Hoje eu fiz duas
novas amigas. Elas
se chamam Pochi-chan
e Tama-chan. Até
hoje, todos os
semi-humanos que
conheci tinham olhos
assustadores, como
os de um gato
agressivo pronto
para atacar a
qualquer momento,
mas os dessas duas
meninas eram
completamente
diferentes.
◇◇◇
As minhas manhãs
começam muito cedo,
porque se eu não
chegar na Monzen
antes do amanhecer
vão brigar comigo.
Por isso, sempre que
o sol começa a
raiar, eu saio
orfanato e sigo pela
rua principal. O céu
ainda está escuro,
mas não tenho medo
porque todas as
outras crianças
também estão saindo
para seus
respectivos
trabalhos.
Rudy: Monzen é o
nome da hospedaria
dos pais da
Martha-chan.
Significa
literalmente (De
frente pro portão).
Como o portão
principal por onde
entram as carruagens
continua fechado, eu
faço o meu caminho
pelo portão dos
fundos. Claro, esse
também ainda não foi
aberto, mas com a
minha estatura isso
não é problema
algum.
Depois de passar
pela entrada de
serviço nos fundos
do quintal, olho
dentro dos jarros
d’água que já estão
quase vazios. O meu
primeiro trabalho do
dia é encher eles
antes que a dona da
hospedaria
acorde!
Pegando o balde que
fica sempre ali
perto, vou na
direção do
poço.
— Kuu.... tão
pesado...
Com a ajuda do meu
peso, eu puxo a
corda com toda a
força para tirar a
água do poço. Esse é
um trabalho muito
cansativo para uma
menina tão levinha
quanto eu.
Será que algum
dia vou conseguir
fazer isso tão
fácil quanto a
Martha-san?
— Intruso~?
— Uma pessoa
suspeita,
nanodesu!
De repente, duas
vozes vieram de um
canto escuro e no
pânico, acabei
soltando a
corda.
Ah, só porque eu
estava quase
conseguido...
Quando me virei
para a origem das
vozes, quatro pares
e olhos estava
brilhando no meio de
um beco
escuro!
— KYAAAA!
— UNYA!
— NYUU!
Eu gritei de
espanto! Mas na
minha situação, quem
não gritaria?
Encorajada por este
pensamento, tratei
de passar um sermão
em qualquer fosse o
responsável por essa
brincadeira sem
graça.
— Não assustem as
pessoas assim do
nada! Por causa de
vocês vou ter que
puxar a corda do
poço tudo de
novo!
— Desculpa~?
— Nanodesu...
Ouvindo um pedido
de desculpas tão
sincero acabei
esfriando a cabeça
um pouco. Foi então
que a luz do sol
levantando
finalmente iluminou
a face das duas
meninas na minha
frente.
Elas eram da raça
Beastkin.
◇◇◇
No começo fiquei
tão surpreendida que
gritei “NÃO CHEGUEM
PERTO DE MIM!”. Mas
Pochi e Tama
pareciam não ter
ligado para
isso.
— Ajudar~?
— Nodesu!
Dizendo isso, as
duas começaram a
puxar a água para
mim. Pochi
facilmente tirei a
água como se não
fosse nada. Todas as
crianças da raça
Beastkin são fortes
assim, ou era uma
particularidade
delas?
Quando Pochi tirou
a água sozinha, Tama
disse “Injusto~?
Tama também!” e
começou a puxar água
também.
Eu não acredito
que elas conseguem
fazer isso como se
fosse
brincadeira!
Ah Deus, Yuni é uma
menina muito má. Eu
acabei usando essas
duas crianças que
pareciam se divertir
para fazer meu
trabalho e elas até
inclusive carregaram
a água para mim até
os jarros.
Como
agradecimento, eu
vou ao menos
dividir com as
duas a minha
comida hoje.
◇◇◇
Eu dividi o pão
escuro e a sopa que
recebi de café da
manhã com as duas. O
trabalho aqui era
duro, mas em
compensação as
refeições foram
deliciosas. Mesmo
sem qualquer
acompanhamento, a
sopa era muito mais
consistente do que a
que serviam de vez
em quando no
orfanato e até o pão
escuro e azedo
ficava muito bom
molhado nisso.
Não é como aquela
suuuuuper amarga
fruta gabo no
vapor, ou folhas
gabo em conserva
que nos dão todos
os dias! Tenho
certeza que essas
duas vão ficar
maravilhadas!
Enquanto pensava
nisso, fiz meu
caminho até a mesa.
