperando por isso o tempo todo?
— No começo, achei que podia ser você. Pensei que pudesse estar fingindo ser um profeta para me testar, com a intenção de me recrutar para o exército do Rei Demônio. Ou talvez você estivesse planejando me atrair para me matar. De qualquer forma, nunca imaginei que você fosse mesmo quem dizia ser.
Leonard deu um sorriso irônico.
— Este é seu objetivo?
— Algo assim. Desde que o exército do Rei Demônio começou a reinvasão, venho esperando uma chance para derrotar Belzera. Como me aproximar dele, como lutar contra ele... Por sorte, ou azar, tenho uma má reputação, então frequentemente ouvia rumores sobre organizações no lado humano que se aliaram aos demônios. Mas eles eram muito cautelosos, sabe? Ouvi dizer que sua base estava a oeste, perto do campo de batalha, mas não sabia onde exatamente. Então, fui para o oeste enquanto espalhava minha má reputação. Bem, a má reputação não era exatamente intencional.
— Pretende derrotar Belzera com apenas quatro pessoas?
— Não acha que talvez eu esteja planejando me aliar ao exército do Rei Demônio?
Os ombros de Leonard tremeram enquanto ele ria.
— Não acho que seja esse tipo de homem.
— Considerando a situação, a proposta de Ralph não é ruim. O lado humano está em desvantagem. É apenas uma questão de tempo até que o exército do Rei Demônio destrua todos os países. Além disso, os demônios não são irracionais. Pelo que sei, ao contrário dos humanos, eles não mentem. São realmente mais inteligentes do que a maioria dos nobres dos países por aqui. Se entenderem que é para seu benefício, provavelmente não se importariam em deixar alguns humanos vivos. Nesse caso, seria mais inteligente ficar do lado do exército do Rei Demônio.
— Ainda assim, você vai lutar?
Leonard parou de rir e olhou diretamente para o Profeta.
— Quem sabe? Talvez eu fuja quando enfrentar um demônio poderoso.
— ...Você não fugiu. Está destinado a morrer lá.
— Entendo, então você também sabia do meu destino. Por isso, antes, foi gentil o suficiente para me avisar para não ir para o oeste, não é?
Leonard não mostrou qualquer sinal de aflição ao saber de sua morte.
— Não vá, Leonard. Pelo menos ouça-me desta vez. Belzera é um demônio poderoso. Não há vergonha em fugir.
— Não posso fazer isso. Esse é o desejo dos meus companheiros também. Meus amigos e eu sobrevivemos a Malica, mas não conseguimos seguir em frente desde então. Não se trata de vencer ou perder. Deixamos algo para trás em Malica. Precisamos voltar e recuperar isso. Não posso mais fugir.
— Espere por outra oportunidade. Não precisa ser agora.
— O lado humano não vai resistir por muito mais tempo. Estou errado?
Os olhos de Leonard estavam repletos de serenidade enquanto ele olhava para o Profeta.
— Isso...
Leonard estava certo. Após esse momento, o exército do Rei Demônio lançaria uma grande ofensiva, e o lado humano rapidamente desmoronaria. Provavelmente era um dos momentos decisivos, e nunca havia sido revertido.
Até Solon, que chegou a enfrentar o Rei Demônio, havia viajado ignorando a guerra.
“Isso está além das minhas capacidades” foi a desculpa do grande sábio. O Profeta também acreditava que isso era correto. Os humanos não são onipotentes o suficiente para realizarem várias coisas ao mesmo tempo.
— Mesmo que consiga e o herói derrote o Rei Demônio, isso não trará de volta as vidas perdidas. Os refugiados que eu fiz questão de salvar também estarão condenados. E depois de gastar tanto dinheiro com eles... Que desperdício, não acha?
— Isso não é da sua conta. Sua vida e seu dinheiro não são mais importantes que qualquer outra coisa? Você disse que dinheiro é tudo. O que você diz e o que você faz são coisas diferentes. Por que está tentando lutar, sabendo que vai morrer?
— Deixe-me te contar, não tenho intenção de morrer. Você é o único dizendo que vou morrer.
