Satou aqui. No ensino fundamental, eu amava participar dos festivais esportivos da escola. Depois de virar adulto, passei a frequentar as academias para me mover um pouco, mas como é que faço agora que vim parar em outro mundo? Talvez até aqui existam lugares para se forjar o corpo em segurança
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Neste exato momento estou em queda livre.
Quando abri a porta atrás da sala do trono se abriu, me preparei mentalmente para enfrentar os inimigos que viria, mas completamente fora das minhas expectativas, uma linda mulher que se parecia exatamente com a outra cuidando da Mia me recebeu.
Enquanto eu estava distraído, eles ativaram algum mecanismo que me expulsou da sala do mestre. O piso desapareceu e eu me vi desabando de altura impensável. Até mesmo para armadilhas de morte certa deve-se ter algum bom senso para se saber os limites. Se bem que, como a minha habilidade de [Detectar Armadilhas] não ativou talvez tenha sido algo que improvisaram de última hora?
Mas bem, eu não acho que essa velocidade de descida seja o suficiente para acabar comigo, no entanto a ideia de ficar preso no buraco que vai se abrir quando eu cair não me agradava muito. Talvez quem sabe, eu poderia me jogar contra a parede e frenar a descida assim como fazem nos mangás e animes.
Retirando uma marreta do [Armazém] e usando ela como plataforma para me lançar contra a parede, o plano foi um sucesso e eu a atingi, só que o problema foi que a parede em si foi feita de um material escorregadio, sem qualquer atrito, não me ajudando em nada no que eu pretendia.
Plano B, saquei uma espada de ferro negro do [Armazém] e a finquei contra a parede. Com um som estridente, minha velocidade foi gradualmente diminuindo, embora o meu pulso tenha doido um pouco. Chegando a uma certa velocidade, o material da espada pareceu alcançar seu limite, partindo-se, e eu caí em um corpo d’água que se encontrava ao fundo do precipício, antes de ter a chance de sacar uma nova espada.
Choque que eu experimentei foi apenas um pouco e, assim que possível, ajeitei a minha postura, afundando de maneira considerável, embora ainda insuficiente para chegar ao fundo.
Enquanto em direção a superfície, ativei o [Exploração Total de Mapa] na coluna de Magias.
A informação contida indicava [Labirinto de Trazayuya]. Segundo os dados, o labirinto consistia de 20 andares, cada um consistindo de uma área com em média uns 500 metros de extensão. Bem pequeno se comparado ao labirinto da cidade do labirinto que, de acordo com o livro que eu li, consistia de 200 andares conhecidos, com mais ainda por vir, e cada um deles possuía alguns quilômetros. Logo, este era claramente menor.
Mais ainda, os andares aqui tinham as suas passagens em sua maioria perpendiculares, com uma atmosfera artificial, enquanto o labirinto do demônio passava uma impressão mais viva, ou biológica, por assim dizer.
Quando finalmente coloquei minha cabeça para fora da água, o lugar de onde eu tinha caído estava bloqueado por paredes de pedras, com até musgos bioluminescente piscando no local.
De acordo com o mapa, o 20º andar ficava 300 metros acima, e tinha o mesmo modelo de arquitetura aqui de baixo. Nenhum inimigo se encontrava neste local e a saída mais próxima estava a uns 2 quilômetros a oeste. Por outo lado, a leste, uma porta secreta assinalada como [Quarto de Trazayuya] estava bem mais perto e, talvez quem sabe, encontrava-se adormecido ali o segredo por trás deste labirinto… bem, já que eu conhecia o caminho através do mapa, quem se importa?
Não, sério por que estou querendo me enganar?
Eu realmente quero salvar a Mia o mais rápido possível, mas a curiosidade sobre o que tem no quarto secreto de Trazayuya me deixava inquieto. Podia ser por simples curiosidade, ou intuição, mas eu sentia que precisava ir até ali de qualquer jeito.
Desculpando-me com a Mia em meu coração, comecei a avançar depressa para a porta escondida.
