Hai to Gensou no Grimgar | Grimgar of Fantasy and Ash Volume 09
Capítulo 02
[Eu Quero Proteger Você]
Para ser honesto, Kuzaku não entendeu o que estava acontecendo de imediato. Tudo tinha sido intenso, violento e extremo. Só depois que Rock e Arnold, o morto-vivo, começaram sua briga insana, Kuzaku percebeu.
Haruhiro tinha sumido. Ou melhor...
No lugar onde Haruhiro estava antes, agora estava aquele cara chamado Sakanami, com o olhar insano, o ladrão dos Typhoon Rocks.
Além disso, ele estava posicionado exatamente como Haruhiro. O jeito como seus ombros estavam ligeiramente curvados, sua cabeça inclinada um pouco para frente e os joelhos levemente dobrados eram idênticos. Kuzaku não se lembrava de Sakanami alguma vez ter ficado daquela forma, então ele provavelmente estava imitando Haruhiro. Era uma cópia perfeita. Talvez por isso Kuzaku não tenha notado quando Haruhiro desapareceu.
Kuzaku sentiu que não seria sábio fazer alarde sobre isso, então perguntou a Shihoru em um sussurro: — Onde está o Haruhiro?
Sem tirar os olhos da batalha entre Rock e Arnold, Shihoru respondeu calmamente: — Foi buscar a Mary.
Faz sentido, pensou Kuzaku, satisfeito.
Haruhiro foi salvar Mary, sozinho.
Será que ele teria problemas indo sozinho? Na verdade, era até mais fácil para ele se mover quando estava sozinho. Mesmo que Kuzaku fosse junto, ele só atrapalharia. Haruhiro daria conta. Era nisso que Kuzaku queria acreditar. Haruhiro tinha um forte senso de responsabilidade. Ele conseguia resolver as coisas quando era necessário. Claro, isso fazia perguntar-se um dia não seria necessário resolver alguma coisa.
Kuzaku tinha um mau hábito de perder o foco—não, de relaxar a mente às vezes. Ele não tinha notado isso até estar na party de Haruhiro por um tempo. Observando Haruhiro, percebeu como estava levando as coisas de forma desleixada.
Mesmo com seus olhos sonolentos, Haruhiro estava sempre alerta. Na verdade, quanto mais focado ele ficava, mais sonolentos seus olhos pareciam. Haruhiro não perdia o foco em momentos cruciais. Estava sempre com os olhos sonolentos, mas atento, usando a cabeça e agindo em prol de seus companheiros.
Kuzaku sempre desejava ser assim também, e tentava, mas logo se pegava relaxando de repente. Mesmo no meio de uma batalha intensa, às vezes ele sentia que não conseguia se concentrar totalmente.
Talvez seja porque eu dependo demais dos outros, pensou Kuzaku.
No fim, ele tendia a deixar as coisas para os outros. Em algum lugar no fundo, ele sempre confiava em outra pessoa. Tentava adotar a mentalidade de que tinha que lidar com as coisas por conta própria, mas simplesmente não conseguia.
Sou um caso perdido, pensou Kuzaku. Isso o frustrava também. Tinha esse corpo grande, mas para que estava usando? Se ele não conseguia carregar o fardo, era inútil.
Aposto que Moguzo não era assim.
Kuzaku só tinha visto o cara lutar uma vez. Na batalha da Fortaleza de Observação Deadhead. Ele era grande. Kuzaku provavelmente era mais alto, mas Moguzo era sólido, robusto. Parecia tão confiável.
A imagem do Rage Blow de Moguzo cortando um orc ainda estava gravada nos olhos de Kuzaku. Ele não sabia descrever aquilo de outra forma que não fosse incrível.
No Reino do Crepúsculo, Akira-san tinha mostrado seu Punishment para eles. Sua habilidade era como uma cristalização do mais alto nível de técnica, e era difícil imaginar como era possível atingir esse nível. Kuzaku só conseguiu assistir, impressionado.
Por outro lado, o Rage Blow de Moguzo não era assim. Não que Kuzaku pensasse: Até eu poderia fazer isso, mas, se fosse possível, ele queria aprender a usar sua própria espada daquele jeito.
A posição dos quadris de Kuzaku era alta demais. Era instável. Ele percebeu isso e tentava corrigir. Mesmo assim, quando se checava ocasionalmente, seus quadris ainda estavam altos na maior parte do tempo. Ele não era do tipo flexível, e seus braços e pernas eram longos, dificultando movimentos mais precisos, então, comparado a Haruhiro e... sim, aquele traidor idiota, Ranta, além de Yume, que era tanto uma caçadora quanto uma garota, ele era lento.
Ele sabia que tinha muitos pontos a melhorar. Queria eliminá-los um a um. Tinha pontos fortes, como seu tamanho, e aproveitá-los de forma eficaz também era importante.
Shihoru o aconselhou a não deixar as coisas pesarem tanto, mas o que mais ele deveria fazer? Kuzaku era o tanque.
Haruhiro lhe dissera: Mas agora, Kuzaku, você é o tanque da nossa party, e acho que você é o único que pode ser.
Ele se lembrava exatamente. Nunca esqueceria essas palavras. Sempre que se recordava delas, seu coração tremia.
Tenho que fazer isso, pensava. Eu vou fazer.
Eu juro que vou me tornar um grande tanque.
Era bom que ele tivesse tido o coração partido. Agora, sem distrações, podia se concentrar totalmente em um único objetivo.
Mas ainda estou preocupado com a Mary... -san.
Bem, é claro que estava. Estava fora de si de preocupação, para ser honesto. Tipo, o que estavam fazendo com ela? Esse tipo de preocupação surgia, é claro. Mesmo sabendo que era inútil pensar nisso, não ajudava em nada.
Se pudesse ter tomado o lugar dela, ele o faria. Afinal, ela era uma garota. Era mais difícil para ela.
E era por isso que ele não podia perdoar aquele idiota, o Ranta.
— ...Hã? — Kuzaku piscou e olhou novamente. — Ei? Espera aí. Que estranho. O quê...?
Havia uma pequena colina à frente deles, e no topo dela havia um goblin montado em um lobo gigante e um orc menor, aparentemente chamado Jumbo. Na base da colina, havia um grupo de orcs, mortos-vivos e outras raças alinhadas—mas não havia sinal daquele cara.
— O Ranta não tá meio sumido? — sussurrou Kuzaku.
— Parece que ele se mandou pra algum lugar. Agora há pouco — disse Yume, em voz baixa. — Ah, aquele humano foi e desapareceu quando o Ranta também sumiu. Eles levaram alguns outros com eles.
— Caramba. Eu perdi isso totalmente... — suspirou Kuzaku. — Maldito Ranta. Onde ele foi?
— Ele descobriu. — Shihoru mordeu o lábio. — Talvez. Sobre o Haruhiro-kun, quero dizer...
