Hai to Gensou no Grimgar | Grimgar of Fantasy and Ash Volume 10 Capítulo 02
[Sem Mordidas ]




Isso era estranho. Muito estranho. Não importava como olhasse, não era para ser assim.

Sim, Haruhiro havia assumido um risco. Ele mesmo havia eliminado o redback. Fazer isso foi uma aposta. Ele não podia negar isso.

Havia uma expectativa de sucesso. Mesmo assim, se não tivesse pensado que isso poderia acabar com a situação, teria escolhido uma abordagem muito mais cautelosa.

Os guorellas formavam bandos de cerca de vinte membros, liderados por machos corpulentos com chifres vermelhos e peludos, chamados redbacks. Quando perdiam seu líder, os machos jovens lutavam pela posição? Ou uma fêmea assumia temporariamente o comando? Qualquer que fosse o caso, o bando ficava desordenado, quando não se desfazia completamente.

Os bandos de guorellas eram caçadores persistentes e metódicos. Não perseguiam suas presas com pressa ou afobação. Seguiam-nas pacientemente, aproximando-se aos poucos e esperando que suas vítimas perdessem as forças. Os redbacks, por sua vez, eram especialmente astutos e, embora fossem claramente mais fortes, raramente demonstravam isso. Foi por isso que essa tinha sido sua única chance.

Olhando para trás, Haruhiro talvez estivesse tentando ativamente evitar pensar sobre isso. Pensar que precisava ter sucesso a qualquer custo, que não podia fracassar de jeito nenhum ou que, se errasse, tudo estaria acabado. Quanto mais pensava nessas coisas, mais tenso ficava, e isso às vezes fazia suas mãos falharem. Para uma pessoa mediana como Haruhiro realizar algo de forma adequada, era melhor manter a calma.

Com dificuldade, ele conseguiu derrubar o redback. Agora, os guorellas não deveriam mais ser um problema. Bem, ele não era otimista o suficiente para acreditar nisso, mas parecia provável que tivessem algum alívio, pelo menos. Se a party usasse esse tempo para se afastar, poderiam ao menos recuperar o fôlego. E se não precisassem mais correr e se esconder, poderiam traçar um rumo claro e escolher um caminho.

No entanto, nada havia mudado.

Ele matou o redback, mas os guorellas ainda estavam atrás deles.

Ele começou a ouvir o som rítmico de batidas, tum, tum, tum, tum, tum, Quando a situação ficava realmente ruim, o som vinha do norte, e, algum tempo depois, mais tambores ecoavam ao sul. Só podia supor que havia vários redbacks. Mas o que deveria ser o único redback do bando estava morto. O que, afinal, estava acontecendo ali?

A única coisa boa—embora ele não tivesse certeza se era realmente algo bom—era que os guorellas estavam mais cautelosos depois que ele eliminou o redback. Antes, os machos jovens atacavam ocasionalmente. Isso havia parado completamente, e o tempo em que tudo o que se ouvia era a respiração e os passos de seus companheiros aumentara.

Será que os guorellas finalmente desistiram da perseguição? Ele pensava. Mas toda vez que esse pensamento lhe cruzava a mente, ouvia tambores ou gritos, ou via uma árvore fina se dobrando à distância, ou um galho se quebrando.

Segundo Setora, Kiichi, o nyaa cinzento, avistava os guorellas com frequência. Eles estavam por perto. Muito perto.

Estariam se aproximando por trás? Estariam à direita, e também à esquerda? Talvez até à frente. Ele quase sentia como se a party tivesse sido cercada.

Devia haver muitos deles. Incluindo o redback, sua party já havia eliminado cinco... não, seis. Então, restariam um pouco mais de dez? Sério? Só isso? Parecia que havia mais.

Todos estavam extremamente calados. Quem havia sido o último a dizer algo? Ele não se lembrava.

Claramente, os guorellas não tinham perdido o rastro de Haruhiro e sua party. Estavam atormentando-os, enfraquecendo-os para atacar quando não pudessem mais se mover. Então, talvez fosse melhor conversar um pouco. Em vez de permanecer em silêncio, uma conversa ajudaria a tirar aquilo de suas mentes.