Por causa das roupas molhadas, e em particular as minhas botas encharcadas, ficou difícil nadar em direção a saída. Já que não tinha mais ninguém para me ver, coloquei tudo dentro do [Armazém] e, para minha surpresa, descobri que dava para colocar todo o conjunto que eu vestia no momento em um único espaço.
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A porta em questão foi protegida pelo mesmo tipo de tranca com enigma que encontrei no Labirinto do Demônio em Seryuu, mas graças a habilidade [Decifrar Enigmas], foi até bem fácil.
O quarto secreto cheirava a mofo, com paredes não mais de pedras, mas algum tipo de material de resina. Muito a cara de um laboratório de pesquisas.
Ele era bastante equipado, com toilete, banheiro e até um quarto para dormir. Em especial, fiquei fascinado com a banheira, mas esse não era o momento ideal para se aproveitar um bom banho.
Rudy: No Japão, é comum o banheiro (Com vaso e chuveiro) ficar se parado da banheira, pois você tira o sujo no chuveiro e a banheira fica mais como um local onde você senta e relaxa para tirar o cansaço do dia, tipo uma hidromassagem.
Havia diversos livros e memorandos, mas pela forma como boa parte, exceto os livros de magia, se encontrava bastante deteriorada, provavelmente fazia-se sei lá quanto tempo que o laboratório fora abandonado. De qualquer forma, coloquei tudo como estava no [Armazém] para ver se ainda dava para ler usando o [Menu] depois.
Eu já tinha pego a dica pelo nome do labirinto, mas a confirmação de que o criado deste lugar se chamava mesmo Trazayuya, veio em seguida. Tratava-se de um elfo, ou melhor ainda, de alguém que vinha do mesmo clã que a Mia. Todos os livros foram escritos no idioma élfico, o que significa que se eu não tivesse conseguido a língua graças ao Capacete Vermelho, não teria conseguido decifrar o conteúdo.
Algumas partes dos livros estavam com a tinta borrada, mas ainda dava para ler mais ou menos o conteúdo. Aparentemente, o labirinto foi construído pelo Trazayuya-shi e os elfos para garantir certa “segurança”, enquanto imitava um verdadeiro labirinto. Um dos memorandos detalhava a angústia, ou melhor, a natureza superprotetora que este cara tinha por sua tribo.
Rudy: Como se o Satou pudesse falar alguma coisa.
“Nós Elfos possuímos um baixo apego a vida. Quando em face a situações desesperadoras, tendemos a nós entregar ao destino muito mais que as demais criaturas inteligentes e raças ao redor. Por causa disso, muitas das gerações mais jovens pereceram no labirinto. Este ambiente controlado será absolutamente necessário para o dia em que os elfos enfrentarem uma calamidade imprescindível e escapar com segurança.”
Outros detalhes como a forma que uma coisa chamada [Núcleo do Labirinto] presente aqui era completamente diferente dos núcleos verdadeiros, mas que, embora não pudesse expandir o labirinto em diâmetro ainda produziria núcleos mágicos absorvendo a magia ao redor, igual aos labirintos, e coisas afins.
Foi então que achei algumas palavras bastante perturbadoras.
“As instalações dos tanques de cultivo para a fabricação de monstros artificiais, injetando núcleos mágicos em criaturas existentes, foram concluídas.”
Está me dizendo que monstros eram originalmente criaturas normais?
Certamente, muitos dos monstros que enfrentei se pareciam com outros bichos de aparência deformada. Agora o Wagahai-kun era um demônio, então talvez o caso dele fosse distinto?
Rudy: Fufufu, se os monstros se originaram de criaturas pré-existentes, com que tipo de criaturas vivas os demônios mais se parecem, jovem Satou-kun?
Depois de pensar sobre isso, comecei a me sentir relutante em tomar das poções mágicas, que eram justamente produzidas a partir desses núcleos mágicos…
Mas vamos deixar isso de lado por hora.
Trazayuya-shi criou três protótipos de instalações. Uma para a criação de monstros, uma para a criação de golens, e por fim, uma para criar bonecas que atenderiam como serventes. No entanto, depois de conseguir a cooperação de uma comunidade Ratkin nos arredores, ele abandonou esta última.
