Hai to Gensou no Grimgar | Grimgar of Fantasy and Ash Volume 08
Capítulo 06
[Dois Lados da Mesma Moeda]
— Eles nunca aprendem — disse o homem de cabelo raspado, que vestia o uniforme de um sacerdote, esticando sua vara de metal.
Um orc com os cabelos tingidos de várias cores atacou deliberadamente a vara com sua katana. Era o que parecia para Haruhiro, mas não podia ser só isso. O homem de cabelo raspado era relativamente baixo, enquanto o orc tinha, no mínimo, cento e noventa centímetros de altura, mesmo sendo conservador na estimativa. Parecia que o orc deveria ser mais forte, mas obviamente ele não conseguiria cortar a vara de metal com uma katana.
Aquele devia ser o truque do Cara de Cabeça Raspada: atrair o oponente, fazê-lo atacar onde ele queria e, então, usar a força do próprio oponente para contra-atacar.
A vara de metal do Cara de Cabeça Raspada girou e atingiu o orc no lado do rosto. Mas orcs eram bem sólidos. Mesmo levando um golpe pesado no rosto de uma vara de ferro, ou talvez de algum outro material pesado, o orc cambaleou, mas não caiu. O Cara de Cabeça Raspada deveria ser mais do que capaz de seguir com outro ataque, mas não o fez, recuando em vez disso.
— Deixa comigo! — explodiu um homem esguio saindo da névoa, atacando o orc por trás. Esse homem tinha uma arma em cada mão. Ele empunhava duas armas. Com base nisso e em sua estratégia de atacar por trás, o homem era um ladrão. No entanto...
— A razão pela qual eu não posso ser feliz, e a razão pela qual estou assombrado pela tristeza, e a razão pela qual minha alma não encontra salvação, e a razão pela qual as pessoas não reconhecem minhas conquistas, e a razão pela qual eu não tenho um harém, são todas culpa sua! — gritou ele.
O ladrão se movia de uma maneira que parecia desafiar os limites da flexibilidade. Ele era rápido, sim, mas se contorcia e se dobrava de maneira tão exagerada que era meio assustador. Era bom que ele tivesse derrubado o orc e o esfaqueado repetidamente, mas precisava parecer tão vingativo? Além disso, era bastante claro que nada daquilo era culpa do orc. Ele só estava desabafando, certo?
E mais, quando o orc parou de se mover, o homem se levantou lentamente, coberto de sangue de sua vítima, e murmurou: — Pequei de novo. Meu deus, o deus dentro de mim, está morto!
Ele não fazia sentido. Mas tanto faz. Ele podia fazer o que quisesse. Bem, não que precisasse ser avisado disso; aparentemente, ele faria de qualquer forma, porque o ladrão desapareceu na névoa mais uma vez, usando aquele estilo bizarro de andar.
Enquanto isso, o Cara de Cabeça Raspada usava sua vara de metal para esquivar de outro orc, e então contra-atacava.
— Vamos deixar Tsuga e Sakanami por conta própria, como planejado — Moyugi pressionou a ponte dos óculos com o dedo do meio e, em seguida, imediatamente foi embora, calmamente. — Vamos seguir para o próximo local.
Parecia natural que Moira o seguisse em silêncio, porque ela era sua demônio, mas por que Kuro disse “Certo”, e foi junto? O sacerdote de cabelo raspado, Tsuga, e o ladrão estranho, Sakanami, não eram seus companheiros? Eles eram membros dos Typhoon Rocks. Apesar disso, era mesmo certo que apenas observassem seus companheiros lutando à distância, sem prestar ajuda, e depois agissem como se não fosse problema deles o que aconteceria depois?
Enquanto Haruhiro estava confuso, uma grande mão pousou em seu ombro. Quando ele se virou, o homem grande e careca, de óculos escuros, Kajita, estava lhe dando um joinha, com o bigode curvado em um sorriso.
O que? O que esse sinal quer dizer?
— ...Ah, tá, então. — Essa foi a única resposta que Haruhiro conseguiu dar.
Kajita jogou a gigantesca espada cogumelo sobre o ombro e seguiu Kuro. Ele caminhava devagar, com confiança. Parecia caminhar de forma tão destemida.
Será que pessoas como ele nunca hesitavam, ou sentiam indecisão? Ou será que sentiam? Qual das duas?
Yume cutucou Haruhiro nas costas.
— Haru-kun, a gente devia ir também, né?
— Ah... É.
Ela estava certa. Eles tinham que ir.
Eu continuo pensando nisso, né? Será que isso está okay?
Haruhiro tinha perdido completamente o ritmo. Ou melhor, ele não conseguia acompanhar os outros. Fazia com que duvidasse se tinha seu próprio ritmo para começo de conversa. Seguindo Kajita com Yume, Haruhiro pensava: Cara, eu sou tão frágil, e se sentia envergonhado por isso.
No grupo usual de seis pessoas, de algum jeito, ele conseguia liderá-los, reunindo todos de alguma forma. Mas quando outros fatores entravam em cena, como agora, de repente ele se tornava inútil. Tudo desmoronava antes que ele percebesse, e ele não tinha ideia de como reagir.
Por quê...?, ele se perguntou. Qual é o problema? O que eu estou perdendo? O que está faltando?
Se ele respondesse “tudo” a essa pergunta, parecia que estaria fugindo dela. Se dissesse isso, tudo estaria acabado. Ele estava frustrado, e com uma raiva desesperadora de si mesmo. Não queria continuar assim.
— Yume... Espera — disse Haruhiro, de repente.
— Fwuah?
— Eu quero falar com o Moyugi-san.
— Tá. Enquanto cê faz isso, Yume vai ficar aqui do lado do Kajitan.
