Hai to Gensou no Grimgar | Grimgar of Fantasy and Ash Volume 08
Capítulo 11
[No Coração da Noite]
...Eu preciso entender tudo isso, pensou Haruhiro.
Moyugi indicou que era hora de se moverem.
Rock, com Gettsu, o Mirumi, em seu ombro, e o resto de seu grupo seguiram na direção apontada por Moyugi. Isso incluía Nigi Arara, a filha mais velha da Casa de Nigi, Haruhiro e Yume.
Não demorou muito até que percebessem algo fora do comum. Parecia que Forgan estava em combate com alguém. O inimigo de seu inimigo não era necessariamente seu amigo, mas o objetivo de Arara e dos Rocks era vingança, e o alvo deles era Arnold, da Forgan. Se Arnold estivesse entre os inimigos, talvez pudessem pegá-lo de surpresa.
Para Haruhiro e Yume, o motivo era diferente. E se fossem Ranta e os outros que Forgan estava atacando? Parecia uma possibilidade bem real. Se fosse o caso, eles tinham que ajudar.
Haruhiro seguiu à frente do grupo com seu colega ladrão, Sakanami, assim como Kuro, o ex-caçador.
Sakanami foi o primeiro a ser notado pelos nyaas. Ou melhor, por algum motivo inexplicável, Sakanami encontrou um nyaa e tentou pegá-lo, fazendo com que os nyaas os encontrassem e levantassem o alarme.
Mesmo assim, enquanto Sakanami continuava com suas estranhas travessuras, Kuro e Haruhiro conseguiram se aproximar do inimigo.
Parecia que três humanos estavam cercados por lobos e orcs. Um deles era desconhecido, mas Haruhiro conhecia os outros dois. Eram Shihoru e Kuzaku. Eles estavam bem. Graças a Deus.
Mas por que só os dois? Onde estavam os outros?
Metade dessa pergunta foi respondida um momento depois. Não, talvez “respondida” não fosse a palavra certa.
Havia humanos com o inimigo. Dois, para ser exato. E um deles era Ranta.
Quanto ao que aconteceu a partir desse ponto, sinceramente, foi um borrão. Haruhiro não conseguia organizar os eventos em sua mente.
Ele se lembrava de Rock e os outros atacando Forgan e de sentir alívio ao perceber que, pelo menos por agora, Shihoru e Kuzaku estavam bem.
Shihoru e Kuzaku gritavam algo para Ranta. Haruhiro correu atrás de Ranta. Ele pulou sobre ele, segurando-o. Disse algo como: O que você está fazendo, cara?, ou Em que você está pensando?, ou Estamos voltando pra casa.
E também: Mary, o que aconteceu com a Mary?
O homem de um braço só avançou com uma katana. Se Haruhiro não saísse do caminho, sentia que tanto ele quanto Ranta seriam cortados ao meio. Esse homem provavelmente estava falando sério. Ele precisava sair dali.
Lembrava-se exatamente do que Ranta disse ao partir: — Aquela mulher é minha! Se quiser ela de volta, tente roubá-la de mim!
Sério, o que era aquilo? O que significava...?
“Aquela mulher” só podia ser Mary. Não havia dúvida.
Ela é minha? Tente roubá-la de mim? O que aquele cara estava dizendo? Ele era um idiota? Haruhiro já sabia disso. Mas nunca pensou que ele fosse esse tipo de idiota. Nunca pensou que o idiota trataria Mary como se fosse sua propriedade ou que se tornaria um traidor.
Haruhiro não tinha certeza se era apropriado chamar o que Ranta havia feito de traição nessa situação, mas ele os havia apunhalado pelas costas. Era assim que ele se sentia. Ranta tinha apunhalado Haruhiro e o resto pelas costas.
Graças a Ranta, mesmo tendo conseguido reencontrar Shihoru e Kuzaku, Haruhiro não conseguia se sentir feliz com isso, por mais que tentasse. Mesmo ao saber que o homem com eles era o tio de Arara, tudo o que ele conseguiu dizer foi um “Oh”.
Moyugi parecia ter algum tipo de plano, então os Rocks, Arara e seu tio disseram que iriam para a vila oculta. A ideia de se separar deles nem passou pela mente de Haruhiro. Assim, eles foram junto.
