Tentando Enfrentar o Grande Rei
Demônio – Parte 3
A aparência externa dele estava completamente diferente da do
jogo. Diablo encarava o inimigo e pensava.
O [Rei Demônio da Insanidade, Modinalaam], que aparecia no
MMORPG Cross Reverie, tinha uma enorme cabeça de bode e um corpo magro. E, depois
de derrotá-lo na primeira fase, seu corpo se transformava no de um polvo de cor
preta. Entretanto, o de agora era musculoso, até parecia um gorila. Ao que tudo
indicava, ele tinha se especializado em combate corpo-a-corpo também. Enquanto
observa o inimigo, Diablo deixou o ofegante Emil com Shera.
— Use as poções que te entreguei antes.
— O-Okay.
— Dê para os outros também.
— Certo, entendi! — Shera assentiu com força e pegou um tubo
de sua bolsa. Era uma poção de Recuperação de HP e apesar de ser apenas um item
de classe SR, ainda devia ser o suficiente para salvar alguém à beira da morte.
Quanto a Rem, ela foi até Krum e Edelgart.
Será que conseguimos chegar a tempo?
Já que Edelgart não havia desaparecido, devia estar bem. Mas
e quanto a Krum? O que acontece quando um Rei Demônio morre? No MMORPG Cross
Reverie aparecia uma cena deles lentamente se desafazendo. Se fosse o mesmo,
pelo fato de seu corpo estar inteiro, mostrava que, provavelmente, ainda estava
viva. A única coisa que ele poderia fazer agora era acreditar nisso.
Diablo virou sua atenção ao inimigo. Do outro lado do campo de
batalha, estava Modinalaam.
— Hmph… Parece que você agiu com bastante violência enquanto
eu não estava por perto, não é?
— Quem és tu-naruya? — A cabeça de bode se inclinou. No jogo,
ele tinha um corpo magricelo. Será que sua aparência mudou porque absorveu
outros Reis Demônios? Agora, ele tinha cerca de quatro metros, um corpo
musculoso como o de um gorila e uma cabeça de bode preto.
Não tinha nenhum dano visível.
E pensar que não apresentaria danos
mesmo depois de ter enfrentado Galford, o grupo de Emil e Krum.
Não havia dúvidas de que ele era um inimigo formidável. No
entanto, Diablo estava agindo como um Rei Demônio. Ele precisava agir assim. Se
fosse o seu antigo eu, não seria sequer capaz de se manter diante de um monstro
tão aterrorizante como aquele e certamente teria fugido para se escondido em
casa.
Meu eu atual é um Rei Demônio!
Um Rei Demônio possuía uma força tremenda! Por isso se
mantinha firme!
— Modinalaam, você deve receber uma punição apropriada pela
arrogância que mostrou! Ela virá de mim, o verdadeiro Rei Demônio,
pessoalmente.
— Desrespeitas este Grande Rei Demônio… O que queres dizer
com verdadeiro Rei Demônio?
— Hahaha… Enquanto clama ser o Grande Rei Demônio, não me
conhece? Você está no topo da ignorância!
Já que Diablo era apenas uma pessoa das Raças que insistia em
dizer que era um Rei Demônio, era natural que Modinalaam não soubesse sobre
ele, porém… declarar isso com pura confiança fazia parte de sua encenação.
Modinalaam lhe fez uma pergunta:
— Pergunto-te, quem ser vós-naruya?
— Ha… Hahahaha! Sou o Rei Demônio que veio de outro mundo,
Diablo!
Modinalaam mexia a cabeça de um lado para o outro.
— Não… Tu não és um Rei Demônio.
— Você mal consegue me sondar com suas habilidades! Deixe seu
corpo conhecer a minha força! — Diablo transformou o seu Cajado Mágico em uma
espada. — [Tonnerre Empereur・Libéré].
Com isso, seria capaz de lidar com o combate à curta
distância e também teria o efeito de aumentar sua força em sete vezes. No
entanto, a quantidade de MP consumida seria gigantesca.
Tanto Rem quanto Shera mantiveram os feridos a uma distância
segura. A hora da conversa fiada terminara.
Ele agiu primeiro:
— [Super Nova]!!
Decidiu atacar repentinamente com a Magia Máxima que já tinha
preparado antes. Pelo estado em que o chão estava, parecia que Modinalaam não
tinha Magia de Reflexão. Poderia ter Magia de Anulação, mas a tentativa era
livre. Além disso, ele precisava começar a batalha mágica… para que um ataque
mágico ainda mais poderoso poderia ser disparado de volta e assim ele
aproveitaria a chance para usar sua Reflexão.