Kajita se virou e lhes deu um joinha. Ele não falava muito, e era difícil entender o que pensava, mas era tranquilizador tê-lo por perto.
Haruhiro começou a correr, passando por Kajita, e depois por Kuro, até alcançar Moira. Moira se virou de repente e fixou seus olhos escuros como poços em Haruhiro.
— Nãããooooo...
Você tá me assustando, pensou Haruhiro, nervoso.
Não, ele não tinha tempo para ficar com medo. Ele tinha que absorver as coisas. Implorar por ensinamentos, ou qualquer coisa que pudesse, e absorver tudo que pudesse. Ele faria isso se tornar dele.
— Hum, Moyugi-san, isso—
— Se a sua pergunta for estúpida, eu vou ignorá-la.
O fato de Moyugi ter se dado ao trabalho de dizer isso a Haruhiro mostrava que ele talvez fosse surpreendentemente atencioso. Ou ele só gostava de falar.
— Eu estive pensando, mas... Esse plano, normalmente você iria querer concentrar suas forças, mas está fazendo o oposto — disse Haruhiro hesitante. — Ao se dividir, você está tentando fazer com que o inimigo divida sua força esmagadoramente maior e, depois, eliminar eles aos poucos, talvez?
— Se dependesse de mim, nunca seguiríamos um plano estúpido como esse.
— ...Nem eu. Mesmo que eu pensasse nisso, não acho que conseguiria. É arriscado demais.
— Porém, quando se trata de táticas, elas não são uma questão de inserir variáveis em uma fórmula e chegar a uma resposta. Com base em inúmeras condições, o seu processo vai mudar. E, claro, o resultado também.
Haruhiro entendeu. Mesmo que seu grupo tivesse sua própria forma de atuar, isso dependia de contra quem estavam lutando. Que tipo de inimigos. Onde estavam lutando. Se poderiam lançar um ataque surpresa. Se eram atacados de repente. Muitos fatores entravam em jogo, e isso mudava o plano ideal. Eles precisavam mudar e se adaptar.
— Dessa vez, aconteceu de a situação fazer com que você escolhesse um plano que normalmente não escolheria... É isso? — Haruhiro perguntou.
— Em outras palavras, não temos um plano — disse Moyugi, sem responder diretamente à pergunta de Haruhiro. — Temos a essência de um, claro. Algo como: é assim que as coisas estão, e isso é o que fazer se isso acontecer. Mas, mesmo com isso, há exceções. No fim, quando chega a hora de tomar uma decisão, os planos são apenas mais um fator que levamos em consideração. O que você acha que é força?
— Huh?
Isso veio do nada, pensou Haruhiro. Ou será que de algum modo estava conectado?
— Bem, a capacidade de vencer, acho — respondeu Haruhiro. — Pode parecer clichê, mas eu diria algo como: “Os fortes não vencem; aqueles que vencem são fortes.”
— Há verdade nisso. Por exemplo, eu, o mais forte cavaleiro das trevas em atividade, não possuo uma força física excepcional, ou um potencial raro para magia das trevas.
Enquanto pensava: Ele não vai desistir dessa coisa de “cavaleiro das trevas mais forte em atividade”, né?, Haruhiro assentiu.
— Certo.
— Vamos imaginar que existisse um guerreiro feroz capaz de matar um dragão com um peteleco na testa. Se ele fosse atacado enquanto dormia, ou se colocassem veneno em sua comida, ele morreria facilmente. O fato é que não faltam heróis que encontraram seu fim dessa maneira. Sei que isso é verdade. Infelizmente, por não lembrar do meu mundo original, não consigo dar exemplos concretos. Para alguém daqui, talvez o No-Life King seja um desses casos.
— Força não exige poder — disse Haruhiro lentamente. — É isso que você está dizendo?
— Ter poder não atrapalha. Você usa o que tem à disposição. No entanto, mesmo com treinamento, nem todo mundo vai conseguir correr cem metros em menos de dez segundos, certo? Embora, neste mundo, pelo menos por enquanto, não pareça haver uma forma de medir com precisão tempos menores que um segundo. Acho que no nosso mundo original havia.
— Você continua mencionando o nosso mundo original...
— Isso não te preocupa? Se não preocupa, então você é um tolo. Embora eu suponha que a maioria das pessoas seja.
— Não posso afirmar com certeza se sou tolo ou não, mas... honestamente, isso me preocupa — respondeu Haruhiro.
— Você é membro dos Day Breakers, então imaginei que seria assim.
Shima tinha dito a Haruhiro: “Estamos procurando um caminho de volta para o nosso mundo original.”
— Soma diz que há sinais de que o No-Life King está retornando, e ele formou os Day Breakers com o objetivo de entrar em Undead DC, no antigo Reino de Ishmal — explicou Moyugi. — Deixando de lado a questão de se há ou não sinais disso acontecendo, tenho certeza de que o No-Life King, que dizem estar adormecido em Ever Rest (Descanso Eterno), em Undead DC, eventualmente se levantará novamente. Sua maldição ainda está em vigor, afinal. Quando isso acontecer, não apenas Altana, mas toda a parte continental do Reino de Arabakia não ficará ilesa. Tenho certeza de que seremos forçados a lutar, gostemos ou não, pela sobrevivência da humanidade, cada um de nós arriscando a própria vida. Se possível, quero resolver as coisas antes que isso aconteça. Destruir o No-Life King o quanto antes. É para isso que Soma vem reunindo poder, pelo menos em termos superficiais.
— Mas o verdadeiro objetivo dele é voltar para o nosso mundo original? — perguntou Haruhiro.
— Pode chegar o momento em que teremos que matar o No-Life King, então, embora seja a razão que damos para o público, não é só fachada — disse Moyugi. — Eu quero ficar forte, afinal. Para defender o que precisa ser defendido, para conquistar o que desejo e para recuperar o que sem dúvida perdi.