Mas o que havia para dizer? Haruhiro sentia que, se abrisse a boca, acabaria dizendo “Estou exausto” sem querer. O que mais ele poderia dizer?

Estou exausto. Minhas pernas doem. Meu corpo parece pesado. Já deu.

Me dá um tempo. Está quente. Estou com fome. Estou no meu limite.

Reclamar não levaria a lugar algum. Todos estavam passando por dificuldades. Todos estavam aguentando. Shihoru, em especial, parecia que poderia desabar a qualquer momento. Mas ela não parava. Com os ombros subindo e descendo a cada respiração, ela forçava os pés a continuarem se movendo. Em seu desespero para não ficar para trás, para não ser um peso para os companheiros, Shihoru continuava seguindo.

Yume e Mary sempre estavam ao lado dela. Até mesmo Kuzaku, que caminhava na frente das três, estava usando armadura e carregando aquele escudo ridiculamente pesado nas costas. O resto da party devia estar sofrendo mais do que Haruhiro podia imaginar.

A única exceção talvez fosse Setora, que estava ao lado ou um pouco à frente de Haruhiro. Afinal, na maior parte do tempo, Setora estava montada nos ombros de Enba.

Se Enba, o golem, recebesse periodicamente injeções de um líquido misterioso e tomasse pílulas especiais, ele poderia funcionar praticamente para sempre. Sempre que se movia, Enba era o veículo de Setora. Mesmo que balançasse um pouco, isso não devia deixá-la enjoada, e certamente era mais fácil do que andar com os próprios pés. Na verdade, excluindo Enba, cujo rosto estava coberto, apenas Setora parecia manter um semblante tranquilo.

Às vezes, isso irritava Haruhiro.

Mas tudo bem. Não era como se ele pensasse algo como: Isso não é justo ou Sofra com a gente ou qualquer coisa assim. Se ela podia economizar energia para quando fosse necessário, era melhor que fizesse isso. Haruhiro já tinha em mente que, no pior dos cenários, se não houvesse mais nada que pudessem fazer, queria que pelo menos Setora e Enba pudessem fugir.

Afinal, Setora não era uma companheira deles.

Mesmo que uma sequência de eventos os tivesse reunido, eles não tinham nenhuma conexão real, e ela havia sido arrastada para um grande problema. Haruhiro não era um otimista, então, embora quisesse acreditar que conseguiriam superar aquilo, ele não podia dizer que as perspectivas eram boas.

Ele tinha certeza de que seus companheiros estavam preparados para o pior. Eles já haviam enfrentado várias crises juntos. Depois de darem o máximo de si, só poderiam contar com os céus para decidir o resto. Se fizessem tudo o que podiam, então, não importava o resultado, Haruhiro seria capaz de aceitar. Ele não culparia seus companheiros, e duvidava que eles o condenassem também. No entanto, Setora não precisava compartilhar o mesmo destino deles.

Onde estavam...?

Não era o Vale dos Mil. Era a porção sudoeste das Montanhas Kuaron. Ele sabia disso, mas onde, exatamente? Para onde estavam indo?

Para o leste. Mais ou menos. O que encontrariam se continuassem naquela direção? O mar? Não, o mar ainda estava muito longe. Quanto era “muito longe”? Cem quilômetros? Se fossem tão longe, com certeza os guorellas não os seguiriam. Ele não tinha base para afirmar isso, mas esperava que fosse verdade.

Se aquele idiota estivesse aqui, com certeza estaria reclamando. Ele me insultaria, faria um escândalo e teria uma atitude horrível. Só de pensar nisso, Haruhiro já ficava irritado.

Era uma coisa boa que aquele cara não estivesse ali. Estavam melhor sem ele. Ele não era mais um companheiro. Sempre tinha sido uma fonte de preocupação. Haruhiro nem queria ver o rosto dele. Houve vezes em que ele nem queria respirar o mesmo ar que aquele sujeito.

Ele havia se esforçado para aturá-lo. Isso o tornara mais paciente. Era algo como um efeito colateral, mas o cara era tão detestável que parecia que qualquer outra pessoa seria melhor. Será que ter lidado com aquele lixo humano ajudou Haruhiro a crescer como pessoa?

