Hai to Gensou no Grimgar | Grimgar of Fantasy and Ash Volume 09 Capítulo 03
[O Que é Coragem?]




Kuzaku-kun?! — Yume gritou sem parar de correr. — Kuzaku-kun?! Kuzaku-kun?! Shihoruuu, o Kuzaku-kun não tá mais vindo com a gente!

Não, Yume, você não pode parar! — gritou Shihoru.

M-Mas ainda assim!

Primeiro, precisamos evitar que o inimigo nos capture! Essa é a prioridade! Tenho certeza de que o Kuzaku-kun vai ficar bem!

Será que isso era realmente certo? Yume não tinha tanta certeza. Também não parecia que Shihoru estava despreocupada. Mas, por enquanto, como Shihoru havia dito, elas precisavam evitar ser capturadas pelo inimigo. Em vez de lutar, precisavam correr. Depois poderiam se reunir com Haruhiro e Mary.

Yume precisava fazer isso, tentando não pensar em Ranta. Se pensasse nele, não conseguiria se mover. Isso seria péssimo.

Correr. Ela precisava correr.

De repente, pareceu que tudo ficou mais escuro. A névoa estava incrivelmente espessa. E não era só isso.

Tá chovendo! — gritou Yume.

Uma chuva pesada, aliás. As gotas eram pequenas, mas logo começaram a cair em maior quantidade e com mais intensidade. Parecia que incontáveis lanças finas como fios de cabelo desciam do céu.

Amortecidos pela chuva, os sons da batalha pareciam incrivelmente distantes. A visão delas também estava extremamente limitada. Era quase como se a chuva formasse uma parede à sua frente.

Isso tornaria mais difícil para o inimigo encontrá-las. No entanto, se o inimigo se aproximasse, também seria difícil detectá-lo.

Mas, mais importante, e o Kuzaku?

Yume e Shihoru não conseguiam ver Kuzaku, e Kuzaku não sabia onde Yume e Shihoru estavam. Nesse caso, talvez permanecessem separados.

Mais à frente, o terreno à esquerda era mais elevado e denso de árvores. Yume achou que fossem árvores, pelo menos. Não eram humanos nem orcs.

Shihoru! Por enquanto, vamos por ali! — chamou Yume.

...Certo!

Quando se aproximaram, havia folhagens suficientes para que pudessem se esconder. Yume entrou nos arbustos junto com Shihoru, e ambas se agacharam.

Shihoru respirava com dificuldade. Ela era uma maga, afinal, e não tinha muita resistência física, mas também não era do tipo que reclamava com facilidade. Fazia tempo que Shihoru vinha se tornando mais forte. Lá no começo, ela vivia chorando.

E agora? — perguntou Yume. — Shihoru, o que você acha que a gente devia fazer?

Haruhiro resgatou a Mary.

Aquele velho de Fonkon? Ele tava dizendo isso, né?

Você quer dizer Forgan...

Ohh — disse Yume. — Foi mal por isso. Yume tá sempre errando coisas assim.

Tá tudo bem. Você é ótima do jeito que é, Yume. Eu é que devo desculpas. Foi mal por estar sempre te corrigindo.

Yume agradece quando você corrige. Isso significa que ela pode melhorar.

...Acho que é verdade. — Shihoru sorriu levemente. — Como aquele Takasagi voltou, acho que o Haruhiro e a Mary conseguiram escapar. Se conseguiram, devem ter ido para o ponto de encontro.

É, faz sentido — concordou Yume.

O melhor seria se eu, você e o Kuzaku-kun pudéssemos ir juntos ao ponto de encontro, mas...

Mas o Kuzakkun sumiu, né...

Não seria bom sairmos procurando por ele... — acrescentou Shihoru. — Por enquanto, vamos esperar aqui...

Sabe, é bem difícil — disse Yume. — Só ficar esperando.

É... — Shihoru colocou a mão na lombar de Yume. — Mas eu tô aqui com você.

