Hai to Gensou no Grimgar | Grimgar of Fantasy and Ash Volume 07
Capítulo 08
[O Senpai deles na Vida]
— Meu nome é Unjo — disse o homem, usando a mesma língua que Haruhiro e os outros falavam.
Para a surpresa deles, esse homem, o Sr. Unjo, explicou que “a noite já havia chegado três mil vezes” desde que ele se perdeu nesse mundo.
Seriam os dias aqui do mesmo comprimento que no outro mundo, ou seriam diferentes? Isso era incerto, mas, se partirem da hipótese de que eram iguais, até mesmo dois mil dias seriam cinco anos e meio, e se fossem três mil, o Sr. Unjo já estaria neste mundo há mais de oito anos. Ele sobreviveu todo esse tempo.
— É difícil acreditar — disse Unjo com uma voz rouca que parecia ter um tom irônico, como se estivesse rindo. — Que estou vendo... humanos. Faz muito tempo. Tanto tão tão desde que esses olhos viram um humano vivo. Nunca pensei que veria. Mas agora, estou vendo.
Haruhiro entendeu as palavras de Unjo. No entanto, seu sotaque era estranho, e a ordem das palavras às vezes soava bizarra. Talvez ele não falasse o idioma humano há muito tempo.
Assim que descobriram que o Sr. Unjo era um humano, como eles, Ranta o bombardeou com perguntas sem parar.
— Senpai, senpai, senpai, por favor, nos ensine! Você também era de Altana, senpai?! Você era um soldado voluntário?! Tipo, como você veio parar neste mundo?! Sério, o que é esse mundo?!
— Altana... — Sr. Unjo sussurrou para si mesmo e então ficou em silêncio por um longo tempo.
Enquanto Ranta continuava: — Sim, sim, Alnerta, isso mesmo, Analta! Não, Atarna! Não, Altana! Cara, eu quero voltar para Altana! Para mim, Altana é o lar do meu coração, mas e você, senpai?! Tipo, se você pudesse voltar, voltaria?! Existe uma maneira de voltar?! Se houvesse, você já teria usado, né?! Não, mas, sabe, se você tiver uma dica ou algo assim, poderia talvez nos contar, tá?! O que acha?!
Ranta continuava a tagarelar sem parar.
Sério, para com isso, seu idiota, pensou Haruhiro, e tentou interrompê-lo, mas, como sempre, Ranta respondeu de forma agressiva.
— Huhh?! Não tô falando com você, cara! Tô perguntando pro nosso senpai aqui! Cala a boca e vai dormir, imbecil! Seus olhos tão com sono, então dorme pra sempre, seu idiota! E espero que você fique careca e exploda também!
— Hm. — Haruhiro ignorou o pedaço de lixo e curvou a cabeça, pedindo desculpas ao Sr. Unjo. — Desculpe. Nosso pedaço inútil de lixo deve estar incomodando o senhor.
— Você é o lixo! Haruhirorororo! Espero que você vá girando pro inferno! — gritou Ranta.
— Ele é falante. — De repente, o Sr. Unjo estendeu a mão e agarrou a cabeça de Ranta.
— Wah?! — Ranta ficou completamente paralisado.
O inútil do Ranta estava usando o elmo para esconder o rosto, mas o Sr. Unjo segurou sua cabeça, elmo e tudo. Ele não era tão alto quanto Kuzaku, mas suas mãos eram muito maiores.
— Altana... — Sr. Unjo sussurrou a palavra mais uma vez, pressionando com tanta força que parecia estar tentando esmagar a cabeça de Ranta. — Eu havia esquecido de Altana. Sim. Porque nunca poderei voltar.
— Ai, ai, aiiiii... P-P-Por favor, me perdoe, senpai...
— Deix...! — Yume deu um passo à frente, engolindo em seco. — Deixa ele ir! Ranta não quis ofender... Tá, talvez ele tenha querido, mas, ainda assim, ele é camarada de Yume e de todos...