Agora que ele não estava mais por perto, tudo estava realmente quieto. Ou “morto” poderia ser uma forma de descrever. Bom, eles estavam bem sem ele. Era muito melhor do que ter aquele cara barulhento demais por perto.

Ei, cara, aquele sujeito teria dito. Se continuar dizendo essas besteiras, vai se arrepender, sabia? Quer dizer, você já está arrependido, não é, Parupiro? Não está? Hein?

Ah, merda... — murmurou Haruhiro. Ele estava começando a ter alucinações auditivas.

Não, ele não tinha ouvido aquilo de verdade. Era só algo que aquele cara definitivamente diria. A frase surgiu de repente em sua mente, e ele reproduziu a cena em sua cabeça. Mesmo querendo esquecer aquele cara.

Shihoru. — Ele ouviu a voz de Mary.

Ao se virar, viu Shihoru agachada, abraçando seu cajado e encostada em uma árvore. Seus ombros tremiam.

Yume, inclinada ao lado dela, esfregava suas costas e olhou para Haruhiro.

Haru-kun — foi tudo o que disse.

A cabeça de Shihoru estava baixa. O rosto de Yume estava um pouco sujo, e ela parecia exausta. Quando Mary balançou a cabeça, gotas de suor voaram por toda parte.

Kuzaku soltou um suspiro exagerado e se sentou. Era sua forma de demonstrar que tinha chegado ao limite, tentando aliviar o peso psicológico de Shihoru. Tão típico de Kuzaku demonstrar sua consideração desse jeito.

Vamos descansar — disse Haruhiro, respirando fundo. Olhando para cima, ele podia ver o céu escarlate espiando pelos galhos das árvores. Já era fim de tarde? Ele queria se sentar. Não, queria dormir. Mas isso não era possível.

Ao longe, as batidas ritmadas dos guorellas começaram a soar novamente. Tum, tum, tum, tum, tum...

Sério?

Estariam sendo observados? Dado o momento, Haruhiro não podia deixar de suspeitar disso.

Shihoru levantou a cabeça. Ela estava tentando se levantar. Claro que estava. Não tinham outra escolha além de seguir em frente.

Haruhiro começou a se mover.

Setora se adiantou.

Descansem.

Mas... — Haruhiro tentou argumentar, mas não continuou. Seu corpo rejeitava a ideia. Estava tão exausto assim?

Kiichi e eu procuraremos o inimigo. — Setora olhou para Haruhiro, com os lábios se curvando em um leve sorriso por um breve momento. — Vocês fiquem aqui. Duvido que consigam relaxar, mas ao menos tentem recuperar um pouco as forças.

Desculpe. Estamos contando com você. — Foi tudo o que Haruhiro conseguiu dizer. Assim que se sentou no chão, sua respiração ficou subitamente pesada e irregular. Sua visão ficou turva, como se estivesse prestes a desmaiar.

Setora desceu dos ombros de Enba. Será que ia caminhar com Enba a seguindo? Onde estava Kiichi? Não se via sinal dele.

Yume abraçou Shihoru e afagou sua cabeça.

Pronto, pronto...

Mary olhava para cima, com um olhar quase atordoado.

Setora e Enba desapareceram entre as árvores em pouco tempo.

A pulsação acelerada de Haruhiro simplesmente não voltava ao normal. Era como se seu coração não lhe pertencesse mais.

Quando se deu conta, os guorellas haviam parado com as batucadas.

...Eles fugiram? — murmurou Kuzaku.

Por um momento, Haruhiro pensou que ele se referia a Setora e Enba. Depois percebeu que tinha sido descuidado. Ela poderia usá-los como isca para escapar.

Haruhiro não tinha pensado nisso, mas não podia descartar completamente a possibilidade. Porém... Não, provavelmente não. Se ela tivesse essa intenção, teria agido antes. Além disso, não parecia o tipo de coisa que Setora faria. Ela era fria, quase insensível e indiferente, mas estranhamente fiel à sua palavra. Se fosse abandoná-los, ela provavelmente avisaria. Ela era impiedosa, sim, mas não era desleal. Esse parecia ser o tipo de pessoa que Setora era.

