Hai to Gensou no Grimgar | Grimgar of Fantasy and Ash Volume 09 Capítulo 05
[Uma Condição para Você]




A chuva havia diminuído um pouco, talvez?

Haruhiro estava com as mãos apoiadas no joelho direito, o joelho esquerdo erguido, observando do interior da caverna. Ele mal se movia, ajustando apenas a posição de seu rosto. Sua concentração era impressionante.

Mary, que estava ao lado dele, também olhando para fora, não chegava nem perto do nível de concentração de Haruhiro. Na verdade, seria mais preciso dizer que ela estava tão distraída que não havia comparação possível entre os dois.

Eles estavam bem próximos da entrada da caverna, tão perto que a chuva que vinha de fora podia alcançá-los. Sentir-se molhado era incômodo, e a água fria na pele não era agradável. Mas, além disso... sinceramente, a falta de mudanças era exaustiva.

A paisagem ao redor, envolta em chuva e névoa, parecia uma pintura. Enquanto observava o exterior e ouvia o som da chuva, Mary não podia deixar de se perguntar se aquilo que estavam fazendo tinha algum sentido. Bem, é claro que tinha. Eles estavam esperando seus companheiros ali. Mary e Haruhiro estavam à espera deles. Era possível que os inimigos viessem em vez disso. Por isso estavam atentos. É claro que aquilo tinha um propósito. Obviamente.

Apesar disso, Mary se pegava olhando para Haruhiro.

Talvez eu devesse dizer alguma coisa, pensava repetidamente.

Não havia necessidade de permanecerem em completo silêncio. Sussurrar seria suficiente. Sobre o que poderiam falar? Ela não sabia bem, mas sentia que havia coisas que poderiam discutir. Certamente existiam.

Já fazia um tempo que estavam de vigia ali.

De repente, seus olhos se encontraram com os de Haruhiro pela primeira vez.

...Ah. — Haruhiro imediatamente voltou a olhar para frente. — D-Desculpa.

Huh? — Mary começou a abaixar a cabeça—

Não, agora não. Ela reconsiderou e olhou para fora.

P-Por que está se desculpando?

Uh... Só porque, talvez? — ele respondeu.

...Entendi.

Ninguém está vindo... né?

É... Você tem razão.

Você não está com frio, está? — Haruhiro perguntou.

Não muito.

Então você está um pouco, né? Achei que fosse isso.

Só um pouco. Estou bem.

Não quero que você se esforce demais...

Sou uma sacerdotisa. — Mary tocou os lábios. — Isso não tem nada a ver, tem?

Talvez não. — Haruhiro riu de leve. — Você não consegue curar resfriados, né?

Sou surpreendentemente inútil.

Não é verdade. Vocês sacerdotes são como uma linha de vida. Para mim... Para nós. Basicamente, para a party inteira.

É isso que quero ser — disse Mary.

É assim que eu vejo você. Não, não só eu... Todos pensam o mesmo.

Estou fazendo o meu melhor... para não enfraquecer.

Ah, é? — perguntou Haruhiro.

É.

Mas está tudo bem.

O quê está?

Se você se sentir fraca. Todos nós passamos por isso. Eu posso... sei lá? Uh, posso te apoiar. É, tipo... É pra isso que serve o trabalho em equipe.

Você já... — Mary respirou fundo. — Você já faz tanto para me apoiar.

Haruhiro ergueu o queixo. Soltou um “...Ah.” Durante todo o tempo, continuou olhando para fora.

Ele...

Quando sentiu algo crescendo dentro de si, Mary ficou aflita.

Sua primeira impressão ao conhecê-lo, para o bem ou para o mal, era que ele era um garoto, não um homem. Mesmo que estivesse apenas começando, parecia infantil demais para ser um soldado voluntário. Seus olhos sonolentos, o jeito arrastado de andar, sua falta de confiabilidade, e a aparente ausência de um objetivo para o futuro. De certa forma, talvez isso fosse apropriado para sua idade. Ele era um garoto normal—mas de jeito nenhum preparado para viver naquele mundo.

Naquela época, Mary era uma curandeira contratada, aceitando qualquer party que a convidasse. Sentia que esse tipo de trabalho era o mais adequado para ela.

Mas talvez eu devesse parar com isso, lembrou-se de ter pensado naquela época. E foi por isso que aceitou a proposta deles.

Olhando para trás, naquele momento, Mary carregava dois sentimentos conflitantes dentro de si.

O primeiro sentimento era de que, se ninguém ajudasse aqueles jovens, eles acabariam mortos. Agora que haviam pedido que ela assumisse a responsabilidade, teria dificuldades para dormir à noite se os abandonasse. Era algo próximo de pena.

Mas não era uma pena genuína. Por exemplo, se uma mãe morrendo confiasse seu bebê a alguém, poucas pessoas seriam capazes de simplesmente ignorá-lo. Mesmo que fosse um incômodo, elas o protegeriam, ao menos por um tempo. Se acabasse sendo complicado demais e não soubessem o que fazer, tentariam passar a responsabilidade para outra pessoa. Talvez o deixassem na frente do Templo de Lumiaris, ou algo assim. Isso tinha que ser melhor do que deixá-lo morrer.

Era esse tipo de pena irresponsável que ela sentira.

