Capítulo 4 – A Porta Até Eina
Parte 1
— Há cinco anos, em outubro, houve um grande tufão, Eina saiu de casa durante a noite e houve um deslizamento de terra naquele dia. Você lembra daquele deslizamento, né?
— Lembro...
— Bom, a verdade é que aquela garota está desaparecida desde então. Saiu até no jornal. A julgar pelo contexto da coisa toda, é bem provável que ela tenha sido soterrada.
— Entendo.
— Shuu, eu sinto muito. — Sakai estava expressando seu pesar, então eu sorri.
— Obrigado por tudo. Estou feliz por saber um pouco sobre ela. Obrigado também, Senpai.
— Shuu-kun...
Parecia que ela não conseguia encontrar palavras adequadas. Era compreensível.
Eu também estava o tempo todo animado, dizendo coisas como "Me pergunto que tipo de garota ela é" e "Quero discutir sobre nossos livros favoritos quando nos encontrarmos".
Me senti bem mal por não ter prestado atenção aos sentimentos deles.
Fomos até a biblioteca depois de sairmos da casa e olhamos os jornais dos tempos passados para ver se o que a prima de Eina disse era verdade.
Mesmo sendo sua prima quem disse, obviamente não parecia verdade, eu não desistiria.
Sakai e Ruka-senpai haviam me ajudado sem expressar qualquer resistência.
— Estou indo para casa.
— Eu te levo — ofereceu-se Ruka-senpai.
— Obrigado, mas está tudo bem.
— Mas...!
— Quero ficar sozinho por um tempo. Desculpe ficar assim depois de arrastar vocês até aqui — disse eu, e ela não respondeu.
Sozinho, fiz meu caminho para casa. No momento em que nos separamos, as lágrimas encheram meus olhos. Eina morreu?
Eu não podia acreditar, não queria acreditar.
Mas era a realidade.
Humanos morrem rápido demais. Essa é uma verdade surpreendente e impiedosa.
Milagres não existem.
Não existem coisas como magi...
— Não, existe.
Peguei meu telefone. Havia magia em minhas mãos.
Meu telefone estava conectado com o passado.
Eu poderia apenas ligar para Eina.
Tenho certeza de que conseguiria.
Abri o aplicativo e pressionei o botão para ligar para ela, mas...
O nome de Eina não estava em minha lista de contatos. Mesmo ao pesquisar o nome dela, não encontrei. Meu histórico de mensagens sumiu também.
— Que estranho.
Acabei entrando em frenesi e procurei por meu telefone.
Através do aplicativo e também dos meus arquivos.
Mas não consegui encontrar um modo de a contatar.
O feitiço foi rompido com os sinos da meia-noite.
Foi quase como se ter ido para a casa de Eina tivesse funcionado como um sinal, meu telefone agora era um normal, como qualquer outro.
Parte 2
Eu realmente não lembro o que aconteceu depois daquilo. Quando voltei ao normal, ainda estava perto da casa de Eina.
Eu estava vagando por lugares que tinham sido fotografados e postados por ela.
Procurando por qualquer rastro.
Continuei minha busca fútil, imaginando se ela ainda estaria viva.
A cerejeira obviamente não estava florescendo. O ginásio de sua escola primária também tinha passado por uma reforma.
A cidade mudou aos poucos nos últimos cinco anos.
As postagens de Eina pararam de repente há cinco anos. Se o autor morresse, é claro que os posts acabariam.
E então eu cheguei.
Na localização do deslizamento de terra.
Era ao longo de uma trilha para animais que seguia até o penhasco. As árvores tinham sido derrubadas e o penhasco parecia ter sido raspado. Ainda existiam traços do acontecimento. Tudo fluiu para ambos os lados da trilha.
Era um lugar que não tinha mudado nada em cinco anos.
Se você fosse pego no meio disso, não conseguiria sair vivo.
— Eina... — chamei. Ela estava debaixo do chão em algum lugar por aqui, já que não tinha ido para casa.
— Eina!
Deve ter sido sofrido e doloroso. Como ela se sentiu? Ou aconteceu de repente, sem ter tempo para perceber?
