Hai to Gensou no Grimgar | Grimgar of Fantasy and Ash Volume 06 Capítulo 07 [Disposição]
Mas, bem, sabe? Não era como se a party de Haruhiro e os Tokkis tivessem passado três dias e três noites apenas cavando um buraco. Não havia noites no Reino do Crepúsculo, então dizer isso era estranho... talvez? Sim? De qualquer forma, nesses três dias, menos da metade das setenta e duas horas foram gastas cavando. No máximo, umas vinte e quatro horas. O resto foi dormindo.
Não, isso não era bem verdade. Claro, eles faziam pausas, dormiam e até revezavam para voltar ao assentamento e tomar banho, mas faziam outras coisas também.
Taro apareceu por acaso e sugeriu que fossem ver o deus gigante e a hidra por si mesmos. A propósito, a hidra era aquela criatura branca que se contorcia. O pai de Taro, Gogh, havia dado esse nome a ela.
— É um bom nome. — O jovem de beleza inigualável, Taro, sussurrou para si mesmo, com o rosto tomado por uma felicidade incontida. — A hidra. É legal. Meu pai é incrível. Ele é mesmo o meu pai.
Seguindo Taro, que tinha uma profunda admiração e amor por seu pai, e provavelmente por sua mãe também, a party de Haruhiro e os Tokkis se aproximaram do deus gigante e da hidra.
Tanto o deus gigante quanto a hidra estavam em constante movimento, perseguindo as equipes de isca, então, no final, o mais perto que conseguiram chegar foi a uns cinquenta metros. Mesmo assim, isso já era perigoso o suficiente para eles.
O deus gigante, em particular, tinha um tamanho que só podia ser descrito como além da compreensão humana. Quando Taro disse que estimavam que ele tinha 300 metros de altura, eles só conseguiram dizer: Ah, tá. Tudo isso?
Haruhiro tinha cerca de 1,70 metros de altura, então 300 metros era aproximadamente 176,5 vezes isso. Mesmo comparado aos 1,90 metros de Kuzaku, ainda era 156,25 vezes maior. Nem fazia sentido comparar.
Derrotar aquela coisa? De jeito nenhum. Impossível. Que tipo de piada era essa? Não havia nada que pudessem fazer. Não tinha como funcionar.
Era por isso que, segundo Taro, as equipes de isca estavam começando a achar que talvez fosse demais lidar com isso dessa vez.
Bom, óbvio.
Tipo, o que queriam dizer com “dessa vez”? Ia haver uma próxima? Eles iam enfrentá-lo na próxima? Eles eram idiotas? Ou simplesmente incríveis? Será que pessoas tão incríveis vivenciavam as coisas de forma diferente?
De qualquer maneira, era uma boa notícia para Haruhiro que o deus gigante estivesse sendo riscado da lista de alvos.
Quero dizer, pense nisso. Os pés de Haruhiro tinham 25,5 centímetros. Se ele multiplicasse isso por 176,5, dava 4.500,75 centímetros. Isso era mais de 45 metros.
Aquela coisa não cairia em uma armadilha com 30 metros de diâmetro. Quanto à profundidade, com um corpo massivo de 300 metros de altura, mesmo sendo conservadores, eles precisariam de uns duzentos metros.
Impossível.
Mesmo deixando de lado a armadilha, era impossível.
Para começar, embora fosse verdade que o deus gigante parecia humanoide visto de longe, e até caminhava como um, ele estava mais para uma megaconstrução pura e branca em movimento. Era insano pensar em matar aquela coisa. No mínimo, deveriam falar em “destruí-la”.
Além disso, se fossem destruí-la, Haruhiro tinha que ser humilde e reconhecer que isso exigiria algum tipo de armamento pesado. Como armas de cerco, talvez? Embora, mesmo se conseguissem reunir o suficiente, o inimigo não iria ficar parado, esperando ser destruído. Não, provavelmente atacaria, e isso não seria fácil de lidar. Essa era apenas a opinião de Haruhiro, mas não era meio impossível?
Agora, quanto à hidra...
Devia ser porque eles tinham visto o espetáculo incrível do deus gigante primeiro, antes de ver a hidra. Só podia ser isso. Porque quando Haruhiro a olhou, sua primeira impressão foi: Hã? É só isso?
À primeira vista, era mais ou menos do tamanho de um prédio de dois andares. Não, talvez um pouco maior. E era longa.
A hidra era uma criatura de muitas cabeças que parecia uma massa de cobras brancas de até dois ou três metros de espessura.
Ela tinha nove cabeças, parecidas com cobras, mas, surpreendentemente, sem olhos. As criaturas do Reino do Crepúsculo pareciam todas ter um olho, então ele esperava que houvesse um por cabeça, mas esse não era o caso. Talvez isso significasse que, na verdade, elas não eram cabeças, mas sim tentáculos.
A hidra se movia torcendo vários desses tentáculos. Parecia que quatro tentáculos eram usados para se mover. Os outros cinco se contorciam no ar, como se estivessem procurando algo. Eles provavelmente eram algum tipo de sensores.
— A gente acaba com essa coisa fácil — Tada disse, dando uma risada debochada.
Não sei se “fácil” é a palavra certa, mas parece mais controlável do que o deus gigante e—Não, não, não... Haruhiro balançou a cabeça. Calma aí, calma aí. Eu digo isso, mas ainda é enorme, certo? Se eu levar uma pancada de um desses tentáculos, tenho certeza de que vou morrer na hora.
A hidra estava a uns cinquenta metros de distância de Haruhiro e dos outros, se movendo em direção ao oeste, mas não era perto demais? Eles não tinham chegado perto demais? No momento, os cinco tentáculos que a hidra não usava para se mover não estavam apontados para eles. Ou seja, a hidra ou não tinha notado Haruhiro e os outros atrás dela, ou simplesmente não se importava.
Mas e se ela notasse? O que aconteceria então? Não seria perigoso?