De repente, fiquei curioso a respeito do que os monstros comiam por aqui. Eles canibalizavam uns aos outros ou havia algum tipo de fazendo de monstros que lhes serviriam de comida?
Porém, mesmo após a conclusão do labirinto nenhum elfo residiu aqui. E havia uma única nota explicando este acontecimento.
“Míseros 100 anos não foram o suficiente para abafar as chamas dos meus erros. Porém, minha vinda está se esvaindo e não tenho outra escolha senão selar o labirinto até o dia em que meus irmãos venham a precisar. Acredito de todo meu ser que virá o dia em que os Elfos liderarão o mundo novamente… Trazayuya Boruenan.”
Entendi, foi por isso que o mago sequestrou a Mia. Mas fico admirado que ele tenha descoberto o segredo sem ter lido esta nota.
Embora tenha conseguido muitas informações, eu ainda carecia de um meio para salvar a Mia. Ainda mais preocupante era uma outra nota com um rabisco que dizia “Explosões monumentais também são uma forma de romance!”, mas não creio que alguém seria idiota o suficiente de botar um mecanismo de autodestruição em algo que foi construído para garantir “segurança”, não é?
Já que não tinha como voltar para o topo a partir daqui, decidi achar a entrada principal do labirinto.
Eu peguei uma pequena trilha fila que se estendia fora do lago onde caí e fui prosseguindo lentamente até a saída. Não dava para correr por causa do caminho estreito e das estalagmites que projetavam do chão e da rocha escorregadia por onde corria um pequeno fluxo de água alimentado pelas gotas que caíam das estalactites no teto.
E, enquanto me esforçando para não pisar em pequenas criaturas aquáticas como salamandras vivendo pacificamente ali, vou me esgueirando em direção a saída.
Rudy: Salamandra o bicho, um anfíbio que parece uma lagartixa, não o capiroto de fogo.
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A tão aguardada saída estava numa subida vertical 5 metros acima do solo. Eu tentei verificar a minha localização atual, mas tudo que o [Mapa] dizia era [Área Inexplorada], então cliquei mais uma vez no feitiço [Exploração Total de Mapa] na coluna de magias.
De acordo com os dados, eu estava no [Principado Ratkin]. Isso ficava a 5 montanhas de distância da estrada por onde havíamos assado, com a comunidade mais próxima a ainda uma montanha daqui. Embora fosse chamado de [Principado], a população de homens-rato foi algo no entorno de 1000 pessoas.
A entrada do labirinto ficava perto do cume da montanha.
Como já era tarde da noite, acendi uma das [Gotas de Luz] para iluminar o caminho, mas não achei nenhum degrau descente para fazer a minha decida.
Uma sensação estranha de desconforto tomou conta de mim enquanto analisava o ambiente ao redor. Embora já fosse os primeiros dias de inverno, não ter um barulho de inseto no meio da floresta era estranho, e a grande maioria das árvores estavam sem folhas, com algumas já tendo partido dessa para a melhor, completamente ressecadas. Eu sempre as chamei de “árvores do outro mundo” na minha cabeça, mas a informação precisa do [AR] as chamava de Shiiya, árvores que nunca perecem, mas pelo visto até elas acabam perdendo as folhas, hein?
É estranho, eu admito, mas a minha maior prioridade agora é chegar na entrada do labirinto.
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Continuei subindo a montanha e, como os galhos tinham secado e perdido suas folhas, a matava estava consideravelmente aberta, sem muitos obstáculos.
Ao longo do caminho o meu radar captou o sinal de uma grande árvore no meio da montanha. Curiosamente, a informação dizia que se tratava de uma criatura da raça das fadas, com level acima do 20, mas sem a marca vermelha de inimigos.
Interessante. Seria um Trent?
Caso eu prosseguisse por esse caminho, acabaria chegando mais perto da criatura, mas não era como se eu não pudesse fugir, caso ela se tornasse hostil, por isso continuei indo.
