Hai to Gensou no Grimgar | Grimgar of Fantasy and Ash Volume 06 Capítulo 04 [Caminhos Divergentes Sob um Céu Distinto ]
Quando todos se reencontraram, foram às compras. Kuzaku comprou um novo escudo e um elmo para substituir os que haviam sofrido bastante. Mary comprou um cajado com mais poder de ataque. Quanto à Betrayer Mk. II de Ranta—um nome que, claro, o estúpido do Ranta havia dado à sua nova espada—ele negociou até o preço cair ao máximo. Para o restante da party, eles compraram apenas suas necessidades diárias.
Foi muito mais divertido do que esperavam. Eles conseguiam encontrar muitas coisas no Posto Avançado do Campo Solitário e não sentiam falta de muita coisa, mas Altana tinha uma seleção de produtos melhor. Não havia comparação. Só de olhar para tudo aquilo, já ficavam animados.
Mesmo Haruhiro, que sempre era criticado por ser chato, desanimado, estraga-prazeres e mesquinho... A experiência de explorar as lojas ali era um tanto esmagadora, e houve momentos em que ele sentiu que poderia acabar comprando todo tipo de coisa de que não precisava realmente, mas se segurou com muito esforço.
Quando deixaram Altana, sentiram uma pontinha de saudade.
Eles viajaram para o oeste através das Planícies de Vento Rápido. No caminho, acamparam uma vez, percorrendo aproximadamente 35 quilômetros a pé até chegarem ao Posto Avançado do Campo Solitário por volta das duas da tarde. Se entrassem no Reino do Crepúsculo e alcançassem o assentamento naquele dia, poderiam começar a trabalhar já na manhã seguinte. A party de Haruhiro e os Tokkis tinham essa intenção, mas...
No Posto Avançado do Campo Solitário, eles encontraram Shinohara.
— Ei, Haruhiro — disse o homem. — E você também, Tokimune.
Shinohara não havia mudado nada desde a primeira vez que Haruhiro o conhecera. Ele tinha um rosto amigável, um comportamento tranquilo e usava uma capa branca. A capa tinha um emblema com sete estrelas em forma de X. O símbolo do Clã Orion.
Haruhiro havia notado outros homens e mulheres usando as capas brancas de Orion espalhados pelo Posto Avançado do Campo Solitário. Shinohara não estava sozinho; com ele estavam o guerreiro de olhos estreitos e cabelo curto, Hayashi, e um homem de óculos com o cabelo raspado.
Hayashi fez um aceno para Mary, que retribuiu com um leve sorriso. Hayashi pareceu surpreso.
— ...Espera, hein? — Haruhiro ficou espantado, mas satisfeito ao ver que Mary conseguia cumprimentar seu antigo companheiro com um sorriso. Ele suprimiu o pensamento cínico: Ah, aposto que isso também é graças a ele, né?, enquanto esfregava a bochecha com a ponta do dedo. — Shinohara, vocês estão saindo do Reino do Crepúsculo?
— A verdade é que ainda não temos certeza — disse o homem.
— Hã?! Hã?! Hããã?! — Os olhos de Kikkawa se arregalaram. Ele deu um salto no ar e agitou os braços. — O que, o quê? Aconteceu alguma coisa? Teve um pening-hap?!
— O que é um pening-hap? — perguntou o homem de cabelo raspado e óculos.
— Uau, você vai me questionar sobre isso?! Sério?! Tipo, de verdade?! — Kikkawa gritou.
— Kikkawa, você é irritante, tá! — Anna-san deu um tapa na cabeça de Kikkawa.
— Bom... — Haruhiro achou chato, mas deveria explicar, pelo menos. — Um pening-hap é um... acontecimento... Acho que ele embaralhou a palavra.
— Ohhh. — O homem de cabelo raspado começou a rir de repente. — Entendi, entendi.
Ele acha isso... engraçado? Não é engraçado.
— E aí? — Tokimune perguntou, mostrando os dentes brancos. — Aconteceu alguma coisa, Sheeno?