— Hum, não deveríamos nos afastar mais...? — arriscou Haruhiro.
Taro olhou para trás enquanto continuava a andar.
— Está tudo bem. Essa distância é segura. Provavelmente.
— “Provavelmente”?
— “Nada neste mundo é 100% certo.” Foi o que meu pai me disse.
— Bem, isso pode ser verdade, mas...
— Não, não é “pode” — disse Taro com confiança. — As palavras do meu pai são absolutas.
Como assim? Não era nada suposto ser 100% certo?
Quão bravo esse belo garoto ficaria se Haruhiro cutucasse os furos na lógica dele? Seria interessante ver. Não, ele não queria ver, e nem queria deixar Taro irritado. Isso parecia assustador.
Por sinal, Haruhiro e os outros estavam perseguindo a hidra a um ritmo que era um pouco mais do que uma corrida leve. Tokimune carregava Anna-san nas costas, porque ele disse que seria difícil para ela acompanhar, mas Haruhiro tinha que pensar que ele era um pouco mole demais com ela, mesmo que ela fosse a mascote deles.
— Quem tá servindo de isca? — perguntou Ranta.
Talvez Taro não tivesse ouvido, porque ele não respondeu.
— Ei, quem é? Ei? Quem tá servindo de isca? Ei? Ei? Ei? Ei, por que tá tão quieto? Tô falando com você, sabia? Heeeey. Ei, ei, heeeey. Tá me ouvindo? Tô perguntando, tá me ouvindo? Ei!
— Tô ouvindo. — Taro nem se dignou a olhar para Ranta. — Mas não quero responder. Minha mãe me disse: “A vida é curta demais para perder tempo falando com idiotas.”
— O quê, eu sou um idiota?! — gritou Ranta.
— É, você é um idiota — Haruhiro não conseguiu deixar de concordar.
— Você é um idiota, com certeza — Yume concordou.
— Pior que idiota... — Shihoru parecia ter sua própria opinião sobre o quão idiota Ranta era.
— É verdade que seria uma perda de tempo — Mary disse friamente.
— Bem... — Kuzaku, que não tinha dito nada, talvez ainda sentisse a necessidade de se segurar.
— Ahaha! — Kikkawa deu um tapinha no ombro de Ranta. — Mas eu adoro o quão idiota você é! O lixo de um homem é o tesouro de outro, né?!
— Sai fora! — gritou Ranta. — Você é irritante, Kikkawa! Eu não sou lixo! Se eles querem me jogar fora como lixo, eu vou jogar eles fora primeiro!
— A gente não se importaria, sabe? — disse Haruhiro.
Ranta entrou em pânico.
— V-você... você... seu idiota! Não é isso que você devia dizer! Era pra você falar algo tipo: “Não diga isso!” e me repreender! Falar que eu não deveria falar sobre jogar as pessoas fora ou ser jogado fora!
— Ranta! — Tokimune abriu um sorriso brilhante, mostrando seus dentes brancos. — Você é tão trabalhoso!
— Tokimune-san?! Sabe, isso não soou como um elogio pra mim!
— Não é elogio, yeah?! — Anna-san lhe mostrou o dedo do meio das costas de Tokimune. — De que tipo de bunda de javali verrugosa você saiu, seu pinto podre?!
— Heh... — Inui deu um sorriso maligno. — Caia na ruína, seu cão do fim...
— Cão? — Mimorin olhou ao redor.
Não vejo nenhum cão aqui... Haruhiro concordou.
— Quem é a isca? — perguntou Tada, como se nada tivesse acontecido.
Desta vez, Taro deu uma resposta adequada.
— A hidra tá sendo guiada principalmente pelo golem Zenmai, do Pingo. O deus gigante era a Lala e o Nono, acho. Eram eles. Já que vieram aqui montados em dragões-cavalos.
Dragões-cavalos eram pequenos dragões que andavam eretos sobre as patas traseiras. Se um dragão jovem fosse criado desde o ovo, ele podia ser treinado para carregar um humano como um cavalo. Tendo os visto de vez em quando no Posto Avançado do Campo Solitário, a princípio Haruhiro pensara que gostaria de montar um algum dia. No entanto, quando soube que os dragões-cavalos tinham suas asas removidas ainda jovens para se tornarem adequados para montar, ele rapidamente perdeu qualquer desejo de fazê-lo.
— Entendi. — Tada assentiu e parou de andar de repente. — Heeeey, sua hidra estúpida! Olha pra mim! Sim, pra mim! Tô aqui! Bem aqui!
Será que um humano conseguia gritar tão alto? Como ele estava conseguindo fazer aquela voz tão alta? Ele não estava transcendendo os limites do corpo humano?
Haruhiro parou, horrorizado. Todos os outros fizeram o mesmo. Até Tokimune e os outros Tokkis ficaram boquiabertos.
— Espere— — Taro parou, arregalando os olhos. — O que você...?
— Vem pra cima! Heeeey! — Tada apontou seu martelo de guerra para a hidra. — Eu disse, vem pra cima de mim, sua covarde! Tá se sentindo medrosa?! Percebeu que não pode me vencer?! Você é só uma fracote gigante!
Foi então que aconteceu.
A hidra não parou. Na verdade, com seu tamanho, talvez nem pudesse parar de repente. No entanto, sua velocidade claramente diminuiu. Um de seus tentáculos, a parte com aparência de cabeça na ponta, se virou na direção deles.
Finalmente, a hidra parou de avançar.
Um segundo, depois um terceiro tentáculo se moveram, e suas cabeças sem olhos se voltaram para Haruhiro e o grupo.
— Heh... — Tada apoiou seu martelo no ombro, ajustando os óculos com o dedo indicador da mão esquerda. — Finalmente me notou, hein. Demorou. Demorou demais.
Tada, pensou Haruhiro. O que você quer dizer com “Heh”? Tada! Tadaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!
