CAPÍTULO 1

A toupeira havia cavado uma armadilha muito profunda; e dentro dela, pegou um corvo estranho, o qual parecia uma criança.
Mesmo que Corvo tenha lhe dado o capacete, Muoru ainda o enganou, fazendo com que caísse dentro da armadilha. Ele percebeu que a decepção ia contra seu código moral, mas não tinha outra escolha.
Não havia tempo.
Quanto tempo Mélia ainda tem? E quanta dor mais o coração dela precisa suportar?
Não havia uma ferramenta no mundo que poderia medir isso, mas mesmo que existisse, provavelmente seria melhor não a usar.
Por isso, esta seria a segunda vez que discutiria sobre a dor que ela não precisava sofrer.
— Muito bem então, por que não conversamos? — perguntou Corvo.
Olhando para o corvo que capturou, Muoru fez suas perguntas.
— Tá bom, primeiramente..., gostaria que me dissesse quem você realmente é. A máscara que mostrou quando nos vimos pela primeira vez é falsa?
— Não — disse Corvo, olhando para cima com uma expressão inocente e, novamente, pegando a máscara de algum lugar de seu corpo.
— É verdadeira. Consegui-a de meus “amigos caçadores”.
— Como assim? Quer dizer então que não é um daqueles “caçadores”?
— Sua intuição é mais afiada que qualquer garra, Toupeira-kun. — Corvo largou a máscara e provocou Muoru da mesma forma que fazia normalmente. Então, deu de ombros: — Peço perdão por mentir. Pensei que tornaria as coisas mais fáceis..., mas é um pouco complicado explicar minha posição.
— Não tem problema se é difícil, apenas me diga, ou te enterrarei. Estou falando sério! — Muoru pegou um pouco de terra e segurou sobre o buraco.
Podia ter sido uma ameaça, mas se Corvo continuasse de brincadeira, ele estava preparado para enterrá-lo até a metade.
Fazendo beiço, como se dissesse “me dê um tempo”, Corvo falou com relutância:
— Muito bem... sou um “representante da associação de vítimas”, por assim dizer.
Muoru balançou a pá e alguns torrões de terra caíram no centro do buraco.
— Ei, ei, pode parar! Estou falando sério agora.
— Bem, parecia que estava de brincadeira. Mas se não, me diga, de que tipo de sofrimento está reclamando?
— Dos demônios, é claro. Existe algo mais?
— Se está falando a verdade sobre ser um representante, então devem haver outros — disse Muoru, considerando as palavras de Corvo como sendo apenas mais uma piada. No entanto...
— Sim, existem outros. Dez no total — respondeu Corvo rapidamente com um sorriso esguio. — Por que está perguntando sobre isso? Você já os encontrou.
— Está falando de Mélia? — Muoru perguntou com pressa. Não conseguiu pensar em ninguém mais. — Ela também é um membro de sua associação de vítimas imaginária?
— Ela é qualificada — respondeu —, mas é diferente..., ela ainda não é um membro.
— Como assim? Mélia...
Não havia alguém que sofrera mais do que aquela imortal guarda sepulcral nas mãos daqueles monstros... e mesmo se houvesse, já estariam mortos há muito e, provavelmente, sepultados.
 — Infelizmente, nossos movimentos são limitados durante o dia. Já que a garota não pode aparecer no cemitério durante o dia, nunca nos encontramos. Porém, não posso te afirmar com toda certeza que não sei nada sobre ela. — Corvo estava sendo vago e falando de uma maneira indireta.
Muoru queria saber mais sobre o que ele queria dizer, mas antes que pudesse fazer outra pergunta...
— Mas conhecia bem Maria. Com certeza mais do que qualquer outra pessoa hoje em dia. — Corvo disse algo que ele não poderia ignorar.
A pessoa que Muoru não conhecia, a guarda sepulcral que Mélia considerava uma irmã mais velha.
Por que esse nome saiu da boca do Corvo? Quero dizer, ele parece conhecer bem o cemitério, por isso não é tão estranho saber disso, mas ainda assim...
Em uma tentativa de esconder sua preocupação, desviou o olhar da pessoa de cabelo chanel dentro do buraco e sentou-se.
Então, quando se moveu para sentar-se de pernas cruzadas, ouviu Corvo dizer:
— Por que acha que Maria morreu?
Ele rapidamente se virou. Um segundo atrás, não, menos que isso, Corvo estava dentro do buraco. No entanto, agora, estava de pé ao seu lado; sua voz soava como se estivesse perto o bastante para apoiar o queixo no seu ombro.
Como você fez isso?
­         — Guardas sepulcrais não deviam morrer. Mas como Maria conseguiu?
— Ela provavelmente queimou sob o sol.
— O quê, te contaram isso? — Corvo parecia surpreso, piscando para a resposta que saiu da boca de Muoru. — Pois é, isso mesmo que você disse. Bem, não é como se ela tivesse fritado como um ovo jogado no asfalto ou algo parecido. Este mal-entendido posso deixar esclarecido — disse ele. — Não há como matar A Escuridão. Na verdade, desde o princípio, o conceito de morte não lhes é aplicado. Tenho certeza que odeiam a luz, mas se forem tocados por ela, seus movimentos só vão parar. Não morrerão. E quando a noite vem, começam a se mover mais uma vez... e continuam a matança dos humanos.
Fez uma pausa, então, continuou:
— No entanto, apensar de o fato da luz do sol ser necessária para humanos, os guardas sepulcrais que roubaram o poder deles morrem caso sejam tocados por ela. Você não acha isso estranho? Por que acha que isso acontece?
— Não tem como eu não ter percebido isso. O que quero saber é... — Muoru começou de forma brusca, mas parou, sendo incapaz de conseguir dizer as palavras que realmente queria..., estava completamente confuso, incerto de como devia tentar continuar, o que devia tentar perguntar.
Corvo suspirou.
— Humanos que consomem uma parte da Escuridão tornam-se guardas sepulcrais. Por isso, mesmo que Mélia ainda seja humana, ao mesmo tempo, parte dela é “A Escuridão”. Estes dois aspectos estão ligados e não podem ser separados. E ambos possuem um efeito igual nela. Então, se a luz a atingir, seu corpo de guarda sepulcral para. O que significa morte para um humano.
Muoru inclinou a cabeça para o lado.
— Parar é morrer?
Corvo cutucou o peito do garoto com o dedo indicador.
— Você pode parar seu coração?
Muoru riu.
— Idiota, seu eu fizesse isso...
Eu morreria... né? Então é isso que ele quer dizer.
— Isso mesmo. Porém, não é apenas seu coração, mas também sua respiração, cérebro, sistema nervoso e tudo mais... Entenda, o corpo humano está, de certa forma, sempre em movimento, desde o momento em que está no útero da mãe até os últimos momentos de vida. Mesmo quando se está dormindo, desmaiado ou inconsciente, o corpo nunca para. Em outras palavras, o conceito de parar é, precisamente, como humanos são capazes de perceber a morte.
Muoru agarrou o peito.
— Hmm, então, se a parte monstro fica incapaz de se mover, o coração, pulmões e, basicamente, todas as partes humanas do guarda sepulcral também param de se mover. E, como resultado, morrem..., é isso o que está querendo me dizer?
— Exatamente — assentiu Corvo.
O garoto mordeu os próprios lábios.
Muitos pensamentos passaram pela sua cabeça. Mas, em grande parte, pensava sobre até onde poderia confiar nas palavras de Corvo.
Toda esta conversa duvidosa não era nada mais que suposição. Mas então, novamente, quem não ficaria incomodado ao colocar seu peso em uma ponte suspensa, a qual podia ser uma possível armadilha?
Ainda assim, Corvo tinha um objetivo; e, talvez, a única razão para ter se aproximado de Muoru foi para completá-lo.
Certo... não há outra forma... precisarei fazer isso... com ela... com minhas próprias mãos...
— Toupeira-kun, quero saber o quão determinado você está. — Corvo olhou diretamente para Muoru. — Você pode não acreditar em mim, mas realmente gosto de você, Muoru. E tenho uma ideia de algo que você pode fazer por Mélia, uma forma de ajudá-la. Então me diga, o quão longe está disposto a ir por ela?

Muoru não teve problema algum em responder.

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