— Sheeno? — Shihoru repetiu baixinho, desconfiada.
— Porque ele é o Shinohara! — gritou Ranta (o idiota). — Por isso ele é Sheeno, entendeu?!
— Coloca um -san, pelo menos. Ele merece um -san — Haruhiro o repreendeu, incrédulo.
Ranta (o lixo), que bajulava os poderosos e pisava nos fracos, rapidamente se curvou e fez uma saudação exagerada. — Desculpa! Me empolguei! Não, sabe, foi só a forma como falamos, ou o calor do momento, sabe como é! Tipo quando falamos de pessoas famosas sem usar honoríficos!
— Eu não me importo com isso. — Foi a resposta madura que se esperava de Shinohara.
— Heh... — O único olho de Inui brilhou de maneira sinistra—bem, na verdade, ele tinha dois olhos, mas estava cobrindo um com o tapa-olho. — Ele é só o Shinohara, mas ganha o apelido de Sheeno, hein...
Whoa, Inui, você está sendo ainda mais rude que o Ranta, sabia?, pensou Haruhiro.
— Nunca ouvi isso antes — disse Mimorin, piscando.
Hã? Ela nunca ouviu esse apelido antes?
— Acabei de inventar — disse Tokimune, piscando e fazendo um sinal de positivo com o polegar. — É o apelido perfeito pra ele, não é?
— Sem dúvida, né?! — Anna-san deu um sorriso radiante e fez o mesmo gesto de positivo com o polegar.
— É mais fofo que Shinoharadon e Shinoharacchom, pelo menos — acrescentou Yume, sem sentido, cruzando os braços e acenando para si mesma.
— O quê? — Tada franziu a testa. — Vocês são todos idiotas? Cada um de vocês? Shinoharaiden é melhor.
Kuzaku e Mary se entreolharam com sorrisos constrangidos, então rapidamente desviaram o olhar.
O que, o que, o que? Por que estão desviando o olhar? Podem ir em frente, não me importo. Por que não fogem para o próprio mundinho de vocês? Não vão fazer isso? Hmm. Ah, entendi. Não que eu me importe.
— Estou bem com qualquer coisa, na verdade — disse Shinohara. Mesmo depois de toda essa bobagem, ele ainda era um adulto, rindo feliz com um sorriso genuíno. — Agora, quanto à resposta da sua pergunta... Sim, algo aconteceu. Indo direto ao ponto, o Reino do Crepúsculo está se tornando menos atraente.
— Permita-me fornecer o restante da explicação — interrompeu o homem de cabelo raspado e óculos.
Espera, quem é esse cara? Já o vi antes—já vi, né? Mas não sei o nome dele.
Enquanto Haruhiro inclinava a cabeça, olhando para o homem de forma questionadora, o homem de cabelo raspado se virou para ele e sorriu.
— Desculpe a demora na apresentação. Sou Kimura, do clã Orion.
— ...Oh. — Haruhiro fez uma reverência reflexiva. — Obrigado. É muita gentileza sua.
— Sei quem você é — disse Kimura. — Você é o Sr. Haruhiro. Aquele é o Sr. Ranta. Srta. Yume. Srta. Mary. Srta. Shihoru. Sr. Kuzaku. Sr. Tokimune e Sr. Tada, Sr. Inui, Anna-san, Srta. Mimori e Sr. Kikkawa. Estou certo?
Ele adora chamar as pessoas de “Sr.” E “Srta.”, mas ainda se referiu à Anna-san com -san, como deveria. Esse Kimura não é um cara comum, acho, pensou Haruhiro.
— Kimura-san e Shinohara-san são amigos inseparáveis — explicou Hayashi.
— Possum buddies? — perguntou Yume.
Yume, isso está errado.
— Idiota, é boobie buddies (amigos do peito), obviamente! — gritou um pedaço de lixo.
Ranta, isso também está errado.
— Amigos de peito, hein... Heh... — Inui estava errado também.
— São amigos melosos, né?! — A de Anna-san estava longe demais.