Descanse — disse Haruhiro.

Kuzaku respondeu: — Tá. — Então deitou de lado. Um momento depois, já estava roncando.

Mas ninguém disse pra dormir... — murmurou Haruhiro.

Shihoru riu baixinho, e os ombros de Yume estremeceram enquanto soltava uma risada bizarra, algo como: — Funyunyu.

Seus olhos se encontraram com os de Mary, que tentava conter um bocejo. Ela abaixou a cabeça, envergonhada.

...Desculpe.

Não precisa...

...se desculpar, ele ia completar. Mas então sua pulsação, que começava a se acalmar, subitamente acelerou novamente.

Tum, tum, tum, tum, tum...

As batidas. Vindo de uma direção diferente desta vez.

Droga, ele queria xingar, mas se conteve. Perder a cabeça não ajudaria. Se se deixasse levar pela emoção, daria aos guorellas exatamente o que eles queriam.

...Mas o que isso importa, afinal? Eles não tinham opções. Por que os guorellas simplesmente não os atacavam de uma vez? Estariam brincando com eles? A party não teria a menor chance contra aquelas criaturas.

Ou talvez isso não fosse totalmente verdade?

Pode ser que o número de guorellas fosse menor do que parecia. Eles podiam estar tentando parecer mais numerosos.

Não, mas era certo que havia múltiplos guorellas martelando o peito. Em outras palavras, havia vários redbacks.

Por outro lado, isso era algo que Setora tinha dito. E Setora podia estar errada. Talvez a ecologia dos guorellas não fosse tão bem compreendida assim, e o que ela sabia fosse baseado em suposições. Mesmo que geralmente fosse o caso de que apenas os redbacks batessem no peito, podiam haver exceções.

Se os guorellas não atacavam de frente, talvez fosse porque achavam que não poderiam vencer ou temiam sofrer grandes perdas.

Perdas, Huh.

Se eles estavam caçando para obter comida, idealmente, não queriam sofrer nenhuma baixa. Haruhiro sentia o mesmo. Lesões que podiam ser curadas com magia de luz eram aceitáveis, mas ele não queria perder nenhum companheiro da party.

Naturalmente, os guorellas caçavam com a mesma mentalidade.

A party de Haruhiro já tinha matado alguns guorellas. As criaturas deveriam ter desistido. Mas, se agora eles decidissem lançar um ataque total, Haruhiro e os outros talvez não conseguissem fugir. Porém, eles não morreriam sem lutar. Iriam revidar com tudo o que tinham. Haruhiro podia garantir que levariam alguns guorellas com eles.

Os guorellas deviam saber que Haruhiro e sua party não eram adversários fáceis. Eles não eram soldados voluntários de primeira linha, nem de segunda, mas eram tenazes.

Se os guorellas pudessem falar, Haruhiro gostaria de dizer algo como: “Vocês não vão nos matar facilmente. Se não querem morrer, procurem outra presa. Se querem lutar, que venham. Mas tenho certeza de que vocês também não querem morrer. Vamos parar com isso.”

Houve um som de folhas se mexendo.

Haruhiro ficou de pé e sacou seu estilete.

Ah! — Ele ficou tão assustado que sentiu como se seu coração fosse parar.

Era Setora e Enba. Eles tinham voltado?

Que foi, Haru? — Setora perguntou, com um tom levemente provocador. — Que cara é essa?

Haruhiro não conseguiu responder de imediato. Ajustou a pegada no estilete e tentou engolir a saliva, mas percebeu que sua boca estava seca.

Kuzaku! — Mary chamou.

...Tô acordado... — Kuzaku sentou-se lentamente, balançando a cabeça.

Ei, Setora. — O tom suave de Yume parecia deslocado, mas Haruhiro achou reconfortante. — Pra onde os nyaas foram?

Setora ignorou a pergunta de Yume e foi até Haruhiro. Ela se aproximou mais e mais, tocando o braço direito dele, o ombro, os quadris e as laterais...

Isso faz cócegas, sabia?

...O-Q-Q-Qê? — Haruhiro perguntou, nervoso.