Embora Moyugi não fosse baixo, também não era especialmente alto. O motivo pelo qual ele parecia magro era porque era esguio. Tinha a quantidade mínima de músculos necessária, mas não se podia dizer que ele era musculoso. Seus gestos careciam de força e vigor, ele não era ágil, e ele mesmo havia dito que não tinha nenhum dom especial para magia das trevas. Na verdade, se Haruhiro quisesse, provavelmente conseguiria chegar por trás do homem. Quando se tratava de força, agilidade e talvez até resistência, era possível que Haruhiro fosse melhor que Moyugi.
Mas ele não conseguiria vencê-lo. Mesmo que conseguisse chegar por trás de Moyugi e se preparar para um golpe mortal, o jogo viraria contra ele. Haruhiro não conseguia evitar essa sensação.
Havia Moira, para começar. Além disso, se Haruhiro mirasse nas costas de Moyugi, não havia dúvida de que ele preveria isso. Isso valia para qualquer coisa, mas, se ele esperasse por isso, tomaria precauções. Moyugi anteciparia que Haruhiro era melhor que ele e prepararia armadilhas.
Que tipo de armadilhas?
Ele não sabia. Não conseguia imaginar.
Se caísse em alguma armadilha desconhecida, sairia dela vivo?
Não podia prever. Suas pernas tremiam de medo. Ele não conseguia pensar direito.
Estava destinado a perder nesse ritmo.
— Todos planejam um passo à frente antes de agir — disse Moyugi.
— Então você planeja ainda mais à frente, né? — perguntou Haruhiro.
— Eu leio cem passos à frente antes de me mover. Bem, é isso que eu gostaria de dizer, mas existem muitas ramificações, então não é realisticamente possível.
— Hm... Bem, você planeja algo como dez passos à frente, então, Moyugi-san?
— Eu sempre estou três passos à frente. Mesmo para mim, o mais forte cavaleiro das trevas em atividade, esse é o melhor que consigo fazer.
Não são tantos assim, foi o que Haruhiro pensou inicialmente, mas depois reconsiderou. Moyugi havia dito “sempre”. Isso significava que ele começava cada luta prevendo três passos à frente, mas não era só isso. Se ele continuasse pensando três passos à frente a cada turno que passava, isso significava que ele precisava manter o pensamento constante.
Isso seria cansativo. Exaustivo. Seria tão difícil que faria você sangrar pelo nariz.
Será que era preciso ir tão longe para se tornar mais forte e vencer?
Sim. Ele não era um gênio, não era um escolhido, então, se ele não fizesse pelo menos isso, não conseguiria vencer. Não conseguiria se tornar forte. Provavelmente era isso que significava.
Nesse tipo de trabalho, a derrota poderia muito bem significar a morte. Se Moyugi não quisesse morrer, por mais difícil e exaustivo que fosse, ele tinha que fazer isso. Se não o fizesse, estaria bem enquanto continuasse a vencer de alguma forma, mas eventualmente perderia e morreria. Se ele não quisesse isso, teria que desistir.
— Hum, Moyugi-san — Haruhiro chamou.
— O que é?
— Obrigado. Isso foi útil. Aprendi bastante.
Moyugi apenas bufou, sem dizer nada.
Pensar. Até agora, Haruhiro achava que tinha feito isso. Mas se alguém perguntasse se ele pensou e refletiu até o limite, ele não conseguiria inflar o peito com orgulho e dizer: Claro que sim.
Haruhiro sentia que tinha pensado bastante. Mas, no fundo, ele sempre achava que aquilo já era o suficiente?
Ele não havia levado ao limite. Isso era certo. Ele às vezes se esforçava bastante, mas no final, depois de atingir um certo ponto, tendia a se desligar e deixar as coisas acontecerem. Achava que tinha feito o bastante, então provavelmente estava tudo bem. Ninguém iria reclamar com ele.
Era natural que houvesse uma diferença entre alguém como ele e alguém que pensava e analisava constantemente.
Não era uma questão de habilidade. Era uma questão de quem fazia tudo o que podia. Essa era a única diferença, mas ela se acumulava até criar uma grande lacuna entre os dois.
— A propósito... — Haruhiro decidiu fazer uma pergunta, embora não esperasse uma resposta. — Esses inimigos, quem são eles afinal? Por que vocês estão lutando contra eles?
— Se eu fosse resumir nosso motivo de forma simples... — Moyugi, para sua surpresa, estava respondendo. — ...é por capricho.
— Por... capricho? — Haruhiro olhou para ele, confuso.
Antes que ele tivesse tempo de processar aquilo, o próximo grupo veio atacá-los. A névoa continuava densa como sempre. Por causa disso, ele não conseguia vê-los, mas podia ouvir o barulho. Ouviu vozes também.
Haruhiro esperava que Moyugi fosse analisar a situação novamente, mas não viu sinais de que ele estivesse diminuindo o ritmo.
Essa área era relativamente plana e estava cheia de árvores finas e enegrecidas. Eles precisavam se esgueirar entre elas, então caminhar ali não era fácil.
— Kuro. Kajita — sem parar, Moyugi sinalizou algo para os dois com as mãos.
Haruhiro quase pediu ordens, mas sabia que não podia fazer isso. Ele precisava pensar primeiro.
Olhando para trás, Kuro estava indo para a esquerda, e Kajita, para a direita. Yume olhava para ele, esperando alguma orientação. Kuro se especializava em abater inimigos sem que eles percebessem sua localização, então era melhor não atrapalhá-lo.
Vamos apoiar Kajita sem nos aproximar demais ou nos afastar muito, decidiu Haruhiro.