Agarrei meu telefone.
O pingente que ela me deu ainda estava ali.
O telefone estava conectado a Eina.
Por que eu não podia a salvar?
Por quê...?
Por quê?!
— Eina!!
O silêncio voltou à colina depois de meu grito, minha voz ecoou sem render frutos, e então...
Vzzzt, vzzzt.
Meu celular vibrou em minha mão.
A vibração foi alta o suficiente para que eu pudesse até escutar.
Mesmo quando me perguntei quem é que ligaria numa hora dessas, segui meu hábito e fitei a tela.
Era um número desconhecido.
Uma sensação de desconforto se instalou em meu peito.
Ou talvez fosse esperança.
Mesmo quando estava apavorado com os acontecimentos, mesmo sem querer me machucar ainda mais, não consegui parar minha mão.
A chamada completou.
Era sua bela e adorável voz soprano.
— Eina?!
Eu não podia ter escutado errado, mas tive que perguntar.
Ela não respondeu minha pergunta, mas com certeza era Eina.
O deslizamento causado pela chuva soou pelos alto-falantes, ela estava sob a tempestade.
Lembrei de sua prima dizendo que ela subiu a colina atrás de sua casa sob a tempestade e um arrepio correu pelas minhas costas.
— Eina, onde você está?! Se estiver fora, volte para casa!
A ligação caiu.
— Cacete, de todos os momentos possíveis...
Agarrando meu telefone, olhei para baixo.
Liguei mais uma vez.
— Completa, por favor... — Mas não deu nenhum sinal de que funcionaria. — Eina! Por favor, fique segura, Eina!
Não pude deixar de gritar por seu nome.
E então, notei que o pingente em meu celular estava brilhando um pouco.
Era um tipo de mascote retratando o demônio que eu havia interpretado. Fiz uma careta e olhei para ele.
A luz estava ficando mais e mais brilhante, até que ficou tão forte que tive dificuldades para manter os olhos abertos.
Um raio de luz me envolveu e, no instante seguinte, o mundo ficou preto.
*
Havia um vulto em minha frente.
Era um vulto pequeno, como o de uma garotinha.
Ela não batia nem no meu peito.
Estava encharcada, água pingando de seu cabelo comprido.
Segurava um telefone em frente ao peito.
— Shuu-san!
A garota... gritou.
— Eina... é você?
— Sim! Sou a Eina!
Enquanto ela falava, a garota correu até mim e me abraçou, agarrando-me.
Eu a envolvi em meus braços.
Nós nos abraçamos por um tempo, mesmo sob a chuva e ventos uivantes.
— Shuu-san, você está quente...
— Obrigado deusas, você está viva.
— Sim, mas como você apareceu aqui? — perguntou ela.
— Também não sei, gritei por você no local em que o desastre aconteceu e acabei vindo parar aqui. O desastre! — Separei-me dela e olhei em seus olhos. — Eina, aqui não é seguro, se você ficar aqui, será pega em um deslizamento de terra e morrerá.
— Eh...?
— Eu te procurei no futuro. Desculpa, eu quebrei minha promessa. Mas eu não aguentava mais não te conhecer. Então sua prima disse que você morreu. Que você desapareceu no dia do tufão.
Eina ficou pálida e eu agarrei sua mão.
— Está tudo bem — disse a ela, com tanta gentileza quanto possível. — Eu fiz isso, então posso te salvar.
Com isso, a expressão rígida dela relaxou um pouco.
Em meio ao alívio, jurei a mim mesmo que a salvaria.
— Certo. Vamos nos apressar e...
Um estrondo soou, abafando minha voz. Por reflexo, puxei-a para perto de mim pela palma da mão. Logo depois disso, o chão cedeu na minha frente. Um arrepio percorreu minha espinha.
— Isso foi bem perto... — A voz de Eina estava trêmula.
— De qualquer forma, vamos para casa... Eina, por qual caminho você veio? — Ainda trêmula, ela apontou para o lugar que tinha acabado de ser devastado pela lama. — Não podemos pegar esse caminho, é muito perigoso.