— O quê?! Tipo, eles se metem em todo tipo de situações suculentas e pegajosas juntos?! — gritou Kikkawa.
Por que Kikkawa estava tão empolgado?
— Gyudon é suculento — Mimorin acenou.
Tem um lugar de gyudon em Altana, mas por algum motivo não serve carne nele.
— Bosom buddies... — Mary parecia estar pensando profundamente. — O que isso significa?
— Ah, hum... — Kuzaku também não parecia saber.
Bosom buddies, hein. Sim, é um pouco difícil de definir. Não se usa esse termo com frequência. Não estou surpreso que eles não saibam.
Por acaso, Haruhiro já havia ouvido antes e podia mais ou menos adivinhar o significado. Provavelmente, queria dizer que eram próximos, ou algo assim, certo? Confidentes, talvez? Shinohara e Kimura? Eles faziam um par um pouco estranho.
— Heh heh heh. — Kimura soltou uma risada misteriosa, que fez seus ombros tremerem. — Eu, amigo inseparável de Shinohara? Você exagera. Somos simplesmente amigos. Claro que não há nada de BL rolando entre nós. Não é mesmo, Shinohara?
— Sim. — A resposta de Shinohara continuava sendo amigável. — Se houvesse algo de BL rolando entre mim e Kimura, isso seria nojento.
— Uwah ha ha ha! — Kimura riu tanto que precisou segurar a barriga.
— BL é a abreviação de boys’ love — explicou rapidamente Hayashi.
— Eu já sabia disso, seu idiota! — gritou Anna-san com ele.
Que bagunça caótica, Haruhiro pensou consigo mesmo. Essa conversa não vai a lugar nenhum...
Não, seria mais correto dizer que não tinha ido a lugar nenhum. Após uma boa risada, Kimura explicou de forma eficiente e lógica o que havia acontecido.
Acreditava-se que tudo começara cinco dias antes, quando o Iron Knuckle atacou outra base de cultistas e massacrou os cultistas que estavam lá.
O ataque em si havia sido um sucesso, mas dois dias depois—ou seja, três dias atrás—houve uma mudança no Reino do Crepúsculo.
Inacreditavelmente, um deus gigante, uma criatura humanoide tão imensa que parecia tocar os céus, havia aparecido e começado a perseguir humanos sempre que os encontrava.
Já tinham visto o deus gigante à distância antes. Haruhiro e os outros o haviam avistado várias vezes. No entanto, o deus gigante nunca se aproximava, e parecia estar sempre longe da colina inicial.
Ouviram dizer que, muito ao sudoeste da colina inicial, havia uma bacia, o Grande Caldeirão dos Deuses, e que o deus gigante vagava por aquela área. Também ouviram dizer que quem havia descoberto o Grande Caldeirão dos Deuses e dado esse nome foram Lala e Nono.
O deus gigante era tão grande que parecia irreal, e estava claro que mexer com ele seria perigoso. Por isso, naturalmente, ninguém tinha sido tolo o suficiente para tentar, e mesmo que ele visse pessoas, nada acontecia. Ele era considerado essencialmente inofensivo.
Contudo, isso havia mudado de repente—aparentemente.
Era “aparentemente” porque ninguém havia realmente enfrentado o deus gigante ainda. Por isso, não podiam afirmar com certeza se ele realmente queria lutar ou não.
Era difícil imaginar que alguém fosse imprudente o suficiente, ou melhor, estúpido o suficiente, para desafiar uma criatura tão imensa em uma luta. No momento em que percebessem Ah, droga, ele está aqui, qualquer um fugiria. Uma vez que se afastassem a certa distância, ele não perseguia, mas qual era essa distância exata não estava claro. Se tivessem que ficar em alerta o tempo todo, isso tornava a caça de cultistas e gigantes ainda mais exaustiva.
Ah, isso está ficando ruim, eles decidiram, e então Orion se retirou temporariamente do Reino do Crepúsculo.
A situação poderia mudar, então não era uma retirada permanente. Decidiram deixar apenas uma party para trás enquanto Shinohara e os outros iam ganhar dinheiro em outro lugar por enquanto.
