Hai to Gensou no Grimgar | Grimgar of Fantasy and Ash Volume 10
Capítulo 04
[Saudações]
Não demorou muito para que os aparentes moradores daquelas casas saíssem.
Pelo formato das construções, Haruhiro já esperava por isso, então não foi uma surpresa. Os moradores eram bípedes, como humanos. Suas constituições físicas variavam. Nenhum era excepcionalmente grande ou pequeno demais. De longe, não pareciam muito diferentes de humanos.
Os moradores seguiram pelas estradas, espalhando-se pelos campos, andando, agachando-se e mexendo as mãos, aparentemente cuidando de tarefas agrícolas.
Havia também animais quadrúpedes, aparentemente gado, andando em fila. Seriam vacas? Ou ganaroes? Talvez, pelo tamanho, fossem ovelhas. No entanto, pareciam ser um tipo diferente de qualquer um desses.
Uma manhã pacífica na fazenda. Essas palavras surgiram na mente de Haruhiro.
A aldeia parecia pacífica. Na verdade, quem provavelmente tinha uma presença suspeita e inquietante era Haruhiro, que a observava às escondidas. Indo mais além, ele parecia o vilão da história.
Na verdade, independentemente da raça daqueles moradores, se fossem apenas fazendeiros e aquela fosse uma simples aldeia agrícola, Haruhiro e sua party eram os maus da história. Nada mais do que vilões. Estavam planejando conseguir suprimentos daquela aldeia, e Haruhiro a estava investigando para esse fim.
O problema era que estavam famintos. Ele queria comida. Água potável, daquelas que pudesse engolir com vontade. Até se contentaria com leite. Quanto mais, melhor.
Se pudessem pedir por isso, ele se inclinaria respeitosamente, ou faria o que fosse necessário. Mas e se os moradores recusassem? Do ponto de vista deles, Haruhiro e sua party eram estranhos—e, além disso, humanos. Não sentiriam nenhuma obrigação de ajudá-los. Bem, e então? Deveriam desistir? Ou deveriam roubar o que precisavam?
Se possível, Haruhiro queria evitar recorrer à força. Se pudessem resolver tudo pacificamente e conseguir alimentos e bebidas dessa forma, nada o deixaria mais feliz. Mas nem sabia se conseguiriam se comunicar.
Haruhiro pediu que seus companheiros ficassem de prontidão enquanto ele descia a montanha sozinho. Primeiro, queria descobrir o que pudesse sobre os moradores. No entanto, naturalmente, por mais que usasse sua habilidade furtiva, quanto mais se aproximava, maior era o risco de ser descoberto.
Até onde poderia ir? Era seguro continuar? Não era? Tentando entender isso, ele avançava aos poucos.
Não odiava esse tipo de trabalho. Era estranho admitir isso, e não era algo que precisasse ser dito, mas ele se achava bom nisso. Mesmo deixando de lado a questão de talento, achava que isso realmente combinava com ele, e tinha um certo orgulho secreto disso.
— Sei lá... — murmurou. — Será que exagerei? Talvez um pouco...
Haruhiro estava em um campo onde crescia uma planta parecida com grama. Por ora, dava para dizer que não era um arrozal. Era um campo seco, então talvez fosse trigo. Ele não tinha certeza. Honestamente, não entendia muito dessas coisas. Não era especialista em plantas. Era apenas um ladrão comum. Mas era um pouco parecido com o trigo, certo?
Aquela planta parecida com trigo chegava um pouco acima da cintura de Haruhiro, e suas espigas tinham vários grãos pequenos. Esses grãos pareciam comestíveis. Se eles estavam cultivando aquelas plantas, tinham que ser comestíveis. Ele arrancou um grão e o colocou na boca.
— ...É.
Era duro. Não conseguia dizer se tinha sabor ou não. Pelo visto, não era adequado para comer cru. Talvez, se fritassem, fervessem ou moessem e misturassem com água para fazer bolinhos, cozinhando ou assando, pudesse ficar bom. Provavelmente.
