Hai to Gensou no Grimgar | Grimgar of Fantasy and Ash Volume 05 Capítulo 08 [Bem-vindo ao Reino do Crepúsculo]
Estou bem em ser medíocre. Só me deixem ser mais decisivo, pensou Haruhiro. Quero me tornar um líder que possa tomar decisões instantâneas e não deixar meus companheiros se sentirem inseguros. Provavelmente, não serei do tipo que faz os outros pensarem: “Quero segui-lo”, mas quero ser, pelo menos, o tipo de líder que faz com que pensem: “Bem, acho que vou segui-lo”.
Isso parece bem difícil, no entanto.
Mais um passo e eles estariam no Reino do Crepúsculo, e mesmo assim os olhos de Haruhiro ainda pareciam sonolentos. Não... ele não conseguia vê-los, mas sabia que provavelmente estavam. Eles tinham que estar.
A sensação de tensão, a indecisão, o arrependimento, a vontade de dizer: É, melhor não fazermos isso, e o pensamento de: Não, temos que fazer isso, estavam todos se misturando. Em momentos como este, os olhos de Haruhiro pareciam ainda mais sonolentos que o normal. Ele sabia disso.
Claro, não era que ele estivesse com sono. Ele tinha certeza de que, neste momento, mesmo se Shihoru o acertasse com seu feitiço Sleepy Shadow, ele não sentiria nem um pouco de sonolência.
Apesar disso, seus olhos pareciam sonolentos.
Ele não poderia parecer menos preparado.
— Foi mal, Haruhiro, é minha culpa. — disse Kikkawa, aparentando estar genuinamente arrependido.
— Bem, é, isso foi culpa sua mesmo. — Ranta deu uma risada nasal. — Deixa eu te dizer, Kikkawa. Esse favor vai te custar caro, cara. É melhor você entender isso.
— Ah, pare com isso! — Yume cutucou Ranta no ombro. — Você não deveria dizer coisas assim. O Kikkawa tá passando por um momento difícil agora.
— Yumecchi... — Kikkawa se emocionou. Parecia que ele realmente estava se sentindo fraco neste momento.
— A magia... está funcionando — Shihoru disse, assentindo para Haruhiro. — Consigo sentir os elementais. Está tudo bem.
— Vou defender a Shihoru com tudo o que eu tenho. — Mary bateu o cajado no chão.
— Quanto a mim... — Kuzaku abaixou a viseira do seu elmo fechado. — ...vou proteger todos.
— Vamos com calma. — Haruhiro coçou a parte de trás da cabeça. — ...Hmm. Não, isso não está certo. Estou tentando dizer para não ficarem tão tensos, talvez. Acho que é a mesma coisa. Bem, só para garantir que entendam o que quero dizer, não sejam imprudentes. Desculpe, Kikkawa, mas se as coisas derem errado, pretendo recuar. Além disso, temos algumas vantagens sobre os Tokkis.
— Nós temos a mim! O grande Ranta-sama! — Ranta estufou o peito com orgulho.
— Primeiro, temos informações. — Haruhiro, naturalmente, o ignorou. — Os cultistas. Os gigantes brancos. Sabemos que há inimigos aqui. Podemos ficar em alerta. Kikkawa também se lembra do caminho para as ruínas. Também estamos cientes de que magia de luz e, embora esta seja só um extra, magia das trevas não funcionam.
— E temos a mim! — Ranta girou e fez uma pose estranha.
— Além disso, temos nossa quantidade. — Haruhiro, obviamente, o ignorou de novo. — Não temos ninguém como a Anna-san, que precisa de proteção—Não, brincadeira, mas temos o Kikkawa, então temos um a mais. Kikkawa, você é um tanque, certo?
— É — Kikkawa assentiu. — Tokimune-san é um paladino com escudo e tudo mais, mas ele não parece ser muito um tanque, né? É por isso que eu sou o nosso tanque principal.
— Bem, junto com o Kuzaku, teremos dois tanques — disse Haruhiro. — Por enquanto, Kuzaku será o principal, e Kikkawa será o tanque secundário.
— Certo — disse Kuzaku.
— Tudo bem — disse Kikkawa.
— Agora, quanto à terceira vantagem...
— Sou eu, né?! — Ranta interrompeu.
— É, isso mesmo, é você, Ranta — disse Haruhiro. — Podemos te sacrificar a qualquer momento que precisarmos. Essa é uma grande vantagem.
