Hai to Gensou no Grimgar | Grimgar of Fantasy and Ash Volume 08
Capítulo 04
[Trabalho Árduo]
O caminho à frente deles descia, enquanto a névoa se entrelaçava ao redor.
Os sons de uma luta estão vindo de lá, pensou Haruhiro.
Moyugi estava liderando o grupo, avançando pela névoa com seu demônio Moira o acompanhando.
— Huwuh?! — Yume soltou um grito estranho. — Onde foi parar o Kuroron?!
Haruhiro ficou surpreso. Kuro havia sumido. Ele tinha desaparecido. Estava bem na frente deles há pouco tempo.
Isso o surpreendeu, mas, se não se apressassem para alcançar Moyugi e Moira, seriam deixados para trás. Ficar sozinho com Yume no meio de sabe-se lá onde seria o pior.
Ele e Yume apressaram o passo. Por enquanto, estavam conseguindo manter Moyugi à vista. Mas também parecia que estavam se aprofundando cada vez mais, talvez? Shihoru e os outros deviam estar preocupados. E Ranta... ele só esperava que Ranta não fizesse nenhuma estupidez.
Droga.
Ele tinha acabado de reforçar sua determinação de ser o líder, estava fazendo o seu melhor para ser cuidadoso, e então cometeu um erro terrível desses. Nada nunca saía como ele queria. Isso o fazia sentir uma grande, enorme frustração por ser tão medíocre.
Deixando isso de lado eles estão lá. eles estão lá. Lutando. Está rolando uma batalha.
Haruhiro podia ouvir o som de uma voz rouca de homem cortando a névoa. Era humano. Havia outras vozes também.
Moyugi parou. Moira foi sozinha para dentro da névoa, desaparecendo de vista. Haruhiro e Yume alcançaram Moyugi e então pararam.
Se apertasse os olhos, Haruhiro conseguia vagamente distinguir uma figura humanoide. A figura estava balançando uma espada bastante grande. Ele provavelmente era o dono da voz rouca. O grupo que continuava a atacá-lo era formado por orcs? Ou seria outra raça? Haruhiro não conseguia distinguir, mas era um contra muitos.
Apesar da óbvia desvantagem numérica, o homem com a voz rouca não recuava nem um passo. Dito isso, estava claro que ele lutava sozinho.
— Um, Moyugi-san? — Haruhiro perguntou hesitante. — Aquele cara é humano, né? Não devíamos ajudar ele...?
— Se fosse necessário, eu ajudaria, claro. Isso é óbvio. O que você é, algum tipo de idiota?
— Só estava perguntando. Não precisa arrancar minha cabeça...
— Perguntar está bem, mas pense por si mesmo primeiro — Moyugi retrucou. — Simplificando, você me vê como algum tipo de superior e estava esperando que eu desse ordens, certo? Em outras palavras, você é um idiota. Dizem que o idiota é feito para ser usado, e, obviamente, eu poderia fazer bom uso de você. O que acha disso, Haruhiro-kun, o idiota?
— ...Vou pensar antes de perguntar a partir de agora.
— Por favor, faça isso. Odeio quando meu processo de pensamento é interrompido por perguntas de idiotas, sabe?
— Moyugin é um verdadeiro bruto. — Yume inflou as bochechas de raiva, mas Moyugi apenas sorriu levemente, como se aquilo não o importasse. Bem, Moyugi havia apresentado um argumento justo, e ele estava certo. Moyugi estava nesse ramo há mais tempo do que eles. Sem dúvida, era mais habilidoso também. Seria difícil encontrar algo em que fossem melhores do que ele. Por isso Moyugi estava muito acima de Haruhiro, e por isso Haruhiro decidiu seguir o que ele dissesse. Ele naturalmente aceitou essa relação.
Moyugi, com sua língua afiada, havia questionado isso. Você está bem com isso? Era o que ele estava perguntando.