Haruhiro se movia como um lagarto, meio rastejando enquanto avançava com cautela, mas, na verdade, começou a pensar: Será que estou me adiantando? Meu corpo está totalmente escondido, então talvez esteja bem. Ou talvez seja melhor voltar, afinal...
Erguendo levemente a cabeça, olhou ao redor. Mesmo o trabalhador mais próximo estava a mais de cinquenta metros de distância. Não era uma distância que o obrigasse a se preocupar em ser notado. Ainda estava seguro. Por enquanto estava bem, mas, se chegasse mais perto, precisaria ser ainda mais cauteloso.
Os moradores estavam agachados fazendo algo. Estavam arrancando ervas daninhas? Com aquela postura baixa e usando capuzes, não dava para ver seus rostos. Ainda assim, pareciam muito com humanos.
Ou, pelo menos, foi essa a impressão que Haruhiro teve. Mas seriam mesmo humanos? Era o jeito como se moviam, talvez. De alguma forma, transmitiam uma aura muito humana.
Faltava pouco. Se conseguisse apenas um vislumbre de seus rostos...
Nessas situações, o melhor era não se mexer mais do que o necessário. Se ficasse onde estava, não seria descoberto. Então ele esperou pacientemente. Eventualmente, uma oportunidade surgiria... ou, bem, ele não tinha garantia disso. Mas, se não funcionasse, poderia pensar no próximo passo depois.
Ele não achava que tinha cometido um erro. Se fosse pressionado, talvez entrar nos campos deles tivesse sido uma má ideia. Mas, sem fazer isso, não teria como observar os moradores, então não tinha outra escolha.
Houve um farfalhar na grama atrás dele, e seu coração deu um salto tão forte que doeu.
Não, espere. Ele estava imaginando coisas? Era estranho. Quando olhou ao redor antes, ele também tinha olhado para trás. Havia algo ali agora? Não deveria. Ele tinha verificado. Mas, agora há pouco, definitivamente ouviu algo.
Precisava se acalmar. A pior coisa que poderia fazer era entrar em pânico. Precisava manter a cabeça no lugar.
Os sons. Ele podia ouvi-los. Ainda podia ouvi-los. Isso significava que havia algo se movendo atrás de Haruhiro.
O que faria agora?
O que fazer?
Para identificar o que era, teria que levantar a cabeça. Isso seria ruim?
Atrás dele. Quase direto atrás. O que o barulho estava fazendo? Estava se aproximando? Indo embora? Não podia dizer com certeza, mas sentia que estava se aproximando. Como se alguém estivesse afastando as plantas parecidas com trigo e caminhando por elas. Vindo em sua direção.
Se fosse isso, seria descoberto se ficasse ali.
Não podia ir para frente. Os moradores estavam lá.
Esquerda ou direita, então. Tentar não mexer nas plantas... é, isso não é possível...
De repente, houve um som, como um assobio. Não, não “como”. Era um assobio. O tipo de assobio que alguém faria para chamar um cachorro que estivesse um pouco distante. Era esse tipo de som.
Haruhiro se levantou e girou o corpo. Lá estava ele. Um capuz cobria seus olhos, e ele usava um longo manto verde, mas Haruhiro conseguia distinguir sua silhueta. Não era um orc. Então, um morto-vivo? Um elfo? Ou talvez um humano?
Haruhiro correu na diagonal para a direita.
Quem era aquele cara? Ele estava observando Haruhiro a uma distância de cerca de vinte metros.
Ou, pelo menos, acho que está me observando...
Seu capuz cobria o rosto, então não havia como saber para onde estava olhando, mas provavelmente era isso. Ele provavelmente estava olhando para Haruhiro, mas apenas ficou parado. O que os trabalhadores estavam fazendo? Haruhiro não tinha tempo para verificar.
Tenho que correr. Correr o mais rápido que puder. Mas é estranho. Por que ele não está me perseguindo? Será que está me deixando ir?
Ele só teve um momento para pensar nisso. Então o homem se moveu.
Ele estava vindo. Claro, atrás de Haruhiro.