É verdade, huh. — Yume sorriu. Sentia que deveria sorrir, mesmo que precisasse forçar. — Pensando bem, Shihoru e Yume estão quase sempre juntas.

Acho que é porque você sempre aguenta alguém como eu.

Não é verdade isso — protestou Yume. — Você é fofa, Shihoru, e... você é fofa. Você é fofa, tá?

Shihoru riu baixinho.

...Você tá só repetindo.

Nngh, queria conseguir pensar em mais coisas pra dizer. Mesmo quando alguma palavra vem à cabeça, não parece ser a certa.

Eu entendo. Seus sentimentos estão chegando até mim, então... acho que entendo.

Sério? — perguntou Yume.

Por que isso aconteceu? Qual tinha sido o gatilho para isso?

Por um momento, sua mente ficou vazia. Então algo parecia infiltrar-se naquela cabeça vazia e preenchê-la. Crescia a cada momento, até transbordar, saindo pelos seus olhos.

...Yume? — Shihoru olhou para o rosto de Yume. — O que... aconteceu?

O que... aconteceu, huh? — Yume fechou os olhos com força. — Yume não sabe disso direito.

...É por causa do Ranta-kun?

Agora que Shihoru disse isso, Yume percebeu que era.

Ranta.


Hai to Gensou no Grimgar | Grimgar of Fantasy and Ash Light Novel Volume 09 Illustrations

Ela estava tentando não pensar nele, e achava que estava conseguindo. Pensar no assunto não resolveria nada. Só ia deixá-la com raiva. Ranta sempre fora assim. Sempre havia sido.

Como alguém pode ser tão desagradável?

Essa tinha sido sua primeira impressão dele. E o mais impressionante sobre Ranta era que ele nunca mudava.

Claro, havia momentos em que Ranta dizia algo que era bom—para os padrões de Ranta—ou se comportava de forma fofa ou até legal—de novo, para os padrões dele. Às vezes, ele até era confiável. Mas isso era raro, e nunca durava mais que alguns instantes. Ele não conseguia sustentar por muito tempo.

Ainda assim, ele era um companheiro. Mesmo sendo um que ela odiava. Ranta havia ensinado a ela, repetidas vezes, o que era odiar alguém.

Ela o detestava. Mas, apesar de todas as reclamações, eles estavam juntos nessa party desde o início. Ele era um companheiro valioso.

Sem dúvida, ela o odiava. Mas ele era um amigo.

Não, não era isso. Em vez de amigo, havia uma palavra mais apropriada.

Família.

Sim. Para Yume, a party era como sua família. E Ranta também fazia parte dela.

Yume... Shihoru, a Yume, ela...

Hm-hm... — murmurou Shihoru. — O quê?

A gente era uma família. Yume, e todo mundo... A party inteira era como uma família pra Yume.

Yume abriu os olhos. Limpou as lágrimas com uma das mãos. Mas, por mais que limpasse, as lágrimas, assim como a chuva, insistiam em cair. Mesmo assim, ela continuou limpando. Afinal, não podia manter os olhos fechados para sempre.

No começo, tinha o Haru-kun, a Shihoru, o Moguzo, e tinha o Manato, e o Ranta, né. E tinha a Yume também. Aí a gente perdeu o Manato, e a Mary entrou pra família. Depois, o Moguzo acabou daquele jeito, e o Kuzakkun entrou... Pra Yume, todo mundo era parte da família. Antes de vir pra Grimgar, provavelmente, a Yume devia ter uma mãe e um pai. Se não tivesse, a Yume nem teria nascido, né? Mas a Yume, ela não lembra deles, sabe? É o mesmo pra você também, né, Shihoru? É o mesmo pra todos nós. Por isso que somos todos família. Amor, ódio, temos todo tipo de sentimento uns pelos outros, mas família é família. Certo?

...Sim, eu acho que sim — concordou Shihoru. — Uma família. É isso que somos.

