Satou aqui. Descobrir como fazer
as coisas na tentativa e erro é
uma das maiores diversões para
mim. No entanto, quando o número
de erros fica muito grande é
sempre deprimente...
◇◇◇
— Você pode acabar morrendo antes
de conseguir aumentar de
level.
— Pode ficar tranquilo! Eu tenho
um montão de truques na manga para
qualquer situação!
Ignorando as baboseiras de Arisa,
pedi a opinião de Liza.
— Liza, você gostaria de ir para
a cidade do labirinto
também?
— Eu irei para onde quer que o
Mestre for.
— Liza, fico muito comovido com a
sua lealdade, mas o que eu quero
saber é o que você pensa a
respeito. No final, a decisão será
minha, mas por favor, me conte
quais são os seus pensamentos
sobre isso.
Ouvir a opinião de um
subordinado, implementar
exatamente o que foi dito e, no
caso de falha, colocar toda a
culpa nele – obviamente eu não
iria fazer algo assim. Essa foi
uma promessa que fiz a mim mesmo
desde a época em que comecei a
trabalhar como um funcionário de
baixo calão no meu antigo
emprego.
Não faça demandas impossíveis
para seus funcionários!
— Eu... adoraria ir ao labirinto
se me fosse permitido.
— Ei! Eu estava para dar um bom
argumento ainda agorinha! Escuta
só...!
— Depois.
— Tsc, a forma como você me trata
é completamente diferente da como
trata a Liza-san~
ignorei outra vez a Arisa, que
estava fazendo beicinho.
Se nós fossemos para a cidade do
labirinto, as vantagens seriam:
Tama, Pochi e Liza poderiam andar
livremente; a discriminação seria
drasticamente reduzida (embora
seja provável que não
desaparecesse); Arisa e as garotas
poderiam aumentar de level.
Quanto às desvantagens, seriam:
...nenhuma? Não, não, eu teria que
me separar das pessoas com que fiz
amizade nesta cidade. Depois da
Zena-san se preocupar tanto comigo
como pode eu ainda ter pensamentos
tão egoístas...
— ...Bem, não tenho a menor
intenção de ir morar na cidade do
labirinto, mas acho que seria
interessante dar uma passada para
fazer turismo.
— Fazer turismo...? Isso aqui não
é o nosso antigo mundo!
E o que tem de mal nisso? Fazer
Turismo Em Outro Mundo?
— Deixando de lado, onde fica a
cidade do labirinto?
— Eu… não faço a menor
ideia.
Ei, ei, senhorita
ex-princesinha...
— Calma, não me olha assim! Eu
sei que fica no Reino Shiga, só
não sei exatamente a onde!
Será que eu deveria comprar um
mapa simples na loja de livros? O
meu [Mapa] exibia somente a cidade
de Seryuu e os seus arredores,
então não iria me ajudar muito
nesse caso. Eu não estava muito
certo disso, mas, provavelmente as
informações apareceriam apenas
depois de chegar numa nova
área.
— Mestre, o senhor ainda não tem
cavalos ou uma carruagem de carga,
certo?
— Certo.
— Eu queria saber onde é que tem
para vender...
Como a praça que ficava perto do
portão estava cheia de grandes
carruagens, seria um bom local
para se começar a procurar.
Normalmente, seria mais fácil
perguntar a Nadi-san, mas fazia
pouco tempo desde a minha
solicitação, então ela
provavelmente não estava na Loja
de Serviços agora.
— Já que você tem o suficiente
para comprar uma casa, então uma
carruagem com cavalos não deve ser
problema. Mas, apenas por
garantia, vamos procurar por
alguns tesouros escondidos para
cobrir as despesas de viagem! —
Arisa então, apontou para o
mercado de pulgas.
Como é que ela ainda consegue
mesmo depois eu a ter ignorado
duas vezes? A autoestima dessa
menina é inabalável.
O mercado de pulgas estava
acontecendo no mesmo local onde
até ontem era o leilão de
escravos, ou seja, a enorme praça
no distrito leste. As carroças com
escravos e as tendas continuavam
nos mesmos lugares, mas agora as
tendas de bebidas e comidas, que
estavam em pé até a meia noite de
ontem, foram substituídas por
dezenas de comerciantes vendendo
quinquilharias diversas, num
espaço não muito maior do que uma
mesa. Era bem possível que
houvesse mais de 100 presentes
ali.
— Mestre, eu tenho um pedido
antes de irmos.
— Se for apenas um, então não me
importo.
— Quero permissão para usar dois
feitiços: [Detectar Onda Mágica] e
[Detectar Malícia].
Depois que ela me explicou o
efeito desses feitiços, dei a
minha permissão a ela. O primeiro,
servia para que “de alguma forma”
você fosse capaz de discernir uma
ferramenta mágica, enquanto o
segundo indicava se alguém se
aproximando possuía más intenções.
Como não parecia ser nada
perigoso, não vi qualquer motivo
para proibí-la. Claro, eu mesmo
poderia me encarregar disso, mas
ficar negando a tudo por qualquer
coisa não era do meu feitio.