— Camarada... — O Sr. Unjo limpou a garganta de maneira dolorosa, então soltou Ranta. — Camaradas, huh. Eu não tenho nenhum. Nem um só.
— Whaaaa! — Ranta deu um giro e se afastou rapidamente do Sr. Unjo. — Eu-eu-eu-eu-eu tô, eu-eu tô salvo... né?! Eu-eu não tô morto, né?!
— Infelizmente — disse Mary, sem emoção.
— Você veio até aqui — Shihoru perguntou com a voz trêmula, segurando firmemente seu cajado — s-s-sozinho...?
O Sr. Unjo não respondeu, puxando seu lenço para cobrir a metade inferior do rosto.
— Não posso voltar. Nem vocês. Este é um túmulo. O meu. E o de vocês.
— Sério? — Kuzaku exalou levemente.
Haruhiro sentiu vontade de abaixar a cabeça, mas se forçou a continuar olhando para cima. Se olhasse para baixo agora, nunca se recuperaria. Ele foi tomado por essa sensação. Precisava dizer algo. Menos para o Sr. Unjo e mais para a party como um todo.
— Mas, Unjo-san, o senhor ainda está vivo, não está?
O Sr. Unjo se virou para Haruhiro, levantando um pouco o chapéu trançado. Haruhiro viu os olhos de Unjo.
Ele é humano, Haruhiro pensou mais uma vez. Esse era um ser humano genuíno. Provavelmente bem mais velho, literalmente o veterano deles, mas ainda assim, um humano, como eles. Ele viveu sozinho nesse mundo, sobrevivendo por conta própria. O quão difícil isso deve ter sido?
Deve ter sido muito difícil. Deve ter sido solitário. Mas, ainda assim, o Sr. Unjo estava vivo.
O Sr. Unjo talvez não sentisse o mesmo, mas ele era a prova viva de algo.
Esse lugar não era um túmulo.
Poderia se tornar um algum dia, mas todo mundo tem que morrer um dia. No momento em que uma pessoa morre, aquele lugar se torna o local de sua morte. Mas esse momento ainda não havia chegado. Tudo dependia de Haruhiro e dos outros, mas, se fizessem as coisas do jeito certo, poderiam sobreviver ali.
— É uma honra conhecê-lo — disse Haruhiro. — Se não se importar, eu gostaria de vê-lo novamente e aprender várias coisas com você.
— Ensinamentos. De mim. — Os ombros do Sr. Unjo tremularam para cima e para baixo apenas uma vez. — Para todos vocês.
— Não sabemos de nada, afinal — Haruhiro respondeu.
— A jusante. — O Sr. Unjo apontou na direção para onde o Rio Morno fluía. — Eles estão lá. Os mortos. É uma cidade. Uma ruína. Eles não estão mortos. Mas são mortos.
— ...O que há lá? — perguntou Haruhiro.
— A cidade dos mortos. Ruínas. Vocês são soldados voluntários — Sr. Unjo virou as costas para Haruhiro e os outros. — É um lugar adequado. Para vocês...
Haruhiro quis correr atrás do Sr. Unjo e perguntar mais duas ou três coisas. No entanto, ele não conseguiu. As costas do Sr. Unjo claramente os rejeitavam.
Deixem-me em paz. Era isso que parecia estar dizendo, e Haruhiro sentia que era o que deveriam fazer.
Esse encontro provavelmente teve tanto impacto no Sr. Unjo quanto teve neles. Não, considerando quanto tempo ele viveu sozinho, ele deve ter ficado ainda mais chocado. Se fosse o caso, ele devia estar incrivelmente confuso.
O Sr. Unjo entrou no edifício feito de pedras empilhadas. Havia luz vazando da janela, como sempre, então os residentes deviam estar dentro. Talvez o Sr. Unjo fosse conhecido deles.