— Não acredita em mim?
— Eu acredito em você.
— O quê?
— Eu acredito que um dia você guiará um verdadeiro herói. Não sei se isso levará cem ou duzentos anos, mas você tem se esforçado para salvar o mundo. É um esforço incrível. Tenho certeza de que, algum dia, isso dará frutos.
Seu tom era tão brincalhão quanto sempre.
— O que você sabe sobre mim? O que você sabe sobre os séculos que caminhei sozinho? Ninguém se lembra do que fiz. Ninguém sabe. Mesmo quando viajo com alguém, logo eles esquecem. Sou impotente. Até agora, você não está me ouvindo e está prestes a entrar em batalha!
A voz do Profeta tornou-se dura. Isso nunca havia acontecido em sua jornada de centenas de anos.
— Entendo um pouco.
— O quê?
— Provavelmente, você é uma mulher, de alta posição e bonita. Estou certo?
O tom de Leonard era gentil e leve, como uma cantada.
— ...Por que acha isso?
— Pessoas bonitas são cheias de confiança. Elas sempre são elogiadas e tratadas bem pelos outros, então não têm um complexo de inferioridade. Não consigo dizer se sua voz é masculina ou feminina, mas pelo jeito que fala, senti essa confiança típica de pessoas bonitas. Homens confiantes tendem a ser mais arrogantes e a impor sua razão, mas você não era assim. Seu tom altivo parecia um pouco forçado, mas as palavras mostravam familiaridade. Um discurso formal, entende? Então, posso imaginar que você tem alta posição. E bem, pelo conteúdo da nossa conversa... E então?
— ...Não sou bonita. Sou uma mulher feia que só pode parasitar os outros.
— Então eu estava certo? Pensei nisso. Sou rápido em perceber mulheres bonitas, sabe?
Leonard estalou os dedos.
— Você estava me ouvindo? Eu não sou bonita. Já sou velha. Até tenho uma filha. Além disso, beleza não é só aparência. Enviei muitos jovens para morrerem como heróis. Sou feia. Odeio a mim mesma. Não quero continuar com isso...
A voz do Profeta foi se enfraquecendo, quase desaparecendo.
— Você não precisa se preocupar com aqueles que morreram, certo? Se recomeçar, é como se isso nunca tivesse acontecido. Eles não estão mortos. Um dia, se você fizer tudo certo, isso é o que importa. E, sabe, eles se tornaram heróis porque acreditaram em você. Não há mentira nisso. Talvez alguns deles até tenham percebido que você era bonita, assim como eu? Se for o caso, acharam que valia a pena arriscar a vida por você. Relaxe.
Leonard deu de ombros.
— Não me dê consolo vazio! O que você sabe sobre mim!? Mesmo que eu recomece, os rostos daqueles que morreram estão gravados para sempre na minha mente. Eu os vejo em meus sonhos toda noite. Aquelas cenas deles morrendo em agonia... Claro, se eu recomeçar, eles podem estar vivos. Mas o que fiz, sempre vou lembrar. Isso não pode ser desfeito. Minhas falhas sempre serão lembradas por mim. Mesmo que todos esqueçam de mim, eu não vou esquecer de ninguém...
As palavras cuidadosamente mantidas do Profeta mudaram para uma forma crua, tornando-se cheias de lágrimas.
A cada repetição, todos esquecem, e apenas ela acumula fracassos e pecados.
Ela havia chegado tão longe impulsionada pelo dever para com sua família, pelo amor por sua filha e pela necessidade de expiação por aqueles que caíram, mas havia alcançado seu limite.
— Então, eu me lembrarei por você. Não é difícil. Se você consegue se lembrar, não é estranho que haja mais uma pessoa que lembre, certo?
— Isso é impossível. Não é viável.
— Infelizmente, sou do tipo que não esquece mulheres. Vou lembrar de você, e bem direitinho. Vou provar isso depois que você derrotar o Rei Demônio. Vou te encontrar e dizer: “Sim, você realmente é linda.” Aguarde por isso.