Tentei ligar para o 119 pedindo ajuda, mas meu telefone estava fora de serviço.
Claro que estava, era o passado.
— Eina, desculpa, mas você pode ligar para o 119? Precisamos de ajuda.
— A Onee-chan estragou meu telefone — disse ela desculpando-se enquanto me mostrava a situação do aparelho. Ele estava cheio de rachaduras na tela e na carcaça. — Não liga mais, acho que conseguir te ligar mais cedo foi um tipo de milagre.
Era o que ela queria dizer sobre não se darem muito bem, e eu entendi que, por o telefone ter sido destruído, nós não poderíamos mais nos falar.
— Certo, vamos tentar descer daqui então.
Começamos a andar sob a chuva. Eu estava segurando a mão esquerda de Eina com a minha direita. A chuva estava fria e eu provavelmente também estava esfriando, mais cedo ou mais tarde, começaria a sentir minha temperatura corporal caindo. O céu já estava escuro e a chuva forte deixava tudo com uma visibilidade péssima.
Eu esperava encontrar algum lugar onde pudéssemos nos proteger da chuva e esperar por ajuda, mas não consegui ver nada de útil.
Passo a passo, progredimos com bastante cuidado.
Para ser sincero, estava com medo. Eina deve que também estava. Sua mãozinha segurava a minha com força, tremendo, e não era só por causa do frio.
Contudo...
Olhei para ela, mais e mais.
Ela olhou para mim, mais e mais.
Cada vez que nos olhávamos, sorríamos um pouco.
A situação pode ser desesperadora...
Mas não estávamos sozinhos, encontramos a pessoa por qual cada um de nós ansiávamos. Só isso nos encorajava.
E depois...
— Eina! Veja! Luz!
Descemos por uma estrada tangente ao penhasco.
— Nós conseguimos!
Pulamos nos braços um do outro sem pensar duas vezes. Agora só precisávamos seguir a estrada até a cidade.
Então, notei algo se aproximando rapidamente.
Luzes brancas brilhantes embaçaram minha visão por um momento. Era um caminhão. O barulho da chuva fez com que eu não o percebesse até então. Estava fazendo uma curva, então não vi os faróis.
Quando percebi, já estava muito perto. O motorista não tinha notado a gente, o que era normal, visto a visibilidade precária.
Não houve tempo para pensar.
Segurei Eina e pulei para trás.
De algum modo, eu caí.
O caminhão passou pelo local em que estávamos há instantes.
— Isso passou perto... Obrigada, Shuu-san.
— Pois é, ainda bem que você está...
Foi nesse momento que perdi o equilíbrio e pisei em falso.
No entanto, não havia solo sob o meu pé.
Meu mundo girou, e a última coisa que vi foi Eina, com os olhos arregalados, me vendo cair.
Rolei pela encosta, batendo meu corpo inúmeras vezes, não conseguia nem mesmo fechar a boca enquanto girava.
— Shuu-san!!
Ouvi o grito de dor de Eina de longe, e então desmaiei.
Parte 3
Eu estava de barriga para cima, olhando para o céu.
— Onde... estou? — murmurei, minha voz rouca.
Não estava chovendo, eu podia ver o sol através das aberturas entre as árvores.
— Voltei... para o meu próprio tempo?
Tentei me levantar, mas não consegui mover meu corpo graças à dor. Eu não seria capaz de ir para casa sozinho.
Teria que pedir ajuda.
Forcei meu braço machucado até alcançar meu bolso, mas não achei meu telefone.
Então, vi uma coisa retangular na frente de minha mão.
— Haha, só pode ser brincadeira.
Tive que rir. O telefone estava quebrado.
A tela estava trincada e o telefone todo retorcido.
Apenas o pingente de demônio estava intacto, então com certeza era o meu telefone.
Não poderia pedir ajuda.
Eu não consegui me mexer.
Meu corpo estava frio por causa da chuva.
Entendi, eu ia morrer.
Por incrível que pareça, não fiquei desesperado.