— A cidade! Dos mortos! — Ranta, de repente, ficou animado, soltando uma risada boba e maliciosa. — Ninguém esperava por isso! Não! É exatamente como eu previ! Nosso caminho foi revelado! Yahoooo! Eu sou demais!
— Como isso faz sentido?! — Yume deu uma cotovelada em Ranta. — Isso não tem nada a ver com você, Ranta! Foi tudo obra do Kampyo-san!
— Você quis dizer Unjo-san — Haruhiro a corrigiu, suspirando. — A cidade dos mortos...
— ...Parece assustador — Shihoru abaixou a cabeça, abraçando a si mesma, junto com seu cajado.
— Os mortos, hein... — Kuzaku estava olhando para o prédio de pedra.
— “Eles não estão mortos”, ele disse — Mary inclinou a cabeça de lado, confusa. — O que ele quis dizer? Como ele os chama de mortos, eu esperaria cadáveres que ainda se movem por algum motivo, ou algum tipo de fantasma.
Quando Ranta estava a favor de ir, isso fez Haruhiro querer recusar imediatamente, mas... o Sr. Unjo os chamou de soldados voluntários. O passado do Sr. Unjo permanecia um mistério, mas talvez ele realmente tenha sido um soldado voluntário em algum momento. Talvez o Sr. Unjo estivesse cuidando de Haruhiro e dos outros como seus juniores. Ele disse que era um bom lugar para eles.
Um lugar adequado para soldados voluntários.
A Cidade dos Mortos.
Isso fez Haruhiro pensar: Não sei sobre isso. Mas, por algum motivo, seu coração estava acelerado. Não porque achasse que seria divertido. Ele não era como Ranta. Só que, de alguma forma, ele estava um pouco empolgado. Não podia negar isso.
Mesmo tendo vindo para este mundo sem sentido, sem uma maneira de voltar para casa, e sem saber o que será de nós no dia seguinte, ainda somos soldados voluntários? Pensou Haruhiro. Será que isso já se tornou nossa segunda natureza? Não, eu não gosto disso. dá um tempo. Mas, mesmo assim, enquanto Haruhiro pensava nisso, ele tomou a decisão imediatamente.
— Vamos dar uma olhada.
Haruhiro não estava sozinho. Ranta queria ir, é claro, mas Yume, Shihoru, Mary e Kuzaku também. Parecia que, no final, o modo de vida de soldado voluntário tinha penetrado em seus ossos.
Alguns deles eram mais proativos, outros mais passivos. Cada um tinha suas próprias atitudes e tendências, mas todos chegaram basicamente à mesma conclusão. Na verdade, nenhum deles levantou objeções.
Escavar na lama nunca tinha sido o melhor trabalho para eles como soldados voluntários. A cidade dos mortos. Por que não dar uma olhada?
Haruhiro e os outros tomaram o café da manhã e, então, partiram da Vila do Poço. O lugar ficava rio abaixo, ao longo do Rio Morno, mas decidiram seguir o rio sem descer até o leito. Havia uma besta feroz vivendo lá embaixo, que provavelmente se aproximaria deles silenciosamente e os atacaria. Eles não sabiam o que mais poderia estar lá, ou de onde poderia vir.
No começo, a luz que queimava no cume distante era muito fraca, oferecendo pouca segurança. Quando o fogo que não era o sol subiu, deixou de estar completamente escuro, mas não se tornou tão claro a ponto de parecer dia. A escuridão apenas recuou ligeiramente, mas, em algum momento, eles se acostumaram com isso. Seu senso da profundidade da escuridão parecia estar ficando mais aguçado. Não era claro, mas também não parecia tão escuro para eles. A escuridão do meio-dia era um pouco mais fácil para Haruhiro do que antes.
Ele sentia que sua audição também havia melhorado. Tinha uma percepção clara de mudanças no ar e nos cheiros. Mesmo sem olhar, conseguia determinar a posição de seus companheiros, seus passos e tinha uma noção vaga de quão exaustos estavam.