Moyugi havia afirmado claramente que, se Haruhiro e Yume agissem como cachorrinhos leais, apenas abanando o rabo e o seguindo, ele ficaria feliz em usá-los como iscas ou peões descartáveis, mas não os trataria melhor do que isso. Todos eram membros dos Day Breakers, mas e daí? Se achavam que isso os tornava camaradas, estavam completamente errados, e ainda eram um grande incômodo. Eles precisavam fazer algo para que ele os reconhecesse—era isso que ele estava dizendo.
As palavras tinham sido duras, mas ele estava sendo bem considerado. Pelo menos, era isso que Haruhiro decidiu pensar. Haruhiro não era honesto o suficiente para se empolgar e pensar, Tudo bem, vou fazer você me reconhecer, mas ele não podia se deixar ser usado como isca ou peão.
Por ora, mesmo que não pudessem lutar lado a lado com Moyugi e Kuro, ainda podiam refletir sobre o que precisava ser refletido. Podiam aprender o que precisava ser aprendido. Podiam trabalhar nas coisas que precisavam melhorar. Podiam, aos poucos, diminuir a distância, o abismo, que os separava.
Será que isso é demais para nós? ele se perguntou. Bem, mesmo que seja difícil, podemos tentar.
Pensar. Pensar muito. Não, só pensar não é suficiente. Ou melhor, preciso de material para trabalhar antes de poder pensar. Preciso de informações. Procurar com meus olhos, ouvir com meus ouvidos. Sentir com minha pele.
O que está acontecendo aqui? O que Moyugi e os outros estão fazendo? Lutando contra inimigos. Que tipo de inimigos? Havia orcs. Mas provavelmente é mais do que apenas orcs. E sobre os inimigos que o homem da voz rouca está enfrentando? São só orcs? Ou há outras raças também? Quero saber. Preciso aprender mais.
— Se importa se eu me aproximar um pouco mais? — começou Haruhiro. — Na verdade, vou me aproximar.
Sem esperar por uma resposta, Haruhiro avançou na frente de Moyugi. Yume foi com ele.
Agora ele conseguia ver. O homem tinha uma espada incrivelmente grande com um formato incomum, e ele a balançava para a esquerda e para a direita.
Que espada, pensou Haruhiro. Nunca vi nada parecido.
Toda espada tinha um centro de gravidade. Era o ponto onde, se a espada fosse segurada e deixada se equilibrar como uma balança, o peso de ambos os lados seria igual. Geralmente, se esse ponto não estivesse entre uns dez a vinte e cinco centímetros do local onde a lâmina se encontrava com o cabo, a espada se tornava incrivelmente difícil de manusear. Impraticável, até. E, no entanto...
E, no entanto, a espada daquele homem tinha mais de um metro e meio de comprimento, o que por si só já a tornava desproporcional. E a ponta também era larga. Tinha um formato que poderia ser descrito como uma fatia fina de um cogumelo gigante. Com um formato assim, o centro de gravidade devia estar incrivelmente próximo da ponta. Como resultado, seus golpes eram mais lentos.
Por ser forçado a usar golpes grandes e lentos, ele deixava muitas brechas. O homem resolvia essa questão usando outra coisa além da espada.
Seus pés.
Quando um inimigo se aproximava, o homem desferia um chute. Esses chutes tinham uma força incrível. Afinal, o homem era tão forte quanto um orc, talvez até mais.
Se Haruhiro levasse um chute daquelas pernas grossas como troncos, provavelmente jamais se levantaria de novo. E nem era preciso dizer que, mesmo que tentasse se defender com um escudo ou armadura, não seria capaz de resistir à enorme espada cogumelo do homem. Se tentasse se aproximar, seria chutado, se não, seria partido ao meio por aquela espada gigantesca. Se se visse frente a frente com aquele homem como inimigo, o que faria?
Haruhiro tinha apenas uma resposta.
Correr. O que mais?
O cara era aterrorizante só de olhar. Ele não usava elmo, exibindo sua cabeça careca, e, embora o bigode pudesse até ser aceitável, por que ele estava usando óculos escuros? Ele era, no mínimo, intimidante. Não importava como você olhasse, aquele cara era maluco.