O outro sentimento era um desejo de embarcar naquele navio afundando. Uma espécie de desejo autodestrutivo.

Mesmo depois de ter se juntado a party, ela não imaginava qualquer tipo de futuro para aqueles jovens. Todo mundo era assim quando começava, ela os consolava, o que não era verdade. Se alguém dissesse isso para consolá-los, provavelmente havia uma dose de malícia por trás. Para ser franco, provavelmente não existiam muitos recrutas tão ruins quanto eles. Tudo o que tinham feito era deixar sua sacerdotisa insegura. Eles eram um grupo assustadoramente inexperiente.

Jamais teria imaginado que ainda estariam juntos por tanto tempo.

Jamais teria imaginado que chegaria o dia em que confiaria no garoto que conhecera naquela época.

Haruhiro havia crescido. Como ladrão e como líder. E ela não achava que isso era por alguma aptidão natural dele.

Haruhiro tinha passado por tantas coisas que não dava para explicar de forma tão simplista. Mais do que isso, não era como se Haruhiro tivesse procurado por essas situações. Ele provavelmente sempre fora relutante. Fora empurrado para essa posição e não teve escolha a não ser aceitar. A situação não lhe dava espaço para fugir.

Ele foi forçado a caminhar sobre uma corda bamba, e, quando achou que finalmente tinha atravessado, encontrou-se à beira de um precipício. Os ventos eram fortes, e tudo o que podia fazer era agarrar-se ao chão, mas ainda assim precisava avançar. Se Haruhiro, que liderava o caminho, não avançasse, ninguém mais poderia se mover. Então ele não tinha escolha.

E ele passou por isso várias e várias vezes.

Mary não havia crescido nem metade—não, talvez nem um terço—do que Haruhiro.

Naquela época, Mary estava muito à frente deles no caminho de soldado voluntário. Em algum momento, eles a ultrapassaram, e agora ela estava correndo atrás.

Ela queria ser mais forte.

Detestava estar sempre os seguindo.

Queria caminhar ao lado deles, pelo menos.

Queria andar ao lado dele. Poder estufar o peito e caminhar com orgulho.

Talvez fosse porque ela passou tanto tempo olhando para baixo que se esqueceu de como fazer isso. Por medo. Medo de perder o caminho que finalmente encontrara.

Nunca sabia quando o chão poderia desabar sob seus pés.

À sua maneira, ela estava desesperada. Sempre com medo.

Eu preciso mudar, pensou, decidida. Quero mudar.

Do jeito que as coisas estão indo, vou me arrepender. Já tenho arrependimentos suficientes.

Haru — disse ela lentamente.

...Huh? — Haruhiro olhou para Mary por um momento. — Uh, certo. O que foi?

Você quer ir um pouco mais para dentro? Precisamos evitar nos resfriar muito.

Ah, é verdade... Mas ainda assim...

Vamos nos afastar da chuva.

...Okay

Talvez eu tenha falado com firmeza demais — ela acrescentou. — Não estou brava, tá? É só como eu sou. Como sou agora... e provavelmente o meu eu verdadeiro.

Sim. — Haruhiro sorriu, recuando cerca de trinta centímetros. — Não sei como dizer isso, mas se você consegue se sentir assim, Mary... Não, como dizer? Se esse é um lugar onde você pode ser você mesma, fico feliz.

Mary recuou a mesma distância que Haruhiro.

A party, você quer dizer?

Talvez?

Talvez seja porque ficamos tanto tempo em Darunggar, mas somos meio que uma família.

Oh... É, verdade. Uma família... Huh.

Você é o pai, Haru? — perguntou Mary.

Eu? Nem pensar. Não é isso. Hmm, bom, eu sou o líder, então... talvez seja o irmão mais velho, no máximo... Quanto à mãe, me pergunto quem seria. Se tivesse que escolher... talvez a Shihoru?

Ela é bem centrada, então acho que combina com ela.

Mas uma mãe sem pai... — Haruhiro acrescentou.

Talvez não haja pais? Nesse caso, você seria o irmão mais velho, e a Shihoru a irmã mais velha?

Três irmãs: Shihoru, Mary e Yume, hein.

E os irmãos seriam você, Kuzaku e... desculpe.

Bem, você conhece o Ranta. — A voz de Haruhiro estava estranhamente seca. — Ele não é do tipo que seria o irmãozinho de alguém.

...Verdade.

Eu consigo dizer isso agora, mas éramos iguais. Ele e eu. Acho que ele provavelmente também queria ser meu igual. Nunca nos seguramos um com o outro. Não gosto dele, mas ele sempre foi honesto e direto. “Eu odeio isso”, “Isso me irrita”, “Você está errado”... Ele dizia essas coisas na lata, fosse algo sério ou estúpido. Não mentíamos um para o outro. Não havia necessidade... Acho que, provavelmente, é difícil encontrar pessoas com quem você possa ser assim.

Vocês eram... amigos? — Mary perguntou.

Não. — Haruhiro fez uma careta leve. — Definitivamente não. Nem pensar. Ele não é meu amigo... mas talvez pudéssemos ter nos tornado algo diferente, se tivéssemos tido mais tempo juntos. Não sei. Ele nunca poderia ser meu amigo, mas talvez isso tenha sido o melhor. Significava que não nos segurávamos. Estranhamente, parte de mim ainda confia nele. É... eu provavelmente acreditava nele.

