Dare ga Yuusha wo koroshita ka | Who Killed the Hero Volume 02
Interlúdio 3
[Efsei]
Após a Batalha de Malica, eu não tinha mais desejo de continuar como aventureiro.
A ideia de me juntar a outros me era insuportável. Qualquer pessoa que não participou daquela batalha parecia uma farsa para mim.
Ainda assim, eu precisava ganhar dinheiro para sobreviver. Então, procurei trabalhos que pudesse fazer sozinho, ganhando um salário diário ao concluir essas tarefas.
Graças à vitória do lado humano em Malica, as coisas ficaram pacíficas por um tempo.
Mas, após cinco anos, o exército do Rei Demônio começou a se mover novamente.
Apesar de todos aqueles sacrifícios, a paz durou apenas cinco anos.
Mas isso não tinha nada a ver comigo. Eu pensava que já tinha lutado o bastante naquela época.
Foi por volta desse tempo que ouvi rumores sobre Leonard.
Um aventureiro que se gabava de ter sobrevivido a Malica e que só aceitava trabalhos bem pagos.
Além disso, ele fazia qualquer coisa pelo preço certo. Eu não podia acreditar que existia alguém que sobreviveu àquela batalha e agora lucrava como aventureiro.
Eu o vi uma vez de relance em uma taberna onde os aventureiros se reuniam. Ele tinha mais ou menos a minha idade, com um sorriso superficial estampado no rosto.
Que cara desagradável.
Essa foi minha primeira impressão de Leonard.
Ele não parecia alguém que passou pela mesma experiência que eu.
Como ele ousa viver tão descaradamente? Como pode sorrir? Será que se esqueceu do que aconteceu naquela época?
E então percebi: ahh, eu não consigo me perdoar.
Por ter sobrevivido à Batalha de Malica.
A situação piorava a cada dia. O exército do Rei Demônio começou a invadir novamente, e o lado humano continuava perdendo.
Mas isso não significava que eu faria algo a respeito. Para mim, o mundo tinha acabado na Batalha de Malica. Eu já estava praticamente morto.
Fechei os olhos para o destino do mundo, apenas manejando minha lança. Ganhando silenciosamente meu salário diário. Era só isso.
Até que alguém se aproximou de mim.
Era Leonard.
Ele me chamou por trás enquanto eu estava prestes a entrar em casa.
— Ei, ouvi falar de você. Você é um sobrevivente de Malica, certo? Que tal formar uma equipe comigo?
Eu sabia que ele não costumava se fixar com aventureiros específicos. Ele era famoso por trocar de parceiros dependendo do trabalho e ficar com a maior parte da recompensa para si.
— Tente com outra pessoa. Não gosto de você.
Claro, eu não tinha motivo algum para ser simpático com Leonard.
— Que pena, porque eu gosto de você. Vamos lá, não quer formar uma equipe comigo?
Achei que ele xingaria e iria embora se eu o rejeitasse de forma rude, mas a resposta de Leonard foi inesperada. Sua expressão habitual e superficial continuava, mas seus olhos estavam sérios.
— Ouvi falar de você. Você troca de parceiros dependendo do trabalho, certo? Há muitos outros usuários de lança por aí. Por que tem que ser eu?
— Ephsei, não estou te convidando para uma parceria barata de uma noite. Quero que seja meu camarada. Se for assim, sem traições. Juro por Deus.
Leonard se aproximou como se estivesse tentando seduzir uma mulher.
Dei um passo para trás, tentando lembrar se ele tinha esse tipo de preferência.
— Não é um mau negócio, sabe? Minhas outras duas companheiras são mulheres. E são lindas de parar o trânsito. Uma chance dessas só aparece uma vez na vida. E então?
Ele soava como um cafetão vulgar de um distrito da luz vermelha. Não parecia que ele estava me convidando para ser seu camarada.
Seu convite insistente me encurralou contra a porta. Nunca tinha passado por uma situação tão embaraçosa.
Foi então que um cajado veio balançando em direção à cabeça de Leonard, acertando-o por trás.
— Ai!
Enquanto Leonard segurava a cabeça de dor, vi duas mulheres paradas atrás dele.
— Fui uma tola por deixar isso para você.
A que falou com um tom exasperado era a mulher de óculos que havia acertado Leonard com seu cajado. Provavelmente uma maga, ela era uma bela mulher de longos cabelos escuros com um toque de roxo.
— Usar a gente como isca para recrutamento não é nada admirável.
A outra era uma mulher de cabelos ruivos cortados na altura dos ombros. Vestida com trajes de sacerdotisa, parecia simples à primeira vista, mas ao observar melhor, suas feições eram refinadas, passando uma impressão modesta.