— Leonard, então não vá. Me escute.
O Profeta implorou.
— Não posso fazer isso. Esta é a nossa luta.
— Então me deixe te guiar. Quantas vezes forem necessárias até você conseguir. Se for esse o caso...
— Não se incomode.
Leonard sorriu gentilmente.
— Mesmo que pudéssemos recomeçar de seis anos atrás, não alcançaríamos o Rei Demônio. Eu entendo isso melhor que ninguém. Não desperdice seu tempo. Siga seu próprio caminho. Não se preocupe, nós também teremos que refazer as coisas muitas vezes. Talvez consigamos pelo menos uma vez.
— Isso é...
── Impossível ──
O Profeta estava prestes a dizer isso, mas engoliu as palavras.
— Profeta. Encontre outro herói. Não importa quantas vezes você tente, eu farei essa escolha. Me desculpe por isso.
Dizendo isso, Leonard se recostou na cama, indicando que a conversa estava encerrada.
※ ※ ※
— Vocês serão convocados para se aproximar do território ocupado pelo exército dos demônios, sob a forma de um pedido. — Ralph explicou a Leonard enquanto se encontravam novamente no mesmo estabelecimento, na mesma sala privada. — O plano é recuperar itens valiosos de lá. É uma história comum, certo? Os itens já estão preparados, e até existe um nobre tolo que realmente os deseja. É o suficiente para um álibi. Ninguém vai suspeitar que você se encontrou com um demônio.
Ralph soltou um riso nasal. Ele simplesmente não conseguia entender os nobres que cobiçavam arte de países caídos em uma situação tão complicada.
— Entendi. Então é lá que poderei encontrar Belzera. — Leonard relaxou as bochechas enquanto tomava seu copo de bebida.
— Sim. Lorde Belzera reconhece qualquer um que seja útil, independentemente de ser humano ou demônio. Ele já estava ciente de você e do seu grupo. Sabia que vocês eram humanos poderosos, que já haviam derrotado muitos demônios antes. Graças a isso, tudo avançou rapidamente.
Ralph sorriu de maneira satisfeita. Não esperava que Belzera e os outros aceitassem encontrar Leonard tão facilmente. Se os demônios tivessem demonstrado alguma resistência, esse plano teria falhado, e Ralph teria que se livrar de Leonard. Isso seria um grande incômodo.
— ...Eles não guardam rancor de nós? — Leonard perguntou, abaixando o olhar para seu copo de bebida.
— De forma alguma. Lorde Belzera é racional. Ele até acolheu a ideia de indivíduos habilidosos como você se unindo ao exército dos demônios. Não precisa se preocupar com isso.
Leonard pensou que os demônios eram razoáveis. Se os conhecesse melhor, talvez fossem até uma raça melhor que os humanos.
— No entanto... — Ralph assumiu um olhar sério. — Por favor, não pense em fazer nenhuma loucura, certo? Vou te dizer, Lorde Belzera não estará sozinho lá. Haverá guardas demoníacos e monstros também. Se você fizer qualquer movimento suspeito, será morto, entendeu? Mesmo se tentar guiar outros humanos, isso será descoberto imediatamente. Considere que está sendo vigiado de todos os lados. Tenho uma reputação a manter por ter te apresentado, então seja cuidadoso.
Ralph era uma pessoa cautelosa. Apesar de confiar em Leonard até certo ponto, não podia evitar enfatizar esse ponto.
— Entendido. Os demônios são mais inteligentes e mais fortes que os humanos. Mesmo que tentássemos guiar outros aventureiros ou ordens de cavaleiros, eles perceberiam na hora, e, se lutássemos, seríamos derrotados. Eu entendi. Ou pareço tão estúpido assim para você?
— ...Não parece. Sim, como você disse, os demônios são fortes. Neste momento, não há como o lado humano vencer. Por favor, seja muito cuidadoso para não ofendê-los.
— Já disse que entendi. — Leonard deu um tapinha no ombro de Ralph. — Eu valorizo minha vida e quero dinheiro. Só isso. Não é assim que os humanos são?