Mesmo que ele dissesse em voz alta, não faria diferença. Haruhiro percebeu isso. Não era incomum conversas simples com Tada desmoronarem. Bem, o que ele podia fazer então?
— Ah, pelo amor de...! — Haruhiro resmungou. Ele ia agir.
Haruhiro agarrou Tada pelo colarinho da roupa de sacerdote.
— Gweh! — Tada gritou.
Talvez estivesse sufocando-o, mas Haruhiro não se importava. Era o Tada, afinal. Ele ia sobreviver.
— Todo mundo, corram! — Haruhiro gritou.
Ele disparou em uma corrida desesperada. Felizmente, os Tokkis o seguiram porque parecia divertido, então todos conseguiram começar a fugir sem problemas. A maior preocupação era a ação da hidra.
Se ela viesse atrás deles, conseguiriam escapar? O que aconteceria se fossem pegos? Teriam que lutar? Ou melhor, teriam que morrer? Era assustador só de pensar nisso, mas a hidra não veio atrás deles.
Será que tiveram sorte? Não, o golem Zenmai, que estava servindo de isca, devia ter feito algo para provocar a hidra com sucesso. Eles deviam muito a Zenmai.
Depois de terem colocado uma distância de 200 metros entre eles e a hidra, Haruhiro soltou Tada. Ele estava suando muito. Aquilo tinha sido assustador.
— Mano! — Tada segurou a garganta, se aproximando de Haruhiro. — Isso doeu, sabia, Haruhiro!
Ele deu uma cabeçada em Haruhiro, mas este conseguiu se manter firme de alguma forma.
— Ack!
Os olhos de Tada estavam vermelhos. Ele era assustador pra caramba. Mas, se Haruhiro recuasse agora, parecia mais provável que fosse morrer. Ele não entendia Tada, e duvidava que algum dia entenderia, mas essa era a sensação que tinha.
— R-Reflete sobre o que você acabou de fazer! — Haruhiro gritou. — Aquilo foi perigoso! Eu nem quero saber o que você estava pensando, e não vou perguntar, mas por favor, para com essas besteiras!
— Cala boca! Quem tem que refletir é você!
— Eu não estava errado, então não vou refletir!
— O que você disse?!
— Não vou refletir! V-Você que deveria!
Ohh, será que era seguro ir tão longe? Seria perigoso? Ele não sabia. Mas se não reagisse à pressão que Tada estava colocando sobre ele, provavelmente seria subestimado. Para resistir, provavelmente precisava manter uma postura firme.
— Quem tem que refletir é você, Tada! — Haruhiro gritou. — Você não pode colocar seus companheiros em perigo por impulso assim!
— Hahaha! — Tada riu enquanto esfregava suas testas novamente.
Haruhiro não recuou. Não podia. Não podia ceder. Depois de tudo que tinha dito, se ele recuasse e pedisse desculpas, pareceria um idiota completo. Ele estava quase chorando, mas não iria chorar.
— Um novato como você, tentando me dizer...! — Tada balançava a cabeça de um lado para o outro, e suas testas continuavam a se esfregar.
Alguém me ajude, Haruhiro suplicou em silêncio. Alguém o pare. Como Tokimune.
No entanto, no momento em que desviasse o olhar de Tada para procurar salvação nos outros, a disputa seria decidida. Ele sentia isso.
— M-Mesmo que eu seja um novato...
— Mesmo que seja um novato, o quê?! — Tada gritou.
— ...Eu sei distinguir o certo do errado melhor que você! — Haruhiro finalizou. — Se você vai agir como uma criança que não sabe a diferença, vou ter que te colocar numa coleira e te guiar por aí!
— Oh, ho. — Tada recuou de repente, ajustando os óculos com o dedo indicador da mão esquerda.
Haruhiro quase caiu para frente.
— Nada mal.
...Ele acabou de sorrir? Ele parece feliz? Haruhiro ficou atônito. Eu não entendo esse cara...
Mas estou salvo... acho? Ele pensou, incerto. Pelo menos, não parecia que ele estava prestes a ser espancado até a morte. Não, se ele baixasse a guarda, Tada poderia vir para cima com o martelo, talvez? Só por segurança, era melhor não baixar a guarda.
— Haruhiro. — Tokimune mostrou os dentes brancos e fez um sinal de positivo. — Boa luta.
Ah, cale a boca, pensou Haruhiro, mas estava tímido demais para ficar bravo.
— Valeu. — Ele disse, inclinando a cabeça levemente.
— Pft... — Taro soltou uma risada, cobrindo o rosto com ambas as mãos. — Heheheheheh! Ahahahahaha! Vocês são esquisitos! Vocês são todos tão esquisitos! Bwahahahahahahaha! Gwahahahahahahahah!
Ele estava rindo. Rindo como um louco. Rindo tanto que parecia que ia desmaiar. A visão do belo elfo dobrado de tanto rir foi inesperada e deixou Haruhiro sem reação.
Taro ficou assim por um tempo, depois limpou a garganta de repente e assumiu uma expressão séria. Mas seu rosto estava vermelho. Até suas orelhas compridas estavam vermelhas. Talvez estivesse envergonhado.
— Papai sempre disse: “Rir é o melhor remédio.” — Taro disse solenemente.
Bem, tudo bem então, pensou Haruhiro. Que elfo esquisito.
De qualquer forma, entre eventos como aquele, a party de Haruhiro e os Tokkis levaram setenta e duas horas para cavar um buraco de cerca de trinta metros de diâmetro e aproximadamente três metros de profundidade. Eles colocaram várias vigas de suporte dentro do buraco, cobriram a parte superior com redes vindas dos mercadores que ainda estavam no assentamento e depois camuflaram com grama para parecer mais um fosso de armadilha real.
Era fácil de notar de perto, então dificilmente poderia ser chamado de um trabalho perfeito. Ainda assim, se eles conseguissem atrair uma criatura gigante como a hidra para cima dele, talvez ela caísse? Possivelmente? Honestamente, não havia como saber até tentarem.