Oh, ele está vindo atrás de mim, afinal? Claro que estaria. É, eu sabia. Não é como se eu esperasse seriamente que ele me deixasse ir.
Por ora, ele sairia do campo e iria para as montanhas. Estava quase na borda do campo. O homem estava correndo em direção a Haruhiro, mas não era tão rápido. Por outro lado, também não era exatamente lento.
Eles estavam a cerca de dez metros de distância. Embora a distância não estivesse diminuindo, também não aumentava. Seus passos eram rápidos, e ele parecia ter energia de sobra. Por que não se aproximava? Era estranho. Haruhiro não conseguia deixar de pensar nisso.
Haruhiro olhou para trás sem parar de correr. Os moradores haviam interrompido seu trabalho no campo e fugiam em todas as direções. Talvez eles fossem apenas os simples fazendeiros que aparentavam ser. Aquele cara era o único perseguindo Haruhiro. Era arriscado tirar conclusões precipitadas, mas, por enquanto, parecia ser o caso.
— Nesse caso...!
Ele sairia do campo, pularia a cerca, e não seria longe até a floresta. A floresta não era plana, no entanto. Havia uma encosta. E ela era bem íngreme.
Suba. Corra até o topo. Droga.
Ele respirava pesadamente. Isso estava terrivelmente difícil. Era porque estava com fome?
Não, ele estava, na verdade, exausto. Mas não podia se dar ao luxo de admitir isso. Haruhiro verificou a posição de seu perseguidor. Era a mesma de antes, nem mais perto, nem mais longe.
Isso era ruim. Se fosse apenas uma pessoa, Haruhiro queria resolver isso sozinho. Se fosse possível, claro.
Será que ele conseguiria?
Se tentasse resolver as coisas ali e perdesse por não ser forte o suficiente, no pior cenário, apenas Haruhiro morreria. Eles não descobririam a localização de seus companheiros. Nesse caso—
Eu não consigo evitar pensar coisas assim. Isso realmente é um mau hábito. A Shihoru vai me dar uma bronca de novo.
Haruhiro ziguezagueava entre as árvores enquanto subia a encosta. O homem ainda o perseguia.
Foi preciso coragem, mas Haruhiro fingiu deliberadamente estar com dificuldades para progredir. Mesmo assim, a distância não mudou. Bem, isso era esperado.
Isso significava que o homem não tinha intenção de alcançá-lo. Pelo menos por enquanto. Ele estava deliberadamente deixando Haruhiro correr. Por quê?
Não custava nada tentar ver as coisas do ponto de vista do outro. Provavelmente, ele era um dos moradores daquela aldeia, e sua função era algo como patrulha. Um dia, durante sua ronda regular, ele se deparou com uma pessoa claramente suspeita. Alguém bisbilhotando nos campos. Um invasor. O homem assobiou para intimidá-lo, e o intruso entrou em pânico e saiu correndo.
O intruso parecia estar sozinho. Mas estaria mesmo? E se ele fosse, na verdade, parte de um grupo, e esse intruso fosse apenas um batedor avançado? Não estaria ele correndo de volta para seus amigos?
Talvez esse homem estivesse perseguindo Haruhiro na esperança de que ele o levasse até onde seus companheiros estavam. Nesse caso, talvez fosse melhor não voltar para o local onde eles estavam esperando, afinal.
Aquele homem claramente tinha confiança em suas habilidades. Do contrário, não seria tão ousado ao perseguir Haruhiro. Se Haruhiro estivesse no lugar dele e tivesse tido a mesma ideia, o teria seguido silenciosamente. Então, uma vez confirmado o número e a localização do inimigo, ele planejaria como reagir.
Haruhiro provavelmente não conseguiria derrotar aquele homem sozinho. Não, ele não tinha certeza disso, sabe? Até tentar, ele não podia dizer nada com certeza. Mas talvez vencesse, e talvez perdesse. “Talvez” não era bom o suficiente. Mesmo assim, se tivesse a ajuda de todos, poderiam dar um jeito. Ele tinha muitas dúvidas sobre suas próprias habilidades, mas quando se tratava de seus companheiros, ele acreditava neles e podia contar com eles.