※ ※ ※
Nos reunimos em um quarto da estalagem. Por ser um quarto de luxo, tinha uma mesa refinada e cadeiras suficientes para todos.
Além disso, Sophia havia colocado uma barreira mágica, então não havia preocupação de que nossa conversa fosse ouvida.
Na mesa havia um mapa. Apontei para um ponto específico nele.
— Nosso destino final foi decidido. É Garnahazza, a antiga capital do Reino de Malica.
Meus companheiros olharam fixamente para o local indicado pelo meu dedo. A região também havia sido o campo de batalha quinze anos atrás.
— É lá que Belzera vai aparecer? — Ephsei me encarou, os olhos ligeiramente avermelhados.
— Não só ele. Parece que os amigos demônios dele virão também.
— Se ele estiver vindo, isso já basta. Não me importo com os outros demônios.
— Que tranquilizador.
Os demônios que Belzera traria provavelmente estavam diretamente sob o comando do Rei Demônio, então seriam incrivelmente fortes. Mesmo que lutássemos seriamente, era questionável se conseguiríamos derrotar sequer um deles com os quatro juntos.
— Sophia, está preparada? — Chamei por Sophia, que estava congelada, encarando o mapa.
— Estou. Venho me preparando para este dia há muito tempo. Estou feliz que não foi em vão.
O olhar da maga de óculos permanecia fixo em Garnahazza no mapa. Devia estar pensando em muitas coisas.
Nina, por outro lado, parecia um pouco assustada. É uma reação natural, considerando que estamos praticamente indo para a morte.
— Nina, o que o seu deus diz? Para fugir? — perguntei, meio brincando. Se ela quisesse desistir, que o fizesse. Eu realmente pensava assim. Não tinha intenção de forçá-la, e queria que ela seguisse seus verdadeiros sentimentos.
— ...Eu não vou fugir. Vou seguir a minha própria vontade, não a de Deus.
Nina me lançou um olhar desafiador, mas seus olhos pareciam assustados.
Provavelmente, ela me via como o coração fraco tentando desviá-la do caminho. Eu entendia bem esse sentimento. Sabia que havia uma parte de mim que esperava que alguém dissesse: “Vamos parar.” Para fazer tudo desaparecer, para que todos nós corrêssemos para longe e levássemos vidas despreocupadas.
Não seria ruim. Que maravilhoso seria se pudéssemos fazer isso.
── Mas não é assim que as coisas vão ser ──
Não é esse tipo de cena. Infelizmente.
Antes que eu percebesse, já tinha superado a idade de Luke. Não tenho filhos, mas agora sinto que consigo entender como Luke se sentia naquela época.
Luke também devia estar com medo e provavelmente queria fugir com sua família. Ele era, sem dúvida, um herói, mas também era humano.
Mas aquele foi um momento em que ele teve que colocar uma máscara de coragem. Luke entendia isso. E é por isso que tudo nos trouxe até aqui.
Existem coisas que nos foram confiadas. Coisas que deixamos para trás.
Eu, que fugi naquela época, não posso me tornar um herói, mas devo ser capaz de ao menos imitar um.
— Essas palavras acertam em cheio para alguém como eu, que fugiu sem lutar. — Dei de ombros.
— Eu não quis dizer... — Nina parecia confusa.
— Estou brincando, só brincando. Mas, bem, é triste que não haja ninguém sensato aqui para dizer “vamos parar”. Esse grupo só tem malucos.
Ephsei e Sophia riram. Até mesmo o rosto tenso de Nina relaxou um pouco.
— Muito bem, vamos? Deixe-me avisar: não pretendo morrer. Conto com vocês para estarem completamente preparados. Voltar vivo é o que faz de alguém um verdadeiro aventureiro, sabia?
※ ※ ※
Atualmente, Garnahazza está sob ocupação do exército dos demônios e longe do campo de batalha atual.
Naturalmente, era bem distante da cidade onde estávamos.
Alugamos uma carroça e seguimos viagem, mas ainda assim levaram três dias para chegarmos lá.