Mas a Yume tá pensando que, mesmo numa família, tem momentos em que as pessoas seguem caminhos diferentes. A Yume talvez nunca mais veja o pai e a mãe dela. Mas, como não lembra deles, não sente tanta tristeza por isso. Só um pouquinho de solidão... Mas ainda assim. Ainda assim...

Yume... — Shihoru abraçou Yume com força, encostando suas cabeças uma na outra. — Eu não sei o que dizer, mas eu...

Coisas assim... — Yume respirou fundo, deliberadamente. — Não dá pra prever quando vão acontecer... Nem o Ranta podia prever. Pensar que talvez a gente nunca mais se encontre... É, a Yume não quer isso.

Yume... — Shihoru esfregava as costas de Yume com firmeza. — Ainda não sabemos o que aconteceu... ou como tudo terminou. Não exatamente. Certo?

...É.

Então, quando só temos uma ideia vaga dos fatos... é melhor não deixar que isso influencie muito o que pensamos ou sentimos.

Antes de mais nada... Bom, a gente precisa encontrar o Haru-kun, né? — perguntou Yume.

Isso mesmo. Vamos fazer uma coisa de cada vez.

Uma coisa de cada vez, hã?! — Yume assentiu, pressionando o dedo indicador nos lábios.

Alguém estava vindo. Não, não alguém—era... uma fera.

O lobo negro gigante. Havia um goblin montado em suas costas. Yume lembrou que seu nome era Onsa. O Goblin domador de feras.

E não era só o grande lobo negro que ele montava—vários outros lobos negros o seguiam.

Ao ver aqueles lobos negros, ela não pôde deixar de pensar no Deus Negro Rigel. Para os caçadores que tinham o Deus Branco Elhit como protetor, os lobos negros eram feras sinistras que deveriam odiar. O Deus Branco Elhit e o Deus Negro Rigel eram, na verdade, irmãos, mas Rigel havia devorado sua mãe, Carmia, logo após nascer, e isso fez com que os irmãos se separassem.

Os parentes de Elhit, os lobos brancos, eram criaturas orgulhosas, formando grupos que consistiam apenas de um casal e seus filhotes. Eles sempre caçavam presas maiores que eles. Mas os parentes de Rigel, os lobos negros, formavam grandes matilhas para perseguir e matar suas presas. Eles atacavam humanos e orcs, comendo as crianças primeiro, e era por isso que eram tão odiados e temidos.

Onsa havia domado aqueles lobos negros.

Era incrível—mas Yume sabia que não era hora de se impressionar. Não eram apenas lobos negros; lobos, em geral, não se submetiam a membros de outra espécie. Eles nunca se aproximavam verdadeiramente de outros seres.

Por isso os caçadores haviam cruzado lobos com cães, criando uma nova raça: os cães-lobos. Os cães-lobos possuíam a lealdade de um cão, combinada à resistência e ferocidade de um lobo.

Em geral, lobos eram mais fortes que cães. E, mesmo entre os lobos, os lobos negros eram anormalmente teimosos, astutos e dotados de sentidos incrivelmente apurados.

Onsa ia encontrá-las. Essa era a suposição mais segura. Mesmo que estivesse chovendo, os lobos negros não deixariam de farejar Yume e Shihoru. Não demoraria até que um dos lobos negros as encontrasse escondidas nos arbustos. Então, ele uivaria e avançaria. Os outros lobos negros o seguiriam. Se isso acontecesse, não haveria esperança. Precisavam agir primeiro. Essa era a única opção.

Yume preparou seu arco e encaixou uma flecha. Shihoru talvez estivesse surpresa, mas permaneceu onde estava, sem dizer uma palavra. Ela estava confiando em Yume.

Por aqui. Mas não muito longe, pensou Yume.

Lobos negros eram espertos, mas não da mesma forma que os humanos. Se notassem uma flecha, olhariam na direção de onde ela veio.