Eventualmente, uma névoa começou a flutuar do Rio Morno, cobrindo toda a área.
— Kehe... Kehehe... Kehehehehehehe... Kehe... — Zodiac-kun, que não havia dito nada desde que Ranta havia convocado o demônio de volta à Vila do Poço, de repente explodiu em risadas.
— O q-que foi isso, do nada? Zodiac-kun? — Ranta claramente ficou assustado.
— Ehe... Nada... Ehehe... Nada de verdade... Ehehehe...
— Agora você me deixou realmente preocupado!
— Kehe... Não se preocupe... Ranta... Não é nada... Kehehe... Você não tem com o que se preocupar...
— Não, é por isso, entendeu? Eu me preocupo porque você diz as coisas de um jeito que me faz ficar preocupado. É meio assustador, então você pode parar com isso? Certo? Ei, Zodiac-kun? Hã? Por que você ficou quieto? Responde. Vamos lá? Zodiac-kun...?
— Fica quieto um pouco também, Ranta — disse Haruhiro, tentando perceber qualquer presença na escuridão envolta pela névoa à frente deles. — Zodiac-kun está tentando nos dizer algo. Pega a dica.
— Sim, e eu estava tentando descobrir o que era, não estava? — reclamou Ranta.
— Kehehe... Como se eu fosse contar para você... Kehehehe...
— Ouve aqui, Zodiac-kun! — Ranta gritou. — Esqueceu quem está no comando aqui?! Eu, o cavaleiro das trevas, sou o mestre, e você é meu demônio servo, entendeu?!
— Não mesmo... — disse Shihoru.
— Você tá invertendo as coisas — acrescentou Mary.
Yume interveio de maneira sincera: — Talvez se você fosse um quinhentésimo tão fofo quanto o Zodiac-kun.
— Um Ranta-kun fofinho, hein... — Kuzaku murmurou para si mesmo, soltando um pequeno suspiro em seguida.
— Eiiiiiiiiii! — Ranta berrou. — Não saiam falando o que quiserem sobre mim, pessoal! Se não pararem com isso, eu vou dar uma surra de verdade em vocês! Eu tô falando sério de verdade! Vou mostrar pra vocês como é assustador quando eu fico seriamente sério, e então—
Quando Haruhiro parou e levantou uma mão, Ranta imediatamente fechou a boca.
Todos pararam e prenderam a respiração.
E agora, o que fazer? Haruhiro não tinha certeza. Por causa da névoa, ele não sabia exatamente o que era, mas havia algo à frente. Ele sentia que podia ser um prédio.
Deveriam todos ir verificar juntos? Ou Haruhiro deveria ir sozinho? Como ladrão, era mais fácil agir sozinho de muitas maneiras. Mais fácil, sim, mas também mais assustador.
— ...Retorno em breve. — disse Haruhiro, com medo, fazendo-o falar de maneira mais polida do que o normal.
— Tenha cuidado — Mary disse. — Não faça nada imprudente.
Obrigado, ele pensou. De alguma forma, isso me dá forças para tentar. Além disso, desculpe, Kuzaku.
Bem, não é algo pelo qual preciso me desculpar, tenho certeza. Mary só está preocupada comigo como companheiro. Isso é natural.
Mesmo que seja assim, me dá um certo encorajamento. Qual seria o mal nisso? Certo...?
Haruhiro se afastou de seus companheiros, usando Sneaking para avançar em direção àquilo que parecia ser um prédio.
Há algo além de mim se movendo? Não—eu acho. Pelo menos não agora.
A direção da névoa, do ar e do vento havia mudado. Havia algum obstáculo bloqueando o vento e fazendo-o mudar de direção.
Haruhiro se aproximou. Finalmente, ficou visível. Um prédio.
Era uma construção feita de pedras empilhadas. Mas estava desmoronando. Talvez tivesse sido uma caixa em algum momento, mas agora restava apenas cerca de dois terços dela.
