Dare ga Yuusha wo koroshita ka | Who Killed the Hero Volume 01 Capítulo 02 [Capítulo de Maria]
— Ele também foi um herói para mim, — Quando perguntada sobre sua relação com ele, Maria sorriu calorosamente e respondeu.
Maria-Loren, a sacerdotisa que era a curandeira no grupo do herói, agora supervisionava as operações da igreja como bispa. Desde a infância, Maria concedia livremente os milagres da magia de cura às pessoas, independentemente de seu status, o que lhe rendeu o título de Santa Maria.
— Nossa relação começou ainda nos tempos da academia. Um dia, ele simplesmente me abordou.
“Você me ensinaria magia de cura?”
No começo, sabe, eu achei que ele estava tentando flertar comigo. Quando os homens se aproximavam, sempre era com esse propósito.
Maria sorriu de maneira travessa. Com seus longos cabelos negros e sedosos, pele tão branca quanto porcelana e olhos místicos, ela ainda era tão bela quanto era elogiada na épica do herói, talvez até mais refinada agora.
— Mas, quando o ouvi, percebi que ele estava falando sério. Ele tinha a ideia equivocada de que o herói era um guerreiro que podia usar tanto magia de ataque quanto magia de cura.
— O herói, originalmente, deveria ser um guerreiro capaz de usar ambas as magias, de ataque e de cura, e isso ainda deveria ser verdade, mas era mesmo uma noção tão estranha?
— Era estranho. Ou melhor, naquela época, ter talento inato para ambas as magias, além de se destacar como guerreiro, era considerado impossível.
— Mas ele não é o herói que pode tornar o impossível possível para derrotar o rei demônio?
— Colocando dessa forma, acho que sim. No entanto, por mais de duzentos anos, nenhuma pessoa assim apareceu. Ouvi dizer que, no início da fundação da academia, treinavam guerreiros que podiam usar tanto magia de ataque quanto de cura, mas logo pararam porque era muito ineficiente. Em primeiro lugar, magia de ataque e magia de cura são incompatíveis. A magia é a arte de perceber e utilizar os princípios do mundo como mana, mas nós, sacerdotes, percebemos os princípios do mundo como a graça de Deus e usamos esse poder em nome Dele. Como nossos conceitos fundamentais são diferentes, é difícil reconciliar os dois.
A natureza distinta da magia ofensiva utilizada por magos e os milagres da magia de cura ainda era um tema de debate. Embora houvesse alguns que conseguiam realizar ambas, havia a desvantagem de que as duas habilidades acabavam sendo de baixo nível.
— Além disso, o treinamento de um guerreiro é diferente do treinamento de um sacerdote. A academia dividiu as classes por profissão para especializar e melhorar a eficiência.
— Então, você ensinou magia de cura a Ares?
— Fiquei curiosa, então ensinei. Queria ver se alguém sem talento poderia receber a graça de Deus ou não...
Maria era uma mulher cheia de compaixão, com um sorriso inabalável, mas seu comentário foi um tanto provocativo. O que, exatamente, constituía talento para ser sacerdote?
— Se podem ou não sentir a presença de Deus—é isso. O quão devoto alguém é, não importa.
Ela negou categoricamente qualquer conexão com a devoção.
— Embora uma devoção maior possa surgir ao se sentir a presença de Deus, não se começa a sentir essa presença apenas por ser devoto. Já vi muitas pessoas mais devotas do que eu, mas, quando se trata de sentir a presença de Deus, elas não conseguem.
— Isso é simplesmente talento.
Embora fosse um conhecimento amplamente aceito que os sacerdotes precisavam de um talento inato—ou seja, a graça de Deus—negar a ligação com a devoção até esse extremo era algo incomum, especialmente vindo de uma bispa.