Ele gritava e balançava sua espada cogumelo gigantesca, transformando um inimigo em cadáver. Gritava três vezes mais, e a cada balanço, surgia outro cadáver. Um inimigo tentou avançar contra ele assim que terminou um golpe, mas ele o chutou para longe e, com mais um grito, imediatamente o partiu ao meio.
Os cadáveres estavam se acumulando diante dos olhos de Haruhiro. Okay, talvez fosse um exagero, mas a enorme espada cogumelo do homem, as técnicas de espada dinâmicas, e os chutes ágeis para um homem de seu porte faziam Haruhiro querer descrevê-lo dessa forma.
Para completar, aquele homem também usava a névoa a seu favor. Para ele, qualquer um que tentasse se aproximar era um inimigo, mas seus inimigos não podiam dizer o mesmo. Com a visibilidade tão ruim, seria difícil para o inimigo cercá-lo com dez ou vinte homens de cada lado, avançando para cima dele.
Agora Haruhiro entendia por que Moyugi não tentava se juntar à luta. Se ele se aproximasse descuidadamente e tentasse ajudar, poderia acabar atrapalhando o homem. Nesse caso, não poderiam apenas apoiá-lo de longe?
De forma alguma era algo que Haruhiro estivesse realmente pensando em fazer.
Mas então ele, sem querer, acabou sendo notado pelos inimigos. E era isso.
— Yume! — Haruhiro preparou o estilete e a faca com guarda-mão.
Os inimigos estavam mais perto do que ele imaginava.
Estão vindo. Peles verdes. Orcs. Dois deles. Um de cabelo azul, o outro vermelho. Usavam armaduras de metal. Suas espadas pareciam ter um único gume. Eram curvas. Katanas, talvez?
Se eles atacassem juntos, ele e Yume provavelmente não conseguiriam aguentar, nem por um momento. Primeiro, eles precisavam separar os orcs, com Haruhiro e Yume enfrentando um de cada vez.
Haruhiro avançou contra o orc de cabelo azul, desferindo uma série de golpes com suas duas lâminas. Tanto os cortes quanto as estocadas estavam focados em velocidade. Mesmo que acertassem, não causariam muito dano. Mesmo assim, ele conseguiu desacelerar o orc.
Ele ouvia Yume gritando enquanto trocava golpes com o orc de cabelo vermelho usando seu facão. Enquanto mantinha o orc de cabelo azul na defensiva, Haruhiro ajustou sua posição para ficar de costas para Yume. Dessa forma, mesmo que novos inimigos aparecessem, pelo menos poderiam evitar ser atacados pelas costas.
Moyugi, Moira, Kuro, alguém, poderiam nos salvar, por favor? pensou desesperadamente.
Não crie esperanças, avisou a si mesmo. Se não conseguisse lidar com aquilo sozinho, como poderia fazer qualquer outra coisa?
Na verdade, foi por ter tentado contar com os outros que, no momento em que o orc de cabelo azul passou a atacar, ele tentou recuar.
— Ah...! — Haruhiro gritou.
Whoa! Droga! Ele é rápido!
Quando o orc de cabelo azul desferiu um golpe brutal em sua garganta, Haruhiro usou Swat com a faca na mão esquerda para desviar. Com um giro imediato do pulso, o orc atacou de cima para baixo. A faca na mão esquerda de Haruhiro não chegaria a tempo. Ele usou Swat com o estilete na mão direita, mas não conseguiu desviar completamente.
O orc de cabelo azul estocou contra ele. Parecia que seria sobrepujado se usasse a mão esquerda, então Haruhiro usou Swat, Swat, Swat com o estilete na mão direita.
Ele é forte, esse orc.
Era de se esperar que cada golpe fosse pesado, mas os golpes do orc eram habilidosos também. O orc não dependia apenas da força; sua técnica era precisa e acurada. Se Haruhiro dissesse que era como lutar contra um humano, estaria subestimando os orcs? Ainda assim, era assim que ele se sentia. Aquele cara parecia diferente, mas era humano.
Humano...?
Não, ele não era. Não só seu corpo era maior que o de um humano, ele também era mais forte. Se fosse mais inteligente e habilidoso, isso significaria que, no geral, ele era superior a um humano.