— Isso... é meio ruim, né? — perguntou Kuzaku, apreensivo.
Yume gemeu.
— É ruim, mas... — Shihoru balançou a cabeça levemente. — Não tem nada que possamos fazer. Mesmo que fôssemos agora... não acho que conseguiríamos alcançar o Haruhiro-kun. E poderíamos nos perder também... Por enquanto, temos que confiar no Haruhiro-kun.
— Sério...? — Kuzaku ficou sem palavras.
Confiar em Haruhiro. Para Kuzaku, isso era fácil. Ele tinha certeza de que Haruhiro daria um jeito, e se não conseguisse, então não havia muito o que fazer. Mas confiar nele e deixar tudo nas suas mãos significava, basicamente, fazer com que Haruhiro carregasse todo o peso.
Mais uma vez, como sempre, tudo recaía sobre Haruhiro.
Isso fez Kuzaku sentir vontade de rir. De si mesmo, em tom de zombaria.
Eu sou tão impotente.
— Não é um problema — disse Moyugi, o autoproclamado cavaleiro das trevas mais forte em atividade, pressionando a ponte dos óculos com o dedo médio da mão direita. — Eu já me preparei para isso.
— Preparou? — Kuzaku engoliu em seco, mas sua boca estava seca. — Como?
Com um ar convencido, Moyugi não respondeu.
Kuzaku não sabia se o cara era esperto, estrategista ou algo assim, mas ele era presunçoso, arrogante, agia como se estivesse zombando dos outros, e era um homem geralmente detestável.
O sacerdote de cabelo raspado, Tsuga, estava sorrindo. Ele lhe lembrava algo. Aquilo, sabe. Um Jizo. Isso. Ele era como um Jizo.
Mas o que era mesmo um Jizo? Ele não sabia o que era, mas conseguia imaginar sua forma. Aquela pequena estátua careca de pedra. Tsuga parecia um Jizo.
Kajita, o que usava óculos escuros, que estava deitado de braços e pernas abertas desde que havia sido jogado com um grande estrondo, de repente gritou “Oop!” e se levantou com um salto.
O que diabos significa “oop”? Kuzaku se perguntou.
Sakanami ainda estava imitando Haruhiro.
Pode parar já, pensou Kuzaku. Parece que já sacaram o nosso truque.
Rock ria alto enquanto agarrava Arnold, ou enquanto era empurrado e agarrava de volta, socando e sendo socado, chutando e sendo chutado, cabeceando e sendo cabeceado, repetidas vezes. Será que ele estava sob efeito de drogas? Kuzaku se perguntava. Eram todos um bando de malucos.
Bem, não eram só os Typhoon Rocks. Se fosse o grupo de Akira-san, o grupo de Soma ou os Tokkis, todos eram bem estranhos.
Eu não consigo acompanhar essas pessoas, era a opinião sincera de Kuzaku.
Nesse aspecto, a party de Haruhiro era diferente. Muito diferente. Eram normais, por assim dizer. Confortáveis. Ele tinha certeza de que conseguiria se dar bem com eles.
Isso não significava que tudo sairia perfeito, mas ele aprenderia a gostar de seus companheiros e a respeitá-los. Mesmo que Ranta fosse a grande exceção, sempre havia exceções, então ele podia tolerar isso. Ele tinha que tolerar.
Tinha sido um grande choque quando Mary o rejeitou, mas nenhum dos dois era criança. Mary era adulta, então ela deixou isso de lado, por mais estranho que fosse dizer isso. Eles continuaram como companheiros, como se nada tivesse acontecido, respeitando um ao outro e seguindo em frente. Mesmo quando achou que era impossível, eles escaparam de Darunggar e conseguiram voltar para Grimgar. Altana parecia distante, mas ele tinha certeza de que conseguiriam chegar lá de alguma forma.
Ou assim ele pensava.
O que está acontecendo aqui? Kuzaku pensou. Por que as coisas continuam dando errado? Isso é só a vida? Mesmo que seja, será que estamos passando por provações demais?
Eu não consigo aceitar isso.
Se essa era a realidade, ele teria que aceitá-la como era. Até Kuzaku entendia isso. Ele só queria reclamar.
Ele se encontrou em Grimgar de repente, não teve escolha a não ser se tornar um soldado voluntário, viu todos os seus companheiros morrerem—todos, exceto ele. Ainda assim, conseguiu tentar se manter positivo e dar o seu melhor. Foi incrivelmente persistente, e graças a isso, foi aceito na party de Haruhiro. Kuzaku sentia que tinha feito o melhor que podia ali.
E, depois de tudo isso, é isso que eu recebo?
Um pouco cruel, não?
Eu não sei... Acho que mereço um pouco mais.
Isso é ingenuidade minha? Meu coração está prestes a se quebrar.
Ele não podia deixar que isso acontecesse. Haruhiro ainda estava firme, tentando fazer alguma coisa. Kuzaku estava apenas assistindo. Como poderia deixar seu coração se quebrar?
Recupere-se. Seja forte.
Mas suas pernas estavam fracas, e ele queria apenas sentar-se.
E Shihoru e Yume? Elas claramente não estavam muito bem, mas não pareciam ter desistido completamente, tampouco. Como ele deveria se manter firme em um momento como aquele? Queria que alguém lhe dissesse como. Queria perguntar a Shihoru ou a Yume. Não, não era isso... Ele queria que elas o apoiassem.
— ...Droga — Kuzaku murmurou essas palavras e abaixou a cabeça. Não era assim que deveria ser. Ele não devia esperar que elas o apoiassem; ele é que devia apoiá-las. Esse era o tipo de cara que ele queria ser. No ideal, ele queria ser como uma perna para Haruhiro—não, não era bem isso.
É, Isso podia ser mal interpretado.
Era mais como... bem, Shihoru provavelmente apoiava Haruhiro mental e espiritualmente. Kuzaku não era inteligente ou equilibrado como ela, então ele faria isso com seu corpo. Sim, como tanque, ele apoiaria Haruhiro como um muro, ou uma coluna, fisicamente. Isso era o certo. Ele tinha uma imagem disso em mente, então agora só precisava torná-la realidade.
Se Haruhiro voltasse em segurança... era isso. Mary também, claro.
Aquele desgraçado do Ranta os havia traído. Eles haviam perdido um companheiro, e de um jeito que ninguém esperava. Se perdessem mais alguém, o estrago seria enorme.
Ele queria chorar. Porque, por mais que quisesse fazer algo, Kuzaku não podia fazer nada. Ele só conseguia ficar ali, sem agir. Kuzaku rangeu os dentes.
— Vamos acabar com isso de uma vez — Rock gritou do campo de batalha à frente deles.
Rock montou em Arnold, desferindo socos em seu rosto, gritando — Dah! Dah! Dah! Dah! — Cada golpe era pesado.