— Não é um tabu nem nada. Apenas existem muitos que não querem admitir isso—Mas vamos voltar ao assunto. Ele era alguém sem talento ou sequer devoção, que pensava: ‘Se Deus existe, por que existem criaturas malignas?’ Um comentário bem ousado. Mas não é incomum que guerreiros, que realmente lutam contra essas criaturas malignas, pensem dessa forma.
Quando se tratava da relação entre Deus e as criaturas malignas, havia muitos debates, mas os sacerdotes evitavam dar uma resposta clara, dizendo: “É a profunda e insondável vontade de Deus.”
— Então, fiquei interessada. Será que alguém sem talento ou fé poderia usar magia de cura? Foi por isso que comecei a ensiná-lo.
— Ensinar magia de cura é fácil?
— Não, não é fácil. Especialmente para alguém sem talento. Dizer a uma pessoa que nunca sentiu a presença de Deus para “perceber a existência de Deus” é bem difícil. É como ensinar palavras a um cachorro.
— Mas você conseguiu, não foi? A lenda do herói diz que Ares conseguia usar os milagres de Deus.
— Consegui? Bem, suponho que sim. Depois de receber orientações minhas, ele gradualmente começou a sentir a presença de Deus. E após mais de dois anos, finalmente conseguiu aprender magia básica de cura.
— No fim das contas, se ele conseguiu aprender, não é um sucesso?
— Se seu objetivo é ser sacerdote, você poderia aprender isso em cerca de um mês, mesmo sendo devagar. Na verdade, se você tiver o talento, poderia realizar isso inconscientemente. No entanto, no caso dele, ele não fez nenhum progresso por dois anos. Eu não entendia por que ele continuava se esforçando.
— Mesmo sem obter resultados, não foi por ele querer aprender magia de cura que acabou se tornando um herói?
— Você acha? No começo, achei intrigante. Ah, de fato, os milagres dos deuses não acontecerão para aqueles sem talento, eu pensava. Mas ele continuava praticando magia de cura, sem nenhum sinal de progresso, mesmo após dois anos. Uma pessoa comum teria desistido após três meses sem resultados. Talvez com talento ou fé, alguém pudesse persistir, mas ele não tinha nenhum dos dois.
— Por que você não conseguia entender por que Ares praticava magia de cura?
— Há rumores de que os lendários heróis antigos conseguiam usar magia de cura, mas não sei se isso é verdade. Além disso, por mais de dez anos até agora, os papéis dentro de um grupo estavam bem estabelecidos. Desde que a classe de guerreiros funcione como vanguarda, não há necessidade de eles usarem magia de cura. Isso é senso comum. Então, não apenas eu, mas todos na academia achavam estranho ele estar praticando magia de cura.
— Agora que você menciona, de fato, os guerreiros de linha de frente não precisam necessariamente usar magia de cura. Seria conveniente se pudessem, mas desde que funcionem bem como equipe, a necessidade é mínima.
— Exato. No entanto, eu apenas o ensinei sobre a existência de Deus, e não ficava monitorando sua prática. Dei alguns conselhos algumas vezes, avisando-o de que ele não tinha talento, mas, no fim, não consegui impedi-lo.
— Mas Ares conseguiu aprender magia de cura?
— Mesmo sem talento ou fé, ficou provado que ele conseguia usar magia de cura. Contudo, ele só aprendeu magia básica de cura, então não achei que fosse algo tão significativo. Com apenas magia básica de cura, tudo que você pode fazer é aliviar pequenos ferimentos e contusões. Ferimentos e dores desse nível acabam se curando com o tempo de qualquer maneira, então isso não é considerado algo de muita importância. Mesmo entre nós, sacerdotes, era senso comum que esses danos insignificantes não precisavam de cura durante a batalha. Não teríamos fim se tivéssemos que cuidar de cada pequeno ferimento. Mas ele entendia a importância de curar até mesmo esses ferimentos menores.
— É importante curar até ferimentos pequenos?