Mas quando cheguei
lá, havia uma mulher
lagarto adulta do
lado delas! Fiquei
com tanto medo que
quase deixei cair a
comida, mas não
havia forma alguma
de desperdiçar um
alimento tão
importante, por
isso, cerrei os
dentes e tentei
freneticamente m
controlar.
— Yuni~?
— Nanodesu~
As duas me
receberam com uma
expressão
sorridente.
Espera, o que é
aquilo nas mãos
delas?
— Carne~?
— E queijo,
nanodesu!
Mentira!
Eh? Eh? Mas
como!?
Nem depois de
tanto tempo, eu
consegui um pedaço
de carne assim!
Como pode alguém
dar isso para
escravas, escravas
semi-humanas por
sinal, algo tão
caro e especial?
Além disso, um
pedaço tão
grande!
Vendo aquilo, eu
fiquei com tanta
água na boca que
começou a escorrer
pelos meus lábios.
Claro, rapidamente
tratei de limpar
aquilo.
— A-achei que
comeríamos
juntas...
“Quero dividir o
meu com vocês”, se
eu disser agora, vai
parecer uma piada
né?
— Ara, ara, você
não é a menina que
trabalha aqui? Hmm,
como era mesmo o seu
nome? Já que está
aqui, porque não vem
comer com a
gente?
Duas outras garotas
apareceram de trás
da mulher lagarto. A
que falou comigo era
menina de cabelos
violeta muuuito
bonita que parecia
ter mais ou menos a
minha idade. Já a
outras, foi um
onee-san de cabelos
escuros, mas a
aparência dela foi
um pouco
lamentável.
A de cabelo violeta
se chamava Arisa e
tinha uma maneira
muito polida de
falar, quase ao
ponto de que comecei
a duvidar se
teríamos realmente a
mesma idade. Ela
cortou elegantemente
a carne e o queijo
em pequenas fatias e
os ofereceu a
mim.
A mulher lagarto,
chamada Liza, ia
dizer alguma coisa,
mas Arisa levantou a
mão e disse “Está
tudo bem. Uma porção
para uma menina tão
pequena é trivial.
Estou certa de que o
Mestre daria o seu
consentimento. Caso
ele se irrite, eu
assumirei a
responsabilidade.
Monmantai”. E assim,
Liza-san se conteve.
Eu realmente não
entendi o que a
Arisa quis dizer,
mas agora a minha
maior preocupação
era saborear o gosto
da carne o do queijo
que ela me
presenteou.
Rudy: Moumantai
significa “Relaxa,
não esquenta, sem
problemas”.
Eu estufei as
minhas bochechas
igual a um esquilo
enquanto me
deliciava várias e
várias vezes com
tudo aquilo. Tenho
absoluta certeza de
que vou me lembrar
desse dia por toda a
minha vida e que de
agora em diante até
a fruta gabo vai me
parecer muito mais
saborosa só em ter
essa recordação!
◇◇◇
Agora que penso
nisso, ao invés de
agradecer as meninas
pela ajuda que me
deram, acabei foi
recebendo uma
refeição maravilhosa
ao invés. Para
piorar, depois do
café da manhã, Tama
e Pochi me ajuda a
cuidar dos cavalos
ainda...
Essas duas são
têm muita
resistência...
Até mesmo Liza-san
ajudou trocando as
liteiras dos cavalos
quando pareceu ficar
entediada de não
fazer nada.
Eu sempre achei que semi-humanos fossem muito assustadores. Será esse tempo todo estava errada?
◇◇◇
Houveram coisas
boas, mas também
coisas ruins nesse
dia.
Depois de acordar,
a proprietária da
hospedaria pediu
para que Martha-san
e eu fossemos
comprar lenha.
Hm? A hospedaria
realmente precisa
de dois fachos de
lenha desse
tamanho?
Martha-san disse
“Yoshi, vamos dar o
nosso melhor~”, mas
não é nada fácil
carregar esse tanto
de peso, sabia?
Ainda assim, como
sou apenas uma
empregada, não posso
expressar meu
descontentamento em
voz alta. Se eu não
tomar cuidado, uma
palavra minha e vou
para o olho da rua,
e não é tão fácil
assim conseguir um
bom emprego por
aqui. Não quero
terminar os meus
dias como uma
cortesã quando
crescer. Não
mesmo.
No final, usei toda
a minha força para
levantar um dos
fachos de lenha.
Meus pés ainda
tremiam, mas não vou
desistir! Até mesmo
porque o que a carga
que a Martha-san
carregava era muito
maior que a
minha!
Carregando a
lenha...
Carregando a
lenha...