Arnold era um double-arm com quatro braços, mas Rock havia cortado fora um dos braços esquerdos dele, e o braço esquerdo restante e um dos braços direitos estavam gravemente feridos. Mesmo assim, Arnold agia como se isso não importasse, usando os outros dois braços para se defender. Mas o ataque feroz de Rock estava rompendo até mesmo essa defesa. Será que a luta já estava decidida?
— Dah! Dah! Dah! Dah! Dah! Dah! Dah! Dah! Dah!
O punho de Rock acertava Arnold direto no rosto. Houve gemidos dos membros da Forgan que assistiam. Se ele continuasse recebendo tantos golpes, não aguentaria. Dizem que, se a cabeça de um morto-vivo fosse destruída, isso seria suficiente para eliminá-lo.
Ele conseguiria. Assim mesmo. Arnold já não conseguia se defender. Rock tinha vencido. Sem dúvida.
Sem perceber, Kuzaku gritou: — Acaba com ele!
Então aconteceu.
— KYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYY.
Arnold soltou um grito aterrorizante e pulou bem alto, levando Rock junto.
Como ele fez isso? Arnold estava de costas, com Rock em seu estômago, montando nele. Nessa posição, como ele poderia saltar direto para cima?
Pensando racionalmente, era impossível. No entanto, os mortos-vivos não eram normais. Seria isso?
Arnold, com Rock em seu estômago, conseguiu saltar o que parecia ser três metros no ar.
Rock arfou de surpresa e tentou se afastar, mas Arnold não permitiu e usou seus três braços restantes para agarrar Rock. Não, não apenas para agarrá-lo. Arnold mudou de posição no meio do ar. Ele girou.
Arnold ficou por cima, e Rock por baixo.
Além disso, Arnold usou seus três braços e as duas pernas para apontar a cabeça de Rock direto para o chão.
Ferrou? Kuzaku pensou freneticamente. Ele vai cair de cabeça?
— Whaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!
— SYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYY.
— Rock! — Arara, que até então assistia à luta em um estado meio atordoado, gritou o nome de seu campeão.
O mau pressentimento de Kuzaku se mostrou correto. Rock se chocou contra o chão de cabeça.
Será que ele vai ficar bem depois disso? Não sei.
Arnold pulou de Rock e então o chutou.
Chute. Chute. Chute. Chute. Chute. Chute. Chute. Ele chutava e chutava e chutava mais Rock. Rock nem tentava se defender. Estava sendo chutado o máximo possível.
Os membros da Forgan começaram a aplaudir.
Os companheiros de Rock não se moviam. Nem Moyugi, nem Tsuga, nem Kajita, e nem Gettsu, o mirumi de listras de tigre que Rock mantinha como animal de estimação.
Shihoru desviou o olhar, incapaz de continuar assistindo. Yume não desviou, mas suas bochechas estavam infladas com uma quantidade ridícula de ar.
Kuzaku murmurou: — Awww...
Não, “awww” não era a coisa certa a se dizer naquele momento, definitivamente não era, mas foi a única coisa que conseguiu sair de sua boca.
Eles iam perder? Ou era mais como se já tivessem perdido? Tipo, quase certamente? Se Rock perdesse, o que aconteceria ali? Quem sabia?
Kuzaku não sabia. Sua mente estava completamente em branco. Talvez isso fosse o que significava ser fraco. No final, não importava o que acontecesse, pessoas fortes provavelmente nunca pensavam que iam perder, ou que tudo estava perdido. Se não fosse assim, seria impossível virar o jogo. E, provavelmente, seus companheiros deviam acreditar nele.
Arnold foi dar outro chute em Rock. Rock se enrolou naquela perna. Ele se movia quase como uma cobra. Mesmo parecendo que já poderia estar morto.
Não era isso? Ele estava fingindo o tempo todo? Durante todos os chutes de Arnold, Rock esperava uma chance de contra-atacar?
Se ele estava, isso exigia uma resistência absurda. Quão resistente ele era? Ele tinha coragem demais. Certamente havia algo de errado com ele.
Rock tentou puxar Arnold para o chão. Arnold usava a perna esquerda para tentar chutar Rock para longe, mas não estava indo tão bem.
Rock gritou: — Yaaaah! Toma essa! — Será que ele estava atacando as articulações? Tipo o joelho, ou o tornozelo? Parecia que ele tentava quebrá-las.
Arnold, sem a menor intenção de deixar isso acontecer, gritou: — KAAAAAAAAAAAAAAAAAA! — Ele torceu o corpo, usou os três braços, tentou todo tipo de coisa. Mas Rock não soltava sua perna direita. Ele não soltava.
Os dois caíram.
Caíram e rolaram.
— KU...!
De repente, Arnold parou de resistir.
Um pouco antes, Kuzaku achou ter ouvido um estalo alto. Seria a perna dele? A perna direita. Rock finalmente teria acabado com a perna direita de Arnold? Devia ter sido isso.
Rock soltou a perna de Arnold por conta própria, rolou para trás para ganhar alguma distância, depois assumiu uma postura baixa.
Arnold também se levantou, mas mantinha a perna direita levantada. Não havia dúvida. Arnold não conseguia mais usar a perna direita. Ele ainda conseguiria lutar mesmo com uma perna machucada?
Kuzaku certamente não conseguiria. Primeiro, não conseguiria se mover direito. Nem fincar os pés no chão. Não conseguiria fazer muita coisa.
Rock também não estava ileso. Seu rosto estava todo inchado e até sangrava. Com a quantidade de chutes que levara, não seria surpresa se tivesse alguns ossos quebrados, mas parecia que seus braços e pernas estavam bem por enquanto. Mesmo que não tivesse ossos quebrados, certamente estava cheio de hematomas.
Ainda assim, a maneira como ele se movia dava a impressão de que não sentia nada.
Rock se aproximou de Arnold, soltando um soco. Era um jab de esquerda. Com uma combinação rápida, jab, jab, jab, ele acertou o rosto de Arnold.
Arnold pode ter tentado desviar, mas não conseguiu. Aquele combo de três jabs foi seguido por um direto de direita, um gancho de esquerda e mais um direto de direita, depois um uppercut de esquerda e um golpe no corpo, um direto de direita no queixo, seguido por outro uppercut de direita no mesmo lugar, um gancho de esquerda na lateral do rosto, e imediatamente um direto de direita para finalizar.
— Olha isso. Não tem como ele não fazer algo... — Kuzaku não sabia bem o que estava dizendo, mas podia perceber que os ataques de Rock não eram aleatórios. Tinha que ser uma arte marcial ou algo assim. Rock sabia como lutar com os punhos. Ele não era um amador. — Boxe...
Sim. Isso. Boxe.
Ele sabia o que era. Foi só por um instante, mas uma imagem surgiu na mente de Kuzaku. Dois homens de calções curtos, usando luvas grossas nas mãos, se golpeando.