— Hmm, esse parece estar
quebrado, então não,
obrigado.
Nós saímos de uma barraca onde o
proprietário tentou me vender uma
ferramenta velha como se fosse uma
peça de arte e nós prosseguimos
olhando as demais ao redor. Era
bastante divertido ver as coisas
que estavam sendo exibidas no
mercado de pulgas.
Como a varinha que eu estava
usando ainda era a mesma que
comprei pela metade do preço,
decidi comprar outras duas que me
ofereceram. No entanto, pouco
tempo depois, percebi que isso
tinha sido um gasto desnecessário
de dinheiro... Bem, eventualmente
iria servir em algum
momento.
Outras coisas pelas quais me
interessei foram laços para
enfeitar a bainha das espadas de
Tama e Pochi, além de um acessório
para a lança de Liza, o que não me
custou mais do que algumas moedas
de cobre.
Normalmente em jogos de RPG,
produtos feitos de couro custam
caro, mas, estranhamente, o
proprietário me disse que preço
caíu porque nessa época acontecia
o abate de cabras, o que aumentava
a disponibilidade de couro no
mercado. Como o preço no mercado
de pulgas era consideravelmente
mais barato, dificilmente alguém
comprarei nas lojas pela
cidade.
Também não me esqueci de comprar
uma lembrancinha para Lulu. Um
laço cor-de-rosa com
aproximadamente 50 centímetros de
comprimento, com a tonalidade um
pouco mais clara do que a estola
que dei mais cedo para a Zena-san.
Queria saber se eles foram
tingidos por essa região?
Um monte de remédios com efeitos
suspeitos estavam sendo exibidos,
mas, de acordo com habilidade
[Avaliar], não passavam de
energéticos sem qualquer outra
utilidade. Embora a parte do
“energético” me interessava, como
o [Avaliar] não informava de que
ingredientes os remédios eram
feitos, decidi deixar isso de
lado.
Os comerciantes tinham inclusive
sabão e pomadas entre os produtos
cosméticos para cabelo. Eu só não
comprei a pomada por causa do
cheiro muito forte, mas, apesar de
o sabão ser o item mais caro no
mercado, custando uma grande moeda
de cobre, comprei sem hesitação,
por causa do cheiro nostálgico de
sabão feito de leite. A ideia era
levar apenas um, no entanto a
Arisa começou a espernear
desesperadamente “ISSO AQUI É
COISA BOA”, então acabei levando
todos os sete do estoque.
— Heheh, mestre! Olhe aqui!
Compre um desses~
A coisa que Arisa veio me mostrar
foi um par de óculos... ou melhor,
como não tinha lentes, seria
apenas uma armação?
— Para que você quer isso?
— É claro que é para dar ao
mestre! Não tem muitos garotinhos
de óculos nesse mundo de fantasia!
Uugh, esse vai ser o primeiro
passo para implementação de um
novo fetiche-AI!
Eu dei um cascudo na cabeça da
Arisa assim que ela começou a
dizer coisas sem sentido de novo.
O proprietário me disse que se nós
quiséssemos levar a armação, seria
uma moeda de prata, mas obviamente
não a comprei.
◇◇◇
A barraca do lado estava vendo um
tipo de jogo de cartas...
err, isso não se parece com
Karuta?
Rudy: Karuta (Carta, ajaponesado)
é um jogo onde você deve descobrir
qual a carta está sendo lida e
pegá-la antes do seu
adversário.
De acordo com a habilidade
[Avaliar], aquele era um item
passado de geração em geração na
família do Conde Seryuu desde a
época do antigo Rei Yamato. Embora
não se tratasse de um item mágico,
o conjunto estava sob o efeito de
um feitiço de preservação, sendo o
seu preço estimado em 10 moedas de
ouro.
— Onii-san, você tem bons olhos~
Esse é um brinquedo datado da
época do antigo império!
— Eh~ Como se joga isso? — Arisa
se intrometeu na conversa com um
olhar interessado.
Eu deixei de lado a explicação
aleatória que o dono da barraca
estava fazendo e comecei a olhar
fascinado para a pilha de papéis
que estava na minha frente. Ao
todo, foram cinco volumes de
pilhas de papel, com
aproximadamente trinta centímetros
de espessura e amarradas com
barbante, sendo uma delas com
valor estimado em 100 moedas de
ouro! Esse era um preço anormal se
comparado com as demais, onde a
mais cara chegava apenas na marca
de uma grande moeda de
cobre.
— Quanto custa esse conjunto de
cartas?
— Três moedas de ouro, mas por
essa jovenzinha meiga e adorável
aqui, faço para você por sete
moedas de prata. O que acha?
Fingi estar interessado no jogo
de Karuta e perguntei o preço ao
vendedor. Como o que ele pedia era
apenas um sétimo do valor de
mercado, eu poderia fazer um
enorme lucro com a revenda, mas
seria um incômodo muito grande ter
que procurar por um novo
comprador.
