Hai to Gensou no Grimgar | Grimgar of Fantasy and Ash Volume 07 Capítulo 06
[O que é viver?]




Se conseguiriam seguir em frente ou não, não tinham escolha a não ser tentar.

Além do 1 wen que já tinham, encontraram 1 ruma e 2 wen no Pântano dos Cadáveres, e conseguiram mais 2 wen vendendo as duas espadas como sucata ao ferreiro, totalizando 1 ruma e 5 wen. Estavam um pouco abaixo das 2 rumas necessárias para duas refeições, mas, se negociassem com o grande caranguejo que gerenciava a mercearia, ele provavelmente conseguiria ajudá-los. Claro, o dono da mercearia parecia um caranguejo, mas ele (ela?) era gente boa. Provavelmente.

Haruhiro não sabia que horas eram, então só podia olhar para o cume distante e julgar, pela intensidade das chamas, se estava diminuindo ou se ainda estava tudo bem, para saber se a noite estava chegando. Fora isso, ele só podia confiar em seu estômago e em sua intuição. Como as pessoas da Vila do Poço acompanhavam o tempo? Talvez dissessem a ele se perguntasse, mas não era uma pergunta que conseguiria expressar apenas com gestos e um vocabulário extremamente limitado.

Embora tivessem comido, parecia que ainda faltava um tempo antes de anoitecer. Se fosse para ficar sentados no chão em silêncio, isso também era difícil à sua maneira. Shihoru estava incrivelmente quieta, e ele queria fazer algo a respeito disso, mas não sabia como.

Bingoooo! — Yume soltou um grito estranho de repente e saltou. — Ouçam, Yume, ela teve uma ideia. Que tal a gente acender uma fogueira?

Esse era o plano de Yume. A floresta estava barrando o caminho deles, e seria difícil entrar, mas pelo menos poderiam encontrar lenha seca lá. Iriam juntá-la e fazer uma fogueira logo fora da Vila do Poço. Isso os aqueceria. Quando a noite estivesse perto, poderiam correr para dentro da vila. Provavelmente não seria tão perigoso perto da vila, então poderiam dormir ao redor do fogo.

Todos concordaram de forma unânime: Vamos fazer isso.

Saíram da vila e começaram a recolher galhos caídos na beira da floresta. Yume identificava os que estavam realmente secos, deixando de lado os que estavam meio molhados.

Prepararam tudo a uma certa distância da ponte. Colocaram galhos grossos na parte de baixo e empilharam os mais finos por cima. Fazendo assim, os galhos grossos na base queimariam como carvão.

Yume era boa em acender fogueiras. Isso era esperado de uma caçadora. Assim que Yume acendeu uma fogueira brilhante, ela ficou de olho, jogando mais galhos no fogo e soprando para torná-lo mais forte. Se deixassem os galhos meio molhados perto do fogo, eventualmente secariam e poderiam usá-los.

Isso é quentinho... — Ranta estava sentado com os joelhos encostados no peito, estendendo as mãos para o fogo. — É realmente quentinho... Isso é confortável... O fogo é maravilhoso... É uma das melhores invenções da história... Ah, como é bom viver na civilização...

Hã, Ranta. — Kuzaku estava sentado de pernas cruzadas. — Você tá chorando?

Não tô. Isso não são lágrimas, é ranho...

Ranho sai dos olhos agora, é...? — Shihoru estava sentada muito perto do fogo. — Nojento...

Cala a boca! Quando um cara tá se divertindo, não vem encher o saco e arruinar o momento, sua idiota!

Mary se agachou, estendeu as palmas para o fogo e fechou os olhos. Seus lábios se afrouxaram um pouco, e ela parecia confortável.

Se ao menos a gente conseguisse pegar uns peixes... — Yume estava sentada entre Shihoru e Mary com as pernas em formato de W, olhando para o fogo que tinha acendido. — Aí a gente podia assar e comer.

Pescar, né... — Haruhiro, claro, também estava sentado em frente ao fogo como todos os outros. — Você acha que tem peixe no Rio Morno? Quero dizer, ele é morno...

Bom, não seria estranho se tivesse — Ranta disse, bufando. — Tipo, pode ter peixe comedor de gente. Não acha?