— Mesmo que pareça trivial, deixar isso de lado vai se acumulando e claramente te atrasa. Na verdade, qualquer ferimento, grande ou pequeno, atrapalha o movimento de alguma forma, então, se você quiser continuar lutando com toda a sua força, precisa curar tudo. Eu curava seus ferimentos maiores, e ele curava seus próprios ferimentos menores. O estilo de luta tenaz do herói não teria sido possível sem a magia básica de cura.
— A épica do herói elogia o espírito indomável de Ares, que nunca sucumbiu a nenhuma dificuldade ou adversidade. Então o segredo estava na magia básica de cura.
— Sim, eu diria que sim. Ou melhor, ele entendeu a importância de acumular todas essas pequenas coisas. Mesmo quando monstros incrivelmente fortes apareciam, ele os derrotava acumulando ferimentos menores, e quando dificuldades aparentemente intransponíveis surgiam, ele as superava acumulando esforço gradualmente. É fácil de explicar, mas levou muito tempo para fazer essas coisas. Houve vezes em que lutamos contra um inimigo por três dias e três noites antes de derrotá-lo, mas depois todos desmaiávamos no lugar, inconscientes. Se tivéssemos sido atacados naquele momento, teríamos sido aniquilados.
Maria sorriu com carinho enquanto lembrava desses dias.
— Mas a jornada não teria se tornado consideravelmente mais longa se vocês fizessem apenas isso?
A jornada do herói não parecia ter sido tão longa assim.
— Ah, sim, se deixássemos tudo por conta dele, a jornada teria demorado para sempre, mas Leon, Solon e, claro, eu éramos excelentes, então geralmente resolvíamos as coisas rapidamente. Dizíamos a ele: ‘Se deixássemos tudo nas suas mãos, o rei demônio morreria de velhice.’ Todos éramos meio teimosos, então talvez estivéssemos tentando diminuir a importância dele. Mas em momentos como esses, ele apenas ria, coçava a cabeça e dizia: ‘Obrigado, vocês me salvaram.’ Isso nos fazia sentir os tolos.
— Parece divertido, mas você amava Ares?
— Já respondi a essa pergunta muitas vezes. E, em cada uma delas, dou a mesma resposta: não, eu não amava Ares. E essa é a verdade.
Não havia mentira em sua expressão.
— Existem rumores de que você não consegue esquecer Ares e que permaneceu solteira por causa dele, mas...
— Você faz perguntas muito pessoais. Eu simplesmente perdi a oportunidade de me casar. Se tivesse tido um pouco mais de coragem, poderia ter me casado há muito tempo. Eles me chamam de santa, mas o verdadeiro eu é uma pessoa muito tímida.
— Por que o herói morreu?
— É triste, mas deve ter sido a vontade de Deus. Não consigo explicar de outra forma senão dizendo que o papel de Ares como ser humano era algo assim.
Fragmento 1
Na academia, os alunos eram divididos em classes de acordo com a profissão que aspiravam— guerreiro, sacerdote, mago—mas só podiam estudar em sua área de especialização. Isso foi um erro completo.
Achei que, mesmo na classe de guerreiros, poderíamos aprender magia ofensiva e de cura até certo ponto, já que era uma escola que visava formar um herói. No entanto, devido à ineficiência de ensinar combate corpo a corpo e magia simultaneamente, e, acima de tudo, por causa da aptidão inata necessária para a magia, as funções foram completamente separadas.
Mas eu não podia simplesmente desistir. O herói tem que ser capaz de usar tanto magia ofensiva quanto magia de cura, e mais do que isso, eu sentia a necessidade disso pessoalmente.
— Você me ensinaria magia de cura?
A quem chamei foi uma pessoa famosa na classe dos sacerdotes, Maria Loren. Ela era uma beleza com longos e lindos cabelos negros e pele tão branca quanto porcelana. De todas as pessoas que eu havia conhecido até então, ela era definitivamente a mulher mais bonita.