— Iron Knuckle, de novo?! — gritou Ranta. — Aqueles arrombados! Eles não pensam em como as ações deles afetam os outros?! Isso é um saco, droga!
— Olha quem fala — murmurou Haruhiro.
— Huhhh?! O que você disse de mim, Parupiroooo?!
— Ah... — Shihoru apontou para a longe. — Alguém do Iron Knuckle...
— Desculpaaaa! — Ranta imediatamente saltou no ar e se jogou no chão. — Eu não quis dizer isso agora. Sério, sério, não fui eu, nosso Haruhiro estava dizendo isso antes, então...!
— Aí vai ele, sutilmente jogando a culpa em mim... sutilmente, claro — murmurou Haruhiro.
— O quêêê?! — gritou Ranta. — Eles não estão lá?! Nenhum Iron Knuckle! Shihorurururu, você me enganou! Sua bomba secreta de peitos caídos!
— Não me chama de nomes estranhos!
— Cala a boca, peitos caídos! Pelo seu crime, eu te sentencio a trocar de roupa publicamente!
— Heh... — Inui exibiu um sorriso de maldade irreparável em seu rosto de velho. — Eu também gostaria de gravar essa cena na minha memória... No entanto, só eu deveria ver isso!
— Ninguém vai ver nada. — Shihoru cruzou os braços ao redor do corpo, lançando um olhar sujo para Inui.
— Vocês são um grupo bem animado — disse Shinohara com um sorriso.
— Eles só são irritantes — Tada ajustou os óculos com o dedo indicador. — Um bando de rola-bosta.
Chama de rola-bosta foi um pouco demais, mas Haruhiro não poderia concordar mais.
— O deus gigante, hein... — Tokimune olhou para Haruhiro. — O que você quer fazer?
Havia algo que eles realmente poderiam fazer?
Considerando a natureza do comércio dos soldados voluntários, não havia como sobreviver sem correr riscos. Dito isso, da parte de Haruhiro, ele queria evitar todos os riscos evitáveis o máximo que pudesse. Eles eram, tecnicamente, os descobridores do Reino do Crepúsculo, então era decepcionante ter que fazer isso, mas talvez fosse melhor considerar outras opções.
Essa era a sua opinião, e ele disse isso.
Agora, quanto à resposta que ele recebeu, aqui está como as coisas se desenrolaram:
— Uhhhuuuuu! — No topo daquela colina inicial, Ranta soltou um grito estranho, com os olhos arregalados.
Era aquela hora do dia em que normalmente o sol estaria se pondo, mas no Reino do Crepúsculo, não havia manhã nem noite. Era sempre o mesmo céu de várias cores que se estendia até onde a vista alcançava.
Sob aquele céu indescritível e de outro mundo, um deus gigante e esquelético estava dando um passeio tranquilo.
— Acha que ele está a quantos quilômetros? — Kuzaku suspirou. — Difícil ter noção de distância.
— Hmmm. — Anna-san estava montada nos ombros de Tokimune. — Diria uns oitenta quilômetros? Por aí?
— Não pode estar tão longe assim — Haruhiro não conseguiu evitar apontar.
— Cinco quilômetros... talvez, cê acha? — Yume estreitou os olhos para o deus gigante. — Talvez uns dez quilômetros? Vinte, talvez? Yume tá tendo dificuldade de adivinhar também. Uooooh. Ele é pequeno, mas é grandão, né?!
— Isso é contraditório, mas realmente parece assim — Shihoru disse, assentindo, ao lado de Yume.
Sim, sério.
Considerando a teoria de Yume e assumindo que ele estava, no máximo, a vinte quilômetros de distância, isso ainda era bem longe. Se estivesse a vinte quilômetros nessa direção, mesmo um gigante extra-grande de duzentos metros de altura seria apenas um pontinho à distância. Mesmo aquele deus gigante não era tão grande a ponto de precisarem olhar para cima.