Era em Eina que eu estava pensando, me perguntei se ela tinha conseguido ir para casa.
Tenho certeza que sim, ela era uma garota inteligente. Iria para algum lugar que tinha gente e pediria por ajuda. Era uma pena não podermos mais nos encontrar, mas era inevitável, afinal, voltei para o futuro.
Não foi um final feliz para sempre, mas também não foi um final ruim.
Consegui salvar ela, isso bastava.
Fechei meus olhos.
Da próxima vez que abri os olhos, a primeira coisa que vi foi uma lâmpada de teto.
"Que teto baixo", pensei.
A sala aprecia estar tremendo.
— Onde...
— Você está em uma ambulância — falou uma voz ao meu lado.
Meu coração ficou apertado. Era a Presidente. Percebi que ela estava segurando minha mão, senti seu calor.
— Você me salvou...? Por quê?
— Por enquanto não fale nada.
Conforme ela mandou, fechei a boca, minhas pálpebras ficaram pesadas e mais uma vez perdi a consciência.
Quando acordei de novo, eu estava em um hospital, deitado em uma cama e todo coberto por ataduras. Meu corpo inteiro doía.
— Shuu! Ainda bem...! — Minha mãe olhou para meu rosto e soltou um suspiro de alívio. Meu pai estava logo atrás dela. — Obrigada, Minekawa-san.
Já que era minha mãe falando, demorei um pouco para perceber que estava se referindo à Presidente quando disse Minekawa.
— O que você quer dizer com... obrigada?
— Minekawa-san que pediu por ajuda, ela te salvou — disse meu pai.
— Parece que ela ouviu você gritando onde houve aquele deslizamento de terra ontem, então pensou que algo podia ter acontecido. E então descobriu que você caiu do penhasco e não estava se movendo, assim sendo, pediu ajuda.
Eu contestei essa explicação em minha mente.
Como ela sabia que eu estava lá? Ela ouviu algo por Ruka-senpai ou Sakai? Não, eu não contei nada para eles.
Além disso, eu não tinha entrado em contato com ela. Em primeiro lugar, nós nem tínhamos o telefone um do outro.
Ela mentiu.
Mas por quê?
No dia seguinte, muitas pessoas vieram me visitar.
O primeiro a aparecer foi Sakai, faltando aula. Por um momento, fiquei comovido por ele estar tão preocupado comigo, mas depois:
— Então você caiu do penhasco? Como foi, doeu?
Ele entrou no modo repórter. Eu fiquei meio zangado com o fato de a razão dele ser meio sombria, mas foi divertido.
— É óbvio que doeu.
— Conte-me tudo que puder. Vou escrever um artigo.
— Não lembro de muita coisa. Foi bem repentino, perdi a consciência rapidinho.
— Ah, que vergonha. Bom, estou feliz por você estar bem.
Ele não muda nunca.
A próxima visita foi Ruka-senpai. Parece que ela veio assim que acabaram as aulas.
— Shuu-kuuuun, você está viiiiivoooo! — gritou ela assim que me viu.
— Desculpe-me por te preocupar.
— Está tudo bem, agora você está em segurança... Umm, vou fazer uma pergunta estranha. — Ela enxugou as lágrimas e olhou seriamente para mim. — Você não se jogou, né?
Pelo visto ela deve ter pensado que tentei me matar.
— Não! Foi um completo acidente!
— Ainda bem. Não pense nessas coisas, tá bom?
— Tudo bem, não sou tão fraco da cabeça.
Fiz o meu melhor para sorrir e esconder meu desconforto. Eu pensei que tinha visto Eina, mas será que não foi um sonho? Se na verdade eu só tivesse caído...
Parecia bem provável.
Mas logo pensei novamente, não podia ser, eu ainda sentia seu calor, podia ouvir sua voz.
Ainda podia ver seus olhos, a verda...
Mas é normal que as pessoas em um hospital só pensem no pior. Eu teria que procurá-la assim que recebesse alta.
Nos dias que se seguiram, o resto de meus colegas e outros dois membros do clube vieram visitar. Apenas uma pessoa não apareceu, a Presidente.