Claro, eu não a chamei porque ela era bonita. Enquanto os outros alunos da classe dos sacerdotes estavam desesperadamente focados em suas lições, ela era a única que se mostrava calma, então eu esperava que ela pudesse me ensinar magia de cura.
Além disso, ela tinha a reputação de ser uma santa, uma mulher de bondade amorosa.
— Não acho que guerreiros precisem usar magia de cura, não é?
Ela sorriu e respondeu.
— Eu quero me tornar um herói. Por isso, quero poder usar magia também — eu disse.
Ao ouvir isso, os olhos de Maria se arregalaram. As outras pessoas ao redor também começaram a murmurar.
— Entendo... Certamente dizem que o herói é assim. No entanto, agora é considerado ineficiente dominar tanto a espada quanto a magia, então não é mais algo recomendado. Você sabia disso, certo?
— Sim, eu sei. Um professor me disse a mesma coisa e se recusou a me ensinar magia de cura.
— Oh, meu Deus, então você quer que eu te ensine porque um professor se recusou?
— Exatamente. Ouvi dizer que você é talentosa, até mesmo entre a classe dos sacerdotes, e é compassiva como uma santa, então pensei que talvez você pudesse me ensinar.
— Não acha que está sendo um pouco presunçoso ao pedir isso à Senhorita Maria só porque ela é gentil?
Interveio uma garota da classe dos sacerdotes com um rosto ligeiramente rechonchudo e severo. Sua disposição parecia mais adequada à classe dos guerreiros do que à dos sacerdotes.
— Não, eu não me importo. — Maria disse gentilmente à garota rechonchuda. — Embora seja verdade que estou longe de ser uma santa e ainda tenha muito treinamento pela frente, guiar as pessoas também é dever de quem serve a Deus. Quando tiver tempo, ficarei feliz em te ensinar sobre Deus.
Maria sorriu com uma abundante compaixão.
Ao ouvi-la, as pessoas ao redor começaram a louvar Maria.
— Como ela é bondosa!
— Como esperado de uma santa.
— Pregar os ensinamentos de Deus até mesmo para um plebeu como esse.
Na época, eu também agradeci sinceramente a Maria.
Mas mais tarde eu viria a perceber...
Não havia falsidade nas palavras dela de que estava “longe de ser uma santa.”
Algum tempo depois, enquanto eu balançava minha espada atrás do prédio da academia, Maria se aproximou de mim.
— Ares, você tem um momento?
— Oh, Maria. Por acaso você vai me ensinar magia de cura?
— Não, é inútil ensinar magia de cura a alguém que não consegue sentir a presença de Deus. Seria como ensinar aritmética a um macaco. Você entende, não?
— ...Eu suponho que mais ou menos.
Fiquei um pouco incomodado por ser comparado a um macaco, mas entendi em sua maior parte.
— Então, como posso sentir a presença de Deus?
— Por favor, me compre um pão delicioso.
Maria sorriu alegremente.
— Hã? Pão? O que isso tem a ver com Deus...
— Você não deve pensar. Deve sentir. Agora, vá comprar um pão. Depressa.
Embora eu não entendesse muito bem, como era o aluno, corri a toda velocidade para comprar o pão.
Na loja da academia, comprei o que parecia ser o pão mais delicioso que consegui encontrar e, então, voltei com ele em mãos para trás do prédio da academia.
— O que é isso?
Maria olhou para o pão que eu havia comprado com um olhar frio, como se fosse uma carcaça de inseto.
— Como assim, é um pão.
— Hmm...
Maria soltou um suspiro exagerado.
— Você não entende, não é? Eu te disse para comprar um pão delicioso. Você falou adequadamente com Deus? Perguntou: “Onde posso encontrar um pão delicioso?”
— Hã? Deus sabe onde tem pão gostoso?
Será que Deus era um entusiasta de pães?