Só estou testando. Não se preocupe com isso.

Como assim “não se preocupar”...

O que exatamente você está testando? — Mary perguntou, por algum motivo.

Keh... — Shihoru soltou um som estranho, que poderia ser uma risada, uma tosse ou algo do tipo.

Haru. — Setora lançou um olhar a Mary por algum motivo antes de se inclinar para perto do ouvido de Haruhiro. Ao fazer isso, inevitavelmente, seu corpo também se pressionou contra o dele. Haruhiro quase recuou. Se não fosse pela obrigação de fingir ser seu amante, ele talvez tivesse dado um salto para trás. — Tenho um plano. Vai querer ouvir?

Quero, mas... pode se afastar um pouco primeiro...?

Estou fazendo isso porque não quero me afastar. Tem algum problema com isso?

N-Não... problema nenhum.

Ótimo. — Setora se aninhou no pescoço e no ouvido de Haruhiro como se fosse um gato.

Umm... Ele pensou, desconfortável. Tá todo mundo olhando, sabia? O que é isso? Eu realmente... não sei o que fazer.


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Não tinha o que fazer. Ele só podia aguentar.

A verdade é que eu estava preocupada — disse Setora. — Achava que você talvez me odiasse de verdade.

Eu não... não te odeio.

Mas também não gosta de mim?

Não... Não é isso.

Você é bem honesto.

Eu... Eu não sei se sou.

Nyaas entram no cio duas vezes por ano, mas não parece haver uma estação de acasalamento para humanos — ela disse. — Então, quando é que nós entramos no cio? Sempre me perguntei isso.

O-Oh, é...?

Entendi. Então é assim que me sinto quando um homem agradável está ao meu lado? — Setora pressionou o nariz e os lábios no pescoço de Haruhiro, respirando como se o estivesse cheirando, e soltou um suspiro quente.

Seus companheiros não estavam exatamente surpresos, mas atordoados. Até Haruhiro estava sem reação. Se ele não parasse Setora, o que ela faria? O que poderia acontecer?

De qualquer forma, aquilo não era meio insano? Ele deveria empurrá-la?

Enquanto ainda estava confuso, de repente, sentiu uma dor aguda do lado direito do pescoço.

Ai! — ele gritou. — O quê?! V-Você me mordeu?! Agora mesmo, não foi?! Por quê?!

Perdoe-me — Setora recuou suavemente. Seu rosto estava vermelho como um pimentão. — Não consigo te dizer o porquê, mas senti vontade de te morder. Acho que, quando as pessoas entram no cio, nunca se sabe o que vão fazer.

É-É assim que funciona...?

Pode haver diferenças individuais. Essa é a minha primeira vez, sabia? Eu tinha interesse no amor romântico e sexual, e é verdade que você me impressionou, mas nunca pensei que me apaixonaria por você.

Apaixonar... — Mary murmurou para si mesma, enquanto Shihoru soltava outra tosse estranha.

O Haruhiro é meio popular com as garotas, né? — comentou Kuzaku.

Ele estava falando coisas totalmente sem sentido. Por que Yume estava balançando a cabeça em concordância?

Popular? — Setora lançou um olhar afiado para Kuzaku. — O que quer dizer? Está dizendo que Haruhiro tem outra mulher além de mim?

Não, só que houve outra pessoa que disse gostar do Haruhiro. Ela era de outra party, no entanto...

O que você disse?!

Mimorin, né? — Yume cruzou os braços e inflou uma das bochechas. — Faz um tempo que não a vejo. O que será que anda fazendo? Espero que esteja bem.

Setora estalou a língua e rangeu os dentes.

Houve alguém antes de mim? Bem, ele é o tipo de homem por quem eu me apaixonaria, então não estou surpresa, mas ainda assim é irritante.

Haruhiro, incapaz de permanecer calado, corrigiu o mal-entendido.

Não, eu não estou saindo com a Mimorin, tá bom?

Oh, entendi! — exclamou Setora com um sorriso radiante. — Que bom! Prefiro que seja a primeira vez para nós dois. Não quero deixar mais ninguém tocar em você, e não quero que ninguém além de você me toque. Se eu algum dia te encontrasse beijando outra mulher, nem despedaçá-la em pequenos pedaços seria o suficiente.