Eles haviam combinado de se reunir de volta na colina inicial assim que terminassem a armadilha. A colina inicial ficava a oeste do assentamento.
Haruhiro e os outros construíram suas estruturas cerca de cinco quilômetros ao sul do assentamento. Ia ser no caminho, então decidiram parar no assentamento. Eles já estavam acostumados com o trabalho de soldados voluntários, então ninguém pedia luxos como um banho de verdade, mas queriam água fresca para beber.
Mesmo antes de chegarem ao assentamento, todos achavam que algo estava estranho. Para ser mais claro, tinham um mau pressentimento.
O deus gigante era visível ao longe, a oeste. Se estivesse se movendo, não seria realmente um problema.
A questão era que ele não estava. Estava parado.
Pouco antes de chegarem ao assentamento, Anna-san disse distraidamente:
— Aquela... direção da inicial, né...?
É, Haruhiro pensou.
Estava bastante barulhento dentro do assentamento. Embora a maioria dos mercadores já tivesse empacotado e partido, ainda havia setenta ou oitenta soldados voluntários reunidos ali, afinal.
Não, se eles apenas estivessem reunidos ali, não seria tão barulhento assim.
— O que foi isso, otário?! Quer brigar?! — “One-on-One” Max do Iron Knuckle estava se aproximando de um homem de cabelo vermelho fogo, como se fosse agarrá-lo a qualquer momento.
Havia homens formando uma parede ao redor dos dois, zombando e gritando, e era por isso que estava tão barulhento.
— Você quer brigar?! — O homem de cabelo vermelho, que não era apenas alto, mas também tinha olhos grandes, um nariz grande e uma boca grande, gritou de volta para Max e não recuou nem um pouco. — Pode apostar que eu quero, nanico!
— Quem você tá chamando de nanico?! Eu não sou nanico, você é que é estupidamente grande! — Max gritou.
— Não culpe os outros por você ser pequeno, Nanico!
— “Nanico, nanico, nanico” — é só isso que você sabe dizer, Gordão?!
— Quem você tá chamando de gordo, Nanico?! Eu mantenho meu percentual de gordura corporal em dígitos únicos, então não subestime meu corpo, seu nanico de merda!
— Como diabos você tá mantendo seu percentual de gordura baixo?! Não se ache só porque pinta o cabelo de vermelho, seu brutalmortes!
— A palavra que você quer usar é “brutamontes”, seu burro!
— Não tenta escolher grãos com meu jeito de falar, seu idiota ruivo! Quer se queimar?!
— O que diabos quer dizer com “colher grãos”?! E se você acha que pode me queimar, então tente, seu macaco!
— Quem você tá chamando de macaco, seu macaco?!
— Ninguém que me chamou de macaco ainda está vivo! Não que alguém já tenha me chamado disso, entendeu?!
— Vou te chamar disso quantas vezes eu quiser! Macaco, macaco, macaco, macaco, maaaaacaco, macaco!
— Seu...!
Os punhos do Ruivo cortaram o ar. Max... não desviou. Isso foi provavelmente intencional. Sem evitar o golpe, ele baixou a cintura e recebeu o soco na bochecha esquerda.
Max balançou por um momento, mas aguentou firme.
— Seus socos de mulherzinha não doem nem fazem cócegas!
— Ah, é?! — O Ruivo acertou os joelhos de Max com um chute baixo dessa vez. — E isso?!
— Ugwahhhh!
Que chute. Era audacioso e poderoso, mas ao mesmo tempo preciso. Parecia quase como se as duas pernas de Max tivessem se quebrado. No entanto, Max ainda estava de pé. E com um sorriso.
— Gyahyahyahya! Isso não funciona comigo!
— Você só tá bancando o forte! — O Ruivo deu um soco no rosto de Max, depois mais um, e outro ainda mais forte. — Essa é sua única qualidade, seu macaquinho! Toma essa!
— Não! Dói! Nem! Um pouco! Gwahrah!
— Khhh?! — O Ruivo recuou os punhos que estavam massacrando Max.
Sua cabeça. Ele tinha socado a cabeça de Max. Não, Max o deixou socar sua cabeça? O crânio podia ser bem duro. Se atingisse no ângulo certo, poderia até desviar uma espada de aço. Ainda assim, Max estava coberto de sangue nesse ponto.
Isso não dói? Ele perdeu completamente a noção? Foi tudo o que Haruhiro conseguiu pensar.
Max imediatamente agarrou o Ruivo. Pegou-o pelas pernas. Derrubou-o de imediato. Montou nele, desferindo socos de cima para baixo no Ruivo.
— Oorah! Ora! Ora! Ora! Ora! Ora! Ora! Ora! Ora!
O Ruivo estava defendendo o rosto com ambos os braços—ou parecia que estava, mas o ataque violento de Max era incrível.
Não tem como ele revidar assim... No momento em que Haruhiro pensou isso, o Ruivo lançou seu punho direito de baixo para cima.
Se tivesse atingido o queixo, Max certamente teria caído. Sem dúvida, teria sido nocauteado.
Mas Max se torceu para o lado, desviando por um triz—e não era só isso. Sem perder o ritmo, ele agarrou o braço do Ruivo. Ele se contorceu, tentando aplicar uma chave na articulação.
Contudo, o Ruivo também reagiu rapidamente. Ele se levantou, puxando Max junto com ele, que estava pendurado em seu braço.
— Uwahahahaha! — O Ruivo imediatamente balançou o braço para baixo, tentando jogar Max no chão.
Haruhiro imaginou a cena de Max sendo esmagado, mas isso não aconteceu. Antes de ser esmagado, Max soltou o braço direito do Ruivo. Com uma flexibilidade e agilidade que o faziam parecer um invertebrado, ele girou uma vez e se levantou.
— Isso não vai funcionar comigo, Ducky! Já é a segunda vez, afinal!