— Deus é onisciente e onipotente, então Ele sabe de tudo. Seja pão delicioso ou doces. Você precisava perceber a presença de Deus para comprar o pão. Tentar se safar comprando pão de uma padaria próxima... isso é uma blasfêmia contra Deus, sabia?
Parecia que procurar um pão gostoso era o primeiro passo para conhecer Deus. Pelo menos, era o que ela dizia... Mas seria verdade?
— Bem, acho que por hoje está bem. Eu sou uma pessoa misericordiosa, e estou com fome.
— Hã?
Será que eu estava sendo usado só porque ela estava com fome?
— Tenha mais cuidado da próxima vez.
Maria disse isso, pegou o pão de mim e foi embora.
Em um outro dia frio de inverno, recebi a convocação de Maria para me encontrar à beira do rio.
— Como uma pessoa misericordiosa, eu criei uma provação para você.
Nesse momento, não pude evitar ter um mau pressentimento.
— Bom, veja bem, eu preferia se você pudesse simplesmente me ensinar de uma maneira normal.
— Do que você está falando? Apesar de ter recebido orientação de um sacerdote quando era criança, você ainda não conseguiu perceber a presença dos deuses, certo? Não há como um método normal funcionar, concorda?
Maria exibiu uma expressão exageradamente exasperada.
— Por causa de um cordeiro lamentável como você, eu criei essa provação. Não pode simplesmente aceitar?
— Quero dizer, sim, acho que, colocado dessa forma...
— Exatamente. Vamos começar, então?
Maria pegou uma pedra à beira do rio e fez uma oração sobre ela.
A pedra, abençoada por Deus, emitiu um leve brilho.
— Pegue esta pedra.
Ela me entregou a pedra, que brilhava fracamente.
— O que eu faço com isso?
— Jogue-a o mais longe que puder no rio. Quanto mais longe, melhor.
Fiz como ela mandou, mas como o rio era bastante largo, a pedra caiu bem no meio com um barulhento ploft
— Agora vá buscar.
— Hã!?
O que ela estava dizendo? Essa mulher havia sugerido algo absurdo.
— É uma pedra abençoada por Deus. Se você conseguir perceber a presença de Deus, deveria ser capaz de encontrá-la facilmente.
— Não, não, não, não há sentido em procurar no fundo do rio, certo?
O rio parecia ser bastante profundo, com uma correnteza forte. Eu poderia acabar me afogando. Procurar no leito do rio era um absurdo.
— Do que você está falando?
Maria soltou um suspiro pesado.
— Você não consegue perceber a presença de Deus em sua vida cotidiana, consegue? Então precisa se colocar em uma situação extrema, não? Entende o que estou dizendo?
— Bem, quero dizer, colocado dessa forma, faz um certo sentido...
— Fico feliz que você entenda. — Maria sorriu satisfeita. — Então, faça o seu melhor.
Pelas próximas três horas, vivi um inferno no rio congelante, procurando pela pedra.
Era como procurar uma agulha no palheiro, porque eu nem conseguia ver se a pedra estava brilhando no fundo do rio.
Quando peguei uma pedra do leito do rio e entreguei a ela,
— Seus olhos estão podres? — disse ela friamente,
E sem nenhuma simpatia, jogou a pedra de volta no rio. Ela era uma mulher sem coração.
Finalmente, após muitas repetições desse exercício absurdo, consegui encontrar a pedra, e quando emergi do rio, Maria, com um sorriso sinistro e satisfeito, disse: — Conseguiu sentir a presença de Deus?
— Bem, de certo modo, senti a presença dele bem perto quando achei que estava prestes a ser convocado por ele.
Disse isso com um toque de sarcasmo.
— Um passo mais perto, então.
Ela não pareceu se importar com o meu sarcasmo e apenas sorriu.
Mas eu pensei que poderia morrer com esse “um passo"...
As provações de Maria continuaram toda semana de maneira semelhante, e quando cheguei ao meu segundo ano, ainda não havia aprendido magia de cura. A única coisa que aprendi foram as localizações das melhores padarias e confeitarias da capital.