Ele não via um telhado. Será que havia desabado? Era uma construção em ruínas.
E esse não era o único prédio em ruínas ali. Havia outro. Não, mais do que isso. Aqui, ali, por toda parte. Havia muitos.
O Sr. Unjo havia mencionado ruínas. Esse era o lugar, né? A cidade dos mortos. Esse era o destino deles, certo? O que significava que...
...eles estavam aqui, ele tinha que presumir. No lugar com as entidades que ainda eram desconhecidas para eles, os mortos que não estavam mortos.
Haruhiro pressionou a palma da mão contra a parede externa da primeira construção em ruínas. Ele tentou empurrar. Não cedeu. Depois de testar, ele encostou as costas na parede. Respirou fundo.
Primeiro, vou tentar fazer uma volta ao redor dessa construção. Se parecer que posso entrar... devo tentar? Está tudo bem? De qualquer forma, vou dar uma volta ao redor dela.
Ele olhou ao redor, escutou atentamente, e quando fez meia-volta ao redor da construção, vasculhando por qualquer sinal dos mortos, encontrou uma abertura.
Uma entrada? Havia uma porta aqui? Não mais.
Ele espiou com a cabeça apenas pela metade. Estava escuro demais para ver, mas havia algum tipo de entulho espalhado por todo lugar. Não havia onde pisar. Parecia perigoso entrar.
Agora, quanto aos mortos, eles não estão aqui... acho. Não estão, certo?
Próximo. Haruhiro foi até o próximo prédio em ruínas. Ele era um pouco maior que o anterior e ainda tinha metade do telhado. Não havia porta na abertura que parecia ter sido uma.
Ele teve uma sensação ruim. Não, não era apenas uma sensação. Havia sons. Ele podia ouvi-los.
Que sons eram esses?
Esmague. Mordida. Hahh. Nnngh. Sorvo. Crocante. Engole. Ofega.
Ele tinha uma ideia do que esses sons poderiam ser. Não ficaria feliz se estivesse certo, mas ainda assim precisava verificar.
Olá, Sr. Morto, ele cumprimentou mentalmente a criatura, tentando soar o mais alegre possível enquanto olhava através da abertura.
Lá estava. Ele havia encontrado um. Não muito longe. Era uma criatura humanoide com uma cauda, agachada e comendo algo.
Era um dos mortos? Parecia surpreendentemente normal. Agora, o que exatamente o Sr. Morto Com Cauda estava fazendo?
Haruhiro estava curioso. Mas talvez fosse melhor recuar por enquanto? Ele tentou deixar sua cautela natural agir, mas, por algum motivo, o Sr. Morto Com Cauda se virou em sua direção, soltando um gemido...
Ele havia sido descoberto?
Numa situação como essa, gritar e correr seria um péssimo plano. Primeiro, ele devia observar como o outro reagia. Haruhiro se preparou mental e fisicamente para reagir rapidamente caso fosse atacado. Ei, não era uma certeza que fosse inimigo, sabe? Talvez até fosse amigável, afinal? É, não parecia muito provável, né?
O morto com cauda pegou algo parecido com uma arma e se levantou. Parecido com uma arma? Não, era uma arma. Com uma lâmina curva e grossa na mão, o morto com cauda começou a caminhar.
Ele está vindo. Nessa direção. Com passos lentos. O morto com cauda usava algo parecido com uma cota de malha, com uma ombreira apenas no ombro direito, além de manoplas e grevas. Ele usava um elmo, mas seu rosto não estava escondido.
Os olhos... o que eram aqueles olhos? Brancos. Eles não pareciam brilhar, mas seus dois olhos eram muito brancos. Sua boca grande estava úmida com algum tipo de líquido viscoso e pegajoso.
Haruhiro olhou para a coisa que estava caída onde o morto com cauda estava agachado antes. Ele não se surpreendeu. Não o abalou tanto. Ele estava certo, só isso.