Se a gente acendesse uma fogueira na margem do rio — Mary começou a dizer —, talvez isso afastasse os inimigos, assim poderíamos tomar um banho em paz, não acha?

Não, aí daria para ver tudo. — Kuzaku olhou para baixo, por algum motivo. — Isso é ruim, né?

Ah. — Mary abaixou a cabeça. — ...É verdade.

Eu não me importo. — Ranta abriu as narinas. — Mesmo se puderem ver. Eu sou, em geral, tranquilo com nudez. Isso realmente importa? Se você é visto ou não, não faz diferença. Se você pode tomar um banho, esteja disposto a fazer alguns sacrifícios. É uma troca. Eu não me importo se me virem. Então, deixem eu ver vocês também. É justo. Tudo bem. Está resolvido. Vamos fazer isso agora.

Por que você não vai sozinho? — Shihoru disse friamente.

Mas eu realmente quero tomar um banho, pensou Haruhiro. Como Kuzaku estava dizendo, uma fogueira iluminaria as coisas, então isso não funcionaria, mas será que não tem algum jeito de torná-lo seguro? Talvez devêssemos considerar seriamente cavar um buraco para usar como banheira na margem do rio, dentro da Vila do Poço. Quero dizer, não é como se os moradores fossem se irritar de qualquer jeito. Talvez estejam dispostos a deixar passar. Talvez nem se importem. Quem sabe eu pergunte ao caranguejo gigante, ao ferreiro, ou ao guarda do poço. Embora eu sinta que teria dificuldade em explicar o que é um banho...

Haruhiro não teve forças para resistir à sonolência que o envolveu. Ele se deitou e foi dormir. E se uma besta selvagem os atacasse? Ele lidaria com isso quando acontecesse. Era uma forma ruim e descuidada de pensar, mas ele estava cansado, e estava quente.

Por favor. Só por hoje. Só por hoje, não...

...ro-kun... ruhiro-kun... Ei... Haruhiro-kun...

Alguém o estava sacudindo para acordá-lo.

Shihoru. Era Shihoru.

Hã...? O que foi? — Haruhiro se sentou, olhando para a crista ao longe. — Hã? Ainda não acabou a noite?

Olhe. — Shihoru apontou para a ponte.

...Ah, nossa. — Dizer que Haruhiro estava chocado seria um eufemismo. — —Que?!

Lá estava. Bem na frente da ponte.

Um cavalo? Era isso? Não parecia incrivelmente peludo, e grande demais para ser um cavalo? Aquele ser parecido com um cavalo estava puxando uma carroça. Era uma carroça? Uma carroça grande. O que estaria carregando nela? Estava coberta, então ele não conseguia dizer.

Havia uma criatura humanoide agachada ao lado da carroça. Aquela criatura, me lembra alguém, pensou Haruhiro. Tinha um corpo superior incrivelmente musculoso, mas pernas extremamente curtas.

O ferreiro. Tinha exatamente a mesma estrutura corporal do ferreiro da Vila do Poço. Talvez esse cara dono da carroça e o ferreiro fossem da mesma raça?

Esse cara usava um capuz que cobria seus olhos e tinha algo como um cachimbo na boca, de onde saía fumaça. Ele estava fumando tabaco, aparentemente.

Todos, exceto Haruhiro e Shihoru, ainda estavam dormindo. A fogueira tinha se apagado. A carroça tinha luzes penduradas nela, como lanternas, então estava um pouco iluminado.

...Há quanto tempo ele está ali? — Haruhiro perguntou a Shihoru em um sussurro.

Hã... er... — Shihoru se inclinou mais perto de Haruhiro. Ela devia estar com medo. — Eu acordei com o som da carroça se aproximando... Parecia que ela veio da floresta...

Da floresta? Uma carroça grande como essa conseguiu passar por lá?

Lá ao longe... — Shihoru gesticulou com o queixo em direção ao noroeste. — Parece que tem uma estrada ou algo assim. A carroça veio de lá, afinal...

Hmm... Uma estrada, hein. Então? Quanto tempo faz isso?

Não sei dizer... No começo, achei que estava tendo um sonho estranho...

Ohhh... É, faz sentido. Entendo. Você não espera ver algo assim surgindo do nada.