— Eu sabia que não ia! Ainda não consigo esquecer como foi te esmagar daquela vez! Quero outra dose disso!
— Que coincidência, hein? Às vezes também sonho com o dia em que te arrebentei de porrada!
— Uwahahaha!
De repente, o Ruivo saiu de sua posição de combate e estendeu a mão direita para Max. Max sorriu e bateu na mão direita do Ruivo com a sua.
Os homens ao redor explodiram em aplausos.
— Max! Maaaax!
— Ducky é o melhor!
— Max é o mais forte!
— Seu buxa, Ducky é claramente mais forte, sabia?!
— Se fosse uma luta pra valer, Ducky seria o primeiro a morrer!
— Seu cu!
— Como é? Seu berserker estúpido!
Alguns dos homens estavam se insultando, mas não pareciam estar prontos para se matar. Seria exagero dizer que estavam se dando super bem, mas parecia que estavam se divertindo.
— “Cu”? — Yume inclinou a cabeça para o lado.
— É só um insulto, provavelmente — Haruhiro respondeu, tentando manter a calma. — Mas, de qualquer forma, você não deveria dizer essa palavra.
— Cu? — Yume olhou para ele, intrigada. — Por quê?
— Não, tudo bem, eu acho — murmurou Haruhiro. — Quer dizer, nem tanto...
— Escuta, Yume — Ranta suspirou, colocando a mão no ombro de Yume. — Deixa eu te explicar o que é o cu. Bom, é difícil de explicar em palavras, então vou te mostrar onde fica. Você tem uma bunda, né? Então, lá dentro da bunda está...
— ...sujo — Shihoru murmurou para si mesma.
— Esperta! — Kikkawa apontou para Shihoru.
Shihoru se encolheu. — Eu... Eu não estava tentando fazer uma piada.
— “Max ‘One-on-One’” e “Ducky ‘Red Devil’”, hein. — Tada ajeitou os óculos com o dedo indicador da mão esquerda. — É, eles não são páreo pra mim.
— Esses dois estão sempre se enfrentando. — Tokimune olhou para os dois como um pai orgulhoso. — Acho que é como dizem: “quanto mais você briga, melhor se dá com a pessoa.”
— Não consigo entender isso... — Mary balançou a cabeça.
— Eles estavam sangrando... — Kuzaku parecia um pouco desconcertado também.
— Heh... — disse Inui.
Tomara que Inui fique quieto, pensou Haruhiro.
— Pensar que começaram esse ritual sem mim... — continuou Inui.
Porque nada do que ele diz faz o menor sentido.
— Ah, seus imbecis! Tem outras coisas pra fazer antes, né?! — Anna-san pulou com as bochechas infladas. — Outras coisas? Por quê, shit? O que era? O quê?
Sinceramente, o que era que eles deveriam estar fazendo primeiro, hein? Haruhiro fechou os olhos, respirando fundo. Talvez ele sempre tenha sido do tipo paciente. De qualquer forma, sentia que havia desenvolvido um nível impressionante de tolerância.
Quando abriu os olhos, viu Shinohara se aproximando com um grupo de homens e mulheres com capas brancas. Comparado a Max de Iron Knuckle e Ducky dos Berserkers, pessoas que ele jamais entenderia, Shinohara parecia um salvador. Ele até tinha uma auréola de luz ao redor dele. Era uma ilusão?
Bem, claro que era uma ilusão. Não havia como ele ter uma auréola de luz de verdade.
— Urgh... — Mimorin fez uma careta e estreitou os olhos.
Será que ele era brilhante demais pra ela? Não pode ser... será que Mimorin também via a auréola de luz?
Haruhiro piscou para confirmar por si mesmo. Não, nem Shinohara, por mais incrível que fosse, emitia uma auréola de luz. Isso era óbvio.
— Ei, Haruhiro, Tokimune — Shinohara os cumprimentou. — Parece que estamos numa situação ruim, né?
— Olá — Haruhiro acenou com a cabeça, olhando para Shinohara com os olhos semicerrados. — Uma situação ruim? O que você quer dizer com...
— Permitam que eu, Kimura do Orion, explique — o homem de corte militar com óculos interrompeu.
Esse cara de novo.
— Notamos que o deus gigante parou de se mover há mais ou menos duas horas. Nossa armadilha já estava pronta, então decidimos localizar o deus gigante. Não foi uma tarefa difícil. Se você se aproxima do deus gigante, sua localização se torna evidente. E então, nós o vimos. O deus gigante se erguendo sobre a colina inicial. Ah, que terrível! Pois aquele é o nosso único caminho de volta! Agora, embora possamos não estar completamente impedidos de retornar, fazê-lo seria incrivelmente difícil!
O que foi que você disse?! Haruhiro quase disse num tom completamente monótono, mas se conteve. Não estava tão surpreso.
Ele estava deprimido porque sua pior previsão, aquela que ele não queria considerar, havia se tornado realidade. Mas era só isso. Era tudo.
Pelo que parecia, Shihoru, Mary e Kuzaku perderam toda a empolgação.
Yume parecia estar pensando profundamente. Parecia que ela tinha chegado a uma conclusão. — Ah! Se não podemos voltar, isso quer dizer que não temos como ir pra casa?!
— Ele já disse isso! Você é burra?! — Ranta gritou com ela.
— Yume não é burra — ela se defendeu. — Pessoas que chamam as outras de burras, essas são as verdadeiras burras, sabia?
— Bom, seguindo sua lógica, as pessoas que chamam os outros de gênios são os verdadeiros gênios também?! — Ranta esbravejou.
— Hmm. Provavelmente, não acha?
— Você é uma gênia! Uma gênia! Yume, você é uma verdadeira e linda gênia!
— Ohhh? Sério? Ranta, então é assim que você se sente sobre a Yume — ela sorriu. — Tá meio constrangedor.
— I-Isso é besteira! Não foi isso que eu quis dizer! Não é assim, tá?!
