Hai to Gensou no Grimgar | Grimgar of Fantasy and Ash Volume 09
Capítulo 07
[Indulgência]
Flutuando... e afundando. Ele percebia que estava flutuando, e então afundava. Afundava sem fim.
Não havia um fundo. Nenhum, em lugar algum.
Sentia-se pesado. Tão pesado que não sabia o que estava pesando tanto. E então... ficava mais leve.
Isso é horrível... pensou. Hã? O que é isso? O que está... acontecendo? Está tão... escuro.
Estava completamente escuro. E... ele não conseguia se mexer.
Ou talvez conseguisse?
Não era como se não pudesse mover as mãos e os pés. Mas, de alguma forma... sentia-se apertado.
Estava dormindo? Deitado em algum lugar?
Não.
Obviamente, também não estava em pé.
Seu corpo estava de lado, com a cabeça abaixo dos pés. Era como se... estivesse preso em algum lugar? Algo assim?
Parecia uma péssima ideia gritar.
Por quê?
Inimigos.
Isso mesmo.
Estaria em apuros se o inimigo o encontrasse. Mas quem era o inimigo?
Quem eram eles mesmo?
Eu...
O que eu estava fazendo?
Nada de mais.
Tomei banho, sequei o cabelo e, depois, estava assistindo TV quando a minha irmã mais velha disse algo, e eu pensei: Ah, que chata.
Então fui para o meu quarto, fiquei mexendo no celular, e recebi uma ligação do Yukki dizendo: Não vou poder sair depois disso. Algo assim.
Eu disse: Tá tudo bem! Você pode, você pode.
Minha irmã continuava me importunando. Quando eu disse: Quem você pensa que é? Você não é minha mãe, ela rebateu com: Não temos pais, então eu sou a única que tem que dizer isso!
Quando foi que eu pedi isso? Não pedi, né? Francamente, não preciso disso.
— Para com isso.
— O quê? Tá dizendo que eu sou chata? — ela exigiu.
— Bom, pra ser honesto, é, você é chata.
— Então tenta se comportar melhor.
— Não, eu já tô agindo normal.
— Em que sentido?
— De modo geral?
— Você é mais alto que todo mundo, então eu não suporto te ver agindo tão irresponsável.
— Eu não tô sendo irresponsável.
— Tá sim. Não importa como eu veja, você tá sendo irresponsável.
— Ninguém nunca disse isso pra mim. Só você, tá?
— Não fala assim comigo.
— Tá, tá.
— Sério, você me irrita tanto.
— Não cansa, ficar irritada com cada coisinha?
— Cansa, óbvio. Isso não é óbvio? Não me desgaste.
— Então por que não me deixa em paz?
— Isso não vai funcionar, e você sabe.
— Vai funcionar, sério. Eu tô bem.
— Diz isso, mas nem consegue se alimentar direito.
— Eu como, sim. Se eu não comesse, não seria tão alto.
— Ah, fala sério — ela murmurou.
Minha irmã era pequena. Não apenas pequena comparada a mim. Ela tinha menos de 1,60m (acho que 1,55m), então eu tinha certeza de que ela era pequena até mesmo para uma mulher. Por isso, quando ficávamos cara a cara assim, ela olhava para cima. Era obrigada a inclinar bastante o rosto.
Minha irmã não era só baixinha; parecia um pequeno animal. Dava para ver isso em coisas como o tamanho da cabeça, que era pequeno, mesmo para a altura dela, mas os olhos eram grandes e escuros, e a boca, bem pequena. Ou o cabelo, que às vezes ela cortava, outras deixava crescer. Ou o jeito como o humor dela mudava facilmente. Ou como ela era magra, mas a pele dela era macia.
Ela era minha irmã mais velha, e não podia ser outra coisa. Mas ela não parecia uma irmã mais velha. Talvez tenha sido diferente há muito tempo, mas, se as pessoas nos vissem juntos agora, não achariam que éramos irmãos. Não que fizesse muita diferença, mas não parecia que éramos.
— Você cresceu bastante — disse minha irmã.
— Pra que esse sentimentalismo todo?
— Bem, a mamãe era grande. Então eu sempre achei que você ia crescer também. As pessoas dizem isso, né? Que, se a mãe de um garoto é alta, ele também vai ser.
— Ahh, é mesmo. Já ouvi isso da tia Yasuko várias vezes.
— Mas nunca imaginei que você fosse crescer tanto assim.
— Não foi como se eu tivesse decidido. Eu vivia dizendo pro meu corpo parar. Até uns 182 centímetros tá bom. Mas, acima disso, você começa a bater a cabeça em tudo nesse país.
— 182? Por que tão exato?
— Meu amigo disse que qualquer um com 183 ou mais bate a cabeça, sem exceção. Se você tiver menos de 182, isso não acontece.
— Seus amigos são tipo gigantes, afinal.