Quando apontei esse fato para Maria, ela respondeu: — Saber onde ficam as boas docerias pode fazer as mulheres felizes. Isso será útil no futuro.
Eu não conseguia imaginar um futuro em que me desse bem com garotas, mesmo que a Maria à minha frente fosse diferente.
Eu tinha sentimentos mistos sobre a eficácia das provações, mas como não havia mais ninguém em quem confiar para aprender magia de cura, não tive escolha senão confiar nela.
No entanto, um dia, uma mudança nos meus sentidos ocorreu. Especificamente, eu me tornei incomumente bom em encontrar pães e doces deliciosos.
Será que consigo ouvir a voz de Deus?
Pensando nisso, recitei uma oração que havia aprendido há muito tempo. Para minha surpresa, consegui curar um pequeno ferimento no meu braço.
— Consegui! O que a Maria disse era verdade!
Para ser honesto, eu quase tinha desistido, então fiquei muito emocionado.
Que surpresa: Maria era realmente uma verdadeira santa!
Por que eu não acreditei mais nela?
Se eu tivesse acreditado nela e passado pelas provações com mais dedicação, poderia ter aprendido mais cedo!
Meu coração se encheu de gratidão e desculpas a Maria.
Corri imediatamente até a classe dos sacerdotes e agradeci a Maria.
— Obrigado, Maria! Agora eu consigo usar magia de cura!
— ...Você está falando sério?
Dizendo isso, Maria ficou sem palavras, e sua expressão atônita foi algo que eu nunca esqueceria.
Fragmento 2
Acho que eu tinha cerca de três anos quando minha mãe me levou à igreja e perguntei a ela: — Mãe, por que todo mundo está rezando?
— Para fazer pedidos a Deus — ela disse. — Para que todos possam ser felizes.
Mas Deus não estava olhando para cá…
Desde que me tornei consciente de mim mesma, pude sentir a existência de Deus.
Sim, apenas sua existência.
Meus pais devotos e as pessoas ao redor chamavam isso de milagre e diziam que eu devia ser uma santa.
Mas, para mim, não parecia um milagre de jeito nenhum.
Porque Deus não tinha absolutamente nenhum interesse em nós, humanos.
Mesmo que meu pai, minha mãe e todos os fiéis estivessem oferecendo suas orações de forma sincera, Deus estava de costas para eles. Era uma cena tão cruel e, ao mesmo tempo, cômica.
Era como se os humanos estivessem nutrindo um amor não correspondido por Deus.
Eu não queria me tornar assim. Então, apenas pensei em como fazer bom uso do poder de Deus, e usei os milagres de Deus—a magia de cura—sem nenhuma fé real.
Não havia sinceridade nisso. Porque seria inútil.
Inicialmente, pensei que todos os sacerdotes deviam sentir o mesmo.
Orações sem sentido não têm muito valor, então presumi que todos entendiam isso e estavam apenas seguindo o protocolo.
Mas eu estava errada. Os sacerdotes também, de alguma forma, se apegavam ao poder de Deus por meio de suas orações e realizavam milagres. Isso não é muito diferente de lançar feitiços.
Eles parecem vagamente sentir a presença de Deus, como uma névoa distante, mas não conseguem captá-la claramente. E essa própria imprecisão faz com que eles vejam Deus como algo grandioso.
Eu era uma criança esperta, então não neguei a fé deles. Pelo contrário, apenas mantive as aparências, de modo que me louvassem como uma “santa” e “filha de Deus” por ser capaz de usar o poder divino e realizar milagres, mesmo sem ter muita fé. Isso também agradava aos meus pais.
Assim, tornou-se um hábito para mim agir dessa maneira desde pequena.
Eu não achava isso doloroso. Mas, quanto mais eu agia assim, mais sentia uma distância entre mim e as pessoas ao meu redor.
A única exceção era um garoto da minha idade chamado Solon.