Enquanto usava Swat cautelosamente para desviar a katana do orc de cabelo azul, Haruhiro estremeceu. Talvez ele estivesse entendendo algo errado esse tempo todo.
O No-Life King (Rei Sem Vida) havia surgido cerca de um século e meio atrás, criando os mortos-vivos e unificando os orcs, kobolds, goblins e outros em uma única facção. Eles haviam destruído os reinos humanos de Nananka e Ishmal, forçando o Reino de Arabakia a recuar para o sul da Cordilheira Tenryu. Como resultado, os orcs e mortos-vivos se tornaram facções poderosas nas fronteiras de Grimgar.
Isso mostrava o quão incrível o No-Life King havia sido. De alguma forma, era nisso que Haruhiro acabava pensando.
Os orcs eram astutos, e mais fortes que os humanos, e era por isso que estavam em uma posição melhor do que os humanos nas fronteiras. Haruhiro alguma vez tinha considerado essa possibilidade?
Para ser franco, não, ele não tinha.
Talvez Haruhiro não soubesse de verdade o que os orcs realmente eram.
— Yume! — Haruhiro conseguiu desviar com Swat o ataque do orc de cabelo azul, que veio em forma de dois golpes, um horizontal e outro baixo. Ele olhou rapidamente para Yume. Só pôde vê-la por um breve momento, mas ficou claro que ela estava com dificuldades.
Não vamos aguentar, percebeu. Não assim.
Do jeito que as coisas estavam indo, tanto Haruhiro quanto Yume iriam cair, mais cedo ou mais tarde.
Isso era um lembrete claro e recente de quão mais poderosos Moyugi e seu grupo eram. As coisas estavam obviamente sem esperança, e eles não poderiam vencer de qualquer maneira, então ele deveria simplesmente desistir? Não, isso não era uma opção. Ele tinha que ser esperto. Haruhiro talvez não soubesse o que era realmente um orc, mas os inimigos também não sabiam nada sobre eles.
— Dois, um...! — ele chamou.
— Miau! — Yume rapidamente girou. Ao mesmo tempo, Haruhiro deu meia-volta.
Eles trocaram de oponente.
O orc de cabelo azul estava começando a se acostumar com o estilo de luta de Haruhiro, e o orc de cabelo vermelho provavelmente estava se familiarizando com os movimentos de Yume. Se os oponentes mudassem de repente, isso confundiria qualquer um. Humanos ou orcs, não faria diferença.
Agora, Haruhiro partiu para o ataque. Naturalmente, ele não entendia o novo oponente, então era arriscado. Ainda assim, do jeito que as coisas estavam, havia pouca chance de vencer, então ele teria que arriscar e atacar.
Haruhiro se comprometeu, aproximando-se do orc de cabelo vermelho. Ele usou Slap e Shatter, fingiu usar Hitter, mas então usou Swat e outro Shatter. Os golpes foram todos superficiais, mas o orc de cabelo vermelho ficou desorientado com a sequência.
Agora, pensou Haruhiro.
Ele passou pelo orc, posicionando-se atrás dele. Realizou um Backstab com seu estilete.
Não foi apenas um golpe. Foram dois, depois três. Ele perfurou a armadura, mas não foi um golpe fatal.
O orc de cabelo vermelho virou-se para ficar frente a frente com ele.
Circulando mais uma vez para ficar atrás do orc, Haruhiro executou outro combo triplo de Backstab.
O orc de cabelo vermelho cambaleou, mas com um grito de “Orrrsh!”, conseguiu se manter de pé.
Antecipando isso, Haruhiro imediatamente o agarrou por trás. O orc de cabelo vermelho estava usando um elmo. No entanto, havia grandes aberturas para os olhos e a boca, e o cabelo vermelho do orc saía por essas aberturas.
Haruhiro enfiou sua faca com guarda-mão no buraco da boca e cravou o estilete no olho direito do orc. Ele puxou ambas as armas rapidamente e saltou para longe.