O brilho intenso da Super Nova desapareceu.
Como já era de se esperar, ela causou um grande dano a tudo
em volta e até mesmo o chão foi destruído. A aparência de Modinalaam mudou, com
Asas, semelhantes às de um corvo, saindo de suas costas. Parecia que as tinha
usado como escudo para se defender da magia.
Mesmo assim, ainda foi ferido.
As asas estavam quebradas e seu corpo musculoso possuía
rachaduras.
Boa! Posso feri-lo com magia!
Diablo curvou o canto dos lábios.
Os olhos do bode preto ficaram arregalados.
— Que poder mágico… incrível…
— Hmph… Você é bem compassível, não é, Modinalaam?
— Diablo… Diablo… desejo… este poder mágico!
Seus olhos, brilhando em vermelho, se abriram tanto que
pareciam que iam saltar. Gritando e rugindo como uma besta, Modinalaam correu
com uma velocidade imensa.
Aqueles movimentos não podiam ser vistos a olho nu.
Com a ponta do dedo sendo usada como uma lança, Diablo foi
perfurado… Isso poderia ter acontecido, caso não tivesse elevado seu nível.
— Como esperado, você é rápido, porém…!
Logo antes de ser atingido, esquivou-se já que, para o atual
Diablo, não era uma velocidade que não poderia ser vista. Entretanto, a mão de
Modinalaam dobrou em um ângulo improvável e começou a persegui-lo.
— Não escaparás!
— O quê!?
Uma lâmina cruzou os dedos esticados. Foi Sasala quem cortou.
Ela segurava uma espada do estilho japonesa com uma marca de lua crescente
gravada no cabo.
— [Presa da Ruptura]!!
Quatro dedos da mão de Modinalaam caíram no chão.
— Fui… ferido!?
Como esperado de um Mestre Espadachim.
Sasala ficou atrás dele.
— Tome cuidado, Diablo. Parece que ele está usando a Arte
Marcial [Golpe Certo] nos punhos. — Não havia sinais de que ele estivesse usando.
Será que estava ativada continuamente?
— Fumu… Pensando bem, o [Rei Demônio das Mãos, Hattjabul]
tinha as Artes Marciais [Golpe Certo] e [Morte Certa] permanentemente ativadas.
— Isso é possível?
— Não só elas, também tinha a [Parede de Ferro], mas, vendo
que magia e espada o atingiram, parece que já ter sido quebrada. Há um limite de
quanto dano isso consegue suportar, afinal.
Modinalaam estreitou os olhos.
— Você sabe muito… Tua arte… não… ainda não és a arte de um
Rei Demônio. Que arte seria a tua-naruya?
— Hmph…
Não passo de um gamer inválido.
— Sou o verdadeiro Rei Demônio!
Rose, a Empregada Magimata, permaneceu à sua frente. Ela
tinha sua espada dupla de prontidão.
— Mesmo quando se trata da diferença de nível dos subordinados,
Meu Mestre ainda se sai melhor.
Rose tinha uma força equivalente à de um Guerreiro no nível
150 e Sasala, que estava perto de Diablo, era uma Guerreira nível 200.
— Hm, é… Não sou subordinada dele, mas sim a Mestra… Ah, não,
deixe quieto. — Ela parecia um pouco insatisfeita.
Os Seres Demoníacos que Modinalaam liderava não faziam nada
além de observar de longe. Parecia que Ourou também estava presente, mas
permanecia imóvel. Ryoka não estava ali. Pelo fato de ela parecer gostar de
batalhas e ser forte, eles permaneceram cuidadosos, porém… era como se alguém
já a tivesse derrotado.
Nenhum Ser Demoníaco participou da batalha entre Modinalaam e
Diablo. Isso parecia estranho. No passado, Diablo sempre estava sozinho, mas
agora tinha aliados. Coisas como subordinados, companheiros e Mestre eram formas
sutis para se referir a eles, mas… ainda eram pessoas em que poderia confiar.
Não consigo me acostumar com isso,
mas também não parece tão ruim.
Ele não tinha mais poder mágico, pois usara quase tudo na
[Super Nova] aumentada em sete vezes. Por isso bebeu uma poção de Recuperação
de MP.
— Krum, aguente firme! — gritou Rem. Ela foi o mais longe
possível do local onde Diablo e os outros estavam lutando, além do portão oeste
da cidade. Embora fosse chamado assim, agora não passava de escombros.