Mesmo ela sendo a pessoa com quem eu mais queria conversar.
— Talvez ela realmente me odeie...
Assim que comecei a ficar triste com esses pensamentos, ela apareceu, no quinto dia desde que fui internado.
— Presidente! — gritei feliz, já tinha quase desistido.
— Alguém veio hoje?
— Não.
— Alguém marcou de vir? Tipo alguém da nossa turma ou do seu clube?
— Não me falaram nada. Acho que já veio todo mundo.
— Entendo. Tudo bem então.
O que estava bem?
Ela puxou um banquinho para perto e sentou-se ao lado da cama.
— Desculpa, eu queria ter vindo antes, mas sempre tinha alguém aqui, então eu não poderia falar direito com você. Tem algo para me perguntar, não é, Clube de Literatura?
— Sim, não contei para ninguém aonde eu estava indo, você também não deveria saber, então, como?
— Porque você me contou, cinco anos atrás, não lembra? Você gritou por mim e acabou indo parar comigo.
Cinco anos atrás?
Gritei por ela?
— Sem chances...
— É isso aí — ela mostrou um sorrisinho —, eu sou a Eina.
Ela proclamou com sua linda voz soprano.
Só olhei para ela com os olhos arregalados, mudo devido ao choque.
Parte 4
— Quando você caiu do penhasco, vi você desaparecendo, Shuu-san. — A Presidente, Eina, falou comigo como sempre fazia, usando meu nome ao invés de "Clube de Literatura" e com toda educação do mundo. — Você realmente desapareceu. Quando a chuva diminuiu eu fui verificar, só por acaso mesmo, e você não estava lá, então pensei que você tinha voltado para o seu próprio tempo.
A Presidente, sempre afiada como uma lâmina nua, agora parecia uma garota normal. Parecia uma ilusão, mas seu lado feminino era surpreendentemente fofo, e me fez sentir bem também.
— Mas eu fiquei preocupada. Não sabia se você tinha voltado para o mesmo lugar, ou se tinha caído de alguma encosta no seu tempo. Se não tivesse contado para ninguém, você não seria encontrado, então decidi entrar em contato com você naquele dia.
— Você se lembrou disso por cinco anos?
— Sim, não me esqueci nem por um segundo.
Eina balançou a cabeça suavemente, e eu queria perguntar algo, para ter certeza sobre o que ela pensava de mim.
— Então eu tentei usar os registros da sala para entrar em contato com você, mas como pensei, não deu certo... — Ela continuou sua explicação enquanto eu ficava em silêncio. — Então eu fui até o local e te encontrei pedindo socorro.
— Então foi isso que aconteceu... Você salvou minha vida, Eina, muito obrigado.
— Ehehe — riu ela timidamente. — Mas se você não tivesse aparecido naquele dia, eu teria sido pega em um deslizamento de terra. Muito obrigada. — Ela baixou a cabeça para mim.
— Espera aí, seu nome não é Yokota Yukino, é Minekawa Yukino...? A casa que encontramos não era a sua?
— Era a casa de minha tia e meu tio. Eu te falei, não é? Meus pais morreram e fui morar com a irmã de minha mãe e o esposo dela.
Tive a sensação de que sabia disso.
— Hã? Mas você não mora em um orfanato?
As circunstâncias pareciam complicadas, fiquei intrigado com isso.
— No final, nossa relação ficou muito ruim e fui para o orfanato. Ou melhor, eu queria e fiz de tudo para não ter mais que suportar aquilo. Como consegui sobreviver, fui procurar um lugar onde poderia viver como quisesse. Eu não tinha outros tutores porque meus pais morreram, então consegui autorização depois de uma pequena investigação.
— Entendo...
— Muita coisa mudou em cinco anos.
Assentimos um para o outro. Eu senti como se tudo estivesse resolvido, mas percebi algo grande.
— Espera aí, se você é a Eina, então nunca morreu, certo? Mas a menina Yokota, sua prima, disse que você morreu.