— Wahahahahaha... Não é? Quer dizer, eu sou— — Ranta parou. — Espera, me sacrificar?! Eu devia era te sacrificar! Morra!
— Além disso, há mais uma vantagem — Shihoru disse, apontando para Haruhiro. — Um líder cauteloso.
— Hã? — Haruhiro piscou. Agora, acho que meus olhos não estão sonolentos.
— Há há! Ahahaha! — Kikkawa, que estava deprimido todo esse tempo, parecia um pouco mais animado ao soltar uma risada curta. — Você pode dizer isso de novo. Quando pegamos o ritmo e vamos só boom, boom, boom, somos invencíveis, mas quando tropeçamos, bem... podemos ser bem fracos, sabe. Harucchi, sua party parece bem estável. Talvez sua falta de entusiasmo seja algo positivo nisso.
— O que há de positivo nisso?! — Ranta berrou, parecendo prestes a vomitar de desgosto. — É claramente um negativo! Ele é um peso morto! É como estar num funeral todos os dias! Tente se colocar no meu lugar!
— Facilita pra mim — Kuzaku virou a cabeça lentamente.
— Pra mim também. — Mary levantou uma mão.
— E pra mim — Shihoru sorriu.
— Yume também. É fácil e leve, e isso é muito bom, não é?
— A única coisa leve é dentro da sua cabeça, Yume! — gritou Ranta. — Só você, com seus peitos pequenos, pensa assim!
— Não chame eles de pequenos!
— Se você não gosta, tenta esfregar eles até ficarem grandes! — gritou Ranta.
— Quando a Yume esfrega os peitos, ela começa a se sentir estranha, então não! — ela retrucou.
— ...O quê, você já tentou esfregar? — Ranta perguntou, surpreso.
— Eles são da Yume, se a Yume quiser esfregar, ou fazer qualquer outra coisa com eles, isso é problema da Yume — ela respondeu.
— B-Bem, sim, mas não foi isso que eu quis dizer...
— Pervertido. — Mary lançou um olhar gélido para Ranta.
— Tarado. — Shihoru olhou para Ranta com desprezo.
Parece que todo mundo está começando a se animar.
Embora, na verdade, Haruhiro já tivesse pensado que sua presença era uma das vantagens que eles tinham.
Não como líder, mas como um ladrão ativo e como um batedor. O próprio Haruhiro pensava que sua personalidade se encaixava bem em ser um ladrão. Ele talvez não fosse tão bom em combate, mas em exploração ou espionagem, ele achava que poderia ser bastante útil.
Deixando de lado a autoavaliação de Haruhiro, ele ficava feliz em receber elogios de seus companheiros. Isso o ajudava a se motivar.
— Harucchi. — Kikkawa deu um leve tapa com a parte de trás da mão enluvada no ombro de Haruhiro. — Vou deixar a decisão de quando recuar com você, e vou obedecer. Por enquanto, pode me considerar como um dos seus. Pode não parecer, mas eu sou bem útil, sabe?
— Conto com você. — Haruhiro deu um soco leve no braço de Kikkawa. — Certo. Eu vou na frente. Todos, sigam atrás de mim a uma distância de cerca de dez metros. A ordem de marcha será Kikkawa, Kuzaku, Ranta, Shihoru, Mary e Yume. Yume, cuida da retaguarda pra mim.
— Certo-miau! — ela respondeu.
Depois de ouvir a estranha resposta de Yume, Haruhiro começou a andar.
Ele colocou os pés no Reino do Crepúsculo.
O céu, que à primeira vista parecia o céu do entardecer, mas na verdade tinha cores aleatórias, pairava alto acima deles, e o vento estava bastante forte.
Esse vento é um problema, ele pensou. Segundo Kikkawa, hoje também não havia inimigos ao redor dessa primeira colina. Mesmo assim, a falta de cautela pode ser nossa morte. Aquelas rochas brancas em forma de pilar espalhadas pela encosta coberta de grama são grandes o suficiente para que uma pessoa possa facilmente se esconder atrás delas. Em vez de se aproximar desses pilares indo em linha reta em uma direção, provavelmente seria melhor mover-se para a esquerda e direita para eliminar qualquer ponto cego. Não é fácil, mas pensar sobre o que eu preciso fazer e como fazer enquanto ando é bem divertido.
Haruhiro desceu a colina em seu ritmo normal de caminhada. Quando ele se virou, Kikkawa acenou com a cabeça e apontou para frente.
Parece que estou indo na direção certa, Haruhiro notou.