Mesmo criança, ele já era chamado de prodígio por sua inteligência, mas, por essa mesma razão, parecia duvidar de Deus.
— Se Deus estivesse do lado dos homens, criaturas malignas como demônios não existiriam. O fato de que os demônios existem prova que Deus não está ao lado dos homens. Ou talvez este mundo não tenha sido criado por Deus — ele dizia, despreocupadamente.
Então, mesmo sendo considerado um prodígio, as pessoas mantinham distância por causa de declarações como essa.
Eu sabia que ele era o único dizendo a verdade, então senti uma afinidade e comecei a conversar um pouco com ele. Mas mantive uma certa distância para evitar ser vista como estranha também.
Mesmo sendo uma criança pequena, eu já era frequentemente elogiada pela minha aparência, e, combinando com meus supostos milagres, passei a ser chamada de santa. Mas isso era simplesmente porque meus pais eram pessoas atraentes—Deus não tinha nada a ver com isso.
Ainda assim, à medida que eu crescia, era evidente pelas reações das pessoas que eu estava me tornando cada vez mais bonita. Recebi muitas propostas de casamento, mas esses homens só me viam como a santa, e não como a verdadeira eu, então não tinha vontade de me relacionar com eles.
Às vezes, aristocratas até exigiam arrogantemente minha mão em casamento. Minha família era de nobres de baixo escalão, então recusar normalmente seria difícil, mas, como eu tinha sido publicamente anunciada como uma santa que entraria para a igreja no futuro, consegui escapar habilmente dessas situações, usando a autoridade da igreja como escudo. Meus pais também desejavam isso.
E assim, aos quinze anos, entrei na Academia Pharme.
Ninguém no país, nem aluno nem professor, podia usar a magia de cura melhor do que eu, então não havia muito sentido em frequentar. Mas há uma ordem e decoro a serem seguidos, então não tive escolha a não ser me matricular. Para manter as aparências, agi de maneira respeitosa com os professores e passei meus dias escolares como uma aluna exemplar.
Enquanto isso, Solon, que estava na classe dos magos, expressava abertamente seu descontentamento e parecia não se dar bem com os outros. Ele era ruim em relacionamentos pessoais... Não, ele tinha um coração verdadeiramente puro.
Minha vida na academia era tranquila. Os professores me respeitavam, e meus colegas me reverenciavam ainda mais do que os professores.
As aulas eram entediantes, mas minha vida sempre foi assim, então eu não pensava muito nisso.
Então Ares apareceu.
Ele de repente entrou na classe dos sacerdotes e me perguntou, abruptamente: — Você pode me ensinar magia de cura?
Até eu fiquei chocada. Primeiro, ele era de nascimento comum. Eu sou uma nobre, mesmo que de um escalão inferior. Ele não tinha o direito de falar comigo de forma tão familiar. E eu nunca tinha ouvido falar de um guerreiro aprendendo magia de recuperação.
Será que ele estava tentando me cortejar com um pedido tão absurdo?
Conversei com ele um pouco para tentar descobrir suas intenções, e parece que ele estava realmente determinado a se tornar um herói. Além disso, sua imagem ideal de herói era um guerreiro que pudesse usar tanto magia de ataque quanto de cura.
O que ele está pensando? Será que ele ainda acredita em personagens lendários e fictícios como esse?
Pelo que pude ver, ele não tem absolutamente nenhuma afinidade com Deus. Não há chance de sucesso. Não seria exagero chamar isso de impossível.
...No entanto, seus olhos estavam sérios. Ao contrário dos outros que seguiam cegamente o senso comum e viviam seus dias movidos pelos que os cercavam, ele era diferente.
Isso pode ser interessante!
Pela primeira vez, senti uma emoção brotando dentro de mim.
Não tinha certeza do que era, mas decidi escutá-lo.
A partir daquele dia, minha vida na academia começou a ganhar cor.