Quando finalmente me aproximei da árvore, um relatório dizendo [Efeito de Charme Resistido] apareceu na minha tela.
E quando reparei melhor na base do tronco… uma linda garota peituda vestida de enfermeira sorriu para mim.
Olha, eu até tenho esse fetiche por roupas de enfermeira, mas tem essa coisinha chamada Lugar Momento e Ocasião (TPO), mesmo para uma alucinação minha, não acha?
Rudy: O Satou-kun está falando sobre TPO (Time, Place, Occasion).
— Com licença, moço.
Pior, a maneira como ela falou comigo parecia mais como algum daqueles romances históricos do século passado. Segundo o [AR] ela era uma Dryad de nível 21, uma raça conhecida pelas suas habilidades como [Charme] e [Ilusão].
— É realmente preciso tanta pressa no meio da noite? Não gostaria de sentar um pouco e apreciar um copo de bebida e boa companhia?
A garota se virou apontando para uma mesa vermelha que apareceu sabe-se deus lá de onde, repleta de vinhos e comida.
Dryad? Está mais para uma raposa esperta.
Ela se aproximou de forma sorrateira enquanto eu me distraia com a mesa e aconchegou-se confortavelmente no meu braço. Eu pude sentir o toque suave de duas montanhas macias se pressionando aonde ela me agarrou.
Por um instante a tentação passou pela minha cabeça, mas eu tinha que ir salvar a Mia.
— É realmente uma pena, mas no momento eu careço de tempo para acompanhá-la em tão apreciável oferta. Se possível, poderíamos tratar logo de quais negócios gostaria de fazer comigo, por favor?
Depois que eu disse isso, a ilusão imediatamente se desfez e uma garotinha longos cabelos verdes que lhe tocavam os tornozelos surgiu, com sua pele praticamente exposta. Suas feições não pareciam ter mais do que 12 ou 13 anos, talvez? Então, as sensações que tive em meu braço foram ilusões também, já que sua figura, na melhor das hipóteses, poderia ser descrita como modesta.
Já que este tipo de espetáculo não combinava em nada com as minhas preferências, poderia fazer o favor se cobrir agora mesmo? Um pouquinho mais de discrição, por favor.
A expressão no rosto dela mudou de sedutora para concernimento. Era a expressão típica de uma criança que ainda não tinha aprendido a receber um “não” como resposta.
— Humano, torne-se meu!
— Desculpe, mas poderíamos ter essa conversa novamente daqui a uns 7 ou 8 anos, quem sabe?
— NÃO! Eu não tenho tempo o suficiente para esperar uma nova refeição!
Depois disso, a menina me explicou que as árvores ao redor morreram a alguns meses atrás, fazendo com que os animais selvagem abandonassem a montanha. Mais ainda, as veias da terra que se ligavam à montanha tinha sido cortadas recentemente e se a situação continuasse assim, ela muito em breve pereceria.
Provavelmente causa fosse o [Labirinto de Trazayuya].
— A situação chegou a isso por culpa de vocês humanos gananciosos que roubam os nutrientes da nossa montanha.
— Eu não me importo de compartilhar um pouco dos meus pontos de vida e da minha mana, mas não posso deixá-la me devorar de verdade.
Talvez eu estivesse sendo muito complacente já que a oponente se parecia com uma criança.
— Eu só preciso da sua mana, por favor.
— Então tudo bem.
Eu me abaixei para deixá-la sugar o poder mágico de que precisavam, imaginando que fosse ser algo parecido com os filmes de vampiros, onde eles sugam o sangue das suas presas pelo pescoço. Mas para a minha infelicidade e surpresa, a transferência era feita na verdade boca a boca!
Falando da maneira mais simples e direta, ela me deu um beijo. Beijando uma menina praticamente nua e no meio da noite, não posso deixar os meus conhecidos me verem fazendo isso. Ela finalmente se satisfez depois de sugar 300 de MP.
Em seguida, prossegui o meu caminho em direção a entrada do labirinto sem qualquer outro problema em particular.
Rudy: Eu particularmente não entendo a aversão do Satou a esta coisinha fofa =3
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