Mas ele era imenso. Não era um tamanho que qualquer criatura viva deveria ter. Era uma montanha. Não apenas uma colina, era uma montanha.
Ele se lembrou da primeira vez que tinham visto o deus gigante. Foi quando estavam voltando do resgate dos Tokkis depois que eles tentaram trapacear.
Naquela ocasião, Haruhiro pensou que ele era incrivelmente grande, dado que estava a vários metros de distância deles.
Vários metros?
Difícil. Naquela vez, ele tinha que estar pelo menos tão longe quanto agora.
Não, mais longe.
Era como Kuzaku disse. O deus gigante era tão grande que distorcia sua noção de distância.
— Ele é bem rápido, hein — Tada murmurou.
— As pernas dele são beeeeem longas... — Kikkawa parecia impressionado, sem motivo aparente. — Tipo, longas demais. Seus movimentos são surpreendentemente ágeis também. Uau, uau...
O deus gigante estava ao sul da colina inicial, movendo-se de leste a oeste. Seus movimentos não pareciam tão ágeis para Haruhiro, mas eles conseguiam ver o movimento das pernas mesmo de onde estavam, então ele definitivamente não era lento.
— Ah! — Mimorin prendeu a respiração, apontando para o sudeste. — Tem algo ali.
— O que é aquilo? — Mary tinha uma expressão sombria.
Kuzaku estava olhando para ela de soslaio.
— Parece ser grande também — Tokimune lambeu os lábios.
— Bem, sim — Haruhiro disse. Tenho certeza que é.
Haruhiro esfregou a barriga. Seu estômago doía um pouco.
Isso serve para todos os Tokkis, mas por que ele parece estar se divertindo tanto? Por que ele está tão descaradamente empolgado?
Eu sei como eles são. Estou ciente disso, mas mesmo assim fico cansado. No entanto, estou acostumado, entende? Quer dizer, temos o Ranta.
Sim. Foi graças ao Ranta que ele conseguiu se dar bem com os Tokkis até agora. Isso definitivamente fez parte de como ele conseguiu. Se ele não estivesse acostumado com o Ranta, até mesmo se comunicar com os Tokkis teria sido difícil.
O efeito Ranta era realmente impressionante. Se as pessoas tinham um lado ruim, também tinham que ter um lado bom. Não poderia haver sombras sem luz.
No entanto, ele também poderia inverter a teoria e dizer que, por estar muito acostumado com o Ranta, acabaram trabalhando com os Tokkis, e isso estava os colocando em sérios problemas.
Ele poderia concluir que, no fim, Ranta era uma praga para a party. E, na verdade, ele sempre havia sido algo muito próximo de uma praga para eles.
A grande coisa que eles viram ali, era branca e contorcida. Pode não ser tão grande quanto o deus gigante, mas era bem grande. O que diabos era aquilo? Não era humanoide. Ele podia afirmar isso com certeza.
É um polvo... ou algo assim? Embora eu nunca tenha ido ao oceano em Grimgar, eu sei o que é um polvo. Não é... exatamente como um polvo. Mas, de alguma forma, dá pra ver que tem um monte de coisas parecidas com tentáculos, e parece que ele os está movendo para andar—Não, talvez seja como uma massa de tentáculos?
A essa distância, era difícil dizer. Estava muito mais perto do que o deus gigante. Dois quilômetros, três talvez. Ou quem sabe, apenas um.
— Que fofura... — Mimorin estava olhando apaixonadamente naquela direção.
Haruhiro, Shihoru, Yume, Mary, Kuzaku e até Ranta estavam chocados, mas os Tokkis pareciam completamente despreocupados.
Esse é o problema da Mimorin...
— Hã... — Haruhiro levantou a mão, hesitante.
Tokimune olhou para ele com um “Hm?”
Agora que eles tinham visto aquela coisa—ou melhor, aquelas coisas—com seus próprios olhos, certamente até os Tokkis concordariam com Haruhiro. Ou, pelo menos, teriam a mesma opinião que ele.