Aquilo. Aquilo era boxe. Ele tinha visto uma luta de boxe; mas onde, e quando...?
Ele não sabia. Não conseguia se lembrar. A imagem que havia aparecido tão claramente em sua mente desaparecera por completo.
Boxe. A palavra permanecia. Rock era um boxeador. Um lutador.
Kuzaku sentiu uma urgência repentina. Boxe. Boxeador. Essas palavras, o conceito, ele precisava gravá-los em sua mente agora, ou os esqueceria. Sentia que já havia esquecido muitas coisas assim. Perdido-as.
Rock partiu para o ataque. Era unilateral. Ele bombardeava Arnold com socos cuidadosamente direcionados.
Isso não era uma luta. Seus movimentos de pés estavam em outro nível. A diferença era imensa.
Olhando mais de perto, Arnold ainda se movia. Ou pelo menos tentava. Mas Rock sempre dava a volta, ficando à sua frente. Quando Arnold tentava correr, Rock ia naquela direção. Em seguida, o atingia com um soco.
Mesmo quando Arnold tropeçava, parecendo que ia cair, Rock o segurava com outro soco. Arnold nem sequer conseguia desabar.
Kuzaku meio que entendeu o porquê. Era porque Rock era um boxeador. Rock estava em seu auge quando estava de pé, socando. Lutar no chão, ou seja, usar técnicas de imobilização, assumir uma posição montada e então atacar o oponente, não era o forte de Rock.
Seus punhos. Rock pretendia resolver isso com seus punhos. Ele confiava neles.
— Rockyyyyyy! — Kuzaku se assustou quando Sakanami começou a torcer o corpo e a gritar. — Quatro! Rocky dois! Três! Quatro!
Do que ele estava falando? Será que ele tinha algum parafuso a menos? Certamente não parecia são. No entanto, como se os gritos estranhos de Sakanami tivessem ativado algo, Rock ficou visivelmente mais rápido.
— Uau... — Kuzaku deixou escapar um murmúrio de admiração. Abrindo bem os olhos ou piscando, não conseguia enxergá-lo direito. Rápido. Ele era rápido demais. Os socos de Rock eram rápidos demais para que seus olhos acompanhassem.
O que quer que estivesse tentando fazer, Arnold não conseguia bloquear, desviar, esquivar, abaixar, ou evitar. Cada um dos socos de Rock acertava Arnold. Todos eram acertos limpos. Neste ponto, Arnold não era mais que uma marionete morta-viva, ali apenas para apanhar. Não, nem uma marionete; era um saco de pancadas morto-vivo.
Os membros da Forgan estavam em silêncio. Eles também sentiam a derrota iminente de Arnold. Na verdade, eles não apenas sentiam, já deviam ter praticamente aceitado.
A luta estava decidida. Rock só não estava tentando encerrá-la. Se ele parasse de atacar, Arnold desabaria. Por que Rock não fazia isso?
Seja qual fosse o motivo, Rock continuava a sequência de golpes. Arnold ainda não estava grogue. Será que era nisso que Rock estava pensando? Acontece que era exatamente isso. Rock lançou seu enésimo direto de direita. Não parecia que ele tinha feito para finalizar, e seus movimentos ao preparar o soco ficaram mais amplos, resultando em um golpe chamado de “telegraphed punch”. Era um soco normal, rápido demais, e para Kuzaku parecia um direto perfeito.
Então, Arnold o parou com a boca.
Ele abriu a boca tão grande que parecia ter deslocado a mandíbula e que rasgaria as bochechas, e o punho de Rock entrou direto. Foi assim que pareceu.
Naturalmente, Rock tentou puxar o punho imediatamente, mas Arnold aproveitou a chance para morder e segurá-lo. Seus dentes superiores e inferiores cravaram-se no braço de Rock, mordendo com força.
Com um suspiro alarmado, Rock acertou Arnold no estômago e nas têmporas com o punho esquerdo. Eram socos afiados, e poderosos, sem dúvida, mas não como os de Rock. Rock estava abalado.
Arnold, por outro lado, parecia estar calmo.
Arnold agia como se os socos de Rock não significassem nada para ele. Ele segurou a cabeça de Rock com as mãos esquerda e direita.
Kuzaku soltou um “Ah!” involuntário.
Seus polegares. Os polegares de Arnold estavam nos olhos de Rock. Ele estava empurrando ambos os olhos ao mesmo tempo com os polegares. Se ele apenas machucasse um pouco os olhos, tudo bem, mas se fosse mais que isso, a carreira de Rock como boxeador estaria...
Não, esse não era o problema aqui!
— Chega! — alguém gritou.
Quando aquela voz alta ressoou pelo local, parecia que toda a névoa do Vale dos Mil havia desaparecido. Não que isso fosse acontecer. Mas era como se pudesse dissipar a névoa. Não era apenas alta; era uma voz incrivelmente clara também.
— Jumbo — alguém disse. Provavelmente um dos membros da Forgan. Isso levou a uma sequência de pessoas chamando aquele nome.
— Jumbo.
— Jumbo!
— Jumbo.
— Jumbo!
— Jumbo.
— Jumbo!
— Jumbo.
— Jumbo!
Jumbo.
Aquele orc estava em pé no topo da colina, observando em silêncio o confronto entre Rock e Arnold até agora.
Foi ele? Ele disse isso? Chega. Ele os parou?
De qualquer forma, que orc era aquele.
Para Kuzaku, ao pensar em orcs, a imagem mais forte que tinha era dos que enfrentou na Fortaleza de Observação Deadhead. Em seguida, vinham os que viviam em Waluandin, em Darunggar.
Em ambos os casos, eram maiores que os humanos, tinham inteligência semelhante e eram um pouco rudes, como se sempre resmungassem. Ele sempre assumiu que os orcs, como raça, eram todos assim. Mas aquele orc não se encaixava em nada nessa imagem. Ele era uma espécie à parte.
Para começar, o que era aquele kimono que ele usava, aberto na frente? Era de um azul profundo, com um padrão de flores prateadas. Kuzaku nunca tinha visto uma peça de roupa tão bonita em Grimgar ou Darunggar. Será que o orc tinha feito aquilo? Se sim, era um trabalho incrivelmente detalhado.
Seus cabelos negros esvoaçantes pareciam que ele apenas os deixava crescer, mas não davam a menor impressão de sujeira. Provavelmente, ao menos, os penteava.
E então havia seu rosto. O nariz era baixo e largo, como se estivesse achatado. Bem característico de um orc. Ele tinha dentes parecidos com presas aparecendo nos cantos dos lábios. Isso também era típico dos orcs. Era claramente um orc, mas não parecia ser como os outros.
Quando Kuzaku viu o rosto de um orc pela primeira vez, honestamente, achou que eram feios. Não havia como dizer que eram legais. Tipo, as fêmeas orcs, provavelmente eram horríveis? Não muito melhores que goblins nesse aspecto.