Então, a carroça parou ali. Aquele... saiu dela. Depois de um tempo, eu te acordei.

Quem você acha que ele é?

Eventualmente, o galo da Vila do Poço gritou, Boweeeeeeeeeeeeeeeeh, e o resto dos companheiros deles acordou. Houve um alvoroço confuso sobre a carroça, mas isso fez o dono da carroça olhar em sua direção, e todos eles calaram a boca e se enrijeceram.

Q-Q-Q-Quer brigar, camarada? — Ranta disse com uma voz incrivelmente baixa.

Talvez o cara tenha ouvido. Quando o dono da carroça se levantou, Ranta se lançou ao chão em uma dogeza.

Se precisar, vamos oferecer o Ranta como sacrifício, pensou Haruhiro. Sim, vamos fazer isso.

Infelizmente, não foi necessário. Quando o vigia da Torre de Vigilância C abriu o portão, o dono da carroça voltou para ela. O cavalo peludo balançou a cabeça e começou a puxar a carroça. A carroça seguiu em frente.

Será que conseguiria atravessar aquela ponte? Conseguiu, por pouco. Não era só uma questão de largura. A ponte parecia apenas forte o suficiente para aguentar, e a cada vez que as rodas da carroça giravam, as tábuas da ponte gritavam. A ponte não iria quebrar, iria...?

Quando a carroça conseguiu atravessar a ponte com segurança, Haruhiro quase quis aplaudir. Mas não que fosse fazer isso, claro.

Haruhiro e os outros esconderam seus rostos e seguiram a carroça até a Vila do Poço. A carroça parou em frente à forja. Como eles poderiam ter esperado, o dono da carroça e o ferreiro estavam conversando como bons amigos.

Esses dois caras, eles têm que ser irmãos, né? — Ranta começou a se apavorar sozinho, explicando freneticamente para Haruhiro e os outros. — Q-Q-Quando eu disse ‘esses caras’, saiu assim! E-Eu juro que não quis ser desrespeitoso! Deixa eu te dizer, eu respeito eles! Sério!

Como se eu ligasse... — Haruhiro suspirou. — Mas eles realmente parecem irmãos, ou pelo menos parentes, né? Será que a carga tem alguma coisa a ver com o ferreiro?

Parece que começaram a descarregar — disse Kuzaku.

Não era só o dono da carroça; o ferreiro também estava ajudando. Eles tiraram a cobertura da carroça. O dono subiu na parte de trás e passou a carga para o ferreiro. O ferreiro carregava tudo para debaixo do teto da forja, colocando no chão.

Ei, pessoal. — Ranta levantou o polegar e apontou com ele para a forja. — Que tal darmos uma mão? Pode ser que isso nos consiga preços melhores no futuro, sabe?

Com um motivo descaradamente egoísta... — Yume parecia exasperada, mas não era uma má ideia, para algo vindo do Ranta.

Certo. — Haruhiro assentiu. — Vamos ajudar. Só nós três, por enquanto. Se não tomarmos cuidado, eles podem ficar bravos e nos espancar até a morte, então Yume, Shihoru e Mary, vocês fiquem aqui.

Os temores de Haruhiro quase se realizaram. O ferreiro levantou seu martelo, tentando intimidá-los e afastá-los, mas quando Ranta fez uma dogeza e tentou desesperadamente explicar, o ferreiro pareceu entender. Embora ele os olhasse com desconfiança, deixou que ajudassem no descarregamento.

A carga era carvão vegetal. Haruhiro já tinha ouvido em Altana que o trabalho de um ferreiro exigia coque ou carvão. Pelo que sabia, o coque precisava ser processado a partir do carvão mineral, mas o carvão vegetal podia ser usado diretamente para gerar altas temperaturas. Também podia ser utilizado para coisas como purificar água.

Parecia que o dono da carroça não apenas transportava o carvão, mas também o produzia. Havia alguns machados robustos na carroça que Haruhiro imaginava serem destinados ao corte de árvores, então o dono da carroça provavelmente também era lenhador. Ele era um carvoeiro.