Quando parecia que
eu ia cair, de
repente as minhas
mãos ficaram
leves.
Olhei para cima e
vi um homem estranho
facilmente
levantando o facho
de cima de mim.
Não! Por favor,
não leve! Não
roube de mim a
lenha do meu
trabalho!
Mas antes que eu
pudesse gritar,
Marta-san agradeceu
a ele. Bem, eu disse
que era um estranho,
mas quando olhei
melhor, percebi que
era um dos fregueses
da hospedaria. Ele
foi o homem que me
deu uma generosa
gorjeta só porque eu
levei um jarro de
água para o quarto
dele hoje de manhã.
Acho que o nome dele
era Satou-san ou
algo assim.
O mais incrível é
que Satou-san
carregou não só o
meu, mas o facho da
Martha-san também.
Homens são realmente
fortes, ele carregou
sem derramar um
único pingo de suor.
Antes eu não tinha
percebido, mas Tama
e Pochi estavam com
ele, carregando
grandes sacolas.
Então as duas são
escravas deste
homem. Acho que
seria muito bom
servir a ele,
mesmo que fosse
como escrava...
— Foi o que pensei
naquele momento.
◇◇◇
Quando voltei para
a hospedaria,
continuei a tomar de
conta dos cavalos e
Tama e Pochi me
ajudaram assim como
fizeram de
manhã.
Acho que não tem
problema, né?
Né?
Mas...
— Não me ajudem
mais, por favor! Eu
vou ser repreendida
pela proprietária
por fazer os
clientes trabalharem
por mim!
Pelo bem daquele
jovem mestre com
roupas de aparência
tão caras, por
favor, não me ajudem
mais com os
cavalos!
E, por favor, não
façam essa cara
triste também.
Parece até que estou
fazendo alguma coisa
errada!
◇◇◇
— É UM PRATO!
Assim declarei
enquanto virava a
carta e a imagem de
um prato
imediatamente
apareceu no
verso.
— Isso! Com agora
já são três!
Eu cuidadosamente
peguei o cartão que
consegui com tanto
esforço.
Ao que parece, essa
era uma ferramenta
que ajudava a ler.
No começo,
Martha-san que já
era letrada estava
nos ensinando, mas
em algum ponto do
caminho, Arisa deu a
ideia de fazer essa
brincadeira.
Todo mundo está tão
concentrado nisso!
Essa foi a primeira
vez que fiz algo
assim. Sempre quis
aprender como se
lia, mas no final
tudo não passava
apenas de um desejo
longínquo, que nem
dizer “eu quero
aprender a voar pelo
céu” ou coisa assim.
Quase como um
sonho...
Mas agora é
diferente!
Em apenas algumas
horas eu já
conseguia ler 7
palavras
distintas!
◇◇◇
Tudo que é bom dura
pouco, eu sei disso,
mas mesmo assim
ainda é muito
difícil. Apesar de
ter feito grandes
amigas, Pochi e Tama
iriam embora de
Seryuu amanhã.
No entanto, fiz uma
promessa às duas,
que iria aprender a
ler e a escrever, e
mandar para elas uma
carta!
Não sei quanto
custa isso, mas
tenho duas moedas de
cobre que juntei com
muito esforço e com
essa quantia tenho
certeza de que vou
poder mandar pelo
menos uma!
Ao entardecer,
terminei o meu
trabalho e estava
prestes a ir embora
quando Satou-san me
deu uma sacola cheia
de pedaços de
madeira. Olhando
dentro, percebi que,
apesar de menos
vistosos, eram
iguaizinhos àqueles
que brincamos amis
cedo. Ele me disse
“É um agradecimento
por se dar bem com
as minhas meninas” e
saiu sorrindo.
Eu queria
agradecê-lo, mas não
sabia como
exatamente expressar
direito os meus
sentimentos de
gratidão.
◇◇◇
Ah, sim. Os cartões
que Satou-san me deu
ficaram muito
populares entre as
outras crianças do
orfanato. Inclsuive
alguns dos meninos
mais velhos foram
até a marcenaria
atrás de algumas
sobras de madeira e
pediram para todo
mundo ajudar a fazer
os desenhos. Não
levou nem uma semana
direito para
concluirmos 3
conjuntos dessas
cartas.
Seria ótimo se todo
mundo conseguisse
ler até o final do
ano — Era esse o meu
sonho.
Seria maravilhoso
se realmente se
realizasse.
Os dias de trabalho
continuaram duros
como sempre, mas
depois que as
conheci, passei a
ter sonhos felizes a
cada noite.
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