Eles haviam deixado suas barracas, suprimentos e equipamentos pesados bem na entrada do Reino do Crepúsculo. Haruhiro e os outros estavam viajando de forma leve.
Eventualmente, quando o terreno se nivelou, Haruhiro sentiu um certo pressentimento. Ele se virou, olhando para o topo da colina que havia descido.
Será que é só uma ansiedade desnecessária?
Há inimigos na colina. Essa ideia passou pela sua mente, mas não havia ninguém lá. Dessa vez foi só imaginação, mas é muito melhor me cansar com uma ansiedade sem fundamento do que ser descuidado e deixar o inimigo nos pegar desprevenidos. Vou tomar todas as precauções e ser paranóico até não poder mais.
Eventualmente, eles chegaram a um ponto onde quase não havia mais das rochas em forma de pilar.
No entanto, ele ainda não tinha visto nada que se parecesse com uma árvore. Será que não havia árvores nesse mundo?
Haruhiro ocasionalmente se virava para verificar com Kikkawa se estava indo na direção certa.
— Isso é bizarro... — ele murmurou, depois suspirou.
Era tão claro quanto o entardecer, mas não havia nada como um sol.
Não havia pássaros ou insetos voando por aí. Não havia som de vento. Quando se virou pela décima ou vigésima vez, Haruhiro percebeu que algo estava estranho. Mas, quanto ao que era, ele não tinha certeza.
Ainda assim, aquilo o incomodava. Ele sinalizou com as mãos para que todos parassem.
Olhou ao redor.
Onde está? O que é...?
Haruhiro engoliu em seco. É aquilo?
Os pilares naquela colina inicial, ele pensou. Não todos. Apenas alguns.
Haruhiro semicerrava os olhos. Não havia dúvida.
Estão se movendo.
Os pilares de rocha, talvez um em dez, estão se movendo devagar—na verdade, é só um pouquinho de cada vez—se movendo por aí.
Agora, se alguém lhe perguntasse, E daí?, ele não saberia o que dizer. Se perguntassem o que eram, e o que aquilo significava, Haruhiro não teria resposta. No entanto, o fato é que, para pelo menos uma parte delas, embora ele não pudesse ter certeza de que estavam vivas, ele podia ter certeza de que estavam se movendo. Elas eram capazes de se mover.
— Isso é muito bizarro — Haruhiro murmurou.
Devo falar para os meus camaradas? ele se perguntou. Talvez não ainda. Se todos os pilares se movessem, isso significaria que não poderíamos navegar por eles, o que seria um problema. Não parece ser o caso, então não é um problema—eu acho.
Ranta ergueu as mãos para o lado, encolhendo os ombros como quem diz, O que houve?
Nada. Haruhiro balançou a cabeça em resposta. A primeira coisa, ou melhor, a única coisa, em que precisamos focar é seguir para as ruínas. Não devemos pensar em nada além de resgatar os Tokkis enquanto evitamos o perigo o máximo possível.
Haruhiro avançou. Era tranquilo, mas havia muitos altos e baixos. Nos lugares onde era mais alto ou mais baixo, ele via frequentemente os pilares de pedra.
Parece que os pilares não gostam de terreno nivelado, Haruhiro pensou. Então percebeu que estava vendo os pilares como algo próximo de criaturas vivas. Seja como for, provavelmente é melhor não chegar muito perto dos pilares.
Mas, assim que tomou essa decisão, lá estava um cachorro.
Foi repentino, mas parecia tão natural. Estava deitado na grama, abanando o rabo, e não estava tão perto, então, Hum... foi tudo o que ele pensou. Ele não ficou particularmente chocado. A princípio, foi isso.
Ei, espera, ele rapidamente reconsiderou. Esse é o Reino do Crepúsculo. Outro mundo. É estranho haver um cachorro—ou pelo menos, não posso afirmar isso com certeza, mas devo desconfiar.
Bem, olhando mais de perto, não era um cachorro normal de qualquer forma. Era algo entre um cão grande e médio. Parecia um cachorro com pelos longos e brancos, mas não estava claro se era realmente um cachorro. Na verdade, provavelmente não era o que normalmente se chamaria de cachorro.
Aquele pseudo-cachorro, ele só tinha um olho. Se Haruhiro fosse lhe dar um nome, chamaria de “cachorro caolho”.
Essa era uma situação em que ele não tinha escolha senão parar. Os outros também tinham parado de andar. Bem, e agora?