Quando o descarregamento foi concluído, o carvoeiro começou a ajudar o ferreiro. O carvoeiro realmente parecia estar gostando, mas o ferreiro reclamava de tudo o que ele fazia. Pela forma como se comportavam, será que o ferreiro era o irmão mais velho e o carvoeiro o irmão mais novo? Talvez o irmão mais novo quisesse ser um ferreiro como o mais velho, mas não tivesse talento, então virou carvoeiro para ajudar o irmão. Bem, isso era apenas imaginação de Haruhiro, então tudo não passava de uma ideia maluca.

Talvez como uma forma de pagar pela ajuda, o ferreiro exigiu ver as armas da party de Haruhiro, e ele e seu irmão trabalharam nelas juntos. A party ficou realmente grata por isso.

Então o ferreiro puxou uma espada. Era uma bela espada larga que brilhava em azul, com desenhos complicados esculpidos na lâmina, e havia detalhes finos no punho e no pomo também. O ferreiro fez Kuzaku segurá-la.

No momento em que ele fez isso...

Oh...! — Kuzaku exclamou, surpreso.

Era realmente leve. Ele assumiu uma postura de combate, balançou a espada uma vez, e então estremeceu de empolgação.

Isso aqui é insano. É absolutamente insano. Não é brincadeira. Mesmo um cara como eu consegue perceber. Esta é uma espada incrível...

O ferreiro pegou a espada de volta de Kuzaku, mostrou uma moeda grande, depois levantou cinco dedos, seguidos de oito. Quarenta moedas grandes... Em outras palavras, o ferreiro queria dizer que a espada custaria 40 rou. Haruhiro não conseguia imaginar quanto isso era, mas se ele colocasse nos padrões de Grimgar, seria como 40 ouros? As moedas grandes pareciam muito valiosas, então talvez fosse mais que isso. De qualquer forma, ele sabia que era cara o suficiente para fazer seus olhos quase saltarem da cabeça. Talvez fosse o item mais caro do ferreiro, ou algo perto disso.

Mais tarde, enquanto Haruhiro e os outros comiam sua refeição modesta na mercearia, a carroça do carvoeiro começou a se mover. A carroça andava na mesma velocidade que uma pessoa caminhando. Haruhiro e os outros tentaram acompanhá-la. Eles pretendiam recuar se o carvoeiro ficasse incomodado, mas parecia que ele não se importava.

Quando a carroça cruzou a ponte, seguiu para o norte por um tempo, depois virou para o oeste. Shihoru estava certa. Havia uma estrada pela floresta. As árvores tinham sido removidas dali, e havia trilhas de carroça no chão. As rodas da carroça se encaixavam perfeitamente nessas trilhas.

A carroça seguia em um ritmo bom. A estrada serpenteava um pouco, mas era, na maior parte, reta.

Eles ouviam pássaros, ou algum outro animal. No caminho, Yume notou que a carroça emitia um barulho estranho. Havia objetos parecidos com sinos pendurados no assento do cocheiro, onde o carvoeiro estava sentado. Eles faziam um som grave e pesado. Será que isso tinha algum significado? Como espantar feras, talvez?

Eles chegaram a uma área aberta. Havia uma pequena cabana, parecida com um abrigo de montanha. Ao lado dela, havia um forno com telhado e um depósito de carvão. Também havia um estábulo. Uma grande quantidade de lenha estava empilhada. Parecia que era ali que o carvão era queimado.

O carvoeiro estacionou a carroça e entrou na cabana.

Haruhiro e os outros deram uma volta pelo lugar e tentaram entrar na floresta. Nessa área, muitas árvores tinham sido derrubadas, e o terreno estava mais ralo, o que tornava relativamente fácil caminhar.

Além da estrada que levava à Vila do Poço, havia outra estrada seguindo em uma direção diferente. As marcas de rodas de carroça também estavam profundamente marcadas nessa outra estrada. Para onde ela levava? Será que havia outras vilas além de Vila do Poço?

Quando retornaram ao local de queima de carvão, o carvoeiro estava sentado em frente à cabana, fumando. Parecia relaxado. Ele nem olhou para Haruhiro e os outros.

O cavalo peludo tinha sido solto e estava comendo grama. Se aquela coisa os chutasse, eles morreriam instantaneamente. Mesmo se fossem atingidos pelo rabo dele, provavelmente já causaria algum dano. Era melhor não se aproximar dele descuidadamente.