Yume disparou sua flecha.

Como esperava, vários lobos negros soltaram uivos curtos e correram na direção de onde a flecha havia caído. Mesmo sem que Yume dissesse algo, Shihoru já estava se preparando. Juntas, elas pularam para fora dos arbustos e começaram a correr pela encosta.

Hyahhh! — Onsa soltou um grito agudo.

Aquilo foi rápido. Já haviam sido notadas.

A encosta não era tão íngreme, mas estava cheia de árvores, impedindo que subissem em linha reta. Shihoru, que estava à frente de Yume, parecia exausta.

Olhando para trás, vários lobos negros já estavam a menos de dez metros de distância. Assim, seriam pegas em pouco tempo.

Não eram apenas lobos: muitos carnívoros não mostravam piedade com presas em fuga. Mas, se a presa se virasse para eles e mostrasse que estava preparada para lutar, os predadores se tornavam cautelosos. Predadores eram fundamentalmente prudentes.

Se Yume estivesse sozinha, talvez não fosse impossível escapar. Mas Shihoru estava ali. Deixá-la para os lobos estava fora de questão.

Ela tinha que fazer isso.

Era difícil imaginar que venceria, mas, bem, ao aceitar que não havia outra escolha, as coisas ficavam mais fáceis de suportar.

Desculpa, Shihoru! Correr não vai adiantar! — gritou.

...Entendido! — Shihoru se virou, gritando: — Dark!

E abriu a porta.

Yume não era uma maga, então não conseguia ver aquela porta com os próprios olhos. Mas ela sabia que estava lá. A porta tinha, de fato, se aberto. Fios negros surgiram de outro mundo, formando uma espiral que tomou uma forma completamente humana.

Dark, o elemental.

Ele era tão fofinho. Mas o Dark de Shihoru era mais do que apenas isso.

Yume parou e disparou uma flecha. Em seguida, outra. E mais outra. Ela disparava uma após a outra.

Rapid Fire.

Não precisava acertar os lobos negros. Podia acertar as árvores. O importante era dispersar os disparos.

Quando perceberam que Yume e Shihoru não eram presas tímidas, os lobos negros ficaram cautelosos. E quando as flechas começaram a vir uma após a outra, hesitaram ainda mais.

Perturbe-os! — ordenou Shihoru.

Dark voou em direção aos lobos negros.

Vwoooooooooluuuuuuuuuuuu!

Que barulho era aquele? Parecia o som característico do Shadow Beat, mas um pouco diferente.

Dark emitia um som estranho enquanto voava entre os lobos negros. Era eficaz. Os lobos negros entraram em total pânico, soltando ganidos lastimosos enquanto fugiam em desordem.

Dark-kun é incrível! — exclamou Yume.

Yume, o grandão tá vindo!

Claro! — Yume respirou fundo, deixando o ar se espalhar por todo o corpo, e então ajustou o foco dos olhos, de perto para longe.

Ela ouviu a voz de seu mestre.

Yume, ouça. Você vai acertar. Acerte... Você vai acertar.

Stop Eye.

Yume podia ver. O lobo negro gigante que Onsa montava, quase como se estivesse bem na frente dela.

O olho direito do lobo negro gigante estava esmagado. Não fazia muito tempo desde que a flecha de Kuro o havia atingido. Ele devia ter outros ferimentos também, mas parecia estar muito bem.

Se tivesse que escolher um alvo; Onsa.

Yume disparou sua flecha.

Era um bom disparo.

Quando um tiro ia acertar, Yume sabia no momento em que soltava a corda do arco.

A flecha de Yume cravou no peito de Onsa. Mas ficou um pouco à direita. Onsa foi empurrado para trás, mas curvou o torso para a frente e se agarrou ao lobo negro gigante.

Nesse ponto, Yume já estava disparando sua segunda flecha. Essa flecha passou de raspão na cabeça do lobo negro gigante e não acertou.