Aquilo parecia ser outra criatura. Provavelmente humanoide em forma, mas Haruhiro apostaria oito ou nove em dez chances de que já não estava mais viva. Ele não olhou por muito tempo, e não teria sido capaz de ver muito na escuridão, mas também não queria ver, então talvez estivesse tudo bem para ele.
Oh, meu caro Sr. Morto Com Cauda, você estava comendo? Eu te interrompi? Pensou Haruhiro. Se ele pudesse se safar com um pedido de desculpas, ele não se importaria de tentar, mas o morto com cauda já estava aumentando o ritmo. Esse não era o momento para desculpas.
Haruhiro rapidamente puxou a cabeça para fora, correndo para se esconder na sombra do prédio vizinho. Mesmo que estivesse fugindo, precisava fazer isso em silêncio, o mais silencioso possível.
— Shaah! — O morto com cauda gritou.
“Para onde ele foi?!” Era isso que ele queria dizer?
Haruhiro podia ouvir os passos do morto com cauda. Ele se movia no ritmo daqueles passos.
Talvez eu devesse atraí-lo de volta? Levá-lo até os outros? Vale a tentativa?
Afinal, esta era a cidade dos mortos. Se aquela coisa era um dos mortos, não estava necessariamente sozinha. Poderiam haver outros. Mas, por enquanto, ele só sentia a presença daquela criatura. Não havia mais nada além dela.
Haruhiro já havia sido descoberto e, como soldado voluntário, ele e sua party não estavam ali para turismo ou diversão. Eles tinham um objetivo, sim: caçar. Haviam vindo para caçar os mortos, como bons soldados voluntários deveriam.
O morto com cauda.
Poderia ser um bom teste para suas habilidades.
Haruhiro parou. O morto com cauda estava se aproximando. Ele apareceu na esquina.
Quando aqueles olhos brancos avistaram Haruhiro, a criatura abriu a boca. — Kaah!
Ela correu em sua direção.
Ótimo, pensou Haruhiro. Venha.
Ele correu. Quanto a encontrar o lugar onde todos estavam esperando—estava tudo bem. Ele se lembrava da direção e da distância aproximada. Não iria errar. Virou na direção correta e disparou. O inimigo era rápido, mas se Haruhiro corresse em sua velocidade máxima, nunca seria alcançado.
— Haru-kun?! — Ele ouviu a voz de Yume.
— Tem um inimigo! — gritou Haruhiro. — Tô trazendo ele comigo!
Depois acrescentou: — Só um!
— Deixa com a gente! — Kuzaku respondeu.
Lá estava ele. Haruhiro podia vê-lo. Kuzaku estava avançando com o escudo em posição.
— Tô contando com você! — Haruhiro correu em direção a Kuzaku.
Imediatamente após passarem um pelo outro, Kuzaku usou Block contra a espada curva do morto com cauda e em seguida desferiu um golpe com Thrust. O morto com cauda avançou, indiferente. Kuzaku também não recuou. Eles colidiram.
— Leap Out! — Ranta rapidamente saltou para onde o morto com cauda estava e balançou sua espada longa em um movimento de oito. — Seguido por Slice!
O efeito da Lightning Sword Dolphin havia acabado e eles a venderam ao ferreiro, então Ranta estava usando sua antiga arma, a Betrayer Mk. II. O morto com cauda se esquivou como se estivesse se jogando no chão, mas a espada de Ranta ainda o atingiu em algum lugar.
Ele não conseguiu cortar. A criatura estava vestindo cota de malha.
Quando o morto com cauda rolou e depois se levantou, Kuzaku avançou sobre ele. — Aí vai! — Ele golpeou com sua espada longa. Kuzaku havia pego essa espada no Pântano dos Cadáveres e a mandou reparar no ferreiro.
O morto com cauda levou um golpe forte no elmo e grunhiu — Nguoh! — mas não vacilou. Sem perder o ritmo, levantou sua espada curva bem alto e contra-atacou.