— É, muitos deles são grandes porque jogavam basquete comigo, mas alguns são pequenos também.
— Vai sair? — ela perguntou.
— Vou.
— Seu delinquente.
Minha irmã sempre fazia bico, como uma criança, quando ficava brava. Isso era outra coisa que fazia dela uma irmã mais velha que não parecia uma irmã mais velha. Mas essa irmã, que não parecia uma irmã mais velha, tinha arranjado um bom emprego, estava trabalhando duro e ganhando dinheiro. Em casa, ela sempre usava camisola e shorts, como agora, mas, quando saía para o trabalho, vestia um terno e prendia o cabelo.
Belisquei as bochechas dela e puxei.
— Ei! — gritou minha irmã, afastando minhas mãos. — Para com isso!
— Tá, tá.
— Que saco!
— Tô indo. Vai dormir, irmãzona.
— Claro que vou dormir — respondeu ela. — Tenho trabalho amanhã.
— Continua firme.
— Você me irrita tanto!
Saí de casa. Quando fechei a porta, o corredor do prédio estava absurdamente silencioso. Eu não gostava desse tipo de silêncio, que dava a sensação de ter algo tapando os ouvidos.
Antes de a mamãe morrer, fiquei dias no hospital. Tinham me dito que era contra as regras passar a noite lá, mas, quando eu deitava no corredor ou no sofá da sala de espera, as enfermeiras do turno da noite não reclamavam. Na verdade, às vezes até conversavam comigo. Havia claramente pessoas no hospital à noite, mas, a menos que algo acontecesse, o silêncio era estranho, e eu não suportava isso.
Eu deveria ter ido para casa, mas sentia que era meu dever ficar no hospital. Achava que, se saísse, mamãe poderia morrer. Não tinha motivo para pensar assim, mas era essa a sensação.
Ao mesmo tempo, eu não queria estar lá quando ela desse seu último suspiro. Era desconfortável vê-la morrer aos poucos. Eu sabia que ela morreria eventualmente, mas não queria aceitar. A tristeza já tinha passado fazia tempo.
Mamãe não era apenas doente desde o início; também tinha passado por várias cirurgias de câncer. Quando eu era criança, chorava toda vez, mas isso já não acontecia mais.
Eu odiava o hospital, mas, por algum motivo, não conseguia deixá-lo.
Minha irmã foi para a escola até o dia em que mamãe morreu.
Quando a situação ficou realmente feia, a enfermeira me disse que eu deveria ligar para o meu pai e minha irmã. Liguei para os dois. Nenhum atendeu, então liguei para a empresa do meu pai e para a escola da minha irmã. Minha irmã veio imediatamente, mas meu pai disse, pelo telefone, que poderia demorar um pouco.
Pensei calmamente: Bem, é meio-dia, então ele provavelmente não está com a amante. Deve ser trabalho.
Meu pai tinha uma amante com quem estava havia anos. Eu sabia, minha irmã sabia, e mamãe também sabia.
Uma vez, eu disse ao meu pai: — É impressionante como você conseguiu simplesmente deixá-la e encontrar outra mulher.
Em vez de me repreender, ele respondeu calmamente: — Duvido que você entenda, e nem espero que entenda, mas, se eu não fizesse algo assim, não conseguiria manter o equilíbrio.
No fim, meu pai chegou a tempo, mas mamãe já tinha perdido a consciência muito antes de o coração parar, então não fez muita diferença. Minha irmã chorava como uma criança, e meu pai soluçou um pouco também.
Eu não consegui chorar.
O saguão silencioso em que eu estava agora me fez lembrar de como me sentia naquela época. Em uma palavra: miserável. Era desagradável estar ali, e eu só queria que aquilo acabasse logo.
Caminhei rapidamente pelo corredor e entrei no elevador. Dentro do elevador, conferi meu smartphone e então—
Então o quê...?
— ...Hã?
O que era aquilo?
Algo estava incomodando ele.
Não, não havia nada o incomodando. Havia algo ali. Devia haver, mas agora não havia nada. Tinha desaparecido.
— Irmãzona... Eu... Espera, hein?
Irmãzona. Ele tinha acabado de dizer “irmãzona”? Se tinha dito “irmãzona”, devia estar falando de uma irmã mais velha. Uma irmã.
Ele tinha uma irmã mais velha? Havia uma vaga sensação de que tinha tido um irmão. Mas, mesmo pensando nisso, não sabia se era uma irmã ou um irmão, e obviamente não conseguia se lembrar.
Será que tinha tido uma irmã mais velha? Ele a chamou de irmãzona.
— ...Não parece real — murmurou Kuzaku.
De qualquer forma, havia uma coisa certa: esquecer a irmã; ele nem mesmo tinha companheiros aqui. Estava sozinho.
Além disso, não sabia onde era “aqui”. Por que estava nesse lugar escuro e apertado, sozinho?