Yume! — Shihoru apontou seu cajado para frente. — Vou tentar algo!

Tentar o quê?

A resposta ficou clara imediatamente.

Dark, espalhe-se!

Aos olhos de Yume, parecia que Dark, que estava intimidando os lobos negros com seus sons e movimentos estranhos, de repente explodiu. Ele se espalhou, dispersando-se por todo lado. Como Shihoru tinha ordenado, Dark se espalhou.

A chuva e a névoa branca foram engolidas por uma névoa negra. Além disso, essa névoa negra era muito mais densa que a branca. Os lobos negros, que já estavam confusos, começaram a uivar como se tivessem enlouquecido. Eles estavam, sem dúvida, aterrorizados. À medida que a névoa negra se espalhava, o mesmo acontecia com o terror, que só aumentava.

Essa era uma das fraquezas de um bando. Os membros individuais não podiam evitar serem influenciados pelos outros.

O problema era o lobo negro gigante. O Dark expandido tinha um efeito dramático que ia muito além de um simples véu de fumaça. No entanto, ele não parecia causar ferimentos ou dor. Sendo assim, Yume não achava que funcionaria contra o lobo negro gigante.

Shihoru só podia enviar um Dark de cada vez. Isso significava que ela não podia fazer nada enquanto o Dark difuso estava interferindo com os lobos negros.

Yume tinha que fazer algo. E faria.

Descartando o arco, Yume puxou sua lâmina curva, Wan-chan. Ela não estava com medo.

Muito tempo atrás, Manato tinha dito: Acho que Yume pode ser a mais corajosa de todos nós. Ele também disse: Fico feliz que Yume possa estar lá para ajudar, caso algo aconteça.

Ela nunca havia se considerado corajosa antes, então ficou muito orgulhosa com aquilo. Orgulhosa de poder ajudar seus companheiros. Pelo menos, era assim que Manato via.

Mas ela não conseguiu. Não conseguiu salvar Manato ou Moguzo. Ainda podia contar nos dedos as vezes que realmente tinha ajudado um companheiro. Mas o que Manato disse naquela época, que ela era corajosa, ainda estava gravado em seu coração.

Era estranho, mas mesmo quando as coisas eram tão assustadoras que ela não sabia o que fazer, ela conseguia pensar: Não estou com medo. Porque ela era corajosa. Então, mesmo que fosse assustador, ela não tinha medo.

O lobo negro gigante carregando Onsa surgiu da névoa negra.

Ele estava avançando.

Era muito assustador, mas ela não tinha um pingo de medo.

Pode vir! — gritou Yume.

Ela não tinha intenção de recuar. Não desviaria para a esquerda ou para a direita para evitá-lo. Quando o lobo negro gigante avançou contra ela, Yume pulou nele.

Raging Tiger.

Usando um salto mortal para lançar um ataque poderoso contra o inimigo. De todas as técnicas de facão que conhecia, essa era a favorita de Yume.

O lobo negro gigante não se intimidou e continuou avançando—e foi aí que algo engraçado aconteceu. Quando ela girou no ar, por algum motivo acabou sentada no pescoço do lobo negro gigante.

Roh...? — disse Onsa, surpreso.

Bem ali, literalmente na frente do nariz dela, estava Onsa. Nem a própria Yume havia imaginado que isso aconteceria. Foi uma surpresa. Onsa também estava chocado.

Quando um goblin fica com essa cara de espanto, até que é meio fofinho, né? Ela pensou.

Bom, até é, mas...!

Eles eram inimigos. Yume apertou as pernas ao redor do pescoço do lobo negro gigante e tentou cravar Wan-chan em Onsa. Porém, obviamente, Onsa não ia deixar isso acontecer.

Onsa segurou o braço direito de Yume com a mão direita, enquanto puxava firme o pelo do lobo negro com a esquerda. O lobo negro gigante virou o corpo, tentando derrubar Yume. Ela apertou mais as pernas e, achando que isso não seria suficiente, agarrou o braço direito de Onsa com a mão esquerda.

