CAPÍTULO 5
— Então, diga-me... o quão longe está disposto a ir por ela?
Muoru respondeu de imediato:
— O máximo que eu puder.
Corvo riu:
— Certo. Agora sim foi uma boa resposta... obrigado. — O tom dele parecia ser surpreendentemente amigável e, comparado à sua maneira provocativa de sempre, parecia... ele se atrevia a dizer, bonito. Claro que “bonito” para Corvo tinha um significado diferente do que era para Mélia.
Inconscientemente, a boca torta de Muoru se abriu para falar:
— Você nunca me mostrou nenhum tipo de gratidão antes.
— Bem, não se incomode com isso. Acho que seu coração apaixonado é embaraçoso.
— Ora, seu... — gemeu Muoru, balançando os braços na direção de Corvo em resposta ao insulto, porém, por alguma razão, não o alcançou. Ele achava que se colocasse toda sua energia, poderia pelo menos ser capaz de acertar um único golpe. Corvo zombava enquanto Muoru exalava frustrado, então, pulou de volta para cima da lápide.
Mas o sorriso dele logo desapareceu.
— Se você está pronto para abandonar a vida como a conhece — disse ele de uma maneira cantante —, você deve roubar metade do poder da garota, metade da maldição.
— Sem problema — disse ele.
Não havia nem sequer um traço de dúvida para Muoru. Ele estava decidido no momento em que Corvo disse essas palavras. E talvez também fosse por causa de sua convicção que ele sentia um pouco de esperança.
O guarda sepulcral e a toupeira. Embora houvesse uma diferença absurda entre eles, se o mundo pensasse que não poderiam ficar juntos, algo precisava ser mudado. Ele seria o precursor desta mudança, e este método lhe garantiria seus desejos.
— Mas como faço isso? — perguntou Muoru.
— Em essência, apenas uma pessoa pode ser outorgada com o poder do guarda sepulcral, por isso, caso duas pessoas compartilhem, ele seria dividido em dois. — respondeu Corvo enquanto cruzava suas pernas finas. — Mas para fazer isso, você precisará matá-la uma vez.
Muoru não conseguia acreditar no que ouvira.
— Hein?
Do que este idiota está falando? Por um momento, ficou sem saber o que fazer, mas rapidamente se livrou da hesitação e disse:
— Você quer que eu a leve à luz do sol ou algo assim? Só lamento, não posso fazer isso.
Corvo riu:
— Bem, não me importa se ela não morrer.
— Então, como pensei...
— Você não é um completo idiota, por isso, tente usar sua cabeça. Há outra forma de bloquear o poder da Escuridão. Pode ser mais fraco do que a expor à luz, mas ainda vai funcionar, mesmo à noite. É um método que combina com este lugar, onde as almas humanas repousam. Por favor... pense bem sobre isso. Você já deve ter uma ideia
Enquanto Muoru olhava para Corvo, mordeu os lábios e começou a pensar.
Lembrou-se de toda a conversa que teve com ele.
Pensou sobre o cemitério que se expandia sob seus pés.
Então, olhou para a pá em suas mãos.
Depois, para a lápide em que Corvo estava sentado.
Mass Grave.... um cemitério compartilhado por humanos e monstros.
— Agora entendeu, não é mesmo? — perguntou Corvo, percebendo a mudança na expressão de Muoru.
Ele assentiu:
— Então, essa parte é essencial, não esqueça disso. Se fizer isso e enfraquecer o poder dela, no final... — Sem esconder seu sorriso largo, Corvo explicou o resto de seu plano.
Depois de ouvi-lo, Muoru ficou completamente vermelho e gaguejou:
— É realmente possível?
— Não deve ter problema. E acho que você ficará feliz quando isso acontecer.
Ele mordeu os lábios novamente. Era frustrante não poder contrariar a ideia de Corvo. Por isso, com sentimentos de inquietação vazando de suas palavras, perguntou:
— Está tudo bem mesmo?
— Claro, claro... bem, Mélia provavelmente não vai concordar em envolvê-lo, então você terá que fazer isso à força, só que... — Corvo parou, seu rosto se contorceu, como se tentasse mostrar algum tipo de dor. — Maria gostava muito de Mélia. Ela desejava apenas felicidade na vida de Mélia. Não há dúvidas sobre isso, de fato, apenas quando se trata disso, te falo a verdade absoluta.
Então, Corvo continuou:
— No entanto, Maria não era muito paciente. Não, é mais como se ela não tivesse uma força de vontade extraordinária. A parte demoníaca dentro dela, o desgosto, a dor de não poder morrer... tudo se provou ser muito mais do que podia lidar. E por isso acabou com a própria vida — disse ele. — Tenho certeza, é fácil pensar que um sentimento desses não podia ser evitado, porém..., no final, a única coisa de que se arrepende, é de ter deixado sua irmã mais nova com um destino tão terrível. Talvez fosse apenas covardia, mas Maria estava muito preocupada com Mélia, mesmo não sendo relacionadas por sangue — parou, para então continuar: — E este é exatamente o motivo de ela não conseguir repouso..., por isso, não importa o quê, quero garantir o desejo de Maria. Quero que Mélia seja feliz.
Sinto-me da mesma forma.
Embora tenha ido tão longe a ponto de jogar Corvo em uma armadilha para tentar conseguir extrair informações dele, esta era sua única intenção. As regras do mundo de que veio eram muito diferentes das daqueles que governavam os monstros e o guarda sepulcral. E eles pareciam algo que pessoas como ele não podiam fazer nada. Mesmo se tentasse pensar sobre como enfrentar essas regras, suas escolhas eram extremamente limitadas. Por isso, mesmo assim, não parecia provável que pudesse salvar Mélia.
Ainda assim..., ajudá-la a ganhar a felicidade provavelmente o deixaria feliz também.
Que cara ela faria se eu retirasse toda a fonte de sua dor e sofrimento?
Se fosse possível, mesmo sabendo que era excessivamente egoísta, ainda desejava por um futuro desses. E se alguém pudesse vê-lo neste momento, com certeza pensaria que um desejo desses poderia deixá-lo feliz. Mesmo estando longe de conseguir escapar, em troca, jamais seria capaz de deixar o cemitério novamente.
Será que serei feliz mesmo?
Sem mudar muito de expressão, Muoru sorriu. Era engraçado como não estava nem mesmo tentando pensar sobre todas as coisas que considerou até agora. Desde que veio a este cemitério, a única coisa que pensava era escapar, e antes disso, a única coisa que pensava todos os dias era sobre como viver mais. Porém, no passado, seu único trabalho era cavar buracos, independentemente de quais pensamentos tinha.
— Toupeira-kun, sinto muito — disse Corvo —, talvez, depois disso, você e seu corpo precisarão passar por um sofrimento terrível. — Então, abaixou a cabeça com simpatia.
— Haha. — Muoru riu fracamente, sentindo-se um pouco envergonhado com o que estava prestes a dizer. — Obrigado por se preocupar comigo, mas, para mim, estar aqui e ser incapaz de fazer qualquer coisa é ainda mais doloroso.
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