Ele voltou para onde Yume estava, e então os dois seguiram Kajita juntos. Moyugi continuou avançando, com Moira acompanhando-o.
Kajita virou a cabeça em direção a Haruhiro e Yume e lhes deu um sinal de positivo. Seria rude ignorá-lo. Haruhiro hesitou por um momento, depois retribuiu o gesto com um joinha.
Kajita parecia satisfeito. Pelo menos, foi o que pareceu.
Haruhiro ainda não conseguia ver o inimigo, mas eventualmente conseguiu distinguir suas vozes. Provavelmente havia vários orcs. Havia também um homem e uma mulher. Mas eles não estavam berrando, apenas soltando gritos de batalha de vez em quando.
— Rock! — Moyugi gritou, provavelmente de propósito.
Imediatamente, uma voz masculina cheia de entusiasmo respondeu: — Tá indo conforme o planejado! Matem todos eles!
— Rarrrrrrrrrrrrrrrrrgh!
Kajita soltou um rugido tão alto que parecia fazer os céus e a terra tremerem. Não era um grito comum. Ele usou um método especial de vocalização para emitir um som que parecia impossível para um ser humano, intimidando todos que o ouvissem. Era War Cry de um guerreiro. Mesmo assim, esse foi o mais incrível que Haruhiro já ouvira.
Haruhiro cobriu os ouvidos instintivamente e quase se abaixou. Yume cambaleou e piscou, surpresa.
É, bem forte, Haruhiro concordou.
Os inimigos estavam vindo em sua direção. Naturalmente, esse era o objetivo do War Cry.
— Yume, fica na minha frente! — Haruhiro gritou.
— Miau! — Yume balançou a cabeça vigorosamente, depois sacou Wan-chan e se posicionou na frente de Haruhiro.
Haruhiro segurava o estilete na mão direita e uma faca com guarda-mão na esquerda. Ele controlou a respiração, apagou sua presença e entrou no modo Stealth.
Era meio ridículo se esconder atrás da sombra de Yume, mas ele não podia se dar ao luxo de se preocupar com aparências. Em vez de apenas reagir, ele precisava pensar e agir por conta própria. Isso era necessário para que ele conseguisse fazer isso.
Em algum momento, um estilo de luta em que ele usava o Swat para desviar os ataques do inimigo, esperando uma abertura para atacar, tinha se tornado algo natural para ele. Mas Haruhiro era um ladrão. Swat era apenas para tirá-lo de uma situação difícil. Manter um inimigo ocupado não era o trabalho de um ladrão. As habilidades de um ladrão podiam ser divididas em três categorias: táticas de emboscada, técnicas de furto e técnicas de combate letais. Ele deveria ser um atacante no combate.
Um orc saltou da névoa.
— De fato! — Kajita o enfrentou com sua espada cogumelo gigante. Ele tentou cortar o orc junto com as árvores enegrecidas, mas o orc desviou.
Um segundo, depois um terceiro orc apareceram, pressionando Kajita.
Será que ele vai ficar bem? Isso era algo com que Haruhiro não precisava se preocupar. Ele provavelmente já havia planejado para essa possibilidade, e Kajita não precisava que alguém insignificante como Haruhiro se preocupasse com ele. Além disso, Haruhiro e Yume também tinham inimigos vindo em sua direção. De frente, à esquerda.
Não era um orc. Era um morto-vivo, huh? Não era um daqueles de quatro braços chamados de double arms. Seu pescoço era estranhamente longo, com ombros inclinados e braços compridos.
Haruhiro ajustou sua posição em silêncio. Ele estava na linha reta que conectava Yume ao morto-vivo. Esse era o ponto. Aqui, o morto-vivo não podia ver Haruhiro. Não podia detectá-lo.
Yume avançou. O morto-vivo investiu.
Devo continuar esperando? Haruhiro se perguntou. Não.
Afastando a indecisão, Haruhiro se moveu. Ele manteve seu Stealth, seguindo uma rota um pouco mais ampla pelo lado direito de Yume enquanto se aproximava do morto-vivo.
O morto-vivo ainda não havia notado Haruhiro. Logo, a lâmina curva de Yume e a espada do morto-vivo chocaram-se, soltando faíscas. Logo depois—não, antes disso—Haruhiro conseguiu passar por trás do morto-vivo. Com seu estilete e faca, ele fez um corte em forma de cruz no pescoço anormalmente longo do morto-vivo.
Enquanto ele caía, incapaz de suportar o golpe, Yume desceu Wan-chan com força sobre a sua cabeça.
— Chowah!
Com a cabeça esmagada, o morto-vivo perdeu sua força. Era quase como uma boneca quebrada. Sem pausar para respirar, Haruhiro voltou para a retaguarda de Yume.
Kajita estava enfrentando três orcs de uma vez. Ele ainda não tinha derrotado nenhum. Parecia que eles eram adversários difíceis.
— Yume, vamos tirar um inimigo das mãos do Kajita-san — disse Haruhiro.
— Miau. — Yume caminhou rapidamente em direção a um dos orcs.
Sua sombra. Haruhiro tinha se tornado a sombra da corajosa Yume.
Os orcs notaram Yume. Lá vinha. Apenas um deles. Os outros dois permaneciam travados com Kajita. Este tinha o cabelo tingido de dourado e trançado, e sua arma era uma katana. Ele era tão alto quanto Kajita. Apesar de sua altura, ele era ágil. O fato de sua cabeça não balançar enquanto se movia era prova de que ele tinha um centro de gravidade estável.
À primeira vista, o orc parecia estar levemente equipado, mas na verdade usava uma armadura que o protegia do pescoço para baixo. Ele tinha protetores nos joelhos, cotovelos e canelas, além de manoplas blindadas. Dado que ele conseguia dar trabalho a Kajita, não havia dúvidas de que era habilidoso.