O cachorro caolho olhou na direção deles, com a postura baixa e o rabo abanando, como um cachorro amigável que encontrou pessoas em um campo desabitado e queria brincar. Era assim que ele agia. Mas ele só tinha um olho.
Se ele não fosse atacar, poderiam deixá-lo em paz? Mas aquela simpatia fazia Haruhiro pensar que algo estava errado. Poderia ser o cachorro dos cultistas? Será que ele avisaria os cultistas sobre Haruhiro e os outros? Ou estaria ele exagerando? Estaria sendo desnecessariamente ansioso?
Ele decidiu esperar para ver o que o cachorro faria. Enquanto gesticulava para que seus companheiros se aproximassem, Haruhiro observava o cachorro caolho. O cachorro caolho não se movia.
— Nunca vi um desses antes — sussurrou Kikkawa. — Ah, mas, agora que penso nisso, se bem me lembro, os cultistas só tinham um buraco para o olho, e os gigantes brancos com cabeça de leão, eles também só tinham um olho.
— Então, esse cão é deles? — Ranta foi puxar Betrayer.
— Ou isso — Shihoru começou hesitante — ou é possível que todas as criaturas deste mundo... tenham apenas um olho...
— É meio assustador — comentou Mary, desconfiada. — O jeito como ele abana o rabo.
— É como um cachorro de estimação, não é? — Kuzaku aparentemente estava pensando da mesma forma que Haruhiro.
— Essa é uma tarefa pra Yume — Yume declarou, orgulhosamente batendo no peito. — Yume é uma caçadora, afinal. Yume vai tentar se aproximar, então, todo mundo fique de olho nele.
Haruhiro decidiu deixar Yume lidar com aquilo. Claro, ele estava pronto para intervir a qualquer momento.
— Ahem. — Yume pigarreou alto, então se aproximou lentamente do cachorro caolho. Foi um ritmo lento e tranquilo, mas era meio... normal. Yume não tentou fazer contato visual com o cachorro caolho, nem estendeu a mão tentando mostrar uma atitude amigável. Era tão normal que Haruhiro se perguntou: Será que isso vai dar certo?
O cachorro caolho estava encarando Yume com seu único, mas grande, olho.
O que o cachorro caolho estava pensando enquanto mostrava a língua, ofegante?
Havia cerca de quatro metros entre eles.
— Calma, calma — Yume disse, falando com o cachorro caolho pela primeira vez. — Tá tudo bem. Yume não vai fazer nada de ruim com você.
O cachorro caolho não respondeu. Apenas continuou encarando Yume.
Três metros mais. Dois metros.
Foi quando o cachorro caolho se levantou da posição abaixada e se sentou.
Yume começou a parar, mas então continuou avançando. Abaixando os quadris, ela se aproximou lentamente do cachorro caolho e estendeu a mão.
— Dá a patinha.
— O, o, o, o, o!
Aquela voz. Pelo fato de que ele abriu a boca, provavelmente foi o cachorro caolho que a emitiu. Era uma voz de tom bastante grave, e assustadora.
Yume soltou um — Ai...! — e parou de andar.
— O, o, o, o, o!
— Que assustador! — Ranta meio que puxou Betrayer.
No mesmo instante, o cachorro caolho se virou e começou a correr.
— Ah! — Haruhiro começou a persegui-lo. — Não, não podemos deixar ele escapar!
— Ohm, rel, ect, nemun, darsh!
Ao mesmo tempo que Haruhiro foi atrás do cachorro caolho, talvez até antes, Shihoru começou a recitar um feitiço. O elemental sombrio voou adiante, fixando-se no chão bem no caminho do cachorro caolho que fugia. O cachorro caolho pisou no elemental sombrio com a pata dianteira direita.
— O, o, o, o...!
Por mais que se esforçasse, o cachorro caolho não conseguia libertar a pata do elemental das sombras.
— E-Espera! — Yume tentou ficar no caminho de Haruhiro. — Ainda não! Ele só tá correndo. Isso não faz dele um inimigo!
— Desculpe, Yume! — Haruhiro passou por ela. — Não podemos correr riscos aqui! Não, na verdade...
— O, o, o, o, o, ooooooooooo!
O cachorro caolho estava lutando violentamente—
Mas isso não é tudo, pensou Haruhiro. Tem algo... saindo dele, eu acho?
Estavam crescendo de seu corpo aqui e ali. Proeminências brancas, parecidas com ossos, com pontas afiadas.
— Credooooo! — Quando Yume se virou e os viu, soltou um grito. — Que assustador, que assustador! Isso não é um cachorrinho!