Quando ouviu quanto custaria o
conjunto de cartas, Arisa
imediatamente perdeu o interesse.
Ela parecia estar interessada
apenas por nostalgia, não que
estivesse desesperadamente a fim
de comprar aquilo.
— É um pouco caro. Diga-me,
quanto custa esses papéis? Eles
são algum tipo de material
literário?
— Bem, não tem nada de valor
neles, mas como são feitos de
papel, seria um desperdício usar
como lenha, por isso estou vendo
em conjunto.
Eu casualmente puxei o assunto
com o vendedor. Pelo que ele me
disse, esses eram papéis que
estavam entre os bens que um certo
homem rico descartou. O
proprietário estava procurando por
livros que pudessem ser
revendidos, mas acabou descobrindo
que não passavam de papéis de
rabiscos.
— Quanto você quer por eles? Como
a maioria parece ter sido riscada
apenas de um lado, ainda posso
aproveitar o outro para as
crianças praticarem a
escrita.
— Certo, vou dar a você uma pilha
por 3 moedas de cobre, mas se
quiser levar tudo, faço por duas
grande moedas de cobre.
Eu decidi comprar a todos e
deixar os papéis que fossem
desnecessários para Lulu e as
meninas aprenderem a escrever. A
minha intenção era levar metade,
mas Liza não me permitiu, por isso
tudo acabou ficando na bolsa
dela.
— Caro cliente, se você está
querendo ensiná-las a escrever,
que tal usar esses cartões
aqui?
Ele me mostrou um conjunto de
cartas com vocabulário na língua
de Shiga e gravuras
correspondentes no outro lado. As
gravuras eram simples e
monocromáticas, mas como a
caligrafia foi muito bem feita,
você poderia facilmente entender o
que estava escrito. Apesar de que
algumas cartas como a [Água]
tinham um desenho incompreensível,
foram poucas as que estavam
assim.
Um conjunto consistia de 100
cartas escritas à mão uma-a-uma. O
esforço necessário para fazer tudo
isso era enorme, mas o preço
exibido era de apenas uma moeda de
prata.
— Estes cartões são bem
interessantes.
— Isso foi algo que pensei em
usar para ensinar as crianças da
minha aldeia a ler.
Segundo a história dele,
originalmente os cartões eram de
sobras de madeira e tinta, mas
como ele achou que venderia bem,
contratou um pintor que conhecia
para fazer o trabalho e promoveu
com tudo o que tinha dentro da
câmara do comércio, mas o custo de
produção era de 4 moedas de prata,
enquanto a câmara de comércio só
queria pagar uma moeda por
isso.
— Então cada carta foi pintada à
mão?
— Sim, é claro...
Não ficaria mais barato se você
simplesmente imprimisse as
cartas?
— No momento em que eu estava
para sugerir isso, Arisa puxou a
minha manga e fez um sinal com o
dedo indicador nos seus
lábios.
— (O que foi?)
— (Você estava prestes a dizer a
ele que imprimisse, não
era?)
— (Era... mas qual o problema
nisso?)
— (Quando eu morava no castelo,
nunca vi nada que tivesse sido
impresso. Introduzir novas
tecnologias sem tomar cuidado é
muito perigoso, sabia?)
— (Mesmo esse mundo tendo
fundição com moldura, eles não
possuem imprensa?)
— (Bem, as coisas são
assim.)
Rudy: Os parênteses (
) são para indicar que eles
estão cochichando.
— Eu sinto muito, acho que acabei
tocando em um assunto
delicado.
— Não, não tem problema. A
verdade é que tem pouca gente que
se interessa por esse tipo de
produto...
— Nesse caso, eu vou querer um
conjunto. Quanto custa?
Quer dizer então que pouca
gente está interessada? Mesmo
parecendo ser um produto que
faria sucesso...
O homem pediu por quatro moedas
de prata, no entanto este era
exatamente o custo de
produção.
— Você tem certeza? Com isso,
você não vai ter qualquer ganho,
não é?
— Está tudo bem. Só em poder
passar esse produto para alguém
que saiba o seu valor já vale
muito para mim.
Eu fiquei um pouco comovido com a
melancolia do vendedor. A ideia
era ótima, então seria uma pena se
ela morresse na primeira
tentativa.
— Por que você não tenta repensar
em como fazer o próximo protótipo
desse produto? Apesar de ser
pequena, como ainda tem uma
demanda, você pode procurar um
jeito de ajustar o preço final,
como usar um material mais barato
ou encontrar uma forma de produzir
em massa. Vai ser divertido
descobrir a melhor forma por
tentativa e erro.
Sinceramente pensei que ele não
levaria a sério a conversa de um
simples comprador na hora do
pagamento, mas, talvez por ter
encontrado alguém que o reconhecia
como um inventor, os olhos do
homem mostraram um brilho de
confiança. Depois de confirmar
isso, eu saí para as próximas
barracas com um sentimento de
satisfação no meu peito.
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