O orc de cabelo vermelho gemeu, colocando um joelho no chão, mas ainda não havia caído.
Quão resistente é esse cara? Haruhiro se perguntou. Mesmo que ele esteja morrendo, não há como saber o que ele pode fazer até estar completamente morto. Tenho que pensar assim. Endurecer o coração.
Haruhiro chutou o orc de cabelo vermelho, derrubando-o, e imediatamente enfiou o estilete no olho direito dele.
— Me desculpa! — ele gritou.
Morra. Morra. Morra. Morra. Por favor, morra.
Deixando o orc de cabelo vermelho agora imóvel no chão, Haruhiro olhou para Yume. Ela estava usando Wan-chan para desviar a espada do orc de cabelo azul, mas estava claramente exausta. Ele queria correr para ajudá-la imediatamente—
Mas não se apresse, advertiu-se. Haruhiro tinha sua própria maneira de fazer as coisas.
Primeiro, ele precisava relaxar a respiração, controlá-la, liberar a tensão excessiva do corpo e apagar sua presença. Ele não podia fazer a névoa desaparecer, mas podia limpar a mente.
Sua visão rapidamente se ampliou. Ele podia ver. Podia ouvir. Podia sentir. Sua mente se soltou do corpo, e parecia que ele estava observando a área, incluindo ele mesmo, de um certo ângulo. Parecia um pouco diferente da habilidade Stealth que a Barbara-sensei lhe havia ensinado, mas era assim que Haruhiro estava no seu melhor.
Moyugi não havia dado um único passo desde onde estava antes, e permanecia ali, como se estivesse dizendo: Mostre o que você tem. Haruhiro já esperava isso, então não se irritou. Ele sabia que não faria o homem soltar um suspiro admirado, mas faria o que pudesse.
Movendo-se calmamente, como se fosse um com a névoa, Haruhiro contornou o orc de cabelo azul com quem Yume trocava golpes. Não apenas o orc de cabelo azul não o notou, como Yume também não percebeu sua movimentação.
Ele não podia ver aquela linha, mas movia-se sem a menor hesitação. Guardando sua faca, ele foi para um Backstab com o estilete. O golpe penetrou fundo e, por um instante, o orc de cabelo azul parou.
Sem perder o ritmo, Haruhiro usou Arrest. Ele agarrou o braço esquerdo do orc de cabelo azul. Pegando-o de surpresa, e com Haruhiro segurando firmemente o cotovelo, a diferença de tamanho entre eles significava pouco. Foi fácil desequilibrá-lo e derrubá-lo. Haruhiro cravou seu estilete no olho direito do orc caído.
— Miau! — Yume avançou, acertando sua lâmina curva no pulso direito do orc. Embora não tenha conseguido cortar a mão dele, a espada que ele segurava foi arremessada.
Provavelmente foi nesse momento que o orc de cabelo azul pensou: Estou acabado. Seu desespero era palpável. Mesmo assim, o orc de cabelo azul reuniu forças para tentar se levantar novamente.
Eu não vou deixar, pensou Haruhiro.
Ele montou no orc, puxou o estilete e o cravou novamente. Puxou de novo e cravou de novo. Ele cortou o rosto do orc de cabelo azul.
O estilete era uma arma especializada em estocadas, então seu poder de penetração e capacidade de infligir ferimentos letais eram assustadores. Não demorou muito para o orc de cabelo azul morrer.
O que achou disso? Haruhiro pensou. Não era algo que ele diria em voz alta, mas virou-se para olhar Moyugi. Ele nem está mais ali.
Com uma série de gritos e grunhidos, o homem careca de óculos escuros ainda estava lá, da mesma forma de antes, cortando os inimigos com sua enorme espada em forma de cogumelo, intimidando-os para que recuassem e derrubando-os com chutes.
O orc que havia sido chutado no chão pelo homem careca de óculos tentou se levantar—e não conseguiu. Antes que pudesse, Moyugi, que se movera para lá em algum momento, enfiou sua espada fina na nuca do orc.