Sim. Eles eram como goblins grandes e resistentes. Basicamente, essa era a imagem que Kuzaku tinha dos orcs.
Jumbo era diferente. Talvez ele tivesse um pouco da aparência de orc, mas, na verdade, pertencia a uma raça diferente. Como uma espécie de super-orc. Aqueles olhos laranja, não eram normais. Superior. Era isso. Superior. Ele era uma forma de ser mais elevada.
Dito isso, mesmo que não ao mesmo nível, todos os orcs da Forgan tinham essa mesma aura que Jumbo transmitia. Talvez tentassem imitar a roupa e o comportamento de Jumbo. Ou, quem sabe, assim como havia tanta variedade entre os humanos, orcs também vinham em muitos tipos, e havia orcs como aquele por aí.
Aquele que parecia ser o representante deles, Jumbo, desceu a colina. Ele não pulou. Nem correu. Descia num ritmo surpreendentemente tranquilo, apenas andando.
— Sua batalha... — Jumbo colocou uma mão nos ombros de Arnold e Rock. — ...será decidida por mim.
— Hã...? — Rock disse, parecendo atônito.
— Ih...?
Rock e Arnold aparentemente tentaram olhar para Jumbo. Mas Rock estava com os polegares de Arnold nos olhos, e Arnold tinha o braço direito de Rock na boca, dificultando o movimento das cabeças. Mesmo se não fosse por isso, ambos estavam machucados e exaustos. Eram uma visão e tanto, mas Jumbo parecia não se importar. Estava tão calmo e sereno que parecia deslocado na situação.
— Se isso continuar, vocês dois vão morrer. Arnold, meu companheiro, e você, o soldado voluntário humano—Rock, certo? Acho que seria uma pena se qualquer um de vocês morresse aqui. Por isso, declaro sua luta um empate.
— Não, cara... Você não pode simplesmente decidir isso — retrucou Rock.
— Oh... Fah...
— Ei, Arnold, você também não pode aceitar isso, né?
— Uh...
— Ah. Não dá pra falar assim, né? Vou tirar meu punho agora. Tudo bem, certo?
— Nu...
— Estou tirando. E meus olhos estão doendo, então tire os polegares também.
Parece que Arnold afrouxou a mandíbula. Rock puxou seu braço direito da boca de Arnold.
— Eu disse que dói! Já tira as mãos de mim, Arnold!
— Mu... — Arnold soltou cautelosamente a cabeça de Rock.
— Droga! — Rock saltou para trás, esfregando os olhos de olhos fechados. — Não consigo ver nada. Se eu ficar cego, isso não vai ter graça. O que você vai fazer se eu nunca mais conseguir ver o rosto da Arara?
Tsuga murmurou: — Pode dar qualquer resultado... — Como se aquilo não tivesse nada a ver com ele. Bem, talvez tecnicamente não fosse problema dele, mas não eram companheiros?
— Um empate, é? — Moyugi deu um passo à frente. — Não me importa como queira chamar, mas gostaria que as coisas fossem um pouco mais claras. Você é o Jumbo, certo? Como, precisamente, pretende resolver isso?
Houve um murmúrio incômodo entre os membros da Forgan. Era fácil entender por quê. A atitude de Moyugi era extremamente insolente. Até Kuzaku, que teoricamente era seu aliado, se sentiu ofendido, então os membros da Forgan deviam estar absolutamente indignados.
Será que o Jumbo vai surtar? Kuzaku se perguntou.
Mas não parecia que ele fosse.
— Para ser exato... — Jumbo se virou para Moyugi, como uma folha flutuando ao vento. — Se vocês se retirarem agora, eu não colocarei as mãos em vocês. Vocês podem nos atacar outro dia. Podem escolher nos esquecer. A partir daqui, vocês são livres para fazer o que quiserem.
— Entendo. — Moyugi assentiu, com um ar arrogante. — E se não concordarmos?
— ...Não, espera aí, Moyugi. — Rock olhou ao redor. Ele parecia incapaz de ver, mas estava procurando alguém? — Arnold! Você está bem com isso?! Essa era a nossa luta! Eu não sei se esse cara é o seu comandante ou algo assim, mas você vai simplesmente deixá-lo nos atrapalhar?!
— Kuu... — Arnold olhou para Jumbo.
— Ele não entende — sussurrou Tsuga, sorrindo. — Nossa língua.
Kuzaku sentiu um leve espasmo no rosto. Esse Jizo, parece ser um cara de bom senso, mas talvez ele tenha uma personalidade meio cruel?
— Está empatado — disse Jumbo para Arnold. — Retirada, ambos.
Provavelmente estava dizendo isso em outra língua que o morto-vivo Arnold entenderia.
Arnold se sentou.
— E... gari.
Eu concordo. Era o que parecia que Arnold estava dizendo.
— Mas que droga! — Rock chutou o chão, parecendo bem insatisfeito, mas... isso não era um mau desenvolvimento. Na verdade, poderia ser uma oportunidade melhor do que esperavam.
Kuzaku olhou rapidamente para Shihoru e Yume. Elas entenderam sem necessidade de palavras. Estavam com o mesmo pensamento que ele.
Rock e sua party planejaram esse ataque por vingança, porque Arnold havia matado Tatsuru, o namorado de Arara, mas, por mais frio que fosse dizer isso, Kuzaku e os outros dois não tinham nenhum apego a essa questão. O motivo pelo qual decidiram ajudar Rock era talvez dez a vinte por cento por obrigação, mas os restantes oitenta a noventa por cento eram para salvar sua companheira, Mary.
O que teria acontecido com Haruhiro? Mary estaria a salva? Isso ainda não estava claro, mas Kuzaku e as outras duas naturalmente precisavam considerar sua própria segurança. Se Rock e os outros desistissem da vingança e se retirassem, fosse por agora ou para sempre, Kuzaku e as outras duas poderiam escapar dali. E então, iriam ao ponto de encontro e esperariam por Haruhiro.
Se Haruhiro voltasse com Mary, seria demais chamar isso de melhor desfecho possível? Se Haruhiro não aparecesse—bem, Kuzaku não queria considerar essa possibilidade, mas se chegasse a esse ponto, pensariam em algo quando acontecesse.
— E então? — Moyugi pressionou o dedo médio de sua mão esquerda contra a ponte dos óculos. Sua mão direita estava no punho da espada. — Se escolhermos não recuar, o que pretende fazer?
— Eu — disse Jumbo, com um tom que poderia facilmente ser usado para anunciar uma soneca à tarde —, vou aniquilar vocês, pessoalmente.
— ...O quê? — disse Moyugi.
Parecia que nem mesmo Moyugi tinha previsto isso. Naturalmente, Kuzaku também não.
Espera aí, Kuzaku pensou lentamente. O que ele acabou de dizer?