Yume! — Ela ouviu o grito de Shihoru. Não podia responder que estava bem.

Onsa gritava algo na língua dos goblins. Ele tentou pegar alguma arma com a mão esquerda. Mas Yume não ia deixar isso acontecer.

Miauwww!

Yume agarrou Onsa com toda a força que tinha. Diferente dos orcs, a maioria dos goblins era menor do que os humanos, e esse era o caso de Onsa também. Numa competição de força, ela não perderia.

Se Yume cair, você vai junto! — gritou ela.

&%+#*%?!

Ela não fazia ideia do que ele estava dizendo, mas Onsa parecia realmente em pânico. O lobo negro gigante torcia o corpo e saltava enquanto subia correndo a encosta.

%*#+@!

Você pode falar o quanto quiser, mas Yume não vai soltar!

*+$@%&&?!

Yume não tá entendendo o que você tá dizendo!

%&#**!

É, o mesmo pra você!

******!

Yume é uma caçadora de goblins legítima, sabia?

$$#&&&&%?!

Onsa estava tentando fazer alguma coisa. O que ele planejava? O corpo de Onsa se ergueu. Nesse momento, Yume entendeu.

Yume não vai soltar de você!

Ela estava agarrada a Onsa, que, por sua vez, estava pendurado no lobo negro gigante. Onsa tentava desesperadamente jogá-la para longe, mas agora parecia ter desistido disso. Foi então que ele soltou o lobo em movimento, levando Yume com ele.

Eles iam cair.

Ou melhor, ser arremessados.

Yume não soltaria Onsa. Se ela o soltasse, ele provavelmente se prepararia para a aterrissagem, levantaria e imediatamente montaria no lobo gigante novamente.

Se Yume não se separasse dele, o que Onsa faria? Ele tentaria aterrissar por cima dela. Yume queria fazer o oposto: esmagar Onsa no chão.

Quem acabaria por cima?

Mas, antes que isso acontecesse, havia uma árvore.

Sim, uma árvore.

Yume e Onsa colidiram no ar com uma árvore.

Foi o lado esquerdo de sua cabeça, seu ombro esquerdo, seu quadril esquerdo, sua coxa esquerda ou algo assim. Yume bateu com força na árvore.

Por um momento, quase soltou Onsa, mas por um breve instante o rosto detestável de Ranta passou por sua mente, e ela pensou: De jeito nenhum que Yume vai deixar isso acontecer. Ranta idiota.

Ela e Onsa rolaram juntos. Estavam descendo a encosta.

Pararam.

Nesse momento, Onsa abriu a boca bem na frente dos olhos de Yume. Ele tentava mordê-la. Tentava morder seu rosto. Isso a assustou, e ela chutou Onsa para longe sem pensar duas vezes.

Isso a deixou frustrada. Não era para ela ser corajosa?

Onsa se levantou, fugindo quase rastejando. Yume ficou de pé. Ficou tonta e cambaleou. Era por causa da colisão com a árvore? Teria machucado algum lugar sério?

Espera aí! Nada de fugir! — gritou ela.

Yume tropeçava enquanto o perseguia, mas Onsa, que fugia, também estava instável. Ambos estavam cambaleando, então estavam em pé de igualdade.

Seu corpo doía inteiro.

Onde será que Wan-chan foi parar? Yume se perguntou. Teria deixado cair?

Ela puxou uma faca. Star Piercer. Tentou arremessá-la, mas, por algum motivo, a faca caiu aos seus pés.

Não...

Não estava dando certo.

Ela precisava continuar a persegui-lo.

Precisava pegá-lo.

Onsa tentou olhar para trás. Ele tropeçou. Ao invés de se levantar, continuou rastejando.

Yume finalmente sorriu. Onsa estava mais machucado que ela. Ela poderia alcançá-lo.