Parece que nosso mundo acabou de se expandir um pouco... talvez? — disse Shihoru.

É — Kuzaku assentiu, concordando.

Não que isso vá nos render dinheiro — Ranta se agachou, arrancou um pouco de grama e começou a girá-la entre os dedos. — Ah, é, esqueci de invocar o Zodiac-kun—Ah, tanto faz...

A vida não é só dinheiro, né? — Yume abaixou a cabeça. — ...Mas Yume está com fome.

Querem voltar? — Mary sugeriu, hesitante.

Haruhiro ficou grato por isso. Eles tinham vindo até ali por impulso, mas era difícil dizer que haviam tirado algo útil daquilo. Ele não queria dizer que não tinham ganho nada, mas a verdade estava bem próxima disso. Não queria voltar para casa de mãos vazias. Mas o que mais poderiam fazer?

Vamos voltar! — Haruhiro tentou fazer uma declaração firme, mas todos o olharam de forma estranha, então ele acrescentou um — ...talvez? — tentando amenizar a situação.

Que vergonha... ele pensou.

Sim, ele era realmente patético. Sempre foi meio sem graça, mas parecia que ultimamente estava pior. Manato teria liderado melhor, de maneira mais inteligente. Tokimune teria puxado todos com sua alegria despreocupada.

E Haruhiro? Ele só conseguia fazer as coisas do seu jeito. Mas qual era o seu jeito, afinal? No fim das contas, qual era? O que ele deveria fazer?

Agora que haviam sido jogados em uma situação ridícula como essa, seus defeitos estavam ficando ainda mais evidentes. Ele era tão cheio de falhas que, sinceramente, até Haruhiro ficava deprimido consigo mesmo, e estava completamente perdido sobre o que fazer.

Ele queria ter alguém em quem se apoiar. Desesperadamente. Não podia simplesmente abandonar sua responsabilidade. Ele sabia disso, mas, honestamente, queria desistir. Jogar tudo fora e fugir.

Haruhiro e a party estavam seguindo pela estrada de volta para a Vila do Poço. O que ele deveria estar fazendo agora? O que deveria perceber, e o que tinha que fazer a respeito? Haruhiro precisava pensar sobre isso. Precisava, mas... seus pensamentos estavam dominados por insatisfação, descontentamento, desagrado, além de ansiedade, medo e desespero.

Talvez ele devesse ser franco com eles e dizer? E se ele dissesse algo como: Agora, as coisas estão assim, sabem, e eu sou o líder, é, mas não estou agindo muito como um, desculpa, e pedisse desculpas dessa forma? Se fizesse isso, talvez se sentisse melhor.

Mas só Haruhiro se sentiria melhor. O que seus companheiros pensariam? Ranta com certeza iria zombar dele.

Como se ele ligasse para Ranta.

Será que as garotas simpatizariam com ele? Um pouco de simpatia seria bom. Ele queria que o mimassem um pouco. Queria se livrar dessa tensão, dessa pressão.

A estrada era bem larga, e fácil de seguir, mas estava quase completamente escura, então Yume estava carregando uma lanterna. Haruhiro olhou para trás e viu o rosto de Yume, depois viu Shihoru, que caminhava ao lado dela, e seus olhos foram atraídos por uma certa parte da anatomia dela. Ele imediatamente se virou.

Droga. Ele tinha pensado em algo realmente estranho ali. Não, não tinha sido um pensamento. Foi um impulso. Haruhiro estava desconcertado agora. Estava enojado consigo mesmo.

Sentiu um desejo repentino, e por alguma razão, foi por Shihoru. Talvez porque os seios dela chamaram sua atenção, e isso provocou a súbita elevação em sua libido? Não, a relação de causa e efeito entre os dois não importava. O que importava era que ele tinha sentido isso. Além disso, sua parte inferior do corpo agora estava em um estado difícil de descrever.

Ah, não, ah, não, ah, não, ah, não, ah, não...

A questão era que Haruhiro, como qualquer pessoa, tinha um desejo sexual. No entanto, ele sentia que o seu não era tão forte, e preferia manter as coisas em moderação. Ele achava que, na maior parte do tempo, conseguia. Sou um jovem saudável, então não consigo evitar era algo em que ele não queria pensar. Não queria mesmo.