Haruhiro tentou se mover pelo lado esquerdo de Yume enquanto mantinha seu Stealth, mas o orc de cabelos dourados o detectou imediatamente. Ele era afiado. Haruhiro rapidamente se escondeu atrás de Yume novamente. Logo depois, o orc de cabelos dourados e Yume começaram uma intensa troca de golpes. A katana do orc era ligeiramente mais longa que o Wan-chan de Yume. O orc de cabelos dourados também era mais musculoso. Parecia que Yume estava apenas conseguindo se defender enquanto recuava.
O orc de cabelos dourados estava pressionando Yume, mas ainda tinha a presença de espírito para ficar de olho em Haruhiro.
Tenho que apoiar a Yume rápido, pensou Haruhiro. Não posso agir aleatoriamente. Pense. Rápido. Não perca a cabeça. Pense.
— Yume, recua! — ele gritou.
Yume rapidamente rolou para trás e para a esquerda. Essa foi Pit Rat.
Haruhiro avançou imediatamente. Agora o orc de cabelos dourados não poderia perseguir Yume. Haruhiro tentou parecer o mais intimidador possível, assumindo a postura de Assault.
— Ohhhhh! — ele gritou, percebendo o que estava acontecendo.
Se não acertasse o orc de cabelos dourados com tudo que tinha, poderia ser derrubado. Precisava dar o máximo desde o começo.
O orc de cabelos dourados parecia dizer: Vou enfrentar você. Ele não subestimaria Haruhiro. Seria um inimigo complicado de lidar.
E a arma do orc tinha um alcance muito maior, então, se Haruhiro não se aproximasse, a luta nem começaria. Ele avançou como se fosse derrubar o orc.
Foi o que ele fez parecer, mas então usou o pé direito para chutar um pouco da terra quase lamacenta. Era Flinch. Basicamente, jogava terra nos olhos do oponente. Não havia usado muito essa técnica em combate real, mas a terra voou em direção ao rosto do orc de cabelos dourados como deveria. O orc nem piscou, apenas levantou o braço para bloquear. Durante esse tempo, Haruhiro—não avançou. Ele deu meia-volta e correu para o outro lado.
— Urga?! — Isso surpreendeu o orc de cabelos dourados. E ele hesitou. Pensou que deveria ser uma armadilha. A verdade era que, de certo modo, era.
Haruhiro correu cerca de quatro metros, então se virou para encarar o orc de cabelos dourados. Movendo-se lateralmente, foi para um lugar onde pudesse flanquear o orc com Yume. Haruhiro sinalizou para Yume com os olhos, mas não era necessário.
Yume guardou Wan-chan na bainha, puxou uma faca de arremesso e imediatamente a lançou.
— Star Piercer, miau!
O orc de cabelos dourados reagiu rapidamente, torcendo o corpo para desviar da faca. Haruhiro tentou se aproximar por trás do orc, mas foi detectado, então rapidamente recuou.
Enquanto isso, Yume já havia encaixado uma flecha. Ela a soltou. Três disparos. Era Rapid Fire.
O orc de cabelos dourados evitou facilmente as duas primeiras flechas, mas defletiu a terceira com sua katana.
Logo depois, por um momento, ele perdeu Haruhiro de vista.
Quando percebeu que Haruhiro havia usado Stealth para se aproximar, por mais impressionante que fosse o orc de cabelos dourados, ele certamente ficou chocado. Do ponto de vista dele, parecia que Haruhiro estava dizendo: Agora é a hora—mas ele não atacou.
Haruhiro recuou, colocando mais distância entre eles novamente.
O orc de cabelos dourados parecia surpreso e decepcionado, mas também alerta. Ele já devia ter entendido as intenções de Haruhiro. Mesmo que tivesse compreendido, não deveria haver nada que pudesse fazer. Pelo menos, ele não poderia despachar Haruhiro e Yume rapidamente.
Isso porque eles estavam ganhando tempo. Claro, se parecesse que poderiam derrotar o orc, eles o fariam. Mas de forma alguma eles fariam algo muito arriscado.
O orc de cabelos dourados tinha que escolher entre enfrentá-los em uma batalha de resistência, deixando a diferença de força decidir a vitória, ou esmagar Haruhiro ou Yume rapidamente, transformando a luta em um combate um a um. Claro, se ele pudesse ter feito isso, já o teria feito. O orc de cabelos dourados era mais forte que Haruhiro ou Yume, mas a diferença de força não era tão grande. O orc de cabelos dourados sabia disso também.
Como resultado, se eles ficassem impacientes, seria fácil para ele, mas isso não ia acontecer. O orc de cabelos dourados se preparou para uma batalha longa. Provavelmente pensou que só precisava vencer no final. Provavelmente acreditava que, mesmo demorando, conseguiria vencer, então atacaria lentamente e com cautela. Sua confiança era inabalável.
A verdade era que, se a luta continuasse assim, Haruhiro e Yume poderiam perder sem nunca encontrar uma chance de vitória. Era por isso que o orc de cabelos dourados estava fazendo a coisa certa. Haruhiro e Yume também haviam escolhido o melhor curso de ação para sua situação, então, enquanto nenhuma das partes cometesse um erro, quem merecia ganhar venceria.
Enquanto o orc de cabelos dourados estava ali, sem demonstrar excesso de confiança, uma flecha se cravou no lado esquerdo de seu peito.
— ...Huuh? — Yume inclinou a cabeça para o lado.
O arco de Yume ainda tinha uma flecha encaixada. O atirador não era Yume.