Onde é isso? Ela se perguntou de repente. Não importava. Ela tinha preocupações maiores.

Onsa rastejou encosta acima. Embora precisasse ocasionalmente apoiar uma das mãos no chão, Yume estava conseguindo andar.

De repente, ela perdeu Onsa de vista. Seria por causa da névoa? A névoa realmente estava espessa. A chuva ainda caía também.

Yume ficou aflita e correu para alcançar Onsa. Oh, entendi, ela pensou. A subida havia terminado. A partir dali, o terreno era plano. Foi por isso que ela o perdeu de vista. Onde estava Onsa...?

Ali.

À esquerda.

Onsa estava rastejando.

Yume tentou se aproximar de Onsa, mas de repente teve uma realização.

Como ela iria matar Onsa? E de que adiantaria matá-lo? Isso mudaria alguma coisa?

Auuuwww... um dos lobos negros uivou. Não, provavelmente era o lobo negro gigante. Vinha de baixo. Estava subindo a encosta correndo.

Onsa se virou para o lobo negro gigante e assobiou. Ele estava chamando o animal. Pretendia montá-lo e fugir. Como se Yume fosse deixar isso acontecer.

Ela continuou avançando. Sua visão oscilava de forma estranha.

Estava cansada? Não deveria estar. Provavelmente esse não era o problema.

Onsa não se movia de onde estava. Provavelmente estava esperando o lobo negro gigante. Graças a isso, Yume conseguiu se aproximar. Ela agarrou Onsa—ou melhor, caiu sobre ele.

O lobo negro gigante avançou. Tentando mordê-la. Yume se agarrou a Onsa e rolou, de alguma forma conseguindo evitar as presas do lobo.

Onsa gritou algo e estendeu a mão. Estaria dizendo algo como: Venha, salve-me! Ou algo assim?

O lobo negro gigante tentou atacá-la de novo. Yume gritou: — Wauh! — uivando para o lobo negro gigante. Isso o assustou.

Onsa tentou escapar. Ela não o deixaria.

...Yume já disse pra você!

$#+&%%...!

Ela nunca o deixaria escapar.

Os dois rolaram juntos.

Ela não havia percebido.

Parecia que o lado oposto, o qual Yume e Onsa não haviam subido, era mais íngreme, como um penhasco.

Agora estavam na beirada do penhasco. Não, pior, Yume e Onsa estavam pendurados nele.

Whah... Vamos cair...

Com um latido estranho, o lobo negro gigante inclinou-se para fora da borda do penhasco. Onsa agarrou o pelo macio de sua nuca. Instintivamente, Yume fez o mesmo.

O lobo negro gigante tentou fincar as patas traseiras no chão.

Não vai dar, né? pensou Yume.

As patas do lobo negro gigante escorregaram pela beirada.

Ele iria cair. Nesse ritmo, cairia.

Se isso acontecesse, Onsa cairia também. E Yume, claro.

Shihoruuuu...! — ela gritou.

Haru-kun.

Kuzakkun.

Mary-chan.

Que todos fiquem bem, ela pensou. Por favor.

Se vocês não ficarem—

E você? parecia ouvir alguém lhe perguntar.

...O quê?

Cala a boca, seu idiota.

Ranta.

Você é só o Ranta idiota.

Depois de trair Yume e todo mundo. Talvez nunca mais nos vejamos!

Ranta era a última pessoa que ela queria ouvir dizer algo assim. Isso a irritou, e essa raiva deu-lhe força. Yume rangeu os dentes. Por enquanto, Onsa não importava; ela apenas se agarrou ao lobo negro gigante.

O lobo negro gigante girou uma vez, depois outra, e começou a deslizar pelo penhasco, arranhando-o com as patas dianteiras e traseiras. Eles não caíram; estavam escorregando. Parecia um penhasco íngreme, mas talvez não fosse tão íngreme assim. Talvez pudessem chegar ao fundo com segurança desse jeito—ou assim Yume começou a pensar, mas então o lobo negro gigante bateu em um obstáculo no penhasco e foram lançados ao ar.