Hã? Como assim? Pessoalmente? O Jumbo pessoalmente? Vocês, tipo... A party do Rock, provavelmente Arara e Katsuharu também, e então provavelmente eu, Shihoru e Yume.
Aniquilar?
Não apenas exterminar?
Bem, os dois são meio parecidos, eu acho. Então, basicamente...
Ele vai matar todos nós?
Kuzaku tentou entender tudo em sua cabeça.
Dá o fora, ou eu mato vocês. Era isso que Jumbo parecia estar dizendo.
— O vento que sopra na escuridão sussurra para mim... — Sakanami roía as unhas intensamente. Seu corpo inteiro tremia, e ele estava usando as duas mãos. — A história sombria me convida além do abismo... A razão da solidão, a falsa estação inicia o prelúdio da destruição que questiona o sentido da nossa existência...
O que havia com esse cara?
— Grande discurso. — O Jizo... digo, Tsuga... parecia irritado.
Arara estava com uma expressão de indignação. — Quanto mais ele tem que nos menosprezar para se dar por satisfeito?!
— Droga, estou irritado — murmurou Kajita.
E então, Kajita, o grandalhão de óculos escuros, ergueu sua espada, que parecia uma fatia fina de um cogumelo gigante, e avançou.
Ei, ei, você tá indo sozinho?! Pelo menos discutam isso antes! Que imprudência! Você tá agindo por impulso! Isso não é bom. Tenho quase certeza de que isso não é nada bom. Caramba, Kajita está levando isso a sério. Ele surtou completamente.
Kajita avançou contra Jumbo com uma intensidade incrível, sem desviar o olhar.
— Uehhhhhh, hahhhhhhhhhh!
Por que Rock e os outros não o impediram? Eles não podiam?
Bem, Kuzaku não conhecia Kajita tão bem, mas ele era membro dos Typhoon Rocks, tinha uma aparência intimidadora e, embora fosse um homem de poucas palavras, tudo o que dizia era estranho. Não tão estranho quanto Sakanami, claro. De qualquer forma, ele não parecia o tipo que obedeceria facilmente se alguém lhe dissesse para fazer algo. No entanto, pará-lo à força parecia ainda mais difícil, talvez quase impossível. Kuzaku, pelo menos, não tinha desejo de tentar. Sentia que seria facilmente esmagado. Será que ele era do tipo que nem os próprios companheiros conseguiam parar quando ficava daquele jeito? Talvez?
De qualquer forma, as negociações foram por água abaixo agora.
Isso é o pior.
Kajita.
Vai se ferrar.
O que você está pensando, Kajita?
Então Kuzaku explodiu — Kajita, seu—O quê...?!
Kuzaku viu. Kajita desceu sua enorme espada cogumelo de uma distância que normalmente faria qualquer um pensar: Sério, dali? Nunca vai alcançar.
Normalmente, estaria certo, e realmente não alcançaria, mas, para Kajita, essa era a distância de ataque. Kajita não era apenas um brutamontes superpoderoso. De longa distância ele usava sua espada, e em distâncias curtas e médias, usava seus chutes, alternando habilmente entre os dois. E, para Kajita, longa distância era bem longa.
Esticando-se e usando o comprimento de sua espada cogumelo enorme, com seus braços longos e aquele corpo grande, ele talvez fosse capaz de cortar um inimigo a quase três metros de distância ao meio.
No momento em que Kajita colocou Jumbo em sua área de alcance, Kajita balançou sua enorme espada contra ele.
Jumbo parecia ter previsto isso, mas não se moveu para trás, nem para a esquerda ou direita para desviar. Em vez disso, desapareceu. Para Kuzaku, parecia que Jumbo havia sumido por um instante.
No momento em que ele pensou: Ele não está lá. Ele sumiu, Jumbo reapareceu acima deles. Ele havia pulado.
Parecia que Jumbo tinha saltado para evitar a espada de Kajita. Mas o que era aquele movimento?
Parecia contraditório, mas Jumbo estava parado no ar.
Naturalmente, Jumbo só parou no ar por um instante. Mesmo assim, não era a postura de quem tinha saltado para chegar lá. Jumbo estava relaxado. Era assim que ele parecia para Kuzaku.
No entanto, ele havia evitado apenas o primeiro golpe. Kajita ainda tinha seus chutes como arma.
Usando o impulso de seu golpe com a espada, Kajita desferiu um chute circular reverso com a perna esquerda. Estando no ar, Jumbo tinha que descer. Era nisso que Kajita estava apostando.
Não havia como desviar.
Jumbo não tentou desviar também.
Quando o chute de Kajita chegou, ele o usou como um ponto de apoio para saltar novamente. Mais do que isso, parecia que ele estava caminhando no ar.
Jumbo pousou atrás de Kajita.
A maneira como Kajita imediatamente gritou — Keyah! — e executou um chute circular reverso com a perna direita mostrava que ele não era um cara comum. E não foi um único ataque. Ele fez um chute circular reverso com a esquerda e um chute frontal com a direita. Então, flexionou o joelho direito e fez uma sequência de três chutes; alto, médio e baixo. Depois de dois chutes com a perna esquerda, ele fez parecer que ia chutar com a direita, mas, em vez disso, lançou mais uma combinação de dois chutes com a esquerda.
Não seria exagero chamar a combinação de chutes que Kajita exibiu de magnífica. Ele havia soltado completamente sua espada cogumelo. Com o tamanho de seu corpo, era impressionante que ele pudesse se mover daquela forma. Olhando para ele, Kajita não parecia nem um pouco que poderia ser tão rápido.
Mas Jumbo não tinha nem um arranhão.
Jumbo havia evitado todos os chutes de Kajita e, então, finalmente partiu para o contra-ataque. Isso estava claro. Kuzaku também viu o que Jumbo fez com Kajita.
Jumbo usou a mão direita para desferir um soco no peito de Kajita—ou melhor, um empurrão.
Foi só isso. Só isso, mas Kajita foi virado com as pernas para cima, caindo de cabeça, batendo com o pescoço no chão.
— Não vejo nenhuma forma de vencer — Kuzaku ouviu Moyugi murmurar. Ele quase certamente não estava falando apenas que o cavaleiro das trevas mais forte em atividade não conseguia derrotar Jumbo. Mesmo que todos os Rocks, incluindo Moyugi, se juntassem contra Jumbo sozinho, eles não teriam chance.
Se Moyugi havia chegado a essa conclusão, ele provavelmente estava certo. Coincidentemente, pode-se dizer, Kuzaku havia acabado de pensar a mesma coisa, e não discordava em nada.
— Do jeito que vocês estão agora — disse Jumbo em um tom tão calmo quanto antes —, vocês não conseguem nem me fazer ajoelhar. No entanto, ainda têm muito pela frente. O potencial de crescimento de vocês é maior que o meu. Isso porque, enquanto poucos neste vasto mundo são superiores a mim, vocês ainda têm inimigos a enfrentar. Se conseguirem superá-los, ficarão mais fortes ainda.