— Bem, então. — Puxando a espada, Moyugi ajustou a posição dos óculos com o dedo médio da mão esquerda. — Acho que está na hora. Vamos terminar isso até eu contar até oito. Um...
Houve uma mudança visível na maré da batalha. Os inimigos que até agora estavam focados no homem careca de óculos decidiram se espalhar. Talvez metade deles mudou de alvo para Moyugi.
Logo, um deles caiu.
Uma flecha, hein?
Aquilo devia ser obra de Kuro. Mas outro inimigo avançou contra Moyugi.
Ele não se esquivou. Em vez disso, disse “Dois”, ainda ajustando os óculos e contando.
O que esse cara pensa que está fazendo? Não é perigoso?
Como se para mostrar que não era nada disso, Moira surgiu da névoa, e com um grito de “Nããããããooo!”, ela derrubou o inimigo que estava prestes a atacar Moyugi. Quase ao mesmo tempo, outro inimigo desabou, atingido por duas flechas em rápida sucessão.
Enquanto contava “Três”, Moyugi cruzou lâminas com outro inimigo, este um orc de cabelo branco. Nesse momento, Moyugi lançou um olhar para Haruhiro.
O quê? Ele pensou, surpreso. No fim, você está nos usando, né? Bem, não que eu me importe.
Haruhiro nadou pela névoa usando Stealth. Quando se posicionou atrás do orc de cabelo branco, Moyugi contou “Quatro”, então virou para a esquerda como se tivesse perdido o interesse no oponente, afastando-se como se estivesse dando um passeio casual. O orc de cabelo branco foi pego de surpresa, provavelmente enfurecido, e tentou atacar Moyugi.
As costas do inimigo estavam completamente expostas. Bem, só havia uma coisa a fazer quanto a isso. Com um olhar desinteressado para Haruhiro, que se aproximava para usar Spider e estava se esforçando para acabar com o orc de cabelos brancos, Moyugi continuava a eliminar os outros inimigos com tranquilidade.
— Cinco, seis.
Sério, qual era o problema com aquele cara?
O número de inimigos estava diminuindo rapidamente.
Escondido na névoa, Kuro os matava a flechadas. Moira usava Moyugi como isca para atacar os inimigos. Moyugi os esfaqueava casualmente até a morte. Não era nem preciso dizer que o homem careca de óculos escuros ainda estava abatendo os inimigos com sua enorme espada em forma de cogumelo também.
Eles estavam eliminando os inimigos de um jeito que até Haruhiro conseguia perceber. Mas, não parecia estranho as coisas estarem indo tão bem assim? Era como se ele estivesse assistindo a um truque de mágica.
— Sete. — Moyugi recuou, parecendo que iria tropeçar a qualquer momento. Aquele não era um orc; um inimigo humanoide de quatro braços avançava em sua direção.
Uma flecha atingiu seu flanco direito, e então Moira o atacou do lado oposto com um grito de “Nããããããooo!”
Moira subiu em cima do inimigo.
— Nããããããooooo... Nããããããooo... Nããããããããooooooooo...!
Com um olhar para Moira, que assassinava o inimigo de uma forma indescritível, Moyugi guardou sua espada fina com um gesto elegante.
— Oito. Acabou. Exatamente como calculei.
— Ufa... — Yume olhou ao redor da área.
Haruhiro só conseguia suspirar. Ele balançou a cabeça.
Os orcs tinham desaparecido. Haviam sido tantos. Mas, pelo menos até onde ele podia ver, nenhum deles restava de pé.
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Realmente tinha terminado quando Moyugi contou até oito. Bem, já que Moyugi estava contando, e ele podia ajustar o tempo conforme necessário, não parecia totalmente justo, mas ainda assim.
— Hrmm... — O homem careca de óculos escuros soltou um gemido baixo, cravou sua enorme espada cogumelo no chão e então girou a cabeça de um lado para o outro lentamente. — De fato.
— Bom trabalho. — Kuro apareceu do nada, dando um tapa no ombro do homem careca de óculos escuros. — Kajita.
O homem careca de óculos escuros, chamado Kajita, sorriu e fez um sinal de positivo.