Após passarem por uma série de armadilhas, fortificações, fossos e mais, deram uma senha ao guarda para entrar. Quando chegaram na vila, cerca de dez homens e mulheres armados com katanas apareceram e levaram Arara para algum lugar. Rock parecia querer reclamar, mas Arara o impediu.
De acordo com Arara e seu tio Katsuharu, ela provavelmente iria encontrar-se com seus pais. Bem, “encontrar-se” talvez não fosse a palavra certa; seria mais como ser arrastada até eles, mas, bom, ela era a herdeira de uma casa importante. Provavelmente havia muita coisa em jogo.
Os Rocks, Haruhiro e os outros foram levados ao abrigo de Katsuharu na borda da vila. Foi gentil da parte dele mostrar o caminho, mas o “abrigo” de Katsuharu era apenas uma cabana sem chão. Só havia espaço para cinco, talvez seis pessoas, no máximo. Nesse caso, parecia apropriado deixar os veteranos ficarem, e, além disso, Haruhiro não queria entrar ali de qualquer maneira, então ele e os outros três decidiram esperar do lado de fora. Eles já estavam acostumados a aguentar as adversidades desde o tempo em Darunggar.
Não parecia ser a hora de relaxar e dormir, mas eles não podiam ir a lugar algum até o amanhecer. Além disso, mesmo que pudessem, ele não fazia ideia de onde deveriam ir.
Katsuharu disse que poderiam usar sua lenha, então Haruhiro pediu para Yume acender uma fogueira. Fogueiras eram boas. Quando os quatro se sentavam ao redor de uma fogueira assim, parecia que ele conseguia manter sua sanidade de alguma forma.
À direita de Haruhiro, Yume e Shihoru estavam sentadas ombro a ombro. Ambas pareciam completamente exaustas. Kuzaku, à sua esquerda, estava ajoelhado formalmente por algum motivo, pressionando os joelhos com as duas mãos.
— Kuzaku — começou Haruhiro.
— Shish
— ...O que é “Shish”?
— De-Desculpa.
— ...Você tá chorando?
— Não tô chorando — Kuzaku disse defensivamente. — Como se eu fosse chorar. Chorar não vai adiantar nada.
— Bem, não, não vai.
— O que foi? — perguntou Kuzaku.
— Ah, eu só estava me perguntando por que você tá ajoelhado assim.
— ...Eu meio que só senti vontade.
— Certo, então.
É, isso não estava nada bom.
Isso não tá bom, pensou Haruhiro. Se eu relaxo, minha mente fica em branco. Eu preciso pensar, mas nada vem à cabeça. Além disso, pensar? Sobre o quê? Ranta nos apunhalou pelas costas. Não sabemos se a Mary está bem ou não. Não, Ranta disse que ela era dele. Isso quer dizer que ela ainda está viva. Quero pensar assim. Acho que podemos presumir que ela está viva, né?
Deixando de lado a questão de se ela está bem ou não, Mary não foi morta. Nesse caso, independente do que Ranta disse, eles precisavam trazê-la de volta. Precisavam salvá-la.
Ranta parecia ter se juntado a Forgan. Mary devia ter sido capturada por eles. Esperançosamente, ela não estava sendo maltratada.
...Ou será que estava? Era difícil ser otimista. Havia aquele humano, Takasagi, com eles por algum motivo, mas o líder deles era um orc chamado Jumbo.
Eles eram um grupo independente, multirracial, composto principalmente de orcs e mortos-vivos. Nem era preciso dizer que orcs e mortos-vivos eram inimigos da humanidade. Apesar disso, Takasagi e Ranta estavam trabalhando com eles.
Haruhiro não conseguia entender o que se passava, mas era difícil imaginar que estivessem tratando Mary com o devido respeito. Pelo contrário, parecia que não seria difícil começarem a tratá-la com brutalidade. Isso era só um preconceito de Haruhiro? Realmente, ele esperava que sim. Talvez eles fossem um grupo surpreendentemente cavalheiresco e inesperadamente bom, que não machucaria Mary nem faria nada inadequado com ela. Se não fossem, aí sim teriam um problema.
— Você acha que ela vai ficar bem? — Yume disse de repente. — Mary-chan.
— Sim... — Shihoru esfregou as costas e os ombros de Yume, provavelmente tentando confortá-la, mas ela mesma estava chorando. — Eu acredito que sim...