— Ahhh, quanto a isso... — Ela vacilou por um momento. E então se curvou profundamente. — Eu sinto muito! Eu pedi para a Onee-chan mentir para você!
— Hã?! Mentir?!
— Você disse, cinco anos atrás, durante o desastre, lembra? Você me disse que tinha ouvido falar que eu me perdi e morri no dia do tufão.
— Sim.
— Se ela tivesse dito que "Minekawa Yukino é a Eina", você não teria voltado no tempo, teria? Mas se você não voltasse, eu provavelmente teria morrido. Eu não queria isso, queria te conhecer, então pedi ajuda da Onee-chan.
— C-certo.
Eu fiquei muito feliz com ela falando que queria me conhecer, e não me importei com a mentira.
— Bem, estou feliz por ter te salvado, então sem problemas.
— Obrigada.
— Mas pensei que vocês não se davam bem — falei, e Eina forçou um sorriso.
— Na época... não nos demos, era horrível. Mas quando começamos a viver separadas, comecei a entender que ela não queria me intimidar, só estava pensando nas coisas do próprio jeito, e agora ela é bem mais gentil, até refletiu sobre o que fez.
Lembrei-me das palavras de sua prima.
Agora que penso sobre isso, acho que fiz algo que não devia. Sempre a tratando mal… Mas ela estava sempre trancada em seu quarto e usando as coisas dos outros. E tinha as discussões entre o papai e a mamãe, e a preocupação…
"Isso não foi algo simples, ela realmente falou o que sentia naquela época", pensei enquanto meu coração se aquecia.
Muitas coisas mudaram em cinco anos.
— Ahh, mas eu realmente estou feliz por tudo ter dado certo. — Eina de repente soltou um suspiro, foi bom ver uma brecha na fachada normalmente perfeita da Presidente. — Se eu tivesse sido descoberta, tudo teria acabado, então eu realmente estava aterrorizada.
— Entendo, quando eu soubesse que você é a Eina, eu saberia que você está viva e não voltaria no tempo. — Então Eina seria pega no desmoronamento e morreria. Dessa perspectiva, ela estava sempre lutando por sua vida. — Foi difícil? Fingir que não me conhece?
Porém, ela não parecia triste, só fez beicinho.
— Você lembra do dia em que nos conhecemos? Duvido que lembre.
— Eu lembro, na biblioteca, certo?
A respiração dela parou por um momento.
— Isso, eu falei com você de modo muito familiar, né? Refleti sobre isso e percebi que tudo acabaria se nos aproximássemos, então não entrei no Clube de Literatura, e mesmo quando fomos parar na mesma sala, fiquei o mais distante possível.
— Então é por isso que você era sempre tão fria? Pensei que você me odiasse.
— Eu nunca poderia te odiar!
— S-sério...? — Eu não consegui falar devido à felicidade, mas seu comportamento sempre frio passou pela minha cabeça e eu não pude acreditar em tudo de imediato. — Mas nosso clube, você ia...
— Eu tive que agir como um demônio para aquilo, foi muito difícil! Não pude expressar favoritismo!
— E você sempre parecia infeliz quando estava comigo.
— Isso foi porque eu estava dando o meu melhor para manter minha expressão. Só de falar com você eu queria sorrir, então ficava nervosa com a possibilidade de...
Ela começou a ficar vermelha. Eu talvez também tenha ficado.
Nós nos encaramos por algum tempo.
— Diga, Eina.
— Umm, Shuu-san...
Nós dois paramos em sincronia antes de rirmos juntos.
— Eu primeiro então... — Ela começou, mas eu falei primeiro.
— Desculpe, o homem deve tomar a dianteira nessas situações.
— Okay... — Eina ajustou-se no banquinho fazendo cerimônia.
— Eina... — Eu respirei fundo e disse: — Eu te amo. Te amo desde quando te conheci, até quando te conheci na biblioteca como Minekawa Yukino. Pensei que você me odiava, então, quando Eina me mandou uma mensagem, deixei você sumir de minha mente, mas sempre te amei.
Seu rosto ficou vermelho, mas seu olhar não desviou do meu. Lágrimas brilhavam em seus olhos.