Moira se levantou lentamente. Seu inimigo de quatro braços nem se mexia. Ou melhor, estava irreconhecível. Inimigo ou não, será que ela precisava mutilar o corpo daquela maneira?
Ou será que era assim que os demônios agiam? Será que o Zodiac-kun de Ranta agiria assim eventualmente?
Haruhiro fez uma careta com esse pensamento desagradável.
— Hum... — Haruhiro balançou a cabeça. — Isso—eu não sei como se chama, o inimigo de quatro braços... o que é?
— O quê? Você não sabe? — Kuro respondeu com uma expressão exagerada de exasperação. — É um morto-vivo, é claro. Os de quatro braços são chamados de double arms. Ou melhor, é assim que eles se chamam.
— Isso é um morto-vivo... — Haruhiro esfregou a garganta.
O que Moira tinha matado estava destruído além do reconhecimento, então ele procurou entre os outros corpos e—lá estava. Aqui, ali, por toda parte, todos os que não eram orcs deviam ser mortos-vivos.
Os mortos-vivos não eram tão diferentes dos humanos. Eram mais ou menos humanoides, mas os chamados double arms tinham quatro braços, e havia outros que tinham dois braços anormalmente longos, ou torsos extremamente longos com pernas curtas, ou nádegas muito grandes, ou cabeças estranhamente grandes. Além disso, tinham pouca pele exposta. Seus corpos estavam cobertos de tecido, couro ou metal, e os raros pedaços de carne que apareciam estavam terrivelmente enegrecidos, ou marrons, ou cinzas, ou azul-pálido.
Outra diferença entre eles e os orcs era que não havia sangue escorrendo de seus ferimentos. Em vez disso, um muco verde e inquietante parecia estar vazando.
— Huh... — Yume caminhou hesitante e se agachou ao lado do cadáver do morto-vivo. — Escuta, Yume, ela tá se perguntando uma coisa faz um tempo já.
— Claro. — Kuro caminhou até lá e se agachou ao lado de Yume. — Pergunte. Mas, se eu não souber a resposta, tudo que posso fazer é mentir pra você.
— Se for mentir, avisa a Yume que é mentira, pra ela não sair acreditando, tá?
— Wah ha ha! — Kuro riu. — Claro, claro. Pode deixar. Vou fazer isso.
— Escuta, mortos-vivos, eles estão mortos que não estão, certo?
— Hã? O que, o que? Mortos que não estão? O que isso quer dizer?
— Tipo, eles estão mortos que não estão, né? Não é o que é! Né?
— Buahaha! — Kuro gargalhou. — Isso é uma piada engraçada, mas eu não faço ideia do que você quer dizer, tá? Você é fofa, como um animal de estimação.
— Murgh! Yume é um animal, mas ela também é humana, tá! Ah, mas humanos também são animais.
— Haha! O que você é, o bichinho de estimação que toda família quer? Wahahahaha! — Kuro abraçou a cabeça de Yume e começou a bagunçar seu cabelo. — Ei, Moyugi, Kajita, posso ficar com ela?
— Quando for alimentar, certifique-se de fazer isso você mesmo. — Os olhos de Moyugi tinham um brilho assustador.
Kajita sorriu e fez um sinal de positivo. — De fato.
— Basicamente... — Como aquilo não estava indo a lugar nenhum, Haruhiro tentou interpretar para ela. — ...com “morto” se referindo à morte e “não-“ sendo um prefixo de negação, acho que ela quer dizer que os mortos-vivos não deveriam morrer.
— Haru-kun, é isso! — Yume afastou a mão de Kuro. — Poxa! Agora você embaralhou o cabelo da Yume!
— ...Yume, acho que “embaralhou” não é a palavra que você quer usar...
— Hoh? Despenteou? Desarrumou? Ah, Yume não sabe mais.
— Heh heh heh... — Kuro estava curvado, segurando os lados do corpo de tanto rir. — Ai, minha barriga. Você tá me matando aqui, sério. Tá, tá. Eu entendi o que você quis dizer. Entendi. Certo. Você está certa. Se escrever em kanji, eles são a “raça sem morte”, mas esses caras morrem com facilidade.