No entanto, não houve qualquer interferência de monstros. Estava estranhamente silencioso.
As ordens de Belzera deviam ter sido bem comunicadas, mas isso só nos deixava ainda mais inquietos.
— Parece que estamos em uma viagem normal — comentei, e todos concordaram com a cabeça.
Foi uma jornada tranquila. À noite, sentávamos ao redor da fogueira, comendo e conversando sobre trivialidades.
Talvez todos estivessem esperando que não houvesse ninguém no nosso destino.
Na noite em que estávamos a um dia de distância de Garnahazza, enquanto fazia a vigília, o Profeta apareceu diante de mim.
— Tem certeza de que não vai voltar atrás?
Como sempre, não conseguia dizer se a voz era masculina ou feminina, nem a idade, mas o tom era o de uma mulher gentil.
— Infelizmente, não. Você deveria parar de me seguir e procurar o próximo candidato a herói, sabia?
— Eu farei isso. Procurarei quantas vezes forem necessárias.
Havia uma determinação forte naquela voz. Fiquei feliz de ver a motivação de volta.
— Mas desta vez, decidi acompanhar sua jornada até o fim.
— Você é bem curiosa. Mesmo sabendo que eu não sou um herói.
— Não, você é um herói. Não importa o que digam. Mesmo que você não seja o escolhido para derrotar o Rei Demônio, você é um herói.
— Não acho que sou tão nobre assim, mas, bem, fico feliz. Ser reconhecido como herói pelo Profeta é como um sonho de infância se tornando realidade.
Sim, o motivo pelo qual quis me tornar um aventureiro era porque admirava os heróis dos contos de fadas.
— Não acho que sou a única. Certamente, as pessoas que você encontrou ao longo do caminho também viram o herói em você.
— Será? Não houve muitas pessoas que falaram bem de mim. Bem, isso é, em parte, porque eu fiz por merecer.
Esse foi o caminho que escolhi. Um aventureiro que faria qualquer coisa por dinheiro, um marginal que não se encaixava na sociedade. O tipo de pessoa que os demônios achariam perfeito para atrair para o lado deles. Eu estava atuando nesse papel. E, como era parecido com minha verdadeira natureza, não foi particularmente difícil.
E agora, meu objetivo está começando a dar frutos.
A única questão que resta é se conseguirei chegar até Belzera.
— Não havia outra maneira?
— Se houvesse um jeito mais inteligente, eu mesmo gostaria de saber. Belzera é como um rei, sabia? Normalmente, ele está em um castelo cercado por guardas poderosos. Além disso, o próprio rei é forte. Como um aventureiro como eu deveria derrotar alguém assim? Não é se aproximando dele a única maneira?
— E pedir ajuda a outros...?
— Você viu Ralph? Ele é aquele tipo de homem aparentemente gentil que você pode encontrar em qualquer lugar. E ele é competente no que faz. E alguém assim está do lado do exército dos demônios. Você nunca sabe onde os traidores podem estar. Seja plebeu ou nobre, todos valorizam suas vidas. Imagine se alguém aparece dizendo: “Eu vou te salvar.” É difícil resistir a essa tentação, sabia? Eu entendo como essas pessoas se sentem. Sou um covarde que fugiu também. É por isso que não consigo confiar em ninguém. O motivo pelo qual escolhi meus atuais companheiros é porque são pessoas respeitáveis que sobreviveram ao campo de batalha do qual eu fugi. Temos que fazer isso por conta própria.
— ...Entre os heróis que guiei, também houve aqueles traídos por humanos. Leon, o primeiro herói que escolhi, foi um deles. Ele tinha força digna do título de Santo da Espada, mas nunca pensou que seria traído por pessoas. Sua nobreza como aristocrata acabou se tornando a fraqueza de Leon. O jovem cavaleiro que tentei guiar desta vez também era uma pessoa orgulhosa, mas parece que foi atacado por demônios devido à traição de alguém. Não importa quantas vezes repetimos isso, é difícil evitar.
As palavras do Profeta pareciam um suspiro profundo.