— Isso mesmo — Ranta abaixou a viseira do seu elmo de caveira. Usando Leap Out, ele saltou na direção do cachorro. — Toma essa! Hatred!
— O, o, o, ooooo!
O cachorro caolho só não conseguiu fugir graças ao Shadow Bond de Shihoru. Ainda assim, contorceu o corpo. Ranta provavelmente pretendia abrir a cabeça do cachorro caolho com a Betrayer, mas errou o alvo. A espada acertou uma das protuberâncias ósseas que saíam do ombro do cachorro caolho e foi desviada.
— Whoa?! Isso é duro! — Ranta saltou para trás.
— Deixa comigo! — Kuzaku avançou com seu escudo na frente.
O escudo de Kuzaku colidiu com as protuberâncias ósseas do cachorro caolho. O cachorro caolho perdeu a disputa de força, mas houve um rangido intenso. O escudo em formato de pipa de Kuzaku era feito de madeira e reforçado com couro e metal. Era uma peça de equipamento robusta. Não quebrou, mas a superfície foi raspada.
— Hah! — Kuzaku não ligou. Ele simplesmente continuou empurrando e estocou a espada longa ao lado do escudo. Enquanto se protegia com o escudo, ele usava Thrust. Era uma tática básica para paladinos.
O cachorro caolho gritou O, o, o! e tentou evitar a espada longa. Aquelas coisas parecidas com ossos estavam no caminho, mas a espada longa se esquivou entre elas e acertou o corpo da criatura. Seu sangue era vermelho.
Haruhiro decidiu não avançar, preferindo observar a situação. Uma briga corpo a corpo direta não era o lugar de um ladrão de qualquer maneira.
— Toma! — Kikkawa cravou sua espada bastarda no cachorro caolho. O cachorro estava focado em Kuzaku, então recebeu todo o impacto do golpe.
— He he he! — Ranta pulava de um lado para o outro usando o Leap Out, contornando o cachorro e balançando a Betrayer em um movimento de oito. — Minha super técnica suprema mortal! Slice!
— Oooo, oo, oooooo, oooooo...!
O cachorro caolho ficou coberto de sangue em um instante. Não importava o quão feroz fosse, se seus movimentos fossem selados com magia e ele fosse cercado por um paladino, um guerreiro e um cavaleiro das trevas, seria difícil para ele se defender.
O cachorro caolho caiu rapidamente, mas até que ele parasse de se contorcer, Ranta continuou teimosamente a esfaqueá-lo. Era cruel, mas eles não podiam se dar ao luxo de tomar meia-medida.
— Uma vitória perfeita! Certo?! — Ranta ergueu a viseira, exibindo um sorriso sinistro na direção de Yume. — Esse foi um cachorro infernal! Gahahaha!
— Isso não era um cachorrinho! — Yume estava com as bochechas inchadas de raiva.
— Ainda assim... — Shihoru lançou um olhar a Haruhiro. — E se... Houvesse um monte desses bichos...?
— Sem dúvida, estaríamos encrencados — disse Haruhiro, olhando para os restos do cachorro caolho. — Ele parecia rápido. Se um grande bando desses cachorros de um olho só nos perseguisse, seria bem complicado.
Oh, isso não é bom, ele percebeu. Todo mundo ficou em silêncio.
— B-Bem. — Haruhiro forçou um sorriso. — Isso é algo positivo. Descobrimos que existem criaturas como essa por aqui. Quero dizer, agora que sabemos, podemos tomar contramedidas.
Mas será mesmo que havia? Ele não conseguia pensar em nenhuma no momento.
Droga, ele pensou. Isso é assustador. O Reino do Crepúsculo é insano.
Haruhiro tirou um cantil e tomou um gole de água, e cada um de seus companheiros se reidratou também, como se seguissem seu exemplo.
Calma. Não, eu estou calmo. Não estou em pânico.
Quando olhou para Kikkawa, o homem estava com a cabeça baixa. Ele provavelmente se sentia mal por tê-los envolvido nisso.
Isso é verdade, né? Haruhiro pensou. Se alguém dissesse que ele nos meteu nessa, isso poderia ser verdade. Mas tínhamos a opção de não nos envolver. Apenas não escolhemos essa opção. Isso não é culpa do Kikkawa.
Será que tomei a decisão errada?
Mal passa um dia em que eu não me pergunte isso. Na verdade, tomei decisões erradas mais de algumas vezes. Estou sempre cometendo erros.