De que maneira?

Achei que sempre seríamos do mesmo jeito, nem nos aproximando, nem nos afastando. Para mim... Meus companheiros, eu amo todos vocês, e vocês são importantes para mim. Não consigo evitar pegar leve com vocês. Isso faz parte do nosso relacionamento. Mas com ele, não era assim. Isso equilibrava as coisas, por assim dizer.

Ele era especial para você.

Não exatamente de uma forma boa.

Ninguém pode ocupar o lugar dele.

Isso não se aplica só a ele — disse Haruhiro. — É verdade para todos nós.

Haru...

O quê?

Você realmente acha que ele nos traiu?

Não.

Mary quase não conseguiu conter um sorriso. Haru respondeu instantaneamente. Ele negou sem hesitar nem por um momento.

Haru acreditava nele. Era o quanto confiava em Ranta. Mary não achava mistério nenhum nisso.

Na verdade, era difícil acreditar que Ranta tivesse realmente traído a party. Acontecesse o que fosse, Ranta não trairia seus companheiros. Ela já teria desistido dele há muito tempo se não acreditasse nisso.

Mary, tem uma coisa que eu queria perguntar — disse Haruhiro.

Certo. O que é?

Você viu o Zodiac-kun desde que o Ranta fez o que fez?

...Não. — Mary balançou a cabeça e então tentou se lembrar. Não podia afirmar com absoluta certeza, mas não havia visto o demônio. Essa era a sensação que tinha. — Acho que não. Pelo menos, não que eu tenha notado.

Foi o que imaginei. — Haruhiro olhou ao redor enquanto assentia. — É estranho. Apesar de ele ser um cavaleiro das trevas. Por mais que reclame, ele realmente gosta do Zodiac-kun. Usa aquele demônio como suporte emocional. Tenho certeza de que é parte disso.

Verdade. Não importa o quanto ele seja maltratado pelo Zodiac-kun, ele invoca aquele demônio sempre que pode.

É exatamente por isso que isso me chamou a atenção — disse Haru. — Ele deve estar escondendo alguma coisa. Não de nós, mas dos caras da Forgan. O fato de ele não chamar o Zodiac-kun é um símbolo disso. Talvez ele o veja como um trunfo. Idiota como é, é o tipo de coisa que ele pensaria.

Com certeza...

Ele nunca fez mal diretamente a você — acrescentou Haruhiro. — Eu acho que ele estava tentando protegê-la do jeito dele. Não é impossível pensar assim.

É... você está certo.

Quando lutou comigo, provavelmente estava sério. Só que, bom, isso era porque estava lutando contra mim, entende?

...A pessoa com quem ele quer ser igual.

Bem, dito assim, até faz ele parecer legal demais — disse Haru. — Se ele tivesse atacado a Yume, e ela tivesse se machucado, seria diferente, sabe? Mas era eu. Isso pode parecer um pouco extremo, mas mesmo que ele tivesse me matado... Bom, talvez até ele sentisse um pouquinho de culpa. Ele diria algo como: “Não me culpe, Haruhiro, eu não tive escolha”, com aquele sorriso forçado, não acha?

...Ele faria isso. Totalmente. Consigo imaginar a expressão no rosto dele...

Pois é, né? — Haruhiro disse, rindo.

A chuva tinha diminuído bastante, a ponto de ser indistinguível da névoa. O sol estava se pondo? Não parecia ter escurecido.

Parecia que ela estava ali com Haruhiro, esperando que os companheiros voltassem, havia um bom tempo. Mas talvez não tivesse passado tanto tempo assim.

À distância, algo se moveu. Seria apenas a névoa se dissipando?

Não, não era isso.

Mary — chamou Haruhiro em um tom baixo.

Ela olhou para o lado e Haruhiro estava apontando para a frente deles com o dedo indicador da mão esquerda. Esse sinal significava: Há algo ali.

Mary prendeu a respiração e estreitou os olhos.

Era pequeno. E provavelmente não estava sozinho. O que significava que não eram seus companheiros.

Era difícil não sentir a decepção, mas ela não tinha tempo para se deixar abater. Estava vindo direto para a caverna.

Mesmo antes de ver a criatura, já tinha uma ideia do que poderia ser. E estava certa.

Aquilo é... — Haruhiro começou.

Você conhece?

É, eu conheço. Ou, pelo menos, já vi antes.

A criatura parecia um gato. No entanto, sua cabeça era grande em proporção ao corpo. Por causa disso, mesmo com o corpo do mesmo tamanho, ou um pouco maior, que o de um gato, parecia um filhote.

Nyaas eram criaturas de quatro patas, mas também podiam andar sobre duas.

Aquele nyaa cinza andava cambaleando sobre as patas traseiras. Uma diferença importante entre suas patas e as de gatos era que tinham dedos longos e ágeis, capazes de segurar objetos firmemente. À primeira vista, pareciam patas de gato, e, ao andar nas patas traseiras, o nyaa cruzava as patas dianteiras, inclinando a cabeça para o lado. Muito parecido com um gato.

É tão fofo... Mary quase sorriu, mas se conteve, apertou os lábios e tossiu levemente.

...Não é um dos nyaas da Forgan?