Se a ocasião fosse diferente, Rem se acharia patética por ser
tão fraca e não poder lutar ao lado de Diablo, mas não tinha tempo para pensar
nisso agora. Ao seu redor, havia várias pessoas à beira da morte, sendo que a
grande maioria já estava caída, sem ser capaz de se mover.
Rem e Shera eram, provavelmente, as únicas que não estavam
feridas.
Preciso ajudar o máximo de pessoas
possível!
O corpo de Krum tinha diversas rachaduras. O simples ato de
levantá-la fazia com que se desfizesse e também havia um buraco em seu abdômen.
Seu estado era tão horrível que Rem, sentindo-se impotente, pensava: Ela já não está morta?
As pequenas pálpebras de Krum começaram a se abrir.
— Rem… é você…
— Krum! Ainda bem, você está viva!
— Não… Maou… perdeu-nanoda. Restauração… não é mais…
possível.
— Não diga isso! Diablo me deu Poções de Recuperação de HP!
Rem virou um frasco de poção. O líquido desceu por entre os
lábios de Krum, porém, sua boca tremeu, e seus lábios racharam e se quebraram.
— Não adianta-nanoda… Poções das Raças não fazem efeito em
Maou. Sem contar que, se os milagres de deus funcionarem… seria inaceitável.
— Então…
— Maou… é um ser solitário. A única coisa que pode curar…
seus ferimentos é… seu próprio poder mágico… Apenas…
— Neste caso, cure-se logo! Você não tinha dito que Reis
Demônios têm poder mágico de sobra dentro deles!?
— Muito… poder mágico foi usado… Não tem nada sobrando… em
meu corpo… — A voz dela estava ficando cada vez mais fraca.
— Krum!?
— Ahh… eu queria… comer biscoitos… uma última vez… pelo
menos.
Os cantos dos olhos de Rem ficaram quentes e seu peito
começou a ficar apertado. Se continuasse assim, Krum sumiria. No passado, o Rei
Demônio Krebskrum era alguém que ela odiava, a ponto de querer destruí-la, nem
que isso custasse sua própria vida, porém, neste momento, já a considerava da
família.
— Krum… não quero perdê-la. — De sua bolsa, pegou uma joia
transparente. Aquele era o [Cristal Divino], o qual possuía uma chama negra
bruxuleante em seu interior. Era algo que a Líder dos Elfos Negros, Refleisha,
usou para retirar os fragmentos do Rei Demônio que ainda estavam dentro do
corpo de Rem.
Se eu devolver isso, ela pode se
transformar em Krebskrum.
Krum só se transformou em uma garotinha amante de biscoitos
porque perdeu a memória. Um Rei Demônio era algo que matava as raças, mas ela
não queria isso. Se não fosse esse o caso, certamente os atacaria. Ela sentia
que o que estava selado dentro do [Cristal Divino] era, provavelmente, as
memórias de Krum — a vontade de destruir as Raças. No entanto, não tinha
dúvidas de que havia o poder mágico necessário…
Rem olhou para Krum. Ela parecia que se transformar em uma
pilha de areia a qualquer momento. Na verdade, já podia ser tarde demais. Não
havia mais tempo para hesitar.
— …!!
Ela aproximou o [Cristal Divino] do corpo de Krum, enfiando-o
no buraco aberto em seu abdômen. A joia transparente quebrou em vários pedaços
e a chama se espalhou gentilmente.
— Krum!!
No entanto, nada aconteceu. O corpo da jovem menina tinha
inúmeras rachaduras e estava simplesmente deitado ali, sem se mover.
Era tarde demais!? As mãos de Rem tremiam. A imagem de
Krum comendo biscoitos, saboreando-os, apareceu em sua mente, assim como ela se
ressentindo por ter causado problemas para o povo da cidade. Também se lembrou
de como cantava com alegria, como comia bife, bolo, macarrão… Ela não fazia
nada além de comer.
Lágrimas tomaram conta de sua visão, tornando-a embaçada. Rem
acabou se agachando diante dela.
— Sinto… Sinto… muito… Eu… não fiz nada… além de hesitar…
Ela cobriu o rosto com ambas as mãos e gritou com toda a
força.
— Ah, AAaaAAAh!!!
— Rem…!? Está tudo bem!? — Shera colocou uma mão no ombro
dela.
— Krum está… é minha culpa! Aaahhh!