— Que tal voltarmos? — sugeriu ele. — Essas coisas são perigosas. Independentemente de como você veja isso.
— Seu idiota! — Ranta se virou para ele. — Você se diz um homem, falando essas coisas? Você tem mesmo um par de bolas?! Tô perguntando se você tem um par de bolas penduradas entre as pernas, seu frouxo!
— Isso tem alguma coisa a ver? — perguntou Haruhiro.
— Claro que tem! Tem, né, Tokimune-san?!
— Não sei. — Tokimune inclinou a cabeça para o lado. — Talvez não?
— Claro que não tem! — Ranta rapidamente mudou de ideia. — Hahaha! Não faz diferença, faz? É por isso que eu disse, Panpirorin! Não importa se você é homem, mulher ou se tem bolas! Você realmente é um idiota que não entende nada, né?
— Bolas, bolas, bolas, cala a boca de uma vez, é! — Anna-san gritou para Ranta do alto da cabeça de Tokimune. — Você é muito vulgar, tá?! Temos muitas damas puras aqui!
— Você é a última pessoa que eu quero me chamando de vulgar! Nem eu sou tão ruim quanto você!
— Você sabe?! Ouch! Não, espera, o que você quis dizer?! Seu bastardo de pau pequeno e cheio de esmegma!
— De qualquer forma, continuando... — Haruhiro disse, limpando a saliva de Anna-san do rosto. — Podemos voltar? Se formos agora, ainda conseguimos chegar ao Posto Avançado do Campo Solitário hoje. Podemos decidir o que faremos a partir de amanhã quando estivermos lá...
— Hã? — Tokimune piscou. — Por quê?
— Ei, Haruhiro. — Tada colocou a mão na testa de Haruhiro. — Parece que você não está com febre.
— Não estou. — Haruhiro afastou a mão de Tada. — Se alguém aqui está com febre, tenho que dizer que são vocês... — murmurou ele, sem querer.
— Heh... — Por algum motivo, Inui começou a rir. — Heh heh heh heh... Ah ha ha ha ha ha ha!
Espera, ele está gargalhando. O que há de errado com esse cara? Será que ele é humano? Talvez não seja? Ele está me assustando.
Está realmente me assustando.
— Escuta, Haruhiro — Tokimune colocou uma mão no ombro de Haruhiro, enquanto Anna-san ainda estava sentada em cima dele. — Tenho uma opinião surpreendentemente boa sobre você. Se eu disser que é surpreendente, será que soa rude?
— Nah, tá tudo bem. Pode chamar de surpreendente, ou o que for.
— Bom, de qualquer forma, você é bem simples, praticamente sem paixão ou energia, mas é calmo e tem habilidades de tomada de decisão razoáveis, então é reconfortante tê-lo como aliado. Isso porque você tem algo que nos falta.
— Elogios não vão te conseguir nada comigo, sabia...
— Tá brincando, né? — Tokimune perguntou.
— Não, tô falando sério.
— Bem, eu não odeio isso em você.
— Não odeia, huh.
Eu fico feliz em ouvir isso, sabe? Tanto quanto qualquer pessoa ficaria.
Ele talvez não demonstrasse, mas Haruhiro estava feliz à sua maneira. Provavelmente. Porém, isso não tinha nada a ver com o assunto em questão no momento.
— E então? — perguntou ele.
— Eu avalio muito bem suas habilidades, e gosto de você, mas às vezes, eu penso, ‘Hã?’
Vocês não me fazem pensar “Hã?” só de vez em quando, me fazem pensar isso o tempo todo. Se dissesse isso diretamente, provavelmente só arranjaria dor de cabeça, então Haruhiro permaneceu em silêncio.
Tokimune mostrou um vislumbre daqueles dentes brancos brilhantes. — Nosso objetivo já está decidido, certo? Então o que você quer dizer com voltar atrás? Não tô entendendo.
— Nosso objetivo? — Haruhiro repetiu.
— Sim.
— Qual é?
— Um objetivo é algo que você mira e tenta alcançar como parte do seu trabalho, certo?