Pensa, ele disse a si mesmo. Se nem isso conseguisse lembrar, a situação era péssima.
Sua cabeça doía. Se a movesse, mesmo que só um pouco, doía ainda mais. Não era só a cabeça. Seu pescoço também estava dolorido. Ele ainda estava usando o elmo. Não tinha tirado.
Ele estava fugindo.
Isso mesmo. Ainda estava no meio da fuga da Forgan.
O que tinha acontecido?
Ele não sabia. Quando deu por si, já estava assim.
De qualquer forma, precisava sair.
Sair daqui.
Será que podia sair? Como?
Primeiro... Sim, primeiro, precisava entender a situação. Haruhiro sempre dizia isso.
Estava escuro, então precisaria tatear para descobrir o que havia ao seu redor. Kuzaku tentou fazer isso, e ficou chocado.
Estava de mãos vazias.
Sem espada, sem escudo.
— ...Sério?
Aquilo era o pior. Queria que alguém o ajudasse. Mas isso não ia acontecer. Ninguém viria salvá-lo. Ele estava sozinho.
Depois que sua party original foi dizimada, ficou sozinho em Altana por dias. Mas aquilo era em Altana. Havia pessoas ao redor. Ele perseguiu Haruhiro também. Basicamente, queria que alguém o salvasse. Mas agora, a quem poderia pedir ajuda?
As coisas eram completamente diferentes desta vez. Não havia ninguém ali.
Kuzaku provavelmente estava ali havia um bom tempo. Talvez Haruhiro e os outros estivessem procurando por ele e simplesmente não conseguiam encontrá-lo.
Se ficasse ali parado, eventualmente o encontrariam. Não, pensar assim provavelmente era otimismo demais.
Havia um cheiro terroso, mas não era o mesmo de terra. Parecia úmido perto de sua mão esquerda.
A área próxima à sua mão direita era seca, mais parecida com uma parede curva do que com um penhasco. A inclinação à esquerda era bem íngreme, mas isso não significava que fosse totalmente intransponível... ou será que era? Não dava para saber sem tentar.
Vou tentar, acho, pensou. Preciso fazer isso.
Primeiro, virou o corpo, posicionando a cabeça para cima. Então começou a subir lentamente a encosta íngreme.
Chegou perto de desistir várias vezes. A cada poucos minutos, não, a cada dez segundos, pensava: Não aguento mais, odeio isso, acabou, quero parar, tudo bem, vou morrer, alguém me mate, e muitas outras coisas, mas e daí?
Afinal, quando não havia ninguém para salvá-lo, se desanimar e se desesperar só o fazia sentir-se vazio. Tudo bem se alguém fosse consolá-lo enquanto chorava, mas quando não havia a menor possibilidade disso, nem sequer encontrava forças para chorar.
Kuzaku não tinha mais forças para continuar tentando. Tudo o que ele queria era fugir da dificuldade, da dor, da solidão, da incerteza e do medo. Ele queria ser libertado.
Ele sabia que estava perto da saída. O ar ali era diferente. O ar frio e úmido entrava por cima.
Assim que rastejou para fora, ele ficou deitado de costas, olhando para cima por um tempo.
— ...Espera, eu estou vivo, certo?
O céu estava repleto de incontáveis estrelas.
Elas eram tão nítidas que parecia possível estender a mão e pegá-las, mas não eram nem um pouco brilhantes.
Escuridão.
Este mundo era infinitamente escuro, e isso pesava sobre Kuzaku. Ele sentia isso sufocante. Mas era apenas uma sensação; sua respiração não estava realmente afetada. Ele sentia dores por todo o corpo, mas, ao menos, não morreria imediatamente.
Ele se levantou e tentou tirar o elmo. Seu pescoço doeu ao dobrá-lo. Não sentia tontura ou náusea. Sem o elmo, sentia-se muito melhor, então decidiu carregá-lo sob o braço.
Ele se ergueu e tentou andar por aí. Não havia árvores próximas. Parecia uma área aberta. O terreno tinha pouca grama e era mais ou menos plano.
Aparentemente, Kuzaku tinha caído em uma fenda e perdido a consciência. Não seria nada engraçado cair em outra, então teria que tomar cuidado.
Sua localização atual era incerta. Ele não fazia ideia de onde estava. Até mesmo tinha perdido a arma com a qual se protegia. A situação era, no mínimo, terrível.
— ...E agora?
Ninguém iria responder. Ele precisava pensar por conta própria e agir sozinho.
— Bom, eu vou dar um jeito... ou pelo menos, isso é difícil de acreditar.
Apesar disso, Kuzaku tentava seguir em frente. Ele podia ouvir o som de insetos e pássaros. Não sabia exatamente o porquê, mas odiava quando o silêncio era tão absoluto que parecia que seus ouvidos estavam tapados.
Essa escuridão não era tão silenciosa. Só isso já tornava tudo muito melhor do que aquele buraco.
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