— Aaaarrghhhhh! — Kuzaku socou o chão. — Rantaaa! Aquele desgraçado, ele tá tirando com a nossa cara, maldito! Nunca pensei que ele fosse do tipo!
É, isso. No fim das contas, é disso que se trata, né?
Não é como se Haruhiro tivesse certeza de que ele não fosse capaz, e não tinha provas suficientes para dizer o contrário, mas ele não estava pronto para decidir com certeza que Ranta havia traído a party ainda. Mesmo que ele os tivesse apunhalado pelas costas, podia ser que tivesse sido colocado em uma posição onde não teve outra escolha.
Mary, pensou Haruhiro. Estou preocupado com a Mary. Claro que estou preocupado por ela, mas tem algo que me incomoda sobre a forma como Ranta falou sobre ela.
Primeiro, a maneira como ele disse: “Aquela mulher é minha.” Levado ao pé da letra, foi uma declaração de que Mary era dele. Era difícil imaginar que o sentimento fosse mútuo. Ranta estava unilateralmente declarando que Mary era sua mulher.
Por que Ranta diria isso sobre Mary? Claro, Mary era bonita e sabia ser gentil, então não seria tão estranho se Ranta secretamente tivesse sentimentos por ela. Mas ele nunca mostrou sinal disso. Na verdade, na visão de Haruhiro, Mary nem era o tipo de Ranta. Indo um pouco além, ele provavelmente estava mais interessado em Yume. Na verdade, Haruhiro suspeitava que Ranta gostava mesmo de Yume.
Ranta era alguém que fala, mas não faz. Ele sempre falava que queria uma mulher, ou que queria fazer isso ou aquilo, mas nunca tomava uma atitude direta.
Uma frase como “Aquela mulher é minha” simplesmente não combinava com Ranta. Além disso, ele disse: “Se quiser ela de volta, tente roubá-la de mim!” Isso também parecia estranho. Por que Ranta fez questão de dizer aquilo? Para provocar Haruhiro? Bem, não seria incomum para ele fazer isso, mas havia algo estranho nisso tudo.
O que tinha sido estranho, e de que forma? Pensar. Ele precisava pensar.
— Ranta disse que Mary era dele — Haruhiro disse devagar. — E também disse que, se quisermos ela de volta, “tente roubá-la”. Antes disso, perguntei a ele: “O que aconteceu com a Mary?” Essa foi a resposta dele. — Haruhiro mordeu levemente o lábio. — Primeiro, podemos tirar uma conclusão. Mary está viva. Se não estivesse, ele não poderia tê-la para si. Eu também não poderia roubá-la dele.
— Ranta-kun... — Shihoru se forçou a falar. — ...estava tentando nos dizer isso?
— Não sei. — Haruhiro balançou a cabeça. — Não consigo te dizer com certeza. Mas talvez. Em termos de possibilidades, acho que, de forma geral, temos duas. Ou Ranta nos apunhalou pelas costas, ou, por algum motivo, ele está fingindo que fez isso. De qualquer forma, naquela situação, ele não poderia simplesmente dizer que Mary estava bem e que não precisávamos nos preocupar. Afinal, Ranta estava do outro lado. Mas, ainda assim, essa parte de “se quiser ela de volta, tente roubá-la” é um pouco estranha. Quero dizer, ele precisava mesmo fazer questão de dizer isso? Se fosse “Ela é minha agora, desista”, eu entenderia. Mas “tente roubá-la”... Talvez ele esteja nos dizendo para irmos pegá-la. Talvez isso signifique que Mary está onde ele está, e ele quer que a salvemos. Essa é apenas uma possibilidade, mas...
— Escuta. — Yume se apoiou em Shihoru. — Yume, ela sempre achou que Ranta era um idiota sem esperança, e ainda pensa assim, mas ele trair a Yume e todo mundo, fazer uma coisa dessas, isso simplesmente não combina com o Ranta, né?
— Não sei, viu... — Kuzaku pressionava os joelhos. — No mínimo, ele estava sério ali. Ele veio pra cima de mim com intenção de matar. Se Haruhiro e os outros não tivessem aparecido, acho que teria ficado feio pra gente. Eles estavam por perto, então fomos salvos, e deu tudo certo, mas se não tivessem, Ranta, aquele desgraçado, acho que teria matado tanto eu quanto a Shihoru.