— A fraqueza humana, não é? Os mais fortes nem sempre são aqueles que podem lutar de forma limpa e honrada. — Balancei a cabeça. — Talvez, só talvez, um herói seja alguém obstinado e que nunca desiste. Alguém que se recusa a se render, aconteça o que acontecer. Claro, ser forte é importante, mas vai além disso. É também sobre força de espírito. O tipo de pessoa que se torna um herói tem essa força.
— Você acha que uma pessoa assim vai aparecer?
— Vai, sim. Qualquer um pode se tornar um herói. Mas a maioria mata esse herói dentro de si, assim como eu fiz quinze anos atrás. Mas existem muitas pessoas no mundo. Em algum lugar, há alguém que permanecerá sendo um herói até o fim.
Enquanto eu murmurava essas palavras, ouvi um barulho vindo da carruagem onde nossos companheiros dormiam.
Deve ser a hora de trocar o turno. Nossa conversa terminou ali.
※ ※ ※
A capital arruinada de Malica, Garnahazza.
Quinze anos atrás, esse foi o campo de batalha de uma guerra feroz entre humanos e monstros.
Após uma jornada de três dias, Leonard e seus companheiros finalmente chegaram a esse lugar.
As cicatrizes daquela batalha de quinze anos atrás ainda eram visíveis.
E, no centro daquela cidade devastada, estavam os demônios.
O demônio Belzera, considerado o comandante de fato do exército do Rei Demônio. Seus olhos vermelhos e inteligentes desmentiam sua natureza monstruosa. Ele era quase duas vezes maior que um humano, com o corpo coberto por escamas negras que lembravam uma armadura. Uma espada colossal, muito maior do que qualquer arma humana, pendia em sua cintura.
Atrás dele estavam três outros demônios, ligeiramente menores que Belzera. Assim como ele, seus corpos eram cobertos por escamas semelhantes a armaduras, mas as cores eram vermelha, azul e verde, respectivamente.
O demônio vermelho segurava um grande machado de batalha, o azul, uma lança gigantesca, e o verde portava um longo bastão de duas mãos.
Leonard e seus companheiros desembarcaram da carruagem antes de entrar em Garnahazza. Eles avançaram lentamente em direção aos demônios. A distância entre eles era considerável.
— Você é Leonard?
A voz de Belzera era baixa, mas ecoava ao redor como se fosse um instrumento musical.
— Sou eu. E você deve ser Belzera?
— De fato. Ouvi falar de você. Eu, Belzera, garanto a segurança de vocês quatro. Em troca, devem matar qualquer herói humano que apareça. O método não importa.
As palavras de Belzera eram concisas, sem desperdício de fôlego.
— Se você mesmo está garantindo nossas vidas, então não há problema. Mas aqueles três atrás de você são seus únicos guardas? Não é um pouco descuidado?
— É o suficiente. Julguei que trazer mais poderia assustá-los a ponto de não aparecerem. O melhor resultado é se traírem a humanidade. O segundo melhor é se tentarem nos enganar e nós os matarmos. Ambos nos são vantajosos. Então, qual será?
Belzera já esperava que Leonard e seu grupo pudessem desafiá-lo. Mesmo assim, ele trouxe apenas três guardas demoníacos.
Uma fina camada de suor apareceu na testa de Leonard.
— Achou mesmo que quebraríamos nosso acordo?
— Enganar é o jeito humano, embora seja lamentável. Mas vocês são fortes, tendo matado muitos demônios. Matá-los seria significativo para nós. Por isso, não importa se vão trair os humanos ou quebrar o acordo.
Belzera e seus guarda permaneciam impassíveis. Pareciam preparados para o caso de Leonard e seu grupo atacarem, como se já esperassem por isso.
— Vocês, demônios, não têm uma brecha sequer, não é? Eu esperava surpreendê-los um pouco.
Leonard desembainhou sua espada. Ephsei preparou sua lança, enquanto Sophia e Nina começaram a entoar feitiços.
— Então vocês escolhem a luta, humanos? Não têm chance de vencer.
Belzera também desembainhou sua espada, e uma aura negra envolveu a lâmina.