O orc de cabelos dourados soltou um gemido baixo, mas se firmou e se virou para a direção de onde veio a flecha. Quando o fez, outra flecha atingiu seu braço direito. Sem perder tempo, uma terceira flecha perfurou o centro de seu peito. Elas estavam facilmente penetrando sua armadura. Que arco poderoso. O orc de cabelos dourados caiu de joelhos.
— Pensar que me usariam. — Kuro emergiu da névoa. Seu arco estava pendurado nas costas, e ele segurava uma espada de um gume na mão. Era semelhante às katanas que os orcs empunhavam. — Você é bem atrevido.
O orc de cabelos dourados se levantou, trocando sua katana para a mão esquerda. Mesmo sendo sua mão não dominante, seus golpes ainda eram precisos. No entanto, Kuro os desviou com facilidade, e então decapitou o orc.
— Usar você? — Haruhiro soltou um suspiro discreto. — Você faz parecer algo ruim.
— Não conte comigo. Sou do tipo que quer virar o rosto quando as pessoas começam a ter expectativas. — Kuro recolheu suas flechas do cadáver do orc de cabelos dourados, acenando casualmente para eles enquanto desaparecia na névoa mais uma vez.
— Haru-kun, você tava achando que o Kuroron ia aparecer? — perguntou Yume.
— Imaginei que, no pior dos casos, poderíamos aguentar até que Kajita derrotasse os outros dois orcs e viesse ajudar. Essa era a ideia, pelo menos.
Haruhiro olhou na direção de Kajita. O homem acabara de derrubar um dos orcs com sua enorme espada cogumelo, então só restava um.
Não, parecia que havia reforços. A névoa tornava difícil ver, mas Haruhiro conseguiu distinguir silhuetas: um orc e um morto-vivo. Ele gesticulou para Yume, e os dois estavam prestes a interceptar os reforços quando o orc caiu, e o morto-vivo parou. Será que Kuro fez aquilo?
— Drahhhhhhhhh! — Kajita rugiu, pressionando o orc contra o qual estava lutando.
Ele empurrava, e empurrava.
Ele não apenas não estava sendo superado no confronto com o orc, como estava, de maneira evidente, levando a melhor. O morto-vivo, que havia parado temporariamente, avançou, provavelmente com a intenção de apoiar o orc, mas não chegou a tempo.
A enorme espada em forma de cogumelo de Kajita quebrou a katana que o orc estava desesperadamente brandindo. Naquele momento, a batalha foi decidida.
Kajita avançou com ousadia, derrubando o orc no chão com um chute, então começou a golpeá-lo com sua espada gigante. A cabeça do orc foi esmagada e estilhaçada.
Sem parar para respirar, Kajita foi atacar o morto-vivo. Ele não precisava de ajuda. Haruhiro e Yume assentiram um para o outro, então decidiram seguir em frente.
Eles sentiram algo puxando-os cada vez mais para a frente. O líder dos Typhoon Rocks, Rock, estava à frente.
Kuro, Moyugi, Kajita, Sakanami e Tsuga. Quem seria Rock, o homem que liderava essa party de personalidades tão intensas? Seria ele tão excêntrico quanto o resto? Ou teria uma surpreendente dose de bom senso? Honestamente, quando se tratava de soldados voluntários famosos, especialmente aqueles que lideravam equipes ou clãs, parecia que quase todos tinham personalidades marcantes. Se algum deles fosse normal—não, se algum deles tivesse bom senso—seria Shinohara-san de Orion, e talvez apenas ele?
Alguém como Haruhiro nunca se tornaria famoso. Ainda assim, considerando que uma party comum, liderada por um líder medíocre como ele, fazia parte dos Day Breakers, talvez já estivessem se destacando de forma negativa. Além disso, eles ficaram presos no Reino do Crepúsculo, então todos deviam estar convencidos de que haviam sido dizimados. Provavelmente, já começaram a esquecer deles.
Quando descobrissem que estavam vivos, e que conseguiram voltar, será que falariam bastante sobre isso? Tipo, não importa onde fossem, as pessoas fariam piada e zombariam deles? Talvez fosse melhor não voltarem para Altana?
Claro, ele estava se adiantando demais. Muito mesmo. Nem sequer era certo que conseguiriam voltar ainda. Por enquanto, tinha que focar suas energias em voltar inteiro. Para isso, primeiro precisavam vencer esta batalha.
Bem, não importava o quanto tentasse se animar ou o quanto se esforçasse para pensar em estratégias, ainda haveria domínios nos quais ele não teria chances.
— ...Estão indo com tudo. — Haruhiro parou.
Yume parou ao lado dele. — Hochow... — Ela deixou escapar uma expressão estranha de surpresa.
Um contra um.
Havia um homem humano e um morto-vivo de quatro braços que aparentemente era um double arm, lutando em combate singular.
Aquele double arm é perigoso. Haruhiro podia ver isso de imediato. Para começar, ele empunhava quatro espadas ao mesmo tempo. Tinha uma katana em cada uma das mãos e as controlava com maestria.
Haruhiro tinha a certeza de que, se fosse enfrentá-lo, seria morto antes de conseguir fazer qualquer coisa. Embora, talvez, isso não fosse exatamente o que se chamaria de confiança.
Além disso, seus movimentos eram claramente muito rápidos. Embora sua velocidade variava, ele nunca parava, nem por um segundo. Aquele double arm era um fluxo contínuo de movimento.
Os golpes das quatro katanas do double arm tinham uma suavidade e beleza natural. Eram graciosos, até. No entanto, ainda mantinham uma ferocidade neles. Os ataques do double arm eram como um riacho límpido, mas também como um rio turbulento, e aquele homem estava usando apenas uma espada para desviar ou afastá-los.
Era inacreditável.
Afinal, aquele homem, cujo cabelo estava inexplicavelmente arrepiado... era baixo.