Ele disse coisas incríveis como se não fosse nada. Jumbo havia declarado que, embora ele talvez não fosse a pessoa mais forte do mundo, dificilmente haveria alguém por aí que pudesse vencê-lo.
De qualquer forma, ele devia estar exagerando. Embora Kuzaku pensasse assim, ao mesmo tempo, se Jumbo não estava no nível máximo, que tipo de criatura ele teria de imaginar acima dele?
Aquela coisa, talvez? O dragão de fogo em Darunggar? Jumbo provavelmente não conseguiria vencer aquilo. Afinal, aquilo cuspia fogo. Era grande demais. Pelo menos, ele não poderia enfrentá-lo sozinho.
Mesmo ele não seria capaz... eu acho.
— Vão. — Jumbo fez um leve gesto com o queixo. — Agora. Se não forem, não haverá amanhã para nenhum de vocês. Não desperdiçarei mais palavras. Vivam, ou morram. A escolha é de vocês.
— Da nossa parte — respondeu Rock imediatamente —, estamos recuando. Arara, me desculpe por não ter realizado seu desejo. Não vou pedir que ignore isso. Eu falhei em cumprir o que prometi fazer. Sou realmente o pior.
Arara abaixou os ombros e curvou a cabeça.
— ...Eu não diria isso.
Porque o Kajita decidiu partir para a violência, eu não sabia como as coisas iam acabar por um momento ali, mas parece que vai ficar tudo bem. Kuzaku soltou um suspiro.
Esse suspiro se sobrepôs ao de Shihoru, então eles se entreolharam e sorriram de forma meio constrangida.
Yume piscou repetidamente e depois balançou a cabeça. Mesmo nessa situação, era uma expressão e um gesto que faziam você querer sorrir. Yume era meio que uma mascote, por assim dizer. Ela tinha algo que não era uma fofura típica de menina, mas era fofa de qualquer forma.
— Estamos indo embora. — Rock começou a andar... Espera, por que ele está indo na direção de Jumbo?
Jumbo gentilmente parou Rock e o virou na direção oposta.
— Tomem cuidado no caminho.
— ...Ah, sim. Foi mal. — Rock coçou a cabeça.
Ah, é. Porque Arnold tinha enfiado os polegares nos olhos dele, Rock não podia enxergar agora.
— ...Estamos indo embora. É por aqui? Esse caminho está certo, né...?
— Rock. — Arara correu até ele e pegou sua mão. — Deixe-me fazer isso por você, pelo menos. Tudo isso foi minha culpa desde o início.
— Hmm. Eu realmente não acho que seja verdade. Por outro lado, estou feliz por poder segurar sua mão.
— Por aqui. — Katsuharu fez sinal para Arara. Jizo pegou casualmente a espada de Rock. Aquele cara não deixava nada passar.
Moyugi estava tentando levantar Kajita.
— ...Você é pesado. No final, acho que não consigo te levantar. Levante-se sozinho, por favor.
— De fato. — Kajita se levantou agilmente.
Ele ainda está em boa forma...
Sakanami torcia o corpo inteiro, fazendo uma dança bizarra.
Assustador...
Pensando bem, Kuro estava sumido. Há quanto tempo ele tinha desaparecido?
Quem liga...
Kuzaku relaxou os joelhos, elevando e abaixando os ombros. Sinceramente, eu realmente não faço ideia do que pensar sobre essas pessoas. Não quero nada com elas.
Ele esperava que fosse a última vez. Só queria reunir todos os seus companheiros rapidamente e sair do Vale dos Mil. Embora, por “todos os seus companheiros”, ele se referisse a cinco pessoas, não seis.
Melhor não pensar nisso. Pensar nisso não vai adiantar. Tente esquecer.
— Vamos — disse Shihoru.
Kuzaku e Yume assentiram, então viraram as costas para Jumbo. À frente deles estavam o enorme orc Godo Agaja e os membros da Forgan. No entanto, eles tinham se afastado para abrir caminho. Kuzaku e os outros estariam indo para o ponto de encontro assim que passassem por ali.
Com base em onde estavam, Kuzaku, Shihoru e Yume teriam que ser os primeiros a atravessar a multidão dos membros da Forgan. Isso o deixava um pouco tenso, mas também sentia urgência em acabar logo com isso.
Kuzaku foi na frente, com Shihoru e Yume lado a lado logo atrás.
O vento era fraco, e a névoa nem densa nem rala.
Quando passou por Godo Agaja, Kuzaku olhou para cima, sem querer.
Ele é enorme. Enorme demais.
Godo Agaja lançou-lhe um olhar, como se dissesse: O quê?
Kuzaku rapidamente olhou para frente novamente e apressou-se em seu caminho.
Ah, merda.
Seu hábito ruim tinha atacado de novo. Não era uma situação em que ele pudesse baixar a guarda, mas teve que pensar em coisas que não precisava.
Concentre-se, concentre-se. Eu preciso focar.
Sinto falta de Altana.
São seiscentos, setecentos quilômetros até lá. É longe... Muito longe.
Será que realmente conseguiremos voltar...?
Vamos lá. Agora não é hora de pensar nisso.
— Espera...!
De repente, uma voz masculina ecoou pela área, e Kuzaku parou no lugar.
Não, talvez eu devesse correr, e não parar. Foi o que ele sentiu, mas não teve coragem de sair correndo.
— Comandante! Jumbo! Não os deixem escapar!
— Kuzaku-kun! — Shihoru chamou seu nome.
Quando ele se virou, viu o homem de um braço só no topo da colina. Takasagi. Será que ele tinha ido a algum lugar e voltado? E o Ranta?
Jumbo se virou para Takasagi.
— O que foi, Takasagi?
— Um deles levou a mulher e fugiu! Eles derrotaram o Ranta!
— O quê? — Kuzaku ficou boquiaberto. — O Haruhiro... matou o Ranta... -kun?
Shihoru engoliu em seco.
— Não... — Yume ficou sem palavras.
— Não vou deixar que digam que foi tudo obra do jovem e que vocês não têm nada a ver com isso — disse Takasagi, desembainhando sua katana com a mão esquerda e apontando-a na direção deles. — Mesmo que o Jumbo esteja disposto a ignorar isso, eu não estou. Não suporto ser feito de bobo.
— Se eles recuarem, não levantarei a mão contra eles — disse Jumbo. — Fiz essa promessa. Pretendo cumpri-la.
— Bem, então faça isso, comandante. Eu farei o que bem entender. Meu trabalho na Forgan é fazer o que precisa ser feito, afinal.
— Esse é você. Faça o que quiser, Takasagi.
— Não preciso que você me diga isso, Jumbo. Gudua! — Takasagi ergueu a katana, gritando em algum idioma desconhecido. Orcish? — Ashuruha, udanzai! Ilda!