Agora era Kuzaku que estava sendo forçado a recuar. — Ahh, droga! Eu sou tão fraco!
— Não entra em pânico! — Haruhiro gritou para Kuzaku, olhando para as costas do morto com cauda.
Yume e Mary estavam de prontidão, defendendo Shihoru. Era apenas um inimigo, então aquela formação fazia sentido. Afinal, poderiam vir reforços.
Se isso acontecesse, Haruhiro queria que Yume e Shihoru respondessem imediatamente. A proteção de Shihoru era a prioridade máxima de Mary, afinal. Todos sabiam o que deviam fazer.
— Ehe... — Zodiac-kun flutuava por ali. — Ranta... Você não é tão bom quanto se gaba... Ehehe... Acaba logo com isso... Ehehehehe...
— Eu não preciso que você me diga isso! — Ranta atacou com golpes violentos o morto com cauda. Era Hatred, seguido de uma sequência de dois golpes. Depois, ele fez cortes diagonais de cima para a esquerda e de cima para a direita.
No momento em que a Betrayer Mk. II travou com a espada curva do morto com cauda, Ranta usou Reject. O cavaleiro das trevas era mais valioso quando não enfrentava seus inimigos diretamente. Enquanto um guerreiro travaria lâminas com o inimigo, um cavaleiro das trevas não faria isso. Ele os afastaria num instante, ou desviaria o golpe.
Desta vez, Ranta habilmente empurrou o inimigo para trás. Ao mesmo tempo, se arrastou para trás. Apesar de estar recuando, fez isso com uma velocidade incrível.
— Exhaust!
O morto com cauda cambaleou um pouco, mas conseguiu se firmar. Ranta impulsionou-se no chão.
Desta vez, ele avançava. Novamente, em uma velocidade impressionante.
— Toma essa! Leap Out!
Ranta investiu diretamente contra o morto com cauda. Com aquele timing, ele não teria como desviar.
A Betrayer Mk. II atingiu em cheio o plexo solar do morto com cauda. Ela atravessou—ou talvez não. Ranta estava numa posição para derrubá-lo. Mas, ao invés disso, ele imediatamente pulou para trás.
— Droga!
— Hashaah! — O morto com cauda ficou de pé, balançando sua espada curva ao redor. Ele parecia mais enérgico do que antes.
Kuzaku desviou a espada curva com um clangor alto e então o atacou com um grito. O morto com cauda foi derrubado, mas logo se levantou novamente.
— Shih! Hyahhh!
— Que coisa é essa?! — gritou Yume.
Honestamente, o que era isso?
— Como é que isso é um morto?! — Ranta estalou a língua. — Parece bem vivo pra mim!
Os ataques deles não estavam funcionando—talvez? O morto com cauda tinha uma mancha preta no estômago. A Betrayer Mk. II de Ranta havia perfurado a cota de malha, ferindo o morto. Ele também tinha levado um golpe na cabeça da espada longa de Kuzaku, e fora derrubado por ele. Mas ainda estava de pé.
Será que não sentia dor? Ou não se importava? Estava em um estado de excitação? Ou simplesmente era insensível? De qualquer forma, era melhor presumir que aquela coisa não tinha nenhuma sensação de dor.
Primeiro, precisavam quebrar sua postura. Depois, deveriam espancá-lo até ele parar de se mover.
Há muito tempo, Haruhiro e os outros faziam viagens regulares à Cidade Velha de Damuro, caçando goblins que pareciam mais fracos do que eles. Aquela estratégia de atacar o inimigo em conjunto e pulverizá-lo lhes rendeu o apelido de Matadores de Goblins. Eles só precisavam fazer o mesmo aqui.
Convenientemente, Haruhiro estava atrás dele. O morto estava tão distraído com Kuzaku e Ranta que provavelmente havia esquecido da existência de Haruhiro.
Aquilo não era coincidência. Haruhiro vinha se movendo furtivamente para garantir que ele o esquecesse.