Em pedaços? Você está dizendo umas coisas bem extremas, sabia? Isso me assusta. E, espera aí, a conversa saiu tanto do trilho que já foi completamente descarrilada...

E-Então, sobre o plano? — Haruhiro perguntou, nervoso.

Ahh... — Setora estava prestes a dizer algo quando...

To, to, to, to, to, to, to, to, to, to, to, to, to, to, to, to...

De novo, não! — Kuzaku chutou o chão.

Shihoru olhava para Haruhiro com os olhos voltados para cima. Mesmo completamente exausta, seu olhar era de determinação.

...Parece que não temos espaço para decidir.

Haruhiro assentiu. Ela estava certa. Ele e a party já estavam sendo encurralados. Não importava qual fosse o plano, eles teriam que colocá-lo em prática.

O sol iria se pôr em breve. Estava sombrio; ou melhor, já estava escuro. Os insetos cantavam. Mesmo que ocasionalmente ouvissem os guorellas batucando, os outros sons não paravam. Sons como papel sendo rasgado, metal arranhando vidro e lamentos.

Seus ouvidos doíam, e sua cabeça parecia prestes a explodir. Mais do que isso, seu corpo todo estava pesado.

Não, ele disse a si mesmo. Não pense em coisas difíceis ou desagradáveis. Só vai tornar tudo mais difícil. Está mais fresco agora do que durante o dia. Isso mesmo. Nem tudo é ruim.

Com Setora liderando o caminho do alto dos ombros de Enba, Haruhiro e a party avançaram cada vez mais para o leste, na porção sudoeste das Montanhas Kuaron. Embora estivessem nas montanhas, estavam próximos ao sopé, então a inclinação era suave, no geral.

Eu posso continuar, ele disse a si mesmo. Meu corpo se moverá. Está tudo bem.

Mais do que a si mesmo, ele queria encorajar seus companheiros, especialmente Shihoru. Mas, se ele olhasse para trás e tentasse falar, sentia que suas cordas poderiam se romper. Que cordas? Não tinha certeza, mas essas cordas eram finas como fios de cabelo, esticadas ao máximo, e, se afrouxassem ou se partissem, ele estaria em sérios apuros.

De novo? Quando chegariam ao destino? Ainda tinham que continuar andando?

E se os guorellas atacassem agora?

Essa era a única coisa que ele tentava evitar pensar. Se apenas alguns atacassem, talvez pudessem dar conta, mas, se fossem mais de dez e atacassem todos de uma vez, a party não duraria muito. Preocupar-se com coisas sobre as quais não podia fazer nada era inútil.

Além disso, eles ainda não tinham atacado. Talvez não atacassem enquanto a party continuasse andando. Podiam estar esperando o momento em que suas presas estivessem exaustas e incapazes de resistir.

Era uma disputa de resistência. O perseguidor ou o perseguido. A perseguição não terminaria até que um deles cedesse.

À frente, Enba parou. Setora, sobre seus ombros, ergueu a mão direita.

Não estava claro quando ele tinha aparecido, mas havia um nyaa cinza aos pés de Enba. Kiichi.

Hoooooooooooooooooooooohhhhh!

O quê?

Aquilo era o som de um guorella?

Haruhiro nunca tinha ouvido aquele chamado antes.

Heh!

Huh!

Hoh!

Heh! Heh!

Huh! Huh!

Hoh! Hoh!

Heeeeh! Hoh!

Hoooooooh! Huh!

Heh! Huh! Hoh! Hoh! Hoh!

Hoh! Hoh! Huh! Huh! Hoh! Huh! Ho-hoh!

Os gritos, provavelmente dos guorellas, vinham de todos os lados.

Haruhiro se virou. Kuzaku, Yume, Shihoru, Mary. Todos estavam prontos para correr. Haruhiro também estava assustado.

Então, chegou a hora, huh.

Hoh, hoh, hoh, hoh, hoh!

Heh, heh, huh, hoh, huh, hoh, heh!