— Agora que sei que Eina e Minekawa Yukino são a mesma pessoa, e sabendo que eu amo ambas, estou muito feliz. Porque sei que acabei me apaixonando pela mesma pessoa duas vezes.
— Eu... — Ela começou a falar com a voz trêmula. — Eu sempre te amei, Shuu-san. Cinco anos atrás, depois daquilo, e até agora! Sempre...
Enquanto ela falava, aproximou-se de mim. Coloquei meus braços em volta dela e a segurei.
— Isso não é um sonho, né?
— Também me fiz essa pergunta, mas não é. Realmente estamos juntos — disse ela, sorrindo em meus braços, fazendo-me sorrir também.
Pensei que estávamos tão distantes, mas ela realmente estava ao meu lado... Estava bem na frente dos meus olhos neste exato momento. Aconteceu tanta coisa, eu queria conversar sobre tudo. Tantos lugares onde poderíamos ir juntos...
Pode ser divertido trocarmos alguns livros.
Mas, por enquanto, apenas a segurei em meus braços, deleitando-me com a felicidade que senti por tê-la ao meu lado.
Fim.
Posfácio
Recebi várias mensagens spam, e, em certo momento, diversas delas vieram quase ao mesmo tempo. Considerei todas como spam, mas havia muitos tipos.
Por exemplo:
Você gostaria de 100.000.000 de ienes? Clique neste link e saiba mais.
Você ficaria tentado a clicar, então, quando o fizesse, lhe pediriam sobre detalhes da conta no banco e número do cartão de crédito. Você pode receber spams, mas nunca clique nos links.
Ou talvez algo como isso, com o nome de uma mulher:
Obrigada pelo seu endereço de e-mail :smile:
Eles podem te pressionar a responder, você conversaria por um tempo e, então, seria convidado para um site de relacionamento.
Ou poderia ser uma cobrança falsa:
Você foi cobrado devido a uma taxa de uso. Clique aqui.
Vejo essas coisas e penso: “Hein? Não vou cair nessa. Não vou clicar nesses links nem responder”.
Então simplesmente deleto a mensagem, mas, certo dia, parei para pensar:
— Que tipo de mensagem eu gostaria de responder?
Pensei sobre isso sem parar.
Eu não tinha interesse algum em mensagens de garotas querendo me encontrar. E ganhar dinheiro soa bom demais para ser verdade. Tinha vontade de que soasse mais como vinda de uma pessoa…
Então, de repente, o nome Eina me veio à mente. Ela gosta de romances, tem uma personalidade alegre, mas é um pouco estranha, fazendo com que não tivesse amigos. Por isso está sozinha e começa a escrever no celular como se estivesse conversando com uma parede…
Se recebesse uma mensagem tipo: “Já chega. Quero morrer” de uma garota assim, você responderia, não é?
Nossa geração se comunica por mensagens de texto, mas, hoje em dia, aplicativos de redes sociais têm função de bate-papo, o que gerou toda a situação.
Antes que eu reparasse, já tinha pensado em um enredo, por isso tentei escrever, e, felizmente, consegui publicar. Obrigado, mensagem spam.
Com o advento dos celulares, nos tornamos capazes de nos comunicarmos com as pessoas que amamos, mesmo estando separados, mas não muda a sensação de solidão por não conseguirmos nos encontrar. Escrevi com esses sentimentos desoladores em mente, então espero que tenha gostado.
Agora, meus agradecimentos finais:
Editor chefe, Shouji Satoshi-san, obrigado por toda a ajuda, seu conselho rápido e pertinente me permitiu criar este livro, muito obrigado.
Miwano Rag-san, meu ilustrador. Obrigado pelas maravilhosas ilustrações. Gostei de todas, mas, em particular, do ar misterioso da capa.
Também agradeço a todos os envolvidos com a publicações deste livro.
Dou os maiores agradecimentos a você, que escolheu esta obra. Um livro só está completo depois de ser lido; muito obrigado.
Espero que possamos nos encontrar novamente.
Com carinho, Takahashi Bisui, maio de 2018.
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