— Não, eu sei disso. Eu entendo o que a palavra “objetivo” significa.
— Bom, o que você quer saber, então? — Tokimune perguntou.
— Esse objetivo que você acha que já está decidido é o quê...?
— Não é óbvio? — Tokimune apontou com o queixo. — Vamos acabar com aquela coisa, certo?
— ...O quêêê? — Haruhiro cambaleou.
O que esse cara está falando? Bem, parecia o tipo de coisa que ele diria. Mas, ainda assim, isso não vai acontecer. Ele está louco, completamente louco. Que tipo de raciocínio poderia levar alguém a essa conclusão?
Shihoru, Mary e Kuzaku estavam tremendo. Yume estava apenas olhando fixamente, sem parecer ter ideia do que estava acontecendo. Ranta, sendo o idiota sem esperança que ele era, na verdade parecia animado. Os Tokkis estavam totalmente despreocupados. Kikkawa estava dançando com Ranta.
Eles confundiram isso com algum tipo de festival? Eles são incorrigíveis. Quero dizer, vamos lá... quando ele diz “aquela coisa”, ele está falando daquela coisa, não é?
Ou do deus gigante ou da criatura bizarra?
Não importa como pensasse ou não pensasse, era impossível, isso era óbvio, não era? Esse era o tipo de coisa que fazia parte do entendimento coletivo que todos os humanos tinham, algo de que todas as pessoas estavam cientes, não era? Era, certo? Sim, era.
Haruhiro estava certo. Ele não poderia estar errado. Então, e agora?
Finalmente, o momento havia chegado. Estava aqui.
Ele suspeitava que viria eventualmente. Não que ele quisesse isso. Ele esperava que não viesse.
Os Tokkis eram um bando de malucos e uma bagunça, mas eram pessoas divertidas de se estar junto. Se você perguntasse a ele se isso era porque ele podia usá-los, sendo muito franco, sim, esse era um dos aspectos. Nenhum dos Tokkis era particularmente interesseiro. Eles não eram do tipo calculista que se aproximava das pessoas ou as ajudava porque tinham algo a ganhar. Isso não significava que ele pudesse confiar neles implicitamente, mas os Tokkis provavelmente nunca apunhalariam Haruhiro pelas costas de novo. Eles não eram o tipo de pessoas que se desviariam do código de honra que seguiam. Ainda assim, poderia chegar o dia em que se separariam.
Haruhiro temia que esse dia chegasse.
Ele estava pronto para aceitar que os Tokkis poderiam arrastá-los para situações que causariam algum sofrimento. Esses eram os Tokkis, afinal. Se ele não aceitasse pelo menos isso, a aliança não funcionaria.
Mas isso só se aplicava a dores das quais pudessem se recuperar. Havia limites.
Se fossem enfrentar aquelas coisas, ele tinha que estar preparado para mais do que apenas dor. Danos graves, baixas, perdas—ele tinha que estar preparado para a morte.
Se se encontrassem espontaneamente em uma situação em que lutar fosse a única opção, seria uma coisa. No entanto, atirar-se deliberadamente nesse tipo de perigo era completamente imprudente.
Se discutissem isso como uma party, outros poderiam discordar. Por isso ele não faria isso. Isso seria inteiramente uma escolha de Haruhiro. Ele já tinha decidido. Eles se separariam dos Tokkis.
Ele não diria algo ingênuo como: Vamos trabalhar juntos de novo se tivermos outra chance. Isso seria uma justificativa egoísta, significando: Podem nos excluir quando for perigoso, mas se não for, estamos dispostos a ajudar. Trabalhar juntos às vezes e outras não era algo com o qual Haruhiro queria se envolver.
Ele olhou Tokimune nos olhos. Ele estava prestes a dizer Desculpa—
De repente, debaixo de suas roupas, aquela coisa que ele mantinha em contato constante começou a vibrar.
— Uoaa...
Em choque, Haruhiro esqueceu completamente o que estava prestes a fazer. O que era mesmo, afinal? Certo, antes disso, ele tinha que lidar com isso primeiro.