Backstab? Spider? Não. Haruhiro escolheu outro movimento. Ele correu, mantendo os passos o mais silenciosos possível. O morto ainda não o havia notado. Não se virou.
Então, como se estivesse pensando: Ótimo, Haruhiro pisou firme. Ele pulou e deu uma voadora com os dois pés nas costas do morto.
— Fungoh! — O morto com cauda foi projetado para a frente.
— Agora! — gritou Haruhiro, mas Ranta já estava se movendo naquele momento. Kuzaku também não estava muito atrás. Haruhiro entrou na ação também.
Não deixem que ele se levante. Tire a arma dele. Impeça qualquer resistência. Não tente cortar, apunhalar ou fazer algo complicado. Esqueçam que estamos com espadas e espanque-o.
Dos três, Ranta era o mais acostumado a isso. Ele usou a ponta da espada para arrancar o elmo da criatura.
Acabe com ele. Sua cabeça. Faça um grande estrago. Não se mova. Pare de resistir. Vai continuar? Vai fazer isso de novo? Então, não temos outra opção. Vamos até o final.
Kuzaku pressionou seu escudo sobre ele. — Ahhhhh!
— Rarrrrrrrrrrrrrrgh! — Ranta enfiou a Betrayer Mk. II no pescoço da criatura. Depois de torcer e cortar com força bruta, a criatura finalmente parou de se mover.
Respirando fundo, Haruhiro recuou, olhando ao redor. Ele avistou Yume, Shihoru e Mary. Mary fez o sinal do hexagrama, fechou os olhos por um momento e depois acenou com a cabeça. Isso aparentemente significava que tudo estava bem.
— Vitóriaaaa! — Ranta levantou a Betrayer Mk. II bem alto, soltando um grito de vitória. Então, num instante, pulou sobre o cadáver do morto com cauda. — Tesouro, tesouro! Meu, meu, meuuuu! Se você não tiver nada, vou fazer você pagar por isso, seu morto inútil! Vou te matar de verdade!
— ...Qual é, cara. — Haruhiro queria dizer algo, mas percebeu que não tinha muito direito de fazê-lo.
Mesmo assim, a técnica de Ranta para arrancar a cota de malha da criatura foi impressionante. Haruhiro poderia até chamá-la de brilhante, mas não queria elogiá-lo.
— Hm? — Ranta pegou algo entre os dedos. — Ei, ei, ei, ei, eiiiiii?!
Kuzaku levantou a viseira, soltando um suspiro. — O que foi? Encontrou algo bom?
— Tadá! — Ranta exibiu orgulhosamente. — Não é apenas algo!
Sinceramente, o coração de Haruhiro deu um salto.
Isso podia ser amor, ele pensou. Não, nada disso.
Havia mais de uma coisa que Ranta segurava na mão. Eram várias. Pretas, redondas...
— Uau... — Yume ficou de boca aberta.
— ...Hã? — Shihoru ainda estava meio duvidando do que via.
— O que é isso? — Mary inclinou a cabeça para o lado.
— São moedas pretas, suas bobas! E mais...! — Nesse momento, o sorriso de Ranta era o maior de sua vida. — Quatro! Contem aí! Quatro delas! Obrigado!
Haruhiro quase sorriu, mas se conteve. Antes de relaxar e comemorar, havia coisas a fazer primeiro. Se ele não se forçasse a pensar assim, perderia toda a tensão.
Ainda assim, quatro moedas pretas, hein? Ele pensou. Olhando bem, eram moedas de tamanho médio. Isso dava 4 ruma.
Haruhiro teve que se controlar para não começar a contar suas vitórias antes da hora.
Devagar. Vá com calma e cuidado, ele disse a si mesmo. Use métodos que ofereçam certeza.
Ele não queria comemorar à toa. Não queria criar esperanças para depois vê-las frustradas. Ele teria que aceitar esse seu lado mais cauteloso e continuar em frente.
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