Os demônios que estavam atrás de Belzera avançaram.
E assim começou a batalha final de Leonard e seus companheiros.
※ ※ ※
Eu havia testemunhado inúmeras batalhas.
No começo, eu rezava pela vitória dos heróis, mas fui constantemente confrontada com a futilidade dessas orações.
Eu sou impotente. Tentei usar minhas visões proféticas para confundir os inimigos dos heróis, mas minhas ilusões não podiam se mover e foram de pouca ajuda.
Gradualmente, comecei a desviar o olhar sempre que parecia que os heróis poderiam perder, e às vezes até parei de sincronizar com as ilusões completamente.
Mas desta vez, talvez pela primeira vez em décadas, ou até mesmo séculos, me vi rezando pela vitória de Leonard e seu grupo. Não para um deus, mas para algo em que eu acreditava.
Ephsei, Sophia e Nina estavam enfrentando os três guardas demoníacos.
Agora que penso nisso, esses três sempre lutaram de uma maneira que atraía a atenção dos monstros. Devem ter se preparado para essa batalha contra Belzera o tempo todo.
Ephsei, como guerreiro, era esperado que enfrentasse o combate direto, mas para Sophia, uma maga, e Nina, uma sacerdotisa, enfrentar demônios diretamente era nada menos que suicídio.
Ainda assim, seus movimentos eram surpreendentemente ágeis, bem diferentes do que se espera de usuários de magia.
Elas deviam estar usando magia para fortalecer seus corpos, o que permitia que corressem rapidamente e mantivessem os demônios ocupados.
Isso era mais do que simples magia. Provavelmente era o resultado de um treinamento constante. Percebi que usavam sapatos e roupas projetados para facilitar os movimentos.
Talento mágico é, em grande parte, uma questão de habilidade inata. E os membros do grupo de Leonard provavelmente já tinham mais de trinta anos, então não poderiam esperar um grande crescimento. Foi por isso que treinaram seus corpos, onde ainda era possível melhorar.
Claro, elas não estavam apenas correndo. Sempre que surgia uma oportunidade, lançavam feitiços contra os demônios.
A determinação delas em derrotar os demônios, mesmo que isso lhes custasse a vida, era palpável.
Mas, apesar de seus esforços, ainda estavam caminhando sobre uma corda bamba acima de um abismo.
Mesmo quando seus feitiços acertavam diretamente, os demônios não mostravam sinais de recuar.
Os demônios podiam parecer estar lutando, mas bastava um único golpe deles para que tudo acabasse.
O mesmo valia para Ephsei.
Ele estava travando um combate contra o demônio azul, lança contra lança, mas, comparada à enorme arma do demônio, a lança de Ephsei parecia de palha.
Toda vez que suas armas colidiam, a lança de Ephsei se curvava perigosamente, como se fosse quebrar a qualquer momento.
Era doloroso apenas assistir. Mas Ephsei não desistia, continuava lutando, fazendo o possível para afastar os demônios de Belzera.
Ephsei, Sophia e Nina estavam arriscando suas vidas para ganhar tempo.
Eles acreditavam que Leonard venceria.
E Leonard estava lutando mais desesperadamente do que eu jamais o vira antes.
Não havia espaço para suas usuais tiradas espirituosas enquanto ele desviava por pouco da enorme espada envolta em uma aura negra.
Era minha primeira vez vendo Belzera também, e ele era um demônio aterrorizante.
Quando balançava sua espada na vertical, o chão se partia. Quando balançava na horizontal, ruínas viravam pó.
Era como se seus ataques combinassem espada e magia.
Apesar disso, Leonard continuava tentando se aproximar de Belzera, indiferente às probabilidades esmagadoras.
Seus movimentos eram ágeis como os de um acrobata de circo, mas avançar para o olho da tempestade significava ser forçado a recuar repetidamente.
A avaliação de Belzera provavelmente estava correta. Não parecia que Leonard tinha qualquer chance de vencer.
Mas Leonard continuava avançando, torcendo o corpo, forçando seu caminho através da tempestade.