— Seu rosto tá todo vermelho... — Shihoru olhou de canto para Ranta, tremendo de nojo. — Que nojo...
— Q-Q-Q-Q-Quem tá com o rosto vermelho, droga?! E o que você quer dizer com nojo?!
— Hmm. — Kimura ajustou os óculos, olhando de Ranta para Yume. — Desculpe se essa é uma pergunta delicada, mas vocês dois estão num relacionamento profundamente romântico? Em outras palavras, vocês são namorados?
— Q-Q-Q-O quê?! — Ranta começou a se agitar tanto que parecia estar dançando. — Q-Q-Q-Que besteira é essa, seu idiota?! N-N-Não me faça rir!
— Nem pensar. — Yume negou rapidamente. — Você tá errado.
— S-S-Sim! V-V-Você tá errado! N-Não entenda errado! Eu jamais me contentaria com ela! Quer dizer, olha só esses peitos pequenos!
— Não chame eles de pequenos!
— Qual o problema com peitos pequenos?! — Kimura de repente ficou furioso. — Plano é sublime! A humanidade ainda não inventou nada que possa superar o peito plano! De forma alguma!
— Kimura, acalme-se. — Shinohara parecia um pouco incomodado enquanto dava um tapinha no ombro de Kimura.
— Ah, me desculpe. — Kimura riu. — Perdi a compostura ali. No entanto, permita-me esclarecer qualquer mal-entendido. Embora seja minha filosofia pessoal que peitos pequenos sejam o auge de todas as coisas, eu entendo que eles não são a única coisa de valor. Naturalmente, eu também aprecio seios grandes! Na verdade, sou flexível o suficiente para me adaptar a qualquer tamanho de busto!
— Você é apaixonado! — Kikkawa ergueu o braço. — Você tem paixão, Kimuracchi! Eu entendo, entendo perfeitamente! Eu sou do mesmo jeito, cara! Qualquer tamanho tá bom pra mim, com certeza!
— Sim!
Kimura e Kikkawa trocaram um firme aperto de mão. Parecia que uma amizade apaixonada havia se formado entre eles.
Até Orion tinha estranhos como esses, hein. De alguma forma, isso foi uma descoberta profundamente comovente.
— Hum... — Anna-san deu de ombros e olhou para eles com decepção. — Toda vez que vocês abrem a boca, é só sobre peitos, peitos, peitos! Isso? Isso é chamado de assédio sexual, tá! E se a Anna-san e as outras garotas começarem a falar sobre o tamanho do pênis na frente de vocês? Imagina como isso levaria vocês ao céu, seus perdedores de pau pequeno!
Mary franziu a testa. — Hayashi? O que houve?
Olhando para o lado, o ex-companheiro de Mary, Hayashi, estava agachado.
— ...Não. Não é nada. Nada está errado. Sério, nada...
— Oh, my god! — Anna-san cobriu a boca. — Será que você tem um “pau pequeno”? Nada para se preocupar, né? Dizem que, mesmo pequeno, ainda funciona sem problemas...
— “Dizem que,” — Mimorin repetiu sem expressão.
Por que ela repetiu isso?
Hayashi estava prestes a chorar. Coitado. Mas seria estranho consolá-lo. Haruhiro não poderia oferecer apoio, nem dizer muito nessa situação. Talvez nenhum dos rapazes pudesse, e eles apenas teriam que ficar em silêncio.
— Hmph... — Tada lambeu os lábios. — Basicamente, vamos ter que lutar. Não teria como ser de outra maneira.
Esse era o Tada-san. Ele não tinha sensibilidade. Para Tada, isso não fazia diferença, e ele provavelmente nem se preocupava com isso. Por isso, ele ignorava as coisas. Era um jeito bem comum dele agir. Nesse caso, Haruhiro estava feliz por isso.
Ou não? Eu estou feliz? Hein? “Temos que lutar”? Pera aí.
— O que você quer dize— — Haruhiro esqueceu o que ia perguntar. Mais precisamente, o fato de que ele estava tentando dizer algo sumiu de sua mente.
Noooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooong.
Algo ecoou.
Um som? Não, era mais uma vibração do que um som. Embora, se bem me lembro, o som é uma vibração, então acho que era o mesmo que um som. Que tipo de som? Haruhiro não sabia, mas era alto. Seu corpo todo tremia como se tivesse se transformado em um grande tímpano. Seu ser inteiro foi abalado pelo som.
Não houve tempo para se surpreender, ele estava à mercê do som. Essa era uma experiência nova para ele. De onde vinha o som? De onde ele tinha vindo, e até onde ele tinha ido? Ele não tinha certeza de quão vasto o Reino do Crepúsculo era, mas não podia ser tão pequeno. Será que tinha alcançado o fim de tudo?
Haruhiro viu o som. Ele sacudiu o mundo e o distorceu. As distorções eram visíveis aos olhos.
Haruhiro segurou o peito. Seu coração estava disparado. O som passou em poucos segundos, no máximo. No entanto, seu coração ainda tremia. Era diferente do seu pulso. Estava dormente? Era algo parecido com isso.
Ele olhou ao redor. Ninguém estava bem. Todos tinham sido atingidos por aquele som agora. Shihoru estava sentada no chão, segurando a cabeça.
— Você está bem? — Mary segurou Shihoru enquanto a ajudava a se levantar.
Shihoru assentiu, mas parecia não conseguir dizer nada. Havia lágrimas em seus olhos.
— O que... você acha... que foi isso agora? — Haruhiro tentou perguntar a Shinohara, mas logo pensou que Shinohara estaria tão perdido quanto ele.
Como esperado, Shinohara balançou a cabeça. Seus olhos tinham um brilho mais afiado do que o habitual.
— Não sei... mas duvido que seja um bom sinal.
— Você acha? — Tokimune soltou um suspiro profundo e, em seguida, exibiu seus dentes brancos. — Eu não poderia estar mais empolgado, no entanto.