Qual era o sinal?
Não havia sinal nenhum.
O terreno à frente era um tanto incomum. Havia enormes rochedos projetando-se da encosta, com incontáveis cipós pendendo deles, o que dava ao lugar uma aparência meio sinistra. Talvez aquela área devesse ser chamada de Rochas Sinistras.
Quando Haruhiro olhou para o topo das Rochas Sinistras, viu Shihoru surgindo com a cabeça para fora. Sobre seu ombro estava o elemental em forma de pessoa—ou melhor, em forma de estrela-do-mar: Dark.
— Vai, Dark!
Shuvyuun! Foi o som que Dark fez ao disparar.
Enquanto se movia para a direita, Haruhiro olhou para trás, para o homem. Ele havia parado. Estava atônito com a emboscada? Se fosse isso, seria surpreendente. Seria ele um guarda relaxado de uma cidade pacífica, alguém que perseguira Haruhiro sem pensar muito?
Isso não podia estar certo.
O homem desenhou algo no ar com o dedo indicador direito e disse: — Marc em Parc.
Isso é...
Haruhiro não via isso há muito tempo, mas se lembrava. Aquele feitiço. Aqueles símbolos elementais.
Uma esfera de luz apareceu diante do rosto do homem.
Sem dúvida alguma, era o Magic Missile. O primeiro feitiço que magos aprendiam. O mais básico dos básicos.
Mas aquilo...
Era grande.
Do tamanho de sua cabeça—não, provavelmente maior.
Com uma exclamação silenciosa, Shihoru balançou seu cajado.
Parecia que Dark tentava desviar da esfera de luz e atacar o homem. Ele não voava em linha reta. Shihoru podia controlar Dark até certo ponto, e estava tentando fazê-lo. Mas Dark foi capturado.
A esfera de luz movia-se lentamente e prendeu Dark.
No momento em que Dark fez contato, formou-se um redemoinho.
Haruhiro, que estava a cerca de dez metros de distância, ficou bem, obviamente, mas o manto do homem esvoaçou violentamente, e seu capuz foi arrancado para trás.
— Você... — Haruhiro ficou sem palavras, arregalando os olhos.
A luz brilhou intensamente por um instante, depois se contraiu como se fosse neutralizada por Dark, e por fim desapareceu.
A escuridão e a esfera de luz desapareceram ao mesmo tempo.
Com apenas um Magic Missile, ele havia apagado Dark, o elemental de Shihoru.
Era um mago? Se fosse, talvez não fosse surpreendente—talvez. Afinal...
— Uwahhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!
Do alto e pela lateral das Rochas Sinistras, Kuzaku descia correndo em direção a eles, empunhando seu escudo e sua grande katana. O grito estupidamente alto era intencional. Ele estava tentando chamar atenção.
O homem virou-se para olhar Kuzaku. E foi exatamente nesse momento.
Yume saltou dos arbustos. Ela estava perto. Não mais do que cinco metros dele. Pensar que ela estava escondida ali o tempo todo. Haruhiro sequer havia notado. Isso feriu seu orgulho como ladrão.
Boa, pensou ele.
Yume avançou silenciosamente contra o homem.
O homem não estava olhando em sua direção. Seus olhos estavam fixos em Kuzaku.
Haruhiro achou estranho. Quando o manto do homem havia sido aberto antes, ele tinha visto. O homem carregava uma espada ou algo assim presa à cintura. Mesmo assim, ele não a sacava. Talvez, por ser um mago, aquela arma fosse apenas decorativa.
Aparentemente, não.
Yume desferiu um golpe. Pouco antes disso, o homem puxou sua espada.
— Chuwah! — Yume desferiu um golpe diagonal, mas ele bloqueou com a espada.
Com facilidade, sem sequer olhar.
Sem perder tempo, ele chutou Yume no estômago, empurrando-a para longe.
— Gwah...?
— Sowahhhhhhhhhhhhhhhh! — Kuzaku avançou contra o homem.