Provavelmente não — disse Haruhiro. — Tem uma pessoa chamada Shuro Setora-san que vive na vila. A Casa de Shuro, aparentemente, é uma família de necromantes, mas Shuro Setora-san amava os nyaas e começou a criá-los. Se não me engano, no entanto, os nyaas da vila geralmente são criados pela... Casa de Katsurai, acho? Eles são os espiões onmitsu da vila.

...Hmm.

Nyaa.

Aquela criatura era simplesmente cativante por algum motivo. Enquanto estava presa pela Forgan, ver os nyaas tinha sido sua única forma de alívio.

Onmitsu... — ela murmurou, pensativa.

É. Então, para neutralizar os nyaas da Forgan, conseguimos a cooperação de Shuro Setora-san da vila. Se não estou enganado, esse provavelmente é um dos nyaas.

A maior parte do que Haruhiro dizia entrava por um ouvido e saía pelo outro.

É um nyaa.

O nyaa, ensopado pela chuva, estava se aproximando...

Mary quase disse: Venha aqui, sem perceber. Queria estalar a língua e chamá-lo com a mão. Não, ela não podia.

Não posso...? Se não é um inimigo, deveria estar tudo bem, não? Ou pelo menos não ser um problema.

No fim, ela se conteve.

Assim que entrou na caverna, o nyaa sacudiu o corpo, espalhando água por todos os lados. Então, inclinando levemente a cabeça, soltou um Nyaa.

É tão fo... — Mary tapou a boca no último momento, engolindo as palavras.

Fo...? — Haruhiro perguntou.

...N-Nada.

Hmm...? — Haruhiro piscou e colocou a mão na cabeça do nyaa. — Ei, nyaa. Onde está o seu dono?

Aquilo era permitido?! Será que era um nyaa tocável?

Nesse caso... — Mary cerrou a mão em um punho.

Ele tocou no nyaa. Ela queria tocar também.

Talvez ainda não fosse tarde demais?

Essa era uma situação em que estava tudo bem tocar? Talvez pudesse acariciá-lo? Essa era a chance?

Mas, no momento, a mão de Haruhiro estava sobre a cabeça do nyaa. Para Mary poder acariciá-lo, precisaria fazer Haruhiro tirar a mão.

Ela ia fazê-lo tirar. Como? O que faria? Teria que pedir? Como? Talvez...

Haru, deixa eu acariciar também.

Isso era... direto demais, não importa como pensasse. Não havia uma forma mais indireta de dizer isso?

Haru, deixa eu acariciar também?

Entonação ascendente na última palavra. Como ficava isso? Parecia um pouco mais suave... talvez. Embora tivesse a sensação de que não mudava tanto assim. Bem, e isso aqui?

Eu também gostaria de acariciar o nyaa, sabe?

Indireto. Aquele “sabe?” no final era tão sutil. Parecia irritante. Se alguém pedisse algo assim para Mary, ela talvez respondesse com um “E?” Haruhiro poderia pensar: E daí? Qual o problema? O que você quer fazer? Fale logo.

Era isso.

Se queria algo, deveria dizer, sem tentar evitar. Nesse caso, era isso que diria: Haru, eu quero acariciar o nyaa. Me deixa fazer isso.

Isso.

Era isso.

Diga. Diga logo!

Ela podia prever a resposta de Haruhiro.

...Ah. Entendi. Claro. Vai em frente.

E só.

Haruhiro não pensaria algo como: Não diga coisas estranhas, ou algo do tipo. Ele não era esse tipo de pessoa. Não ia por aí zombando dos outros.

Então diga.

Ela devia apenas dizer. Por que se envergonhar disso?

Envergonhada. Sim. Era constrangedor. Ela estava intensamente constrangida.

Era um mistério até para ela por que se sentia tão envergonhada com aquilo, mas não conseguia evitar.

Por quê? Orgulho? Que tipo de orgulho? Estou tentando parecer descolada? Eu não sou descolada, então qual é a vantagem disso? Qual o propósito? Eu não queria mudar? Nesse caso, o que vou fazer se não consigo nem isso? Quero acariciar o nyaa. Quero tanto acariciá-lo, então eu vou. É um passo muito pequeno. Eu preciso dar esse passo. Se não consigo nem isso, nunca serei capaz de mudar.

Diga na contagem de um, dois. Não, um, dois é muito curto. Vamos fazer um, dois, três... Não, cinco. Se eu contar até cinco, tenho certeza de que consigo.

Mary? — Haruhiro perguntou.

Oh! Hã...?

Tá tudo bem?

N-N-Não tem nada não.

Tem certeza? — Haruhiro olhou para além da névoa. — Ah...

De novo. Algo estava se aproximando.

Dessa vez, provavelmente não era um nyaa. Era grande demais para isso.

Seria humano?

Misturado ao som da chuva, podiam ser ouvidos passos. Eram aparentemente duas pessoas.

Um grupo de dois.

Mesmo que fossem grandes, isso só significava que não eram tão pequenos quanto um nyaa, e não que fossem especialmente altos para um humano. Um deles, pelo menos, não era maior que Mary. O outro parecia maior que Mary... não, maior que Haruhiro.

Seria justo chamá-los de bizarros em aparência. Ambos estavam envoltos em várias cores de tecido que cobriam seus corpos inteiros, incluindo os rostos.