Ah... Isso não vai acabar bem, pensou Haruhiro. Eu posso dizer por experiência própria, nunca acontece nada de bom quando Tokimune diz isso. Isso é o pior. Eu não gosto mais disso. Como as coisas chegaram a esse ponto? De quem é a culpa? O que está acontecendo? Parem, por favor. Droga. Droga. Droga.
Haruhiro soltou todas as reclamações que pôde pensar em sua mente, e então engarrafou todas elas.
Eu quero fugir. Mas não posso.
Eu estou pronto para isso—mas essa é uma coisa que eu não consigo dizer. Não é possível. Mas tenho que me preparar. Não importa o que aconteça, tudo o que posso fazer é lidar com isso. Não importa o que aconteça?
O que diabos vai acontecer aqui?
Eu não sei.
Como eu poderia saber?
Os membros do Iron Knuckle e dos Berserkers se reuniram em seus respectivos grupos para discutir. Orion estava fazendo o mesmo. Aqueles que não pertenciam a um clã, ou que tinham vindo ao Reino do Crepúsculo como parte de uma party independente, também estavam se reunindo, incertos. De alguma forma, embora a party de Haruhiro e os Tokkis não tivessem realmente decidido fazer isso, as circunstâncias os levaram a se juntar ao grupo de Orion.
Eles discutiram várias coisas.
Onde está a party de Soma? Onde estão Akira-san e sua party? Que som foi esse agora há pouco? O que devemos fazer? O que podemos fazer por enquanto? Devíamos voltar para casa. Mesmo que quiséssemos voltar, o problema é que não há um jeito fácil de fazer isso. Então, o que deveríamos fazer? Devíamos sair daqui. Mas por que sairíamos do assentamento? Seja o que for que decidirmos, precisamos escolher uma direção geral a seguir. É melhor não nos separarmos. Melhor ficarmos juntos. Não, talvez fosse realmente melhor nos separarmos, para não concentrar todo mundo em um só lugar. Se todos estiverem amontoados, há o risco de sermos exterminados. Exterminados? O que quer dizer com exterminados? Ainda não sabemos, certo? Pode ser que nada aconteça. Onde estão Soma e sua party? Inicialmente íamos nos reunir na colina inicial. Agora não podemos; por isso Orion veio para o assentamento. Provavelmente é o mesmo para os outros. Então, onde estão Soma e sua party? Akira-san? O que fazemos? O que devemos fazer? Qual é a ação correta?
A discussão não levava a lugar nenhum. Eles não encontravam respostas. Iron Knuckle e os Berserkers também não estavam se movendo.
Eventualmente, Shinohara e Kimura começaram uma conversa. Parecia que os dois decidiriam o que fazer por Orion.
Havia soldados voluntários espalhados, discutindo sobre isso ou aquilo. Era barulhento. Mas não só isso—havia uma inquietação no ar.
Haruhiro precisava dizer algo. Precisava falar com seus companheiros. Porque Haruhiro era o líder. Ele precisava decidir. Era assim que se sentia, mas não conseguia pensar direito. Nada vinha à mente.
Isso não era bom. Não podia deixar as coisas assim. Honestamente, era a única coisa que Haruhiro sabia. Ele não queria olhar seus companheiros nos olhos, então abaixou a cabeça.
Isso não é bom. Sério, isso é muito ruim. Ele se sentia mal. Não consigo respirar direito. Está doendo. Eu não tinha me preparado para o pior? Que patético. É, isso mesmo. Eu sou uma pessoa patética. Eu sei. Não consigo ser decisivo, mesmo que eu queira. Afinal, não é o que eu sou.
— Ouça — disse Kuzaku. — Eu vou te seguir. Não importa o que aconteça, eu tô contigo, Haruhiro. Achei que devia pelo menos dizer isso.
— E-Eu também — Shihoru levantou a mão levemente. — Haruhiro-kun, você já me salvou tantas vezes. Eu queria dizer isso...
— Tem que ser o Haru-kun, né — disse Yume com uma risadinha.
— Eu tenho certeza — Mary sorriu. — Se você não tivesse estado lá, Haru, algo terrível teria acontecido. Quero dizer, de muitas maneiras. Eu estou aqui agora graças a você.
Tudo ressoou.
De muitas maneiras.
As palavras de Mary, em particular.
Então é assim, né?
Não era exatamente a melhor maneira de colocar, mas ele sentiu como se algo precioso tivesse sido arrancado dele.
Se ao menos ele tivesse percebido antes. Que ele realmente amava Mary.
Ainda assim, mesmo que ele tivesse se dado conta, esse era Haruhiro. Com certeza, ele não teria agido de forma diferente. Em outras palavras, teria resultado na mesma coisa.
Sim. A mesma coisa. As coisas aconteceram desse jeito porque precisavam acontecer.
— Heh — Ranta deu uma risada zombeteira. — Vocês são tão bregas. Queriam tanto disparar suas bandeiras de morte assim? Bando de idiotas. Sério, sério.
Na verdade, foi reconfortante. Se Ranta não agisse como Ranta, isso teria tirado Haruhiro do eixo.
Haruhiro girou os ombros, tentando relaxar a tensão. De que adiantava ficar nervoso? Não era esse o tipo de situação.
— Eles não vão morrer, cara — os olhos de Haruhiro provavelmente pareciam sonolentos naquele momento. Claro, ele não estava cansado. — Eu não vou deixar mais ninguém morrer.
No momento em que disse isso, ele começou a pensar coisas como: Bem, é o que eu espero, vou me esforçar até a morte para manter todos vivos, é o que estou dizendo, é uma expressão de intenção, não sei se é possível ou não, mas—
Esse era Haruhiro. Ele não podia mudar quem era de repente. No entanto, fingir que tinha mudado—isso, até certo ponto, ele podia fazer.
— Ducky, estamos indo! — Max levou Iron Knuckle à ação. Parecia que eles estavam indo para a colina inicial.