Com o impulso que tinha, protegido por seu elmo, armadura e escudo, Kuzaku era imparável. Claramente, sua intenção era colidir com o homem, lançá-lo longe ou derrubá-lo, e depois perfurá-lo com sua grande katana. Era uma estratégia rudimentar, sem sofisticação, mas quando Kuzaku, com sua estatura avantajada, usava sua força dessa forma, ele era realmente poderoso. Mesmo que o homem tentasse desviar, Kuzaku usaria seus longos braços para balançar sua grande katana ou escudo. Sua intensidade era incrível, e, embora parecesse possível escapar, geralmente não era.
— Nnngahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh! — O escudo de Kuzaku acertou o homem. Eles definitivamente colidiram.
O homem foi arremessado? Algo estava estranho. Ele foi lançado para trás, ou melhor, para trás na diagonal e para cima. Além disso, parecia que ele deu um giro no ar.
— O quê...?! — Kuzaku tropeçou, cambaleando alguns passos para frente, incapaz de parar, e olhou para cima.
O homem já havia aterrissado atrás dele. Kuzaku acabou passando por baixo dele.
O sujeito acertou um chute nas costas de Kuzaku. Kuzaku soltou um “Uou” e perdeu o equilíbrio.
Se Enba não tivesse saltado das Rochas Sinistras e avançado contra o homem, Kuzaku poderia ter sofrido outro ataque.
Os braços de Enba, parecidos com clavas, balançaram violentamente em direção ao homem. Mas erraram.
O homem recuou. Para a direita, para a esquerda, ele dava passos pequenos e rápidos, usando as árvores como cobertura para escapar dos golpes de Enba.
Qual era a desse sujeito? A party estava lutando a sério e tinha uma vantagem numérica, mas ele parecia estar brincando com eles. Seria a diferença de força tão grande assim?
Não, Haruhiro e os outros ainda não tinham aproveitado plenamente a vantagem numérica. Shihoru e Mary estavam ainda nas Rochas Sinistras. Setora também. Haruhiro, Yume, Kuzaku e Enba estavam lá embaixo. Ele não queria que Shihoru e as outras entrassem em combate corpo a corpo, então, assumindo que isso não fosse possível, eram quatro contra um. Apesar disso, no momento, eles só tinham conseguido confrontos um contra um com o homem. Isso era, bom, porque ele era habilidoso, mas se eles o cercassem, isso tinha que funcionar. Mesmo que quatro contra um ou três contra um fosse difícil, se ao menos conseguissem dois contra um...
— ...Sou eu — Haruhiro murmurou.
Era exatamente para isso que os ladrões existiam, não? Yume e Kuzaku já estavam perseguindo o sujeito. Mas isso não era bom. Ele lidava com os ataques de Enba enquanto se movia para lugares onde Yume e Kuzaku não podiam alcançá-lo.
O homem tinha cabelos loiros, nem longos nem curtos, como se os cortasse apenas quando começavam a atrapalhar. Talvez só se barbeasse ocasionalmente também. Pele clara. Olhos azuis. Era muito mais velho que Haruhiro e os outros. Era alto, mas não tanto quanto Kuzaku.
Não importava como olhassem, ele era humano.
Se ele podia usar magia, isso significava que ele era um ex-soldado voluntário?
Havia humanos na Forgan, o grupo liderado por Jumbo, o orc, então talvez não fosse algo tão surpreendente. Ou melhor, agora não era hora de se surpreender ou desconfiar. Não importava quem fosse aquele homem, qual era sua situação ou como tinha acabado ali, nada disso importava.
Haruhiro olhou para as Rochas Sinistras. Seus olhos encontraram os de Shihoru, Mary e Setora. Shihoru assentiu, então invocou o Dark.
Shihoru, ao menos, sabia o que Haruhiro queria fazer. Mary cuidaria de Shihoru se algo acontecesse. Setora também saberia lidar bem consigo mesma.
Haruhiro respirou fundo.
Relaxando todas as articulações do corpo, ele deixou sua mente afundar em um lugar profundo. Ele se apagou.
Stealth.
Seus pensamentos e sentimentos se tornaram distantes e diluídos.