Sou um jovem saudável, então não consigo evitar...

Agora, ele precisava usar essa frase que nunca quis para se consolar. Não que isso o consolasse de verdade, claro. O que há de errado com você, Haruhiro? Está ficando louco? Você está cansado, Haruhiro. Não me diga que está se tornando um animal enlouquecido por sexo? Aqui? Numa hora dessas? Para com isso... Enquanto fazia o máximo para resistir à vontade de segurar a cabeça e gritar...

Miau? — Yume fez um som estranho. — Talvez, sabe, tenha alguma coisa por aí?

Alguma coisa? Como assim? — Ranta engoliu em seco. — O que é?

P-P-Parem. — Haruhiro levantou a mão rapidamente, mas todos já tinham parado. — Yume, onde está?

Por ali, talvez? — Yume apontou para trás, à direita. — Ouvi um som. Uma presença, talvez?

Kuzaku soltou um suspiro profundo, sacou sua espada e preparou seu escudo. — Devo recuar?

Hã... err... — Haruhiro balançou a cabeça para clarear as ideias. — Bem... Vamos ver. Kuzaku, você vai na direção que Yume indicou. Ranta, você fica... à esquerda de Kuzaku. Eu fico à direita. Mary, proteja Shihoru. Yume, cubra a retaguarda.

Seus companheiros assumiram a formação rapidamente. Ele foi o único um pouco lento. Haruhiro não pôde evitar se sentir assim. Suas decisões, suas ações, tudo parecia lento.

Eu não tô mais duro, né? Ele se irritou consigo mesmo por ter pensado nisso de repente. Sou estúpido? Essa não é a hora para isso, é?

Por um tempo, ele prendeu a respiração e ficou imóvel. Nada aconteceu. Ele também não ouviu nada.

Tem certeza que não imaginou isso? — Ranta perguntou em voz baixa.

Taaaaalvez? — Yume não negou a possibilidade.

Vamos continuar em alerta por enquanto. — Haruhiro olhou ao redor. Não há nada aqui, pensou, e estava prestes a dar meia-volta. — Vamos voltar para Vila do Poço...

Ouviu-se uma série de sons kohh, e algo que parecia brilhar aqui e ali. Eles estavam se aproximando.

Eram criaturas? Não pareciam tão grandes. Mais de uma ou duas. Cinco, talvez seis? Mais?

Kohh. Kohh. Kohh.

Seria esse o som deles latindo? Uivando?

Estão vindo! — Haruhiro gritou, dizendo o que todos já sabiam.

Imediatamente, Kuzaku usou Bash e mandou alguma coisa voando com seu escudo.

Macacos?! — Ranta girou sua Lightning Sword Dolphin. Ele não acertou.

Eram mesmo parecidos com macacos. Seus corpos estavam cobertos de pelos pretos ou marrons, e tinham caudas. Saltavam no chão com as patas dianteiras e traseiras para atacar, mas não corriam como animais quadrúpedes. Agarravam as árvores com as patas dianteiras e afastavam os galhos com elas. Mas seus rostos eram menos de macaco e mais parecidos com os de cachorro. Poderiam ser chamados de inuzarus, cachorros-macacos.

(NT: Inu significa cachorro e saru significa macaco; juntando os dois, temos inuzaru.)

Haruhiro afastou um inuzaru com o porrete na mão direita, depois tentou chutar outro, mas ele desviou. Embora tenha afastado o primeiro, o golpe foi fraco. O inuzaru avançou nele de novo. Ele se abaixou e mirou com sua espada curta, mas o inimigo desviou.

Esses bichos são rápidos demais! Leap Out! — Ranta lançou-se para frente, desenhando um oito afiado com sua Lightning Sword Dolphin. — Seguido de Slice!

O inuzaru que foi fatiado soltou um último kohhh... e caiu no chão.

Ranta levantou sua Lightning Sword Dolphin para o alto. — E aí?! Eu sou incrível!

Sim, sim, sim, já entendemos, agora para de perder tempo e continua lutando, tá bom?, era o que Haruhiro queria dizer, mas antes que pudesse, os inuzarus uivaram kohh, kohh, kohh e começaram a recuar.