— Façam o que quiserem! Os Berserkers vão ficar de prontidão! — gritou Ducky. Parecia que os Berserkers planejavam permanecer no assentamento.
Max e Ducky tinham constituições físicas diferentes, mas eram do mesmo tipo. Como líderes, ou chefes, na verdade, Iron Knuckle e os Berserkers exalavam uma aura semelhante. Eles eram agressivos e chamativos.
Iron Knuckle usava azul e preto, enquanto os Berserkers usavam vermelho como suas cores distintivas, e cada um dos membros exibia essas cores em seus equipamentos. Parecia que eles tinham símbolos de clã, também. O símbolo do Iron Knuckle era um punho cerrado, enquanto os Berserkers usavam uma caveira com uma espada e um machado cruzados. No entanto, apesar de serem semelhantes, o Iron Knuckle era mais alegre e travesso, dando uma sensação de juventude. Já os Berserkers tinham o que poderia ser chamado de dignidade—ou, menos caridosamente, de astúcia.
Iron Knuckle estava indo ao ataque, os Berserkers na defensiva. Shinohara e Kimura ainda estavam discutindo. O que os Tokkis fariam? Haruhiro olhou para Tokimune para avaliar sua reação.
Hein? Algo estranho? Ele pensou de repente. Estranho como... isso é...
Esse som.
Haruhiro olhou para o leste. Depois, para o sul.
Está chegando. Cada vez mais perto. Um gigante branco. Passos, é isso. Essa vibração... São os passos de um gigante branco. Não, mas isso... Espera, o quê? o número...
Não é só um ou dois, né? Quantos são? Não sei. Talvez ainda estejam longe?
Eles estão vindo de lá... e de lá também?
Não consigo contar. São muitos. Não tenho tempo de ficar aqui contando.
— Te-Tem um enxame de gigantes brancos! — A voz de Haruhiro parecia prestes a falhar.
— Uau... — Até Tokimune ficou chocado. — Estão vindo de todos os lados, hein.
Tada riu, girando seu martelo de guerra. — É assim que eu gosto.
— Heh... — Inui abriu os braços. — Vento da ruína, sopre com toda a sua fúria!
— Não fala essas coisas de mau agouro, tá?! — Anna-san deu um soco em Inui.
— Eu vou ard-gu, Anna-san, com todo o meu fe-li! — Kikkawa apontou para si mesmo com o polegar.
— Ard-gu e fe-li... — Haruhiro murmurou para si mesmo. Provavelmente eram algumas das palavras confusas de Kikkawa, mas ele nem conseguia mais entender o que significavam.
— Kwahh — Mimorin soltou um som estranho enquanto sacava sua espada.
— Parece que vamos ter que lutar, droga. — Ranta abaixou a viseira do elmo.
— Mas mesmo que a gente vá lutar... — Kuzaku ajustou o elmo e levantou o escudo. — ...será que conseguimos?
Yume, Shihoru e Mary estavam todas em silêncio. Suas expressões eram rígidas e sombrias. Até Yume estava fazendo uma careta.
Haruhiro honestamente queria fugir. Mas a questão era: para onde? Sim, não parecia haver nenhum lugar para ir. Porque o deus gigante estava na colina inicial.
Será que o deus gigante tinha feito aquele som incrível? Era esse tipo de coisa que ele estava pensando. E agora as coisas ficaram assim? Dizem que é melhor não mexer com os deuses adormecidos, mas talvez nós, soldados voluntários, tenhamos irritado os deuses deste Reino do Crepúsculo?
Não importava. Pelo menos, não era algo para pensar agora.
— Ei, Shinohara! — Ducky gritou, acenando para eles. — Ajuda a gente aqui! Se separar não é uma boa ideia!
— Vamos chamar o Iron Knuckle de volta também. — Shinohara assentiu. — Esse é um momento em que precisamos nos unir, deixando de lado as diferenças entre clãs! O Orion vai fazer como sempre!
— Ouçam, não ousem ficar com medo e dar as costas para o inimigo! — Ducky rugiu. — Se fugirem, esperem ser mortos! Enfrentem até a morte!
— Por que aquele ruivo tá falando o óbvio? — Tada riu zombando.
Esse cara não tinha medo?
Haruhiro estava com medo. Ele sentia suas pernas e seu estômago tremerem.
O Iron Knuckle deu meia-volta e voltou, liderado por Max.
— Eles estão vindo, estão vindo, estão vindo! — Tokimune batia com a espada no escudo.
Ah, eu não quero olhar—Mas Haruhiro precisava olhar. Os gigantes brancos. Ao sul, ainda estavam longe. Os gigantes brancos a leste estavam bem mais próximos. Pelo que conseguia ver, eram cerca de dez, talvez? Poderiam haver mais atrás.
Embora houvesse diferenças entre os gigantes brancos, eles podiam ser divididos em três categorias de tamanho. Os da classe de quatro metros, os da classe de seis metros e os da classe de oito metros. Aqueles da classe de oito metros eram raros, e Haruhiro nunca tinha visto um antes.
Havia dois que pareciam ser da classe de oito metros. Um era da classe de seis metros, e o resto da classe de quatro metros.
Haruhiro não era corajoso e decisivo, nem de coração firme, nem pensava claramente, nem era calmo. O melhor que conseguia fazer era atuar no papel de líder destemido. Ele precisava desempenhar esse papel de alguma forma.
Shihoru. Yume. Ranta. Mary. Kuzaku. Ele olhou para o rosto de cada um deles. Tenho meus companheiros, e não quero que nenhum deles morra. É por isso que precisamos superar isso juntos.
— Se tá com sono, vai dormir, líder — Ranta riu.
— Quantas vezes eu tenho que te dizer? Eu nasci com esses olhos. — Haruhiro bateu o punho contra o peito. — ...Beleza. Vamos fazer o que precisamos. O sono pode ficar pra depois.
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