Mesmo assim, Haruhiro ainda estava aqui. Aqui?
Onde era “aqui”?
Não importava.
Onde quer que fosse.
Se ele se tornasse um fantasma, poderia ser assim que se sentiria. Deixando de lado a questão de existirem ou não fantasmas.
Ele não tentava evitar fazer barulho enquanto andava; era mais como se, ao andar, ele simplesmente não fizesse barulho por algum motivo. Ele estava no mundo, mas parecia existir um pouco à parte dele.
Ele estava respirando?
Sim.
Bem devagar.
Seu coração batia.
De forma incrivelmente lenta.
Kuzaku estava completamente incapaz de acompanhar o homem. O sujeito parecia se mover com facilidade e era bem rápido. Enba conseguia acompanhar porque era um golem e nunca se cansava, mas até Yume estava com dificuldades, e só conseguia perseguir o homem. Do jeito que as coisas estavam, conseguir flanqueá-lo e pegá-lo em um ataque de pinça com Enba seria extremamente difícil.
Havia um nyaa cinzento em uma árvore à frente, à esquerda do homem. Kiichi parecia não ter detectado Haruhiro.
Haruhiro se escondeu entre as árvores enquanto avançava. Era como se seus nervos se estendessem para fora de seu corpo, cobrindo a área ao seu redor.
O chão.
A grama.
A casca das árvores.
O vento.
Ele conseguia sentir tudo.
Essa pode ser a primeira vez que ele se envolve tão profundamente assim.
Quando tentava um Backstab, às vezes ele via uma linha de luz vaga. Será que isso é equivalente ao Stealth?
Estou realmente imerso nisso.
Eu meio que consigo perceber as coisas. Não é como aquela linha. É mais como: eu deveria fazer isso. Ou melhor, eu preciso fazer isso, talvez?
É como se eu tivesse escolha, mas na verdade não tivesse. Em qualquer momento, só existe uma única opção. Não sou eu quem decide, nem estou sendo forçado. Em uma palavra, é destino? Eu não decido. Já está decidido.
Fazia muito tempo que já estava decidido que Haruhiro iria se posicionar atrás daquele cara. Enquanto ele pulava para trás para evitar os golpes de Enba, sua atenção estava focada à sua frente, à esquerda, em Shihoru.
Shihoru estava descendo das Rochas Sinistras com Mary e Setora. Ela tentava soltar Dark.
— Vai! — ela gritou.
Dark disparou.
O homem não recuou; deu meia-volta e saiu correndo. Ele era rápido. Enquanto aumentava a distância entre ele e Enba, trocou a espada para a mão esquerda, provavelmente planejando desenhar sigilos elementais com a direita.
Yume e Kuzaku não conseguiam alcançá-lo. Enba, tampouco.
Haruhiro não precisava se mover, porque já estava em movimento.
O homem conjurou uma magia: — Marc em Parc.
Uma esfera de luz. Outro Magic Missile.
O homem atraiu Dark o máximo que pôde e o atingiu com outra esfera de luz.
Houve outro redemoinho. Haruhiro se moveu ao mesmo tempo.
Ele cravou o estilete nas costas do homem. Já havia confirmado que ele não usava armadura pesada, graças ao manto que se abriu.
A lâmina do estilete era resistente, mas fina, capaz de deslizar entre as costelas. Contudo, se Haruhiro acertasse mais perto dos quadris, em um ângulo levemente ascendente, onde não atingiria as costelas, ele acertaria os órgãos internos, o que era mais simples. Ele poderia mirar nos rins de cada lado. Ou no fígado.
Qualquer órgão que Haruhiro atingisse causaria hemorragia interna massiva, eventualmente resultando em uma ferida fatal. Mas os rins doeriam muito. Por mais resistente que fosse, a dor seria insuportável, e o homem gritaria. Se não fosse curado com magia de luz, ele não sobreviveria. E teria que ser rápido. Isso valia para humanos, orcs e, provavelmente, até elfos ou anões.
— Nngh...