Acham que podem fugir, é?! — Ranta estava prestes a correr atrás deles, mas imediatamente parou. — Bom, vamos dizer que eles ficaram devidamente apavorados comigo. Afinal, eu sou o cavaleiro das trevas supremo, Ranta-sama!

...T-Todo mundo tá bem? — Haruhiro olhou para seus companheiros. — Vocês estão, né?

Uhum. — Kuzaku abaixou sua espada.

Miau. — A resposta de Yume era tão incompreensível quanto sempre, mas ele podia presumir que ela estava bem.

Isso me pegou de surpresa... — Shihoru soltou um suspiro profundo.

Não vem mais nenhum? — Mary ainda estava com seu cajado curto pronto.

Por enquanto, parecia que ninguém estava ferido.

Ranta se aproximou do cadáver do inuzaru. Não, ele ainda não estava morto. Tinha cortes por todo o corpo e tremia. Mesmo assim, estava claramente prestes a dar seu último suspiro. Sem hesitar, Ranta pisou na nuca do inuzaru e a esmagou, matando a criatura.

Haruhiro pensou: Ei, será que isso é mesmo certo? Mas, comparado a prolongar o sofrimento da criatura, talvez fosse mais gentil acabar com ela rapidamente.

Ranta se agachou, examinando o inuzaru antes de se virar para Haruhiro.

E aí, será que dá pra comer se a gente cozinhar?

Ranta não se autodenominava o cavaleiro das trevas supremo à toa, aparentemente. Era um título que ele mesmo tinha se dado. Ainda assim, as coisas que ele pensava eram realmente assustadoras.

Naturalmente, o resto dos companheiros não deu uma resposta favorável. Matar criaturas vivas e comê-las. Pode parecer cruel às vezes, mas nada mais era do que natural. Porém, mesmo que matassem goblins, nunca considerariam comer um. Os inuzarus eram parecidos com macacos, então sentiam a mesma repulsa, o mesmo senso de que era um tabu. Entretanto, também estavam com fome e com pouca dinheiro para comprar comida.

Você acha que consegue desmembrar? — Haruhiro perguntou, com um certo tipo de determinação escondida no coração.

Unngh... — Yume parecia extremamente contrariada com a ideia. — Não é impossível, não. Yume, ela não quer muito fazer isso, mas pode...

Tirar a pele e as entranhas, né? — Ranta colocou o braço em volta dos ombros de Yume, agindo de forma excessivamente íntima. — Vai ser fácil, né. Yume, eu sei que você consegue! Vai lá!

Tira a mão, idiota! — Yume afastou o braço de Ranta. — Yume não quer fazer isso, afinal!

Eu não tô muito a fim de comer isso... — Shihoru se engasgou e se inclinou para frente.

É... — Mary cobriu a boca com as mãos.

Se me mandarem comer, eu como... — disse Kuzaku, hesitante.

Kuzaku, você é um cara gente boa.

Sim, era isso. Não era carne humana, afinal. Era só de um animal parecido com um macaco, só isso. Mesmo que tivesse um gosto ruim, era melhor do que morrer de fome. Se podiam comer, tinham que comer.

Yume, eu também vou ajudar. — Haruhiro olhou nos olhos de Yume. — Você acha que consegue, pelo menos, tentar por mim? Se não der, me diz como fazer, e eu faço.

No fim, Yume não recusou.

Haruhiro carregou o corpo do inuzaru e preparou uma fogueira ao lado da ponte da Vila do Poço. Quando o fogo estava pronto, começaram a preparar a carcaça. Uma vez que decidia fazer algo, Yume era confiável. Haruhiro só conseguia levantar, virar e segurar o corpo para ela. Yume fez todo o trabalho importante. Ela ofereceu parte da caça ao Deus Branco Elhit, e depois começou a cozinhar a carne que havia colocado cuidadosamente em espetos sobre o fogo.

Quando a carne ficou pronta, todos começaram a comer ao mesmo tempo.

Depois de mastigarem e engolirem, Ranta balançou a cabeça de um lado para o outro.

Bem, tem um gosto meio normal, né. Nem tão ruim, nem tão bom. Talvez fosse melhor com um pouco de sal...

Murrgh... — Yume fez uma careta. — Talvez não seja tão gostoso...


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