Haruhiro hesitou por um momento, então suspirou.

...Urgh. Tinha me esquecido disso. Bem, na verdade, não... Isso mesmo.

Esquecido? Esquecido do quê?

Haruhiro apenas respondeu: — É... — e fez um aceno vago, então pegou o nyaa cinza.

Ele pegou o nyaa? Mary ficou chocada. Não pode ser. Isso é absurdo. Me diga que é mentira. Não pode ser. Você também consegue pegar o nyaa? Espera aí, Haru. Por que você está pegando o nyaa assim tão facilmente...?

Setora-san. — Haruhiro fez uma leve reverência. Segurando o nyaa, é claro. — É assim que devo chamá-la? Ou prefere Shuro-san?

Setora está bom — disse a menor dos dois de forma curta, sem parar de andar.

Era a voz de uma mulher.

Shuro Setora. A domadora dos nyaas. Era uma mulher?

Setora arrastou a pessoa grande para dentro da caverna com ela.

Mary demorou a perceber, mas finalmente entendeu que o acompanhante de Setora provavelmente não era humano. À primeira vista parecia humano, mas aqueles braços blindados eram longos demais. As mãos também eram muito grandes. Haruhiro havia mencionado que Setora nasceu em uma família de necromantes. Será que isso significava que seu acompanhante era um golem?

Parece que se dispersaram — disse Setora, removendo o tecido que cobria seu rosto, aparentemente porque estava atrapalhando. — O que vocês planejam fazer?

Haruhiro engoliu em seco e arregalou os olhos. Mary também ficou um pouco surpresa. Seria difícil imaginar aquele rosto pela voz e aparência de antes.

Ela era uma garota, não uma mulher. Seu cabelo preto estava cortado em um bob curto, seus olhos eram tão grandes que pareciam prestes a cair, e mesmo assim ela era mais fofa do que bonita.

...O quê? — Setora lançou um olhar irritado para Haruhiro e Mary. Pelo jeito que os olhava, estava ofendida. Mas, porque seu rosto era tão adorável, ela não era intimidadora. — Vocês não são da vila, então não acham estranho que meu cabelo seja curto, não é?

Oh, não... — Haruhiro acariciava a barriga do nyaa cinza. — Haha... — Ele soltou uma risada sem graça. — Nem um pouco. Ah, certo. As mulheres da vila deixam o cabelo crescer. Você comentou algo sobre isso antes, agora que me lembro.

Que tom familiar você está usando comigo — Setora respondeu friamente.

Urgh. D-Desculpa... Eu peço desculpas. Não sei, quando vi seu rosto, tive uma sensação familiar. Familiar? Não, não é bem isso...

Está no meu sangue. Os membros da Casa de Shuro têm rostos infantis há gerações. É também por isso que não gosto de mostrar meu rosto.

Não acho que seja algo para esconder — disse Haruhiro. — Bom, é só o que eu acho.

Não aja como se soubesse, estrangeiro. — Setora pegou o nyaa cinza dos braços de Haruhiro e o soltou. — Bem, parece que eu também deixarei a vila.

O nyaa cinza se sentou na entrada da caverna e começou a se lamber. Estava se limpando com diligência, passando aquela língua rosada pelo corpo inteiro.

Tão fofo.

Mary ainda queria abraçá-lo. Mas sabia que, se o interrompesse enquanto se limpava, ele não ia gostar.

Mary desviou os olhos do nyaa cinza e olhou alternadamente para Haruhiro e Setora. O que estava acontecendo ali? Haruhiro parecia um pouco estranho. Parecia intimidado.

Bom, ao encontrar pessoas com quem não tinha muita intimidade, Haruhiro tendia a ser assim. Ele não era do tipo que sempre olhava nos olhos das pessoas enquanto falava. Mesmo assim, o jeito como abaixava a cabeça, olhando para Setora com os olhos levantados e tentando medir o humor dela, parecia um pouco fora do comum.

Você vai deixar a vila, hein... — disse Haruhiro.

Sim. Não tenho nenhum apego à vila. Nossos caminhos estavam destinados a se separar eventualmente. Aconteceu de ser agora.

...E quanto à Arara-san?

Não disse a você? Eles se dispersaram. Tenho meus nyaas vigiando, mas nem eu consigo saber onde todos estão o tempo todo. Com certeza há aqueles que os nyaas perderam de vista. É cruel esperar tanto dos nyaas.

É, acho que sim...

Parece que você está bem. — Setora lançou um olhar de canto para Mary. — Esta é a mulher que você fez tanto esforço para salvar? Eles não a usaram para se aliviar?

Isso... — Mary hesitou por um momento, sem saber como responder. — ...não aconteceu.

Então você teve sorte.

É... Talvez você esteja certa.

Uh, ei. — Por algum motivo, Haruhiro apontou para Setora e o nyaa cinza com gestos e um olhar. — A verdade é que esse nyaa me mostrou o caminho até onde você estava. Se não fosse por ele... ou melhor, se não fosse pela ajuda da Setora-san, não sei se teria conseguido chegar até você sozinho.

Ohh... Então foi isso. — Mary virou-se para Setora, inclinando-se em um profundo e educado agradecimento. — Muito... obrigada.