Kanji? Haruhiro pensou, surpreso. Ah, certo, kanji. Se escrever em kanji—Espera, hã...?
Eu sei o que são kanji. São caracteres escritos. Eles são usados aqui em Grimgar também. Mas tem algo... Sim, é isso. Kanji?
Não acho que alguém os chame de kanji, chama?
Eles são um tipo de caractere escrito, e eu só os ouvi sendo chamados de ideogramas. Eles podem ter um nome, mas nunca ouvi. Mesmo que eles sejam definitivamente kanji.
— O que foi, novato? — Kuro perguntou.
Quando Haruhiro olhou para cima, viu que Kuro tinha um sorriso bobo no rosto, mas havia um brilho afiado em seus olhos.
— Algo te incomodando? Fala logo.
— ...Não. — Haruhiro balançou a cabeça. — Não é nada.
— Ah, é? — Kuro respirou fundo e depois apontou com o queixo para os corpos dos mortos-vivos. — Bom, tanto faz. Então, voltando aos mortos-vivos. Eles têm algo chamado núcleo, e se acredita que eles morrem se você destruí-lo. O núcleo geralmente está dentro da cabeça, então, enquanto estiverem intactos do pescoço para cima, eles juntam partes de cadáveres o suficiente para se reviver. Estranho, né?
— Isso é só especulação? — Haruhiro levantou as sobrancelhas. — Ainda não foi confirmado que esse núcleo, ou seja lá o que for, realmente existe?
— Exatamente. O núcleo nunca foi descoberto — Moyugi disse suavemente. — Dizem que os mortos-vivos são uma raça que foi inicialmente criada pela maldição do No-Life King. A verdade é que, mesmo agora, se uma pessoa for deixada ao relento após suas funções vitais serem encerradas, ela eventualmente começará a se mover por causa dessa maldição. Não se limita a pessoas, no entanto. Sabemos que não apenas elfos, anões, orcs, goblins, kobolds, centauros e gnomos, as principais raças sencientes, se tornam o que chamamos de zumbis três a cinco dias após suas mortes, mas várias outras criaturas inteligentes também. No entanto, embora possam se tornar zumbis, não podem se tornar mortos-vivos. Por quê? —Há aqueles que teorizam que tem a ver com o fato de o No-Life King não estar mais neste mundo, mas, seja como for, sua maldição ainda está em vigor. Além disso, quando o No-Life King ainda estava presente, os mortos-vivos nasciam dessa maldição. Com base nisso, eu teorizei que o chamado núcleo não é uma coisa física dentro dos mortos-vivos, mas algo que passou a residir dentro deles de alguma forma. Quando essa forma é rompida, eles deixam de ser mortos-vivos. Em outras palavras...
— Isso está longo. — Kajita fez um sinal de positivo, e depois virou o polegar para baixo. — Longo demais.
Moyugi estalou a língua. — Bem, vamos deixar por aqui, então. Estamos falando demais. Minha operação, é claro, ainda está em andamento. Vamos, estamos passando para a próxima fase. Vamos lá!
— Huh...? — Haruhiro e Yume trocaram olhares.
Yume estava no mundo da lua. Para dizer a verdade, Haruhiro também.
— O que você quer dizer com próxima fase? — ele perguntou.
— Acho que devemos ir. — Kuro se levantou, espreguiçando-se e estalando os dedos. — Faltam dois. Isso é pesado para um velho como eu.
Kajita apoiou sua enorme espada cogumelo no ombro como se fosse leve. — De fato.
— Não, Kajita, eu sei que você não parece, mas é muuuuito mais jovem do que eu, tá? Isso deve ser fácil pra você, aposto. Moleza, né?
Kajita lhe deu um sinal de positivo silencioso.
Moyugi já estava bem à frente com Moira.
— Faltam dois... — Haruhiro caminhava com as pernas bambas. — Acho que teremos que terminar rápido?
Será que estava tudo bem? Ou não estava? Ele já não sabia mais.
A névoa ainda era densa e profunda.
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