Um único erro e sua vida seria apagada como a chama de uma vela ao vento.
Ele desviava repetidamente, dava passo após passo, e cada esforço parecia desperdiçado.
Mas Leonard nunca olhou para trás. Provavelmente já havia enfrentado incontáveis duelos contra demônios para se preparar para este momento.
Após dezenas de tentativas, Leonard finalmente balançou sua espada.
Ela mal arranhou a ponta do dedo de Belzera, deixando um pequeno corte.
Mas os movimentos de Belzera não diminuíram.
Sem perder a coragem, Leonard investiu contra Belzera novamente.
Era como o velho ditado: “Água mole em pedra dura tanto bate até que fura.”
Conforme ele infligia ferimentos gradualmente, os movimentos de Belzera começaram a vacilar. Talvez fosse o acúmulo de ferimentos ou a interrupção de sua concentração.
Finalmente, Leonard encurtou a distância, ficando a um passo de Belzera.
Ele mirou no pescoço, erguendo a espada bem alto.
Mas a espada de Belzera foi mais rápida.
Ela decepou o braço direito de Leonard na altura do cotovelo, espada e tudo.
— Este é o fim.
Os lábios de Belzera se curvaram em um sorriso.
— Não subestime os humanos, demônio!
Leonard nem sequer hesitou ao perder o braço. Em vez disso, usou a força do golpe para girar em direção a Belzera.
Com a mão esquerda que lhe restava, ele puxou uma adaga presa à cintura.
Era a adaga que Leonard havia retirado do corpo de Carmine.
── Vou carregar sua vontade adiante ──.
Essas palavras, ditas na primeira vez que encontrei Leonard, ecoaram em minha mente.
Sem perceber, estava de joelhos, rezando.
Rezando para que a adaga atingisse seu alvo.
Tudo aconteceu em um piscar de olhos.
Antes mesmo que minhas lágrimas pudessem cair, Leonard cravou a adaga no pescoço de Belzera com todo o peso de seu corpo.
Um golpe milagroso, mas a adaga atingiu um pouco abaixo do local ideal, próximo ao pescoço.
Eu sabia que, para um demônio tão poderoso quanto Belzera, isso não seria um ferimento fatal.
Pela primeira vez, o rosto de Belzera se contorceu de dor.
Mas apenas por um breve momento. O braço direito de Belzera então golpeou Leonard como se ele fosse um inseto.
A adaga permaneceu cravada em Belzera, enquanto Leonard caiu no chão, conseguindo, com dificuldade, erguer o tronco usando o braço esquerdo.
Não era de se estranhar; o sangue escorria em profusão do braço direito amputado.
Belzera arrancou a adaga. Sangue vermelho jorrou.
— Impressionante, humano.
Não havia dor ou raiva naquela voz, apenas admiração.
— Eu reconheço você. Você é um herói. E heróis existem para que Belzera os mate.
— Bem, que honra… — Leonard respondeu, mas seu rosto estava pálido devido à perda de sangue. — Mas um dia, um verdadeiro herói aparecerá diante de você. Mesmo que leve mil anos, ele certamente irá vencer.
Por acaso, ou não, o olhar de Leonard se voltou para mim, alguém que ele não deveria ser capaz de ver.
Ele estava sorrindo como sempre. Aquele sorriso leviano que eu costumava odiar.
...Mas agora, aquele sorriso parecia encantador.
— Não entendo o que você quer dizer, mas este é o fim.
A grande espada de Belzera desceu impiedosamente.
Ao olhar ao redor, vi que Ephsei e as outras, que haviam atraído os guardas demoníacos para longe, estavam caídos, como se tivessem cumprido seu papel. Os três demônios estavam voltando para cá.
Tudo havia terminado. Minha jornada desta vez tinha chegado ao fim.
No entanto, não havia o vazio habitual.
Leonard acreditou em mim. E ele me mostrou o que significa ser um herói.
Posso começar de novo. Quantas vezes for necessário.
Certamente, serei capaz de mudar este desfecho algum dia.
Senti o fogo perdido reacender em meu peito.
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