Não precisa agradecer. Receberei minha compensação, afinal.

Claro que vai... — Haruhiro fechou apenas o olho esquerdo e começou a esfregar a pálpebra repetidamente com a mão. Estava coçando?

Setora estreitou os olhos enquanto olhava para Haruhiro, com os lábios formando um leve sorriso. Era meio assustador. Ou melhor...

Ela me lembra alguém...? Mary pensou, intrigada.

Talvez fosse um milagre ter percebido tão rápido. Afinal, provavelmente nunca tinha falado com ela. Não era como se lembrasse do rosto dela claramente. O estilo de cabelo, os grandes olhos e o jeito simples e quieto. Era isso o que vinha à mente.

Essa garota passava a mesma impressão daquela outra garota que fazia parte da antiga party de Kuzaku. Se Mary se lembrava bem, ela era uma ladra, como Haruhiro. O nome dela era...

Choco.

Sim. Choco.

Quando ela morreu na Fortaleza de Observação Deadhead, Haruhiro gritou. Mary pensou, Ele a conhecia?

Ele a conhecia. Sem dúvida. Ele sabia o nome dela, afinal. Além disso, havia algo claramente estranho no comportamento de Haruhiro naquela ocasião. Mary não se lembrava exatamente dos detalhes, mas ele estava agindo de maneira muito estranha. Talvez aquela garota, Choco, fosse mais do que uma simples conhecida para Haruhiro.

E daí se fosse?

Setora se parecia com Choco, que tinha morrido bem diante dos olhos dele. Seria por isso que Haruhiro parecia tão abalado?

Bem, então. — Setora cruzou os braços.

Haruhiro sentou-se onde estava, por algum motivo. — ...É. Eu sei.

Mary inclinou a cabeça para o lado. — Huh? O que você sabe?

Minha compensação. — Setora deu um leve suspiro. — Eu cumpri minha parte do acordo. Agora vou receber o que é meu por direito.

Ah, mas... — Haruhiro olhou para Mary, com um sorriso meio dolorido no rosto. — Na verdade, talvez seja bom que Mary esteja aqui. Ela pode... me tratar logo depois.

Tratar você? De quê? — Mary perguntou.

Foi decidido que eu forneceria... material.

Hã? Fornecer material? Pra quê?

Erm... Para um golem de carne.

Golem de car...

Eu vou levar o olho dele. — Setora aproximou-se de Haruhiro e se agachou ao lado dele. — Você pediu para poupar o olho dominante, então será o esquerdo, certo?

O olho esquerdo dele?!

...Uh, sim. — Haruhiro abaixou a cabeça, coçando-a. — Desculpa.

Por que você está pedindo desculpas, Haru?!

Ah, só senti que devia...

Você vai dar o seu olho?! Vai tirar ele e dar pra ela?!

Não sei exatamente como vai funcionar, mas... acho que sim.

Se fizer isso, eu não posso curar, nem com o Sacrament! Você entende isso, não entende?!

...Bom, mais ou menos.

Como assim, mais ou—

Você, mulher. — Setora lançou um olhar severo para Mary. — Por que está tão zangada? Este homem fez um acordo comigo porque precisava dos meus nyaas para resgatar você.

Eu... eu não estou zangada... — gaguejou Mary.

Então se cale.

Não tem como eu ficar quieta! É por minha causa que... — Mary cobriu a boca.

Era verdade.

Ele fez isso por mim.

Por minha causa, Haruhiro está sendo obrigado a dar seu olho para essa mulher.

...Desculpa. — Haruhiro esfregou a nuca. — Eu meio que não queria que fosse assim. Quero dizer, fazer isso na sua frente... imagino que você não queira ver, e, sinceramente, eu também não quero que veja. Então, desculpa, será que você... poderia nos deixar? Uh, mas vou precisar que você me cure com magia depois, então talvez dê na mesma no final...

Chega disso. Levante o rosto e me deixe dar uma boa olhada. — Setora segurou o queixo de Haruhiro entre o dedo indicador e o polegar da mão direita, erguendo-o. — Hmph. Um globo ocular bem fresco.

Bom, é, eu não sou um cadáver. Estou vivo...

Suponho que sim. — Setora afastou os cabelos de Haruhiro com a mão esquerda e aproximou seu rosto do dele. Havia necessidade de chegar tão perto? Bem, Setora estava planejando tirar o olho esquerdo de Haruhiro, então talvez houvesse. Era difícil dizer. Seja como for, Haruhiro estava dócil, como se tivesse aceitado que era obrigado a permitir aquilo.

Nem Haruhiro nem Setora poderiam estar falando sério sobre isso, certo? Era o que Mary queria pensar. Mas, independentemente do que Setora estivesse pensando, isso não era verdade para Haruhiro. Ele estava absolutamente sério.

Não era exatamente resolução, mas Haruhiro podia ser estranhamente comprometido. Como o fato de ele nunca abandonar um companheiro. Haruhiro estava sempre se sacrificando.

Não é que Mary não entendesse isso. Era melhor se machucar do que ver seus companheiros feridos. Entre perder um companheiro e morrer, se fossem forçados a escolher, Haruhiro certamente escolheria a segunda opção. E Mary também.

Dito isso, não havia como ela aceitar aquilo.

Leve o meu! — Mary se interpôs entre Haruhiro e Setora.