Eles estavam caindo.

Girando e caindo.

Será que Yume vai morrer...?

Ela quase havia morrido uma vez em Darunggar. Tinha sido por pouco. Haviam cortado sua garganta, e havia sangue por todo lado. Tinha tanto sangue que ela nem conseguia respirar. Ah, isso pode ser ruim, Yume pode estar acabada, ela pensou. É assim que acontece, né? Acontece tão fácil...

Sua consciência desapareceu—mas então a magia de Mary funcionou, e ela conseguiu voltar.

Naquela vez, Haru-kun, ele estava chorando. Ele abraçou Yume bem forte.

Isso a deixou feliz, mas... Yume não sabia por quê, mas também ficou um pouco envergonhada.

...Oh, ela percebeu.

Foi porque todos estavam lá. Por isso, ela não tinha ficado com medo.

Ela não gostava de ficar sozinha. Não queria morrer sozinha assim.

Aquele lobo negro gigante também não queria morrer. Ele estava desesperado. Onsa, que estava agarrado ao grande lobo negro, assim como Yume, também estava.

O lobo negro gigante cravou novamente as patas dianteiras na encosta.

Continue tentando, lobo gigante—Lobinho, você consegue. Se não conseguir, todo mundo vai morrer.

A partir dali, sua memória ficou vaga. Ela tinha a impressão de que rolaram verticalmente, horizontalmente e na diagonal, batendo nas coisas. Sentiu como se fosse perder a pegada, mas então apertou ainda mais forte. Tudo parecia um borrão.

A chuva continuava a cair silenciosamente.

A névoa suspensa parecia gentil, de alguma forma.

Estava um pouco frio, então ela enterrou o rosto na pelagem do lobo negro gigante. Era quente, e ela sentiu o pulso dele. O lobo negro gigante estava respirando. Em algum momento que ela não lembrava, Yume tinha se aninhado na barriga do lobo negro gigante. Não dava para saber se ele tinha percebido ou não. Yume não sabia.

Mas, se ele percebeu, ele não deve ter gostado disso, pensou. Afinal, somos inimigos.

Ainda assim, Yume não se importava. Nem sequer via o lobo negro gigante como um inimigo agora.

Ele também está vivo. Talvez possamos deixar tudo isso para lá. Era assim que ela se sentia.

Como será que Onsa, que estava grudado nas costas do lobo negro gigante, se sentia?

Onsa se esforçou para se levantar e disse algo. Provavelmente, “Garo.”

O lobo negro gigante soltou um latido fraco. Talvez Garo fosse o nome do lobo negro gigante. Não era Lobinho, pelo visto. Bem, claro que não.

Garo.

...Garon. — Yume acariciou Garo. Ela ainda não tinha forças para se levantar, mas podia mover a mão para acariciá-lo, pelo menos. — ...Você tá bem, Garon?

O corpo de Garo tremeu inteiro. Talvez ele estivesse tentando afastar a mão de Yume porque não gostou. Ou talvez fosse a forma de Garo responder.

Onsa colocou a mão no pescoço de Garo enquanto olhava para Yume. Onsa também estava bastante debilitado. Apesar de ter se levantado, suas costas estavam curvadas, e seus ombros subiam e desciam pesadamente.

Onsan, ei, o que você vai fazer...? — Yume sorriu. Não que tivesse tentado sorrir, simplesmente aconteceu. — Yume... ela não quer mais lutar com você ou com o Garo. Se você insistir em lutar, Yume vai lutar também, mas só porque tem que fazer isso... Mas, pra ser honesta, Yume não quer lutar.

Onsa desviou o olhar. Yume interpretou isso como um sinal de que ele não tinha intenção de lutar.

Pelo menos por enquanto.




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