Como posso fazer alguém sem talento aprender magia de cura?
Eu pensei seriamente sobre essa questão. Segundo Ares, ele havia recebido alguma orientação sobre magia de cura do sacerdote de sua vila natal, mas não havia sentido absolutamente nada.
Era desesperador. Pelos meios normais, não havia absolutamente nenhuma chance de ele ter sucesso com a magia de cura.
Não pelos meios normais.
Deus já não tem interesse nas pessoas para começar, então dizer algumas orações de forma leviana certamente não faria com que Ele olhasse para você. Ares precisaria tomar alguma ação muito divertida—não, algo que chamasse a atenção de Deus.
Enquanto pensava nisso, comecei a sentir fome. Pão—sim, fazer com que Ares comprasse e trouxesse pão seria uma boa ideia. Procurar por pão enquanto busca pela presença de Deus seria uma grande provação. Com certeza ele encontraria pães deliciosos. Imediatamente fui atrás de Ares e disse a ele para comprar pão e trazer de volta.
...O resultado da primeira provação: Ares comprou pão comum na loja da academia e trouxe de volta. Que decepção. Ele não tem a determinação para sentir verdadeiramente a presença de Deus?
Tentei comer o pão, por via das dúvidas, mas era comum.
Isso não vai funcionar. Preciso impor provações mais rigorosas. Sim, essas provações são todas para o bem de Ares.
Mas o que é esse sentimento crescendo tão intensamente dentro de mim?
Será que isso é amor? Meu coração não para de bater forte. A próxima provação será fazê-lo procurar uma pedra no fundo do rio.
Depois de impor muitas provações a Ares, os pães e doces que ele trouxe começaram a se tornar gradualmente mais deliciosos.
Criar provações para o bem de Ares todos os dias, fazendo-o superar as provações irracionais com imprudência uma vez por semana—minha vida se encheu de alegria.
Pela primeira vez, agradeci a Deus.
Obrigada, Deus. Por me dar uma pessoa tão maravilhosa.
Quanto a se Ares estava realmente sentindo a presença de Deus, para ser franca, eu não fazia ideia. Afinal, eu não conheço nenhum precedente em que Deus tenha concedido repentinamente seu favor a alguém.
Eu expliquei a Ares que, desde o início, era um pedido irracional. A capacidade de alguém sentir ou não a presença de Deus é algo determinado no momento do nascimento.
Se você tem talento, torna-se fácil usar. Se há ao menos uma pequena promessa, com apenas um pequeno gatilho isso se torna possível. Mas Ares não tinha nem mesmo essa pequena promessa. Conseguir isso seria nada menos que um milagre.
Mesmo entendendo isso, ele não desistiu. Não sei o que o movia, mas sem nunca se render, ele superava as provações irracionais... as provações que eu impunha, exibindo uma vontade indomável.
Olhando para trás, desde que comecei essas provações, tenho mostrado a ele meu verdadeiro eu, sem disfarces. No entanto, ele me aceitou, não como a santa, mas como eu mesma, e continuou enfrentando as provações.
Me peguei desejando que Ares pudesse sentir a existência de Deus. Ao mesmo tempo, também temia que esse tempo doce chegasse ao fim.
Assistir à sua determinação implacável ao enfrentar as provações era ao mesmo tempo cômico e me fazia sentir a beleza da humanidade.
E então aquele dia chegou de repente.
— Obrigado, Maria! Eu consigo usar magia de cura agora!
Ares estava radiante. Ficou claro que suas palavras não continham a menor falsidade.
— Você está falando sério?
Inconscientemente, deixei escapar palavras indelicadas em meu choque.
Pela primeira vez na minha vida, testemunhei um milagre.
E não um milagre concedido por Deus, mas um realizado pelas mãos humanas.
Eu não acreditava na existência dos chamados Heróis.
Achava que não passavam de uma invenção fantasiosa.
Mas agora, bem diante dos meus olhos, estava um Herói.
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