Assim que o fez, Setora imediatamente a deteve com um olhar frio e direto.

Isso não vai acontecer.

...Po-Por quê?!

Não foi com você que fiz o acordo. Foi com este homem, e apenas com ele. Minha condição era que eu receberia o olho esquerdo deste homem. Não é seu lugar exigir que eu altere os termos.

Okay... Talvez você tenha razão, mas...

Além disso, não tenho interesse nos seus olhos.

...Está dizendo que tem interesse nos do Haru, então?

Não pareceu assim? — perguntou Setora.

E-Eu tenho boa visão, e os meus não parecem sonolentos como os do Haru...

Mary... Isso não tem nada a ver com meus olhos, tenho quase certeza de que é o formato das minhas pálpebras...

D-Desculpa, não foi isso que quis dizer...

Setora suspirou, exasperada.

Sua tagarelice não vai lhe servir de nada, mulher.

M-Mulher?!

Você também é uma mulher. Mary quase disse, mas segurou as palavras.

Isso não está indo bem. Minhas emoções estão muito altas. Preciso me acalmar. Pensar com a cabeça fria.

Então vou oferecer algo mais valioso do que o olho esquerdo do Haruhiro! — ela soltou de repente.

Não.

Mesmo que seja um braço ou uma perna, não me importo!

Não preciso disso.

Então o que você quer?!

Haruhiro abriu a boca para tentar dizer algo, mas Setora de repente segurou sua cabeça e seu queixo com ambas as mãos, puxando-o para si.

O que está fazendo?! Mary pensou freneticamente. Tratando Haru como um objeto.

Espere...! — ela gritou.

Eu me interessei por este homem — disse Setora.

Hã?!

Em vez do olho de uma mulher por quem não tenho nenhum interesse, é óbvio que o olho de um homem que me interessa tem muito mais valor.

Não entendo essa lógica! — protestou Mary.

Não peço que entenda. A propósito... — Setora começou a esfregar o rosto de Haruhiro com ambas as mãos. — Não acho que seja necessário apressar-me em pegar o olho esquerdo dele. Não precisa ser agora. Pegarei o olho esquerdo dele quando eu quiser. Até lá... Haruhiro.

...S-Sim?

Seu olho esquerdo é meu, mas deixo-o sob seus cuidados.


Hai to Gensou no Grimgar | Grimgar of Fantasy and Ash Light Novel Volume 09 Illustrations

E-Er... Que bom? Devo ficar feliz com isso?

Você é diferente dos homens da vila. Há algo de fresco em você.

...É mesmo?

Haru — disse Mary com um tom ríspido, então percebeu que estava agindo irritada. — Por que está sorrindo?

Não estou sorrindo?! Tipo, não é hora pra isso, né?!

É mesmo? — Mary desviou o olhar. — Por algum motivo, parecia que você estava um pouco feliz.

Não estou feliz, não!

A propósito, Haruhiro — disse Setora.

Sim?! O-O que foi...? Erm, Setora-san, p-poderia me soltar... por favor?

Acha que está em posição de me pedir favores? — perguntou Setora friamente.

Eu diria que isso é uma coisa, mas essa é outra.

Um argumento justo.

Eu sabia, né...?

Mas isso não significa necessariamente que eu vá aceitar. Talvez você não saiba, mas eu era conhecida por ser uma pessoa difícil, mesmo na vila.

Ah, dá pra perceber! P-Por favor, me solte! — Haruhiro se desvencilhou do aperto de Setora e se levantou. — Foi uma promessa, então eu vou te dar meu olho esquerdo quando você quiser! Mas não te devo mais nada!

Oh-ho — disse Setora, arregalando os olhos de forma exagerada. — Em outras palavras, você não precisa mais da minha ajuda? Nesse caso, mandarei todos os meus nyaas recuarem agora mesmo. E também pegarei seu olho esquerdo agora. Se nos separarmos aqui, talvez nunca mais nos encontremos.

Haruhiro abaixou a cabeça.

Isso seria...

Um problema. Mary não queria admitir, mas precisava.

A verdade era que Haruhiro e Mary estavam apenas esperando que seus companheiros aparecessem. Tinham quebrado a cabeça pensando no que fazer, se deveriam tentar isso ou aquilo, mas no fim não havia mais nada a fazer. Não havia movimentos que pudessem realizar.

Embora eu não possa fazer imediatamente... — Setora dobrou os joelhos e olhou para o rosto de Haruhiro de baixo. — Se eu mandar meus nyaas se concentrarem em encontrar seus companheiros, tenho certeza de que conseguiriam. Meus nyaas conhecem esta área melhor do que eu mesma. E vocês? Se estão familiarizados com o terreno, talvez não precisem da minha ajuda? Eu prevejo que amanhã será um dia incomumente claro, então a visibilidade será boa. Há outros problemas que surgem em dias sem neblina no Vale dos Mil. O que farão? Procurar com todas as forças?

Essa mulher. Shuro Setora.

Ela parece gostar de Haruhiro, mas, apesar disso, está o provocando, fazendo-o sofrer e se divertindo com isso. Ela disse que era uma pessoa difícil, mas, na verdade, é apenas cruel.

Não deveria pensar isso depois de ela ter me salvado, e com esses nyas tão fofos, não quero pensar mal dela.