Continuo cometendo erros, nunca aprendendo, mas, de alguma forma, estamos aqui hoje, e sei que não tenho escolha a não ser seguir em frente. Mesmo que as escolhas que faço sejam erradas, tenho que seguir em frente sem dizer nada sobre isso. Se não o fizer, todos ficarão perdidos, sem saber o que fazer.
— Certo — disse Haruhiro. — Vamos.
Haruhiro começou a andar, então rapidamente olhou ao redor. Isso é ruim. sério. Isso é loucura.
— O, o, o, o...
— O, o, o, o, o, o...
— O, o, o...
— O, o, o, o, o, o, o, o...
Com aquele rosnado assustador, cachorros de um olho só com aquelas protuberâncias ósseas se aproximavam deles.
De lá, e de lá também, ele pensou, alarmado. Contando rapidamente, são quatro. Não—
— O, o...
— O, o, o...
— O, o, o, o...
— O, o, o, o, o...
— O, o, o, o, o, o...
Por trás, mais cinco. Isso faz um total de nove.
—Por enquanto.
Haruhiro não podia ter certeza de que não viriam mais.
— Ei, Paropiruro... — Ranta estava com um tom de voz inusitadamente desanimado.
— O que foi, Rantanius? — Essa resposta sem graça era uma clara indicação de que Haruhiro estava longe de estar calmo.
— Então, sobre aquelas contramedidas? Você tem algumas, certo...?
— S-Sim... — Se Haruhiro simplesmente confessasse Não tenho nada, parecia que isso seria mais fácil. Mas só seria mais fácil para Haruhiro; o resto deles sofreria. Isso não era bom. Ele era o líder, afinal de contas.
— R-Retirada — disse ele. Ele imediatamente questionou se isso seria o certo, mas Haruhiro afastou sua hesitação. — Formem um círculo. Recuem. Oh, acho que em um círculo, não há costas, né? Erm, vou dar ordens para a direção, então vão para onde eu disser. Rápido. Entrem em formação de círculo. Rápido, Ranta, Kuzaku, Kikkawa! Yume, não fique para trás! Shihoru e Mary, fiquem no centro!
Haruhiro, Ranta, Kuzaku, Kikkawa e Yume se posicionaram em uma formação ao redor de Shihoru e Mary.
Agora havia nove cachorros caolhos cercando Haruhiro e os outros. No entanto, isso não significava que os cachorros tivessem formado um anel ao redor deles com igual distância entre cada um deles.
Haruhiro escolheu romper por uma dessas brechas. Haruhiro e os outros avançaram nessa direção. Eles não correram. Com armas em mãos, escudos prontos, avançaram a um ritmo mais lento do que o de uma caminhada, enquanto intimidavam os cachorros caolhos.
— Ei! Heeey! — Ranta continuava gritando e balançando a Betrayer. — N-Não se aproximem, seus vira-latas! Eu vou matar vocês, malditos!
— hahaha. Cara... — Kikkawa parecia desanimado. — Eu não sei o que pensar disso. Estou exausto...
— Vamos dar um jeito — disse Kuzaku, difícil dizer se estava confiante ou não. — ...Provavelmente.
— Nnyoahhhhhhhh — Yume tinha encaixado uma flecha em seu arco composto e parecia estar lutando para decidir se deveria soltá-la ou não. — Yume vai acabar odiando cachorrinhos. Mesmo que esses não sejam cachorrinhos...
— Q-Quanto tempo vamos continuar assim...? — perguntou Shihoru.
Ela estava perguntando isso para Haruhiro, talvez? Não havia como ele responder.
— Se tivermos que lutar, lutaremos — disse Mary.
Isso mesmo, pensou Haruhiro. Vamos lutar? Vamos apenas lutar? Vamos lutar? Tudo bem, né? Talvez consigamos lidar com isso. Se dermos tudo de nós, nos esforçarmos ao máximo, talvez ganhemos.
— Talvez, né — Haruhiro rangeu os dentes. Não é bom. “Talvez” não é suficiente. Mesmo se vencermos, e se um de nós ficar gravemente ferido? Não podemos curar. Na verdade, mesmo que continuemos nos movendo assim, há alguma esperança de que a situação melhore? O que os cachorros caolhos farão? Quando vão atacar? Ou desistirão?
O que devemos fazer?
Haruhiro estava sempre cometendo erros, mas desta vez ele não podia se dar ao luxo de errar.
O que vamos fazer?
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