Aquela coisa estava pendurada em seu pescoço em uma corrente, como um pingente. Quando ele enfiou a mão por dentro da gola e a puxou, a extremidade inferior estava brilhando em verde. Era um objeto parecido com uma pedra preta e achatada. Mas essa não era uma pedra comum.
— O que é isso? — Tokimune arqueou uma sobrancelha.
— Uh, hum, isso é...
Enquanto Haruhiro decidia se explicava ou não, a coisa—o receptor—começou a vibrar e produzir som. Não apenas som, uma voz.
— Membros dos Day Breakers, estão ouvindo? Aqui é Soma.
— Hãaee?! — Anna-san soltou um grito bizarro de surpresa do alto dos ombros de Tokimune, seus olhos quase saltando das órbitas.
— Ele disse “Soma”? — Tada ajustou a posição dos óculos.
— Por Soma, ele quer dizer o Soma, né?! — Kikkawa parecia prestes a começar a dançar de alegria a qualquer segundo.
— Somático... — Mimorin murmurou algo irrelevante.
— Heh... — Por algum motivo, Inui sacou sua espada e fez um golpe de prática.
Haruhiro olhou para Ranta, Shihoru, Yume, Mary e Kuzaku.
Eles não tinham contado aos Tokkis que eram uma mancha triste na lista de membros dos Day Breakers. Ranta queria se gabar disso, mas Haruhiro o fez ficar quieto.
Não sei. Honestamente, ainda é difícil de acreditar. Nós temos o receptor como prova, então não foi um sonho. Mesmo assim, ainda não consigo me ver como um membro dos Day Breakers do Soma. Simplesmente não parece real. Quero dizer, o Soma nunca entrou em contato com a gente. Eu também não sei muito sobre os Day Breakers. Mesmo que me peça para acreditar, não é meio difícil?
Era difícil.
— Planejamos voltar para o Posto avançado do Campo Solitário amanhã à noite — disse a voz de Soma.
Mesmo assim, quando ele ouvia a voz de Soma dessa forma, ele conseguia acreditar. Ele tinha que acreditar.
— Eu repito. Planejamos voltar para o Posto avançado do Campo Solitário amanhã à noite. Se puderem chegar até lá, por favor, venham. Eu gostaria de vê-los de vez em quando. Lilia, você quer dizer alguma coisa?
— P-Por que você está me perguntando isso?! — gritou a voz dela.
— Só achei que perguntaria. Não pode?
— Não é que eu não possa, só...!
— Entendi. Você não pode, então.
— Eu-Eu posso! Me passa o transmissor, por favor.
— Claro — disse Soma.
Isso foi seguido pelo som de Lilia limpando a garganta.
— Eu-Eu não tenho nada em particular a dizer, mas para muitos de vocês, faz muito tempo desde que nos vimos. Olhem para isso com expectativa—Não, eu não estou ansiosa por isso, mas vocês são livres para sentir o que quiserem. Façam o que quiserem. Isso é tudo.
O receptor parou de vibrar e a luz verde desapareceu.
Haruhiro suspirou, tentando avaliar a reação de Tokimune. Tokimune parecia estar perdido em pensamentos. O que, em nome dos deuses, ele estava pensando? Haruhiro não conseguia imaginar.
— Hã... S-Sobre isso... Bem, o que eu posso dizer...?
— Se vamos fazer isso mesmo, por que não convidamos o Soma? — Tokimune perguntou.
— Hã?
— Para caçar o deus gigante.
— ...Como é?
— Soma provavelmente toparia se o convidássemos — disse Tokimune.
— O quê? Hã? Espera, peraí... Você e o Soma-san se conhecem—Como...?
— Nós nos alistamos mais ou menos na mesma época e, sim, você poderia dizer que nos conhecemos, acho. Já bebemos juntos algumas vezes.
— Não, mas... — Haruhiro ficou sem palavras.
Mas o quê? O que é isso?
Tipo, o que eu devo fazer?
O que vai acontecer agora?
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