— Bem... — Haruhiro coçou a nuca. — Ele consegue se empolgar demais, sabe...
— Eu não quero morrer porque ele se empolgou demais no papel — disse Kuzaku. — Entendeu?
— Sim...
— ...Hum. — Shihoru levantou a mão.
Haruhiro não achava que ela precisava levantar a mão e pedir permissão para falar, mas ele disse: — Pode falar.
Shihoru assentiu e limpou a garganta um pouco.
— Se pensar sobre isso não está nos dando respostas, acho que deveríamos voltar a esse assunto mais tarde. No fim das contas, Ranta-kun é o único que sabe quais são suas verdadeiras intenções. Antes disso, o que devemos fazer a partir de agora? Qual deve ser a nossa prioridade? Acho que essas são as questões mais importantes.
— Nesse caso, tem que ser a Mary-chan, não acha? — disse Yume.
— ...Concordo — disse Kuzaku.
— É. — Haruhiro suspirou e olhou para Shihoru.
Quando ela sorriu levemente, Shihoru parecia incrivelmente confiável. Sem talento e imaturo como ele era, Haruhiro precisava pensar, pensar e pensar até que conseguissem superar isso, mas não havia necessidade de ele ser o único a quebrar a cabeça. Era permitido se apoiar na sabedoria dos seus companheiros de vez em quando.
Além disso, se ele estava ciente de que era sem talento e imaturo, deveria confiar nos seus companheiros onde fosse capaz. Se ele conseguisse fazer tudo sozinho, não seria sem talento nem imaturo.
Então, que sentido havia em se encurralar, pensando: Eu tenho que fazer isso sozinho, tenho que fazer isso sozinho, quando ele não conseguia fazer nada? Isso só servia para satisfazer a si mesmo.
Shihoru era tímida, mas isso também a tornava cautelosa, e significava que observava o ambiente com cuidado e pensava profundamente sobre ele. Seus poderes de observação e análise eram superiores aos de Haruhiro. Haruhiro precisava confiar mais em Shihoru.
— Salvar a Mary — concordou Haruhiro. — Essa é a nossa prioridade. Por enquanto, Ranta vem em segundo lugar. Mary provavelmente foi capturada pela Forgan. Não é realista pensarmos em fazer algo a respeito deles sozinhos. Se quisermos que os Rocks nos ajudem, já que eles estão atrás do Arnold da Forgan, vamos precisar ajudá-los também.
A testa de Shihoru se franziu de preocupação, e ela abaixou o olhar, mas ao notar o olhar de Haruhiro sobre ela, ela assentiu levemente.
— Acho que essa é a nossa única opção. Se conseguirmos que os Rocks ataquem a Forgan... então resgatamos a Mary enquanto eles fazem isso...
— Quer usar os Rocks como distração, é isso? — perguntou Kuzaku.
— Kuzaku. — Haruhiro abaixou a voz. — Você tá sendo muito direto...
— Ah. Verdade. — Kuzaku olhou rapidamente para o abrigo. — Mas, basicamente, é isso, né?
— Não, quero dizer, não podemos fazer isso — disse Haruhiro. — Os Rocks são companheiros do Day Breakers. Se vamos pedir a ajuda deles, seremos francos, abaixaremos a cabeça para eles devidamente e pediremos. Naturalmente, também vamos agradecê-los.
— O que será que tá acontecendo com a Araran? — Yume olhou na direção para onde Arara foi levada.
— Eles pareciam intimidadores. — Shihoru tocou os lábios.
Era isso mesmo. Se Arara fosse punida por se envolver numa briga egoísta com a Forgan e acabasse presa, o que aconteceria com a vingança dela? Se esse plano fosse suspenso, isso seria um problema.
Mesmo assim, não havia nada que Haruhiro e sua party pudessem fazer sobre isso. Por enquanto, teriam que refletir enquanto observavam o desenrolar dos acontecimentos.
E então, o estômago de alguém roncou alto.
— Uou! — Os olhos de Yume se arregalaram, e ela segurou a barriga. — Que surpresa. Nunca pensei que ele pudesse roncar tão alto. Será que algum tipo de criatura tá vivendo aí dentro?