Hah, hah, huh, heh, huh, hah, huh, hoh!

Huh, huh, huh, huh, huh, huh, huh, huh, huh!

O céu ainda estava um pouco claro, mas o sol já tinha se posto no horizonte ocidental, e o crepúsculo avançava. Apesar de não conseguir distinguir suas figuras, as vozes indicavam que os guorellas estavam se aproximando de todas as direções.

Não, não era isso. Não vinham de todas as direções.

Setora desceu dos ombros de Enba. Agachando-se, estendeu a mão para Kiichi. Kiichi soltou um curto “Nya” e correu até Setora. Ela o pegou e o abraçou apertado. Em seguida, olhou para Haruhiro e os outros.

Estão todos prontos?

Kuzaku respirou fundo antes de responder: — ...Tá!

Miau! — Yume fez um gesto semelhante a uma saudação.

Shihoru acenou silenciosamente com a cabeça.

Mary respondeu com um breve “Sim”, olhou para Haruhiro e sorriu um pouco.

Houh!

Huh!

Hauh!

Huh! Hoh-hoh!

Heh, huh, huh, hoh, huh, huh, huh, huh!

Hauh, hah, hah, hah, hah, hah, hah, hah, hah!

Perto.

Eles estavam bem perto agora.

Haruhiro e os outros se moveram até onde Setora e Enba estavam. Ao olhar por cima da borda, um calafrio percorreu sua espinha.

É bem alto...

Achando melhor não dizer isso em voz alta, Haruhiro manteve os pensamentos para si.

Era um beco sem saída. Se dessem mais um passo, não haveria nada ali. Além deles, havia um penhasco tão íngreme que seria impossível rolar até o fundo. Não era só dez metros de altura. Eram mais de vinte. Dezenas de metros. Menos de cinquenta, no entanto. Provavelmente.

Felizmente, o que havia no fundo não era terra, mas um rio. Se não fosse por isso, o plano não funcionaria. Obviamente.

Imagine se fosse terra sólida lá embaixo. Se caíssem, a morte seria instantânea. Não tinham, por falta de opções melhores, decidido cometer suicídio em massa ao invés de serem devorados pelas guorellas. Mesmo sendo uma medida desesperada, ainda havia alguma esperança. A party pretendia sobreviver.

Hoh, hoh, hoh, hoh, hoh, hoh, hoh, hoh, hoh!

Heuh! Hoh, hoh, hoh, hoh, hoh, hoh, hoh, hoh, hoh!

Lembrem-se, pés primeiro — Haruhiro disse aos outros. — Caiam com os pés primeiro. Apenas foquem em–

Antes de terminar, ele saltou. De repente, sentiu a determinação de fazer aquilo e agiu por impulso.

Será que ele tinha cometido um erro? Estragado tudo? Feito uma bagunça?

Mas, em vez de ficarem se empurrando, dizendo “Você vai primeiro,” “Não, você vai,” se alguém desse o primeiro salto, talvez fosse surpreendentemente mais fácil para o resto seguir.

Whoaaaaaaaaaaaaaaa?!

Não pode ser, não pode ser, não pode ser, não pode ser, não pode ser, pensou freneticamente. Alto, alto, alto, alto, alto. Isso é muito mais alto do que eu pensei. Merda, merda, estou com medo. Minhas entranhas. Elas vão sair. Pela minha boca. Meu cérebro está gritando, “Guwahhhhhhhhhh!”

É isso que eu acho que é?

Uma passagem só de ida para a morte?

E é meio longa, também. Não estou caindo centenas de metros, então achei que acabaria rápido, que estaria tudo bem, sabe?

Me pergunto, por que não é assim? E os outros? Eles me seguiram? Conseguiram pular? Como foi isso?

Ah, droga. Eu tava pensando que estava demorando, mas agora vejo o rio. Não é longo, nem está longe. Rio, rio, rio. Perto, perto, perto, perto, perto, perto, perto, perto, perto, perto.

Pés primeiro! — ele gritou.

Por que estou gritando algo que já disse? Haruhiro estava exasperado consigo mesmo.

Então, houve um splash incrivelmente alto, e o impacto, é claro, foi insano.


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