— Osh!
— Osh!
— Kiu!
— Kiuem!
— Osh!
— Osh!
Não, não, isso não estava nada bom. Era ruim, muito ruim, incrivelmente ruim.
Kuzaku tentou dizer algo, mas as palavras não saíram.
Vamos embora. Precisamos ir. Temos que ir. Correr é a única opção. Ele balançou o braço para comunicar o que queria dizer enquanto disparava.
Yume começou a correr, levando Shihoru consigo. Eles estavam no meio do caminho, descendo cautelosamente pelo trajeto que Godo Agaja e seus homens haviam aberto para eles. Se tivessem chegado ao outro lado, a situação não seria tão ruim. Eles estavam quase lá. Graças a isso, os orcs e mortos-vivos vinham de ambos os lados. Era um ataque em pinça.
Isso é desesperador. Não há como escapar. Quero dizer, o que é isso? Jumbo. Vai se ferrar, Jumbo. Você disse que, se recuássemos, você e seu pessoal não nos atacariam. E agora? Espera, será que estou enganado? Ele disse só eu, e não nós? Qual era mesmo? Não sei. Sinto que ouvi nós, mas não consigo me lembrar. Que droga.
— Rah...! — Kuzaku usou Bash para afastar um orc que vinha pela esquerda e então o chutou. Ele precisava mandar Yume e Shihoru na frente. Mas, se ele diminuísse o ritmo, os inimigos iriam cercá-lo ainda mais. Tinha que continuar correndo ou as coisas ficariam piores.
Atrás dele, ele ouvia gritos e o som de carne, metal e outras coisas se chocando. Não tinha como olhar para trás, mas provavelmente eram os Typhoon Rocks.
Acabem com eles de verdade, ele pediu silenciosamente. Se não o fizessem, ele estaria em apuros.
Um morto-vivo vinha pelo lado direito, então Kuzaku usou sua lâmina negra para mantê-lo à distância, ao mesmo tempo em que usava seu escudo para executar um Block na espada de um orc que vinha pela esquerda.
Não falta muito, ele pensou. Em mais alguns metros, vamos romper. Estamos quase lá—mas será que vai ser difícil demais? Será que Yume e Shihoru vão ficar bem? Não ouço gritos, então acho que estão. Mas, sinceramente, não sei. Não tenho controle da situação. Não há como ter.
Orcs surgiram na sua frente.
Não apenas um, mas dois.
Ah. Isso... isso vai acabar comigo.
Se fosse apenas um, ele poderia ter uma chance. Talvez fosse possível abrir um caminho se ignorasse a própria segurança, mas com dois, até mesmo isso seria difícil. Afinal, os orcs da Forgan eram habilidosos.
Não, não desanime. Não tenho escolha a não ser tentar. Mesmo que eu tente reunir coragem, não consigo. Eu sou um desastre!
— Nãããããoooooo.
Então, uma voz assustadora ecoou, e um dos orcs caiu para trás. Naturalmente, ele não tinha caído por conta própria devido a alguma condição pré-existente. O orc foi derrubado. Pela demônio Moira, que parecia uma mulher de cabelos longos, mas era claramente uma criatura não-humana, carregando uma arma assustadora com lâminas parecidas com uma tesoura.
— Nãããããoooooo. Nãããããoooooo. Nãããããoooooo.
Moira envolveu suas pernas ao redor do torso do orc, segurou seu pescoço com um braço e o esfaqueou sem piedade com sua lâmina em formato de tesoura. Isso pareceu assustar o outro orc.
É, eu sei, pensou Kuzaku. Isso é sinistro. Moira-san não brinca. É uma sorte Moira-san ser tão assustadora. Isso realmente nos salvou. Valeu, Moira-san.
— Zahh! — Kuzaku desceu sua lâmina negra diagonalmente contra o outro orc.
A verdade é que continuar se defendendo com seu escudo enquanto o usava não era a única diferença em Punishment. Ao contrário do Rage Blow do guerreiro, como ele mantinha parte da sua atenção na defesa e não golpeava com toda a força possível, era mais fácil encadear o ataque seguinte.
Seu primeiro golpe com Punishment apenas deixou uma marca no ombro do orc, mas o Bash que veio logo em seguida acertou o rosto dele. Kuzaku desferiu um Thrust na base do pescoço do orc, seguido de outro Bash, fechando ainda mais a distância. Quando apoiou o pé no joelho do orc e o empurrou, conseguiu desequilibrá-lo completamente.
Kuzaku usou toda a sua força para dar uma cotovelada no orc e derrubá-lo. Então, em vez de avançar, ele tomou a decisão deliberada de parar onde estava.
— Yume-san, Shihoru-san! Sigam em frente!
— Miiiau!
— Certo! — chamou Shihoru.
Em momentos como esse, Shihoru-san sempre diz “Certo”. Sempre gostei disso, de certa forma.
Yume e Shihoru passaram correndo por Kuzaku. Kuzaku usou Block contra a espada do orc que os perseguia, depois o empurrou com um golpe de Thrust, e finalmente usou Bash para repelir a espada curva de outro morto-vivo que se aproximava.
Será que estou com a cintura muito alta? Sim, estou. Abaixe. Não force demais. Faça balanços amplos com a espada, mas use o escudo com mais firmeza.
Assim.
Essa é a sensação.
Não importa quantos inimigos viessem, não importa quantos o atacassem, ele não tinha medo. Podia ver claramente e bloquear. Atacava apenas para fins defensivos. E, para convencer os inimigos de que não apenas se defenderia, mas que também poderia atacar. Porém, no fim, tudo era defesa.
Defender elas.
Defender elas.
Defender elas.
Defender.
Eu vou defender elas.
Eu consigo defender.
Moira saltava ao redor, sem acabar com os inimigos um a um, mas usando seus movimentos bizarros e assustadores e sua lâmina em forma de tesoura para desestabilizá-los.
E os Rocks? Kuzaku tinha conseguido ver Kajita brandindo sua imensa espada em forma de cogumelo e lutando contra Godo Agaja. Não tinha certeza sobre o restante, mas conhecendo eles, não cairiam facilmente. Mesmo que caíssem, ele não se importava.
O importante eram seus companheiros. Shihoru. Yume. Haruhiro. Mary.
Ranta.
Será que Haruhiro o matou?
— Gaaaagh...! — Kuzaku usou seu escudo para repelir dois orcs de uma vez, então se virou e correu para o outro lado.
Agora posso ir, ou melhor, preciso ir, pensou ele.
Não conseguia ver Yume e Shihoru. A névoa havia se tornado ainda mais espessa em algum momento. Eles poderiam acabar se separando, mas provavelmente as duas ficariam bem. Isso era o mais importante.
Kuzaku correu em velocidade máxima.
— Ahh...!
De repente, ele parou de enxergar qualquer coisa.
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