Se compararmos com outro soldado voluntário famoso, “One-on-One” Max, de Iron Knuckle, ele não era um homem grande, mas ainda tinha uma altura semelhante à de Haruhiro.
Aquele homem era ainda mais baixo que Ranta, que já era mais baixo que Haruhiro. Ele não devia ter muito mais que 1,60m de altura.
Havia momentos em que a flexibilidade superava a força bruta. Só porque alguém era grande, não significava necessariamente que fosse forte. Mesmo assim, o tamanho do corpo era uma arma importante. Em combate corpo a corpo, quanto menor a pessoa, maior a desvantagem. Mesmo Haruhiro, com seus 1,72m, tinha que admitir que gostaria de ser mais alto. Mesmo que não pudesse ser tão alto quanto Kuzaku, ele gostaria de ter pelo menos 1,80m.
O double arm provavelmente tinha mais de 1,85m. Ele era mais de vinte centímetros mais alto que o homem, e ainda tinha o dobro de braços. Quanto às armas, ele tinha quatro vezes mais.
Além disso, a espada do homem não era longa. Não era curta, mas era mais próxima do tamanho curto.
Ele não pode vencer assim, pensou Haruhiro.
Por mais que ele olhasse, aquele homem não tinha chances.
Na verdade, enquanto o homem saltava para a esquerda e para a direita, recuava, se abaixava e rolava, ele parecia ter dificuldades apenas para bloquear e desviar as quatro katanas do double arm. Não seria surpreendente vê-lo ser atingido a qualquer momento. Era só uma questão de tempo. Aquele homem estava no limite, mas conseguia resistir de alguma forma.
Haruhiro mal conseguia engolir em seco. Isso é assustador. O double arm vai pegá-lo. Vai pegá-lo com certeza. Quero fechar os olhos. Espera...
Esse homem, agora, ele fez algo? Ele sacou outra espada, talvez? Mas ele só está segurando uma. Isso significa que ele sacou uma espada diferente e trocou pela que estava usando antes? Parece que ele guardou a espada anterior na bainha. Para quê?
Haruhiro não sabia, mas o homem atacou ao mesmo tempo em que trocou de espada.
— Hahaha! — o homem riu, lançando um ataque feroz. O double arm, que empunhava quatro katanas, foi imediatamente forçado a se defender.
Haruhiro não conseguia acompanhar os movimentos da espada do homem. Não era por causa da distância ou da névoa, ele simplesmente era rápido demais. O homem brandia sua espada mais rápido do que os olhos podiam ver, avançando em uma linha quase reta. Ele avançava com uma força tremenda.
Quando Haruhiro pensou que havia entendido, o homem mudou a empunhadura da espada, desta vez movendo-se para o lado direito do double arm, ou talvez para o lado esquerdo, e desferindo golpes cortantes.
O double arm também era incrível, por conseguir reagir a essa mudança repentina. Além disso, o double arm começou a contra-atacar. Quando o fez, o homem mudou novamente a empunhadura da espada e entrou em modo de ataque.
O double arm—não recuou. Ele segurou a espada do homem, usando duas de suas katanas como uma tesoura, e contra-atacou com as duas restantes. O homem descartou sua espada sem hesitação, sacando a outra. Os dois trocaram os papéis de atacante e defensor a uma velocidade alucinante.
Haruhiro ficou arrepiado. Sua respiração estava curta. Não era o momento de ficar olhando fixamente, mas ele não conseguia desviar o olhar.
— Yahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh! — Um grito de batalha estridente rompeu o céu enevoado.
Haruhiro não esperava a aparição de uma intrusão, então ficou sem palavras. Alguém podia intervir em uma batalha tão séria entre aquele homem e o double arm?
Mas ela entrou com ousadia. Cabelos longos e negros. Era uma mulher humana. A mulher avançou com a katana em mãos, lançando-se em direção ao double arm que o homem enfrentava.
— Arara?! — gritou o homem, virando-se. O double arm não ia deixar passar aquela brecha.
As quatro katanas do double arm se aproximaram do homem. Sem outra escolha, o homem saltou para trás.
Quando o double arm tentou imediatamente continuar o ataque, a mulher de cabelos desgrenhados desferiu um golpe nele.
— Isso é por Tatsuru-sama! Prepare-se! Yahhhhhhh! — gritou a mulher.
Aquilo foi uma surpresa. A mulher não era nada ruim. Segurando sua katana com as duas mãos, ela golpeou uma vez, depois outra, com um ataque combinado que parecia uma linha de lanças, forçando o double arm a recuar. No entanto, ela não podia continuar atacando sem parar. Eventualmente, as mãos da mulher cessaram—para atrair o double arm a contra-atacar, momento em que ela fez uma estocada de retorno, e um corte visando suas pernas. Quando ele desviou, ela voltou a estocar, estocar e estocar como uma louca, forçando-o a recuar novamente.
— Arara! — O homem pegou a espada que havia descartado anteriormente e atacou o double arm mais uma vez. — Eu disse que eu cuidaria do Arnold!
Dois contra um. O double arm estava encurralado. Pelo menos era essa a impressão de Haruhiro.
— Quer dizer que eu não posso vencê-lo com minhas habilidades?! — Mesmo enquanto gritava de volta, a katana da mulher não parava. — Mesmo que me falte força, eu devo matar este por conta própria!
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Haruhiro começou a entender a situação. Aquela mulher era Arara, e Arnold aparentemente era o nome do double arm. Arara havia dito algo como: Isso é por Tatsuru-sama! quando atacou Arnold. Ele não sabia se esse Tatsuru-sama era um parente dela ou algo assim, mas estava claro que ele tinha sido alguém importante para ela. Arnold o havia matado. Arara estava buscando vingança.