O homem, no entanto, não gritou. Apenas gemeu, estremeceu e virou-se para olhar para trás. Haruhiro refletia-se em seus olhos azuis. Ele levantou a sobrancelha esquerda e soltou um leve suspiro pelos lábios. Estava surpreso, mas impressionado. Era isso que sua expressão dizia.
— Nada mal — disse o homem. Então, sem querer admitir a derrota, sorriu. — Mas sinto muito.
— ...Hã?
Haruhiro havia cometido um erro. Um erro doloroso. Ele tinha sido ingênuo. Por que achou que isso derrubaria o cara? Quão tolo ele poderia ser?
Era falta de experiência. Ele tinha ficado cheio de si, achando que havia adquirido alguma experiência. Por que achou que esse homem era um humano comum? Mesmo que parecesse, ele poderia não ser. Não seria nada estranho se existisse um monstro que se parecesse com um humano.
Muitos pensamentos e sentimentos passaram pela cabeça de Haruhiro, confundindo-o. Já era tarde demais. O homem envolveu o braço em volta do pescoço de Haruhiro, puxando-o para perto e girando os quadris.
Isso parece uma técnica de judô, pensou Haruhiro. Judô...?
Ele foi arremessado e girou no ar. Quando percebeu, o homem estava montado sobre ele, olhando para baixo.
— Não sou muito fã de socar as pessoas. É bárbaro, sabe?
O que ele dizia e o que fazia não combinavam. O homem pressionava a palma da mão com força contra o queixo de Haruhiro.
Oh, mas—
Isso não é exatamente um soco, huh? Era um golpe estranho que fazia seu cérebro e sua visão tremerem, drenando toda a força de seu corpo.
Então, enquanto desenhava sigilos elementais com a mão direita: — Marc em Parc — o homem entoou.
...Ei. O que você está fazendo? Pare com isso.
Magic Missile.
A esfera de luz desceu.
Não vou sair dessa sem me machucar. De jeito nenhum.
Talvez porque sua mente estivesse enevoada, parecia que aquilo estava acontecendo com outra pessoa, mas a esfera de luz se aproximava dos olhos de Haruhiro.
Era tão brilhante.
Haruhiro ouviu o som de ossos se partindo. Provavelmente era seu nariz. Ou talvez sua bochecha. Bem, era alguma parte de seu rosto.
Não estava escuro, mas ele não conseguia ver nada.
Blugh... Um sopro escapou de sua boca. Seu nariz parecia entupido. Sua garganta estava apertada e sua boca não se mexia. Estava atordoado—talvez?
Ele realmente não sabia.
Seus companheiros estavam chamando pelo nome de Haruhiro.
— Não se mexam — disse o homem.
Haruhiro não conseguiria se mover, mesmo se quisesse.
Desculpem, pessoal. Sinto muito mesmo.
— Se se moverem, esse garoto morre — o homem continuou. — Eu também não quero matá-lo, então todos vocês, fiquem onde estão. Entendido? Certo. Muito bem. Agora, larguem suas armas. Ah, você aí—você é da aldeia oculta, não é? Tentar se esconder não vai adiantar. E vejo que você tem um nyaa te seguindo. O nyaa cinza. É melhor não fazer com que ele tente nada engraçado. Se é só esse, ele deve significar muito para você. Certo. Assim está bom...
— E agora, o que fazer? Somos seis, incluindo o golem, um nyaa, e então esse garoto. Vou carregá-lo, mas o resto de vocês vai andar com suas próprias pernas. Eu poderia matá-los aqui, mas, como eu disse, não quero. Não sou fã de tirar vidas desnecessariamente. Entendem isso? É o budismo. Talvez não. Bem, se for necessário, não vou hesitar, mas é raro humanos aparecerem por aqui. Quero entender melhor quem vocês são antes de decidir qualquer coisa.
Posso matar vocês a qualquer momento, afinal, Haruhiro ouviu o homem dizer ao longe.
Era o fim?
Ele queria resistir. Queria estar ali.
Precisava fazer alguma coisa.
Apesar disso...
...sua consciência estava se esvaindo.
— Bem-vindos à Jessie Land (Terra de Jessie) — disse o homem.
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