Essas duas deviam ser as companheiras de Leonard de quem ele falava. Se fosse assim, o que ele disse não era totalmente mentira.
— Gostaria de conversar um pouco?
Disse a mulher de óculos.
— Todos nós somos sobreviventes da Batalha de Malica. Não seria tão ruim relembrar os velhos tempos, seria?
Não havia como eu recusar tal convite de uma bela mulher.
Deixei os três entrarem em minha casa. Leonard era desnecessário, mas não tive escolha.
— Então, sobre que tipo de velhas histórias vamos conversar?
Perguntei à mulher de óculos, que se apresentou como Sophia, ignorando Leonard. A mulher de cabelos ruivos era aparentemente chamada Nina. Agora que penso nisso, lembro-me de ter visto jovens mulheres dessa idade—uma maga e uma sacerdotisa—entre o exército voluntário durante a Batalha de Malica.
Ofereci cadeiras para Sophia e Nina, com a intenção de deixar Leonard de pé, mas ele já havia se sentado.
— Apenas nossas histórias de vida. É como um pequeno ritual. Todo mundo que passou por aquela batalha carrega algo consigo. Compartilhando com os outros, aliviamos nossos corações. Podemos decidir se seremos camaradas ou não depois disso.
Sophia parecia ter uma personalidade direta, embora falasse com um certo ar de superioridade.
— Quer que eu fale sobre o meu passado para pessoas que acabei de conhecer?
Senti uma certa relutância, mesmo que fossem mulheres lindas.
— Entendo. Que tal começarmos então?
Dizendo isso, Sophia começou a falar sobre sua criação. Ela era surpreendentemente boa em contar histórias, como se estivesse acostumada com isso. Nina foi a próxima a falar, com um tom solene, condizente com uma sacerdotisa.
Apesar de suas origens diferentes, parecia que, após sobreviverem à Batalha de Malica, elas tinham levado vidas parecidas.
Elas também haviam se afastado da realidade devido à culpa de terem sobrevivido; assim como eu.
Depois que as duas terminaram de falar, olhei para Leonard, mas ele deu de ombros e fez sinal para que eu fosse primeiro. Isso me irritou um pouco, mas não ficaria bem se eu não falasse após as duas mulheres compartilharem suas histórias. Relutante, comecei a contar minha própria história de vida.
— Meu velho era um mercenário. Ele era habilidoso com a lança, e desde criança eu brincava de manejar lanças. Então, minhas escolhas se resumiam a me tornar mercenário ou aventureiro, e escolhi ser aventureiro. Meu pai dizia: “Ser aventureiro é melhor do que ser mercenário”. Detesto admitir, mas eu era bem habilidoso para a minha idade. Tinha mais experiência que os outros. Então, entrei para um grupo que me tratava bem e levava uma vida relativamente bem-sucedida. Assim como vocês duas.
Voltei meu olhar para Sophia e Nina, e ambas assentiram levemente.
— Assim como vocês, tive uma experiência difícil na Batalha de Malica. Todos os meus companheiros familiares morreram lá. Não tem jeito. Quem não tem habilidade morre. É assim que é para os aventureiros. Mas eu não conseguia suportar perder sempre. Então decidi mirar no comandante do exército do Rei Demônio.
Sophia e Nina arregalaram os olhos, uma boa reação. Valeu a pena contar essa história.
— Encontrei-o rapidamente. Entre os demônios agrupados, havia um demônio preto excepcionalmente grande. Sua aura era diferente; ele exalava perigo. Fui me esgueirando, tentando evitar lutas o máximo possível, e, de alguma forma, consegui chegar atrás dele para cravar minha lança no pescoço daquele demônio preto. O fato de eu ter conseguido chegar até suas costas não foi porque eu era habilidoso, mas sim porque um guerreiro estava lutando contra os demônios de forma chamativa: Luke, o guerreiro humano mais forte de quem vocês falaram em sua história. Ele avançou direto contra o demônio preto. Parecia imprudente. Impossível. Mas, graças a isso, a atenção do inimigo estava em Luke, e eu consegui chegar por trás do demônio.
Antes que percebesse, Leonard havia perdido a expressão despreocupada e ouvia atentamente minha história, com o rosto tenso.
— Pulei. Muito mais alto que o demônio preto. Achei que o tinha. Minha lança estava apontada para o pescoço dele. Mas a lança foi desviada facilmente pelo braço do demônio. Como se afastasse um inseto, com um toque leve. Enquanto eu rolava no chão, ele disse para mim: “Você acertou ao me mirar. Só te faltou poder”. Era uma diferença de classe. Como esperado de um comandante do exército do Rei Demônio.
Ainda hoje, pensar nisso me dá arrepios. Enfrentá-lo de frente não parecia algo que humanos pudessem derrotar.
— E então?