O homem baixo, com o cabelo arrepiado, provavelmente era Rock. Por algum motivo, Rock parecia estar ajudando-a.
— Então vai ser um projeto conjunto entre mim e Arara, hein? — Rock gritou. — Ha ha! Bem, isso vai ser divertido pra mim!
— Não fale bobagens!
— Não estou brincando, estou falando sério!
— Isso é ainda mais razão!
Embora estivessem discutindo, Rock e Arara estavam em perfeita sintonia enquanto desferiam um ataque feroz. Choviam golpes em Arnold de ambos os lados em rápida sucessão, deixando o double arm com pouca margem de manobra. Ele estava preso na defensiva, e seus movimentos claramente se tornavam mais caóticos.
— Hahahaha! — Rock conseguiu se posicionar atrás de Arnold. — Isso depois de eu ter feito todo o esforço pra lutar contra você um contra um!
No último momento possível, Arnold conseguiu bloquear a espada de Rock com uma de suas katanas.
Instantaneamente, Arara gritou: — Yahhhhhhhhhh! — e estocou diretamente na frente dele.
Enquanto Arnold torcia a cabeça para evitar o golpe, ele também usou duas katanas para desviá-lo ao mesmo tempo. Se ele tivesse apenas desviado, Arara certamente teria usado uma segunda estocada para infligir um ferimento grave em Arnold. Ter sua katana repelida por duas katanas fez Arara perder o equilíbrio, mas Rock estava lá.
Quando Arnold começou a se virar, Rock lançou um ataque combinado contra ele.
— Rah, rah, rah, rah, rah, rah, rah, rah, rah, rah, rah, rah, rahhhh!
A sequência de golpes de rock acertou quando Arnold estava numa posição ruim. Ele conseguiu bloquear com suas quatro katanas até o sexto ou sétimo golpe. No entanto, falhou no seguinte, e Arnold acabou com um corte superficial em um de seus braços. Talvez isso o tenha feito entrar em pânico, pois ele rolou para frente como se tivesse tropeçado em algo.
Agora, pensou Haruhiro. Essa é a chance. Acabe com ele.
Por mais que analisasse a situação, parecia o momento perfeito. Rock também estava prestes a pular sobre Arnold, mas por algum motivo ele se conteve. Não apenas isso, ele saltou para trás.
— Arara!
Arara inspirou bruscamente. Talvez tivesse sentido algo. Em vez de simplesmente recuar, ela tentou se mover diagonalmente para se distanciar de Arnold. Era difícil pensar que ela havia sido lenta. Arara havia reagido rápido. Mas, mesmo assim, não foi a tempo.
Num instante, Arnold se transformou em um redemoinho.
E isso não era uma metáfora. Quando Arnold de repente saltou girando no ar, ele realmente parecia um pequeno redemoinho, e rasgou as costas de Arara com a força de um. Após sofrer um ferimento profundo o bastante para sangrar, Arara caiu no chão. Se Rock não a tivesse pegado enquanto fugia, quem sabe o que teria acontecido. Arara poderia ter sido fatiada em pedaços pelas quatro katanas de Arnold.
— Retirada! — Rock gritou enquanto corria. — Arara caiu! Retirada!
— KYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYYY.
O som parecia uma névoa venenosa saindo violentamente das profundezas da terra, corroendo tudo ao redor. Aquilo era uma voz?
Arnold estava com a cabeça jogada para trás e os braços abertos. Ele estava vindo? Ou não? Claro que estava vindo.
Haruhiro agarrou o braço de Yume e saiu correndo. Mesmo que não tivesse puxado o braço dela, uma palavra seria suficiente. Isso era tudo que precisaria, mas, por algum motivo, sua voz não saía. Sentia que era melhor assim.
Por enquanto, ele tinha que ficar calado e correr. Correr o mais rápido possível, colocando a maior distância que conseguisse entre eles e aquele lugar, entre eles e Arnold. E precisava fazer isso o mais rápido que podia.
Não olhe para trás, avisou a si mesmo. Se você tiver tempo para isso, corra mais rápido.
Yume parecia concordar com Haruhiro. Eles quase competiam para ver quem fugia mais rápido.
Logo, viram as costas de Kajita. Kajita também estava correndo para escapar.
Por agora, vamos seguir Kajita, decidiu Haruhiro. Vamos correr o máximo que pudermos. Até os confins da terra, se for necessário.
Era correr ou morrer.
Arnold. Aquele morto-vivo. Aquele double arm era perigoso.
Haruhiro rezava para que Arnold não tivesse notado Yume e ele. Se Arnold não estivesse os procurando, talvez conseguissem escapar de alguma forma. Mas, se ele estivesse, correr não seria suficiente. Por mais que lutassem, ele ainda os alcançaria e os cortaria.
Haruhiro já estava exausto. Sua garganta, seu peito e seus lados gritavam de dor. Mesmo assim, ele não diminuía o ritmo. Parar para descansar estava fora de questão.
— Fwah... — Yume desabou.
Haruhiro imediatamente a puxou para se levantar.
Quando olhou ao redor, viu que Kajita havia parado e estava olhando para trás. Ele se virou para eles e fez um sinal de positivo.
Agora está seguro. Será que era isso que significava? Poderiam confiar nisso?
Haruhiro não tinha certeza, mas devia ter esgotado todas as suas forças, porque seu corpo parecia ter perdido todos os ossos. Estava mole. Talvez não fosse completamente impossível, mas não achava que poderia correr mais.
Ele havia levantado Yume por um momento, mas ela desabou novamente ali mesmo.
— E-E-Essa foi por pouco... — Yume disse.
Como líder, Haruhiro queria fingir coragem. Mas não conseguia.
— F-Foi mesmo...
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