Mesmo assim, não consigo gostar dela. Talvez realmente a odeie.

Mesmo que Mary odiasse Setora, seria imaturo expulsá-la por causa disso, e, falando realisticamente, seria uma péssima ideia. Muito péssima. No entanto, será que Setora realmente os ajudaria só porque Mary abaixou a cabeça para ela? Difícil.

Haruhiro. Setora provavelmente estava se abaixando porque queria ver Haruhiro pedir sua ajuda. Mais que isso, ela queria que ele se submetesse. Queria que ele a obedecesse, não queria? E Haruhiro sabia o que precisava fazer como líder da party. Por Mary—por uma de suas companheiras—ele já havia sacrificado o olho esquerdo. Talvez até jogasse sua vida fora por ela.

Setora-san. — Haruhiro se curvou, abaixando a cabeça quase até a altura dos joelhos. — ...Por favor. Nos ajude a encontrar nossos companheiros.

Muito bem. — Setora respondeu de forma altiva. E então acrescentou, tão rápido que mal deu tempo de reagir: — Mas tenho uma condição.

Eu já esperava por isso.

Que tipo de condição ela proporia? Mary apertou os dentes. Se Setora dissesse algo estranho, Mary gostaria de impedir Haruhiro, mas não podia. A menos que fosse algo realmente grave—não, mesmo que fosse—Haruhiro provavelmente aceitaria. Setora o tinha decifrado, então podia muito bem propor algo completamente absurdo.

Qual é? — Haruhiro manteve a cabeça abaixada, olhando para Setora com os olhos erguidos. — A condição.

Antes disso, tenho uma pergunta.

Claro... Pode perguntar.

Você e aquela mulher estão apaixonados?

Hã?! — Haruhiro exclamou, e Mary disse: — O que você– — antes de ficar em silêncio, sem palavras.

Não acho que seja uma pergunta que justifique tanta surpresa. — Setora arqueou as sobrancelhas, parecendo ofendida. — Vocês são companheiros, não são? Se duas pessoas que passam o tempo todo juntas desenvolvessem esse tipo de relação, não seria algo incomum. Na vila, as pessoas das casas inferiores geralmente se casam com quem são próximas e têm filhos. Além disso, Haruhiro, você estava disposto a morrer para salvar aquela mulher. Não seria normal pensar que vocês são mais do que simples companheiros?

N-Não... — Haruhiro virou-se para Mary, desviou o olhar imediatamente e então balançou não só a cabeça, mas o corpo todo de um lado para o outro. — Não é isso, tá bom?! Não temos nada assim, somos apenas bons companheiros! Companheiros, certo?! T-Tá bom...?! Somos companheiros!

Setora fixou os olhos em Mary por algum motivo.

Isso é verdade?

Claro! — Mary prendeu a respiração e quase tossiu. — ...Companheiros. É isso que Haru e eu somos. Nada mais, nada mais além disso.

Há algum motivo para você ter dito “mais” duas vezes?

N-Não?! N-Nós não somos nada além disso, nada a mais e nada a menos! É só isso!

Entendo. — Setora assentiu levemente duas vezes. — Então não deve haver problema, Haruhiro.

Q-Qual... é?

Haru. — Quando Setora corrigiu a forma de chamá-lo, Mary sentiu uma fisgada na têmpora e uma leve dor.

O que foi isso? Ela está sendo íntima demais com ele.

De repente, Mary percebeu. Se isso fosse verdade, ela também estava sendo íntima demais ao chamá-lo de Haru.

Originalmente, quando tentou se aproximar de seus companheiros, havia pensado em mudar a forma como os chamava, como uma demonstração do tipo de relação que aspirava ter com eles. Debateu consigo mesma sobre o que fazer. Decidiu começar pelo líder, e a primeira opção inofensiva que lhe veio à mente foi adicionar um “kun” ao nome dele. Embora fosse fácil de se acostumar e ela até gostasse, “Haruhiro-kun” era um pouco longo. Usar “Haru-kun” acabaria se sobrepondo ao que Yume usava. Além disso, enquanto era fofo para uma garota como Yume chamá-lo de “Haru-kun”, não seria desconcertante se Mary fizesse o mesmo? Usar “san” seria estranho, ou pareceria formal demais. Nesse caso... que tal “Harupin”? Nem pensar. Não fazia sentido. “Harurin”, então? “Haruriron”? “Harumero”? Exagerar de vez e chamá-lo de “Haruharu”? “Haruchin”? Não, não, isso era claramente demais...

Depois de muito hesitar, escolheu o simples e prático “Haru”. Era seguro. Parecia funcionar. No entanto, na hora de realmente chamá-lo assim, hesitou.

Mary estava quase repensando sua decisão. No entanto, ao seguir o impulso e tentar chamá-lo daquela forma uma vez, tinha sido surpreendentemente aceitável. Pelo menos, foi assim que ela se sentiu. Mas talvez ela tivesse agido de forma excessivamente íntima?

Mas, deixando isso de lado, por que essa mulher havia começado a chamar Haruhiro de “Haru” de repente?

Haru. — Setora o chamou assim novamente, esboçando um leve sorriso. — Até eu me cansar e dizer o contrário, você vai agir como se fosse meu amante. Essa é a condição.



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