Sophia me incentivou a continuar. Ela parecia ansiosa para ouvir o restante.
— Eu soltei a melhor bravata que pude. “Pelo menos diga seu nome”, eu disse. Ele me respondeu gentilmente: “É Belzera”. Ele pode até ser um cara legal. — Eu disse isso em tom de brincadeira, mas ninguém riu.
— Esse demônio simpático, com uma aura negra agarrada à sua grande espada, a desceu contra mim. Honestamente, achei que estava morto. Nem conseguia manter os olhos abertos. Mas, na minha frente, que já havia desistido, estava um guerreiro. Era Luke. Ele havia passado por aqueles inimigos até Belzera. Eu não conseguia acreditar.
Aquela imagem de suas costas é algo que jamais esquecerei. Para mim, não pode haver outro herói além dele. Não importa o que digam.
— Luke bloqueou a grande espada do demônio com a sua própria e me disse: “Deixe o resto comigo. Você só precisa fugir daqui”. Realmente, havia menos monstros atrás. Mas eu também tenho meu orgulho. Achei que poderia ajudar Luke. Pelo menos, no começo.
Balancei a cabeça.
— Mas era impossível. A batalha entre Luke e Belzera era tão feroz que eu não tinha poder para intervir. E não era só eu. Nem os outros demônios conseguiam se aproximar. No começo, a luta estava equilibrada, mas, aos poucos, Luke começou a ser pressionado. Claro. Luke havia lutado batalhas intensas repetidamente até finalmente alcançar Belzera. Ele quase não tinha forças sobrando. Mas Luke gritou sem nem olhar para mim. “O que está fazendo?! Vá logo! Não morra à toa!” Então eu corri. Eu não tinha utilidade alguma. Pelo menos queria evitar ser um empecilho. Belzera disse: “Está se tornando um escudo para permitir que um humano desse nível escape? Quem está morrendo à toa é você”. Eu estava frustrado além das palavras.
Parei para recuperar o fôlego, mas ninguém disse nada.
— Depois disso, ouvi o grito de Luke: “Não subestime os humanos, demônio!” Quando olhei para trás, as sombras de Belzera e Luke se sobrepunham. Eles cortavam um ao ombro do outro. Mas a espada de Luke apenas arranhou o ombro de Belzera, enquanto a espada de Belzera alcançou o peito de Luke. Eu corri. E nunca olhei para trás.
Soltei um suspiro profundo. Era uma lembrança patética e amarga.
— Esse é o fim da história. Eu sobrevivi, mas foi mais como se eu tivesse sido autorizado a escapar. Não foi porque eu tivesse alguma força.
Um silêncio pesado caiu sobre o lugar. Mas, como Sophia havia dito, senti como se algo que estava preso dentro de mim tivesse ido embora. Não me senti tão mal.
Depois de um tempo, voltei-me para Leonard.
— Fale você também, Leonard. Honestamente, eu não lembro de você no exército de voluntários, mas você lutou no mesmo campo de batalha, certo?
— Eu não lutei.
Leonard respondeu com uma expressão séria.
— O quê? Eu ouvi dizer que você voltou vivo de Malica?
Achei que ele era diferente, o homem que voltou de Malica, e até era conhecido entre os aventureiros.
— Não é mentira. Eu voltei de Malica. Antes da batalha começar. Fugi sem lutar, porque fiquei com medo.
De repente, senti uma raiva crescente. Esse cara estava mentindo. Como se ele conhecesse aquele campo de batalha, como se fosse um aventureiro experiente.
Sophia e Nina também pareciam surpresas, sem saber disso.
— Não me venha com essa! Quem se uniria a um desgraçado como você?! Sem vergonha!
Levantei-me da cadeira e tentei empurrar Leonard, mas minha mão foi segurada.
— Eu sei. Sou um desgraçado e sem vergonha. Então, Ephsei. E você? O que está fazendo agora? Por que está aqui?
— O quê...!?
Tentei soltar meu braço da mão de Leonard, que me segurava, mas fui imobilizado com uma força firme.
— Você disse que foi autorizado a escapar, certo? É só isso? Para que Luke morreu ao permitir sua fuga? Para atrasar o exército do Rei Demônio por uns cinco anos, e só?
— …O que você sabe? Você, que fugiu de lá.
— Quem sabe? Talvez eu entenda, talvez não. Mas isso não importa. Eu fugi. Isso me irrita constantemente, como uma pedra no sapato. Até eu fazer algo a respeito, não consigo seguir em frente. Você entende isso, não é, Ephsei?
As palavras de Leonard penetraram fundo no meu coração.
— …O que está planejando fazer, Leonard?
— Eu vou matar Belzera. Me ajude, Ephsei. Quero fazer de conta que nunca fugi naquele dia.
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