— O quê!? Krum-chan está…!?
— Foi minha culpa, eu hesitei! Demorei muito… Ah… guh! Ela
não conseguiu aguentar muito tempo! Uaah!
— O que você disse—!? Krum-chan, você não conseguiu aguentar
por muito tempo!?
— Maou não conseguiu!? Não entendi muito bem, mas não chore,
Rem. Vou te dar um biscoito.
Rem ficou com a respiração presa na garganta.
Quê!?
Ela levantou a cabeça.
Lá estava Krum, fazendo uma cara confusa e inclinando a
cabeça para o lado.
— Oh, você parou de chorar. Calma, calma. Vou te dar um
biscoito, só está um pouquinho quebrado. — sorriu. Em sua mão havia um biscoito
que se tornara pedaços. Ainda tinha sinais de rachadura em sua pele, mas já
estava voltando ao normal. Enquanto isso, Shera afagava a cabeça dela.
— Graças a deus, você está viva. Que alívio.
— Fufun, mas é claro-nanoda!
Rem estava perplexa.
— Krum está… viva?
— Rem, o que você está dizendo- noda? Não foi você quem deu o
poder mágico a Maou?
— I-Isso é… verdade…, mas… pensei que fosse tarde demais.
— Fufufu, é porque Maou é forte! — Ela estufou o peito ao
dizer isso — Também vou curar Edelgart-noda.
A jovem Ser Demoníaco, que possuía várias feridas abertas no
corpo e que estava prestes a desaparecer, foi curada em um instante. Logo
depois, ela se levantou.
— Rei Demônio~samaa! Bem…!? Bem! Que alegriaaaa!
— O quê, um Ser Demoníaco chorando? Que vergonha-nanoda.
Quando se encontraram pela primeira vez, Edelgart era como
uma boneca, inexpressiva, e parecia aterrorizante, porém… se tornava um
amontoado de emoções quando se tratava do Rei Demônio. Além disso, hoje em dia,
até era possível achá-la atraente.
— Bom para você, Edelgart-san. — Shera não conseguiu segurar
as lágrimas. Tanto os seus pensamentos quanto suas lágrimas pareciam um pouco
fora de ritmo.
Ao ver tudo isso, Rem quase acabou chorando novamente.
Mesmo assim, ela foi capaz de curar
um Ser Demoníaco que estava à beira da morte, isso em instantes, ainda bem que
Krum não é uma inimiga das Raças.
— Krum, e suas memórias? — Rem lembrou.
— Hã? Ahh, lembro de várias coisas-noda. Rem, obrigada.
— Você… se lembra?
— Kukuku… Reis Demônios são seres que aniquilam as Raças-nanoda!
Rem colocou-se em posição.
— Não me diga…!!
— No entanto, Maou ama biscoitos.
— Hã?
— Além disso, viver nessa cidade com Rem, Shera e os outros
também é divertido. E tem muita coisa que parece deliciosa que Maou ainda não
experimentou.
— Está… falando sério? Mas… suas memórias…
— Rem, você ainda quer derrotar o Rei Demônio Krebskrum, é
isso o que sente, certo?
— S-Sim… Não posso negar. Era o que eu mais queria…
— Até mesmo agora-nano ka?
Rem balançou a cabeça.
— Se fosse esse o caso, tenho certeza de que não teria
devolvido aquele poder mágico.
— Umu. Sendo assim, você é igual a Maou-nanoda! Ela se lembra
da vontade imensa de matar, mas isso já é algo do passado. Memórias são apenas
isso-nanoda!
— Krum-chan! — Shera a abraçou.
— O que está fazendo? Está me sufocando-noda, Shera!
— Eu te amo—!!
— Umumu… Eu entendo, então me largue-noda. — Embora não
gostasse disso, ainda sorria.
Rem limpou as lágrimas.
— Então, os dias que passamos… nesta cidade pacífica
significam algo para elas.
A fim de proteger esse estilo de vida, precisavam
vencer.
Ela olhou para o local onde a batalha se desenrolava. Foi
neste exato momento em que seus amigos mais próximos enfrentavam Modinalaam.
Eles são rápidos demais.
Tinha dificuldades para acompanhá-los com os olhos. Diablo se
preparava para usar um [Feitiço de Múltiplas Camadas]. Ela conseguia ver com
clareza que ele confiava em Sasala e Rose, pois nunca o usou em um inimigo que
estivesse tão próximo enquanto viajava com Rem e Shera.
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