— ...Ahh. — Kuzaku abaixou a cabeça. — Cara, tô com fome. E cansado.
— Isso mostra que você ainda está vivo... — murmurou Shihoru. Ela também parecia estar passando por um momento difícil.
Haruhiro olhou para o céu e suspirou. Ranta. Será que eu posso confiar em você? Sua cara desprezível é a única coisa que me vem à mente. Talvez eu não devesse confiar em você, afinal...?
De qualquer forma, ele precisava fazer algo sobre a questão da comida.
Quando Haruhiro ia se levantar, Katsuharu saiu de seu abrigo. Ele carregava algo parecido com uma peneira cheia.
— Vocês devem estar com fome. Não tenho muito a oferecer, vivendo numa cabana como essa, mas comam um pouco disso.
Kuzaku juntou as mãos e olhou para o homem.
— Obrigado!
Haruhiro e Shihoru trocaram olhares. Será que estava tudo bem? Teria que estar. Afinal, dizem que não se pode lutar de estômago vazio.
A comida que Katsuharu trouxe incluía um tipo de bolo pegajoso feito com batatas ou algum outro vegetal, algum tipo de carne seca e um bolinho agridoce. Todos eram desconhecidos para eles, mas nenhum era ruim. Ninguém chamaria aquilo de iguaria, mas parecia ser nutritivo o suficiente. Katsuharu até foi buscar um balde de água para eles. Ele era um homem extremamente atencioso. Além disso, ele se agachou ali perto, sorrindo e parecendo gostar de ver Haruhiro e os outros comerem.
— ...Ah, obrigado — disse Haruhiro, meio sem jeito.
— Tudo bem, tudo bem.
— Hum... E sobre a Arara-san? O que acha que vai acontecer com ela?
— Bem, isso não cabe a mim decidir.
— Mas se você é tio dela– — começou Haruhiro.
— Para um mero andarilho como eu, tanto faz para o vilarejo se estou aqui ou não. Queria impedir minha sobrinha antes que ela agisse, mas fui tarde demais. Agora que ela agiu, está fora das minhas mãos.
— Isso é terrível...
— Bem, meu irmão mais velho, um dos chefes da Casa Nigi, não é o tipo de pessoa sem coração que obrigaria a própria filha a cometer seppuku porque não consegue controlá-la. Enquanto ela estiver viva, pode fazer qualquer coisa. Não é?
— ...Será? — Haruhiro perguntou.
— Por sorte, como andarilho, posso abandonar este vilarejo a qualquer momento — acrescentou Katsuharu.
Ah, então era isso.
Esse cara provavelmente já tinha tomado sua decisão. Aconteça o que acontecer, ele salvará a sobrinha e a apoiará. Por isso ele consegue agir tão relaxado.
— Aqueles caras. — Katsuharu fez um gesto com o queixo na direção do abrigo. Ele devia estar se referindo aos Rocks. — Eles disseram que vão se mover ao amanhecer. Se vocês pretendem segui-los, tentem dormir um pouco.
— Certo.
— Ai, minhas costas doem. — Katsuharu se levantou e esfregou a parte inferior das costas. — Ter que se preocupar com a casa e tudo mais deve ser um grande incômodo. Mesmo que todos nós nasçamos, encontremos pessoas, nos separemos, rimos, choremos e morramos do mesmo jeito, não consigo deixar de sentir pena do meu irmão e de sua esposa. Não que eles quisessem ouvir isso de um homem insignificante como eu.
Yume já estava roncando baixinho, tendo adormecido ainda sentada, usando o ombro de Shihoru como travesseiro. Shihoru parecia bastante cansada também. Quando Haruhiro deitou Yume de lado, Shihoru deitou-se ao lado dela.
— ...Obrigada, Haruhiro-kun — disse Shihoru sonolenta.
— Não, eu que agradeço — respondeu Haruhiro.
— Tenho certeza... de que ela vai ficar bem.
— É.
Kuzaku encolheu seu grande corpo em posição fetal, fechando bem os olhos e tentando ao máximo adormecer. Sem dúvida, ele estava preocupado com Mary, o que o impedia de dormir.
Em seu coração, Haruhiro sussurrou: Eu sei como é esse sentimento. Porque eu sinto o mesmo.
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