Capítulo 56
A estação mudou e agora se tornou o momento ideal para estudar e aprender. Eu voltei ao ritmo de me dedicar às aulas novamente, inclusive completei todos os exercícios de amanhã durante a aula de auto— estudo.
Cada dia era o mesmo, mas, novamente, estudar era o principal trabalho de um aluno. Se isso for feito, então todo o resto naturalmente se resolverá, ou assim dizem.
Todos os dias eu ia até a estufa do Toto após as aulas e isso acabou virando a minha rotina. Ele e Iris deveriam estar tentando criar alguma planta estranha lá dentro e com essa imagem nítida na minha mente, caminhei até o jardim da estufa.
Hã? Eles não estão aqui. — Olhei para dentro da estufa, mas não conseguia achá— los, até que dei uma volta nos arredores, encontrando a Iris.
— Uau!
Iris não estava sozinha, um cachorro enorme a estava acompanhando. Ele era feio, estava coberto de lama e era MUITO grande.
— Ei, Iris, de onde veio esse cachorro?
— Ha!?
Ela finalmente notou que eu estava aqui, mas seu rosto ficou estranhamente pálido.
— Cachorro… não é um cachorro…
Não importa como eu veja, isso é um cachorro. Por que você será que ela está negando o fato? — Era um cachorro e com pedigree. Sua raça era algo próximo a de um São Bernardo, daqueles que se vê em filmes, subindo as montanhas e dando conhaque para esquiadores perdidos na neve.
— É um cachorro.
— ...Pode não ser um cachorro.
Do que você está falando? Por que está deturpando isso?
Eu sei que está mentindo, garota.
Eu sei que está mentindo, garota.
— Iris, tem alguma coisa errada com esse cachorro?
— Quem sabe?
O que é isso? Tem algum problema que eu saiba que essa coisa é um cachorro?
— Kururi, você realmente acha que isso é um cachorro?
Parece até que estou sendo testado. — Talvez eu não devesse admitir que aquela coisa fosse um cachorro.
— Então, é um não-cachorro.
— Isso mesmo! Um não-cachorro.
Sim, agora estávamos progredindo.
— Então, o que você está fazendo com esse não-cachorro?
— Esse 'não-cachorro' sempre vem aqui depois da escola.
— Hmm, é isso mesmo?
Olhando as roupas dela cobertas de lama, eles deveriam estar brincando à um bom tempo.
— Esse 'não-cachorro' é tão obediente e incrível. Ele é gentil e inteligente também.
— Oh, sim.
— Além disso, mesmo que seu corpo seja tão grande, ele não machucaria uma mosca, sabe?
— Sim, sei.
— Ah, você é um bom menino, é um 'não-cachorro' que é útil aos seres humanos.
Sim, eu sei que você quer ficar com ele.
— Será que eu posso cuidar dele?
Os grandes olhos de Iris pareciam estar dizendo "Eu quero um cachorro!"
— Eu posso?
— Não é proibido. Então, acho que tudo bem.
Ninguém achou que um aluno manteria um cachorro na escola então os regulamentos não dizem nada sobre isso.
Pode-se dizer que era uma espécie de brecha na lei.
— Mas, será que posso mesmo?
— Está tudo bem. Agora, vamos pegar um pouco de comida para ele na sala de jantar.
— Mas…
— Eu vou fazer uma casinha de cachorro aqui no jardim, já que há muito espaço disponível, afinal.
De alguma forma, podia-se dizer que eu também era um apaixonado por cães.
Iris então puxou minhas roupas, parecendo querer dizer alguma coisa.
— … Kururi não iria, não é?
— Iria o que?
— ...Você não iria comê-lo, certo?
— Por que diabos uma pessoa comeria um cachorro!?
Depois que eu disse isso, ela veio vigorosamente para cima de mim.
— Mas ouvi falar de pessoas comendo cães!
— O que!?
— Nobres comem cães como iguarias! Não minta, eu sei!
Sua percepção está confusa e o rosto está muito perto de mim. Distância pessoal, garota.
— Não, eu não como, nem conheço alguém que comeria. Mesmo que haja nobres assim, eles estão em minoria.
— Não minta! Apenas diga que você quer comê-lo!
— Eu não vou comê-lo.
— Claro que você não vai! Este é um 'não-cachorro' depois de tudo, então não pode comê-lo.
— Ei, EI! Iris!
— Esse é um 'não-cachorro'. Este é um 'não— cachorro'.
— IRIS! Você está fazendo lavagem cerebral na pessoa errada!
Depois que a agarrei pelos ombros e a sacudi com força, ela respirou fundo e saiu da paranoia. As pessoas se desesperam para proteger as coisas que amam. Então, tenho que declarar isso na frente dela.
— Eu juro que não como e nem comeria cães. Juro por Deus e tudo o que há de mais sagrado.
— E quanto ao Arc-sama e a Eliza-san?
Sei que Eliza não, mas não faço idéia quanto ao príncipe. Bem, vamos fazer esse pequeno favor a ele …
— Não se preocupe, posso garantir que eles não iriam comer um cão.
— Então, posso ficar com ele?
— Sim, você pode.
Ela realmente quer esse cão, hein? Ah, talvez essa seja a razão pela qual Toto não está por aqui. Acho que vou ter que explicar algumas coisas para ele amanhã.
— Pode ser bom ter um cão de guarda para proteger a estufa e as nossas plantações.
Este cão seria um grande assistente para o plano de vegetais gigantes da Iris.
— O que você quer dizer com isso? Quer que este cachorro lute!?
Estávamos falando de um cachorro enorme, que nem o Vaine, então era óbvio que ele iria lutar.
— É apenas uma tática de intimidação, na verdade ele não vai lutar. Vamos deixar ele solto assim, se alguém realmente atacar, ele poderá fugir.
— Sim, você ouviu isso? Fuja, Alfredo, fuja.
O que? Alfredo? Esse cachorro coberto de lama acabou de receber um nome com tamanha nobreza?
— Alfredo? Esse não é o nome dele, certo?
— Claro que é, foi o nome dei a esse cachorro.
Com esses olhos brilhando tal uma criança que acabou de receber um presente de Papai Noel, não tive coragem de refutar.
— Talvez eu devesse dar um banho nele.
— Excelente ideia, Iris.
Ela usou a água destinada às plantas para lavar o Alfredo. Tendo o corpo inteiro molhado, o pulguento começou a chacoalhar. Alfredo parecia confortável, com seus olhos estavam brilhando e a boca estava aberta. — ...Esse cara definitivamente não é um 'Alfredo', ele é um ‘Goro’.
— Quem é o não-cachorro mais bonito desse mundo? Quem é, não é, Alfredo?
Sua pele ficou fofa depois que Iris o secou e agora, ela o estava abraçando. Eu queria abraçá-lo também, mas só quando não tivesse mais ninguém olhando.
— Vou pegar os materiais para a casinha na escola.
— Direi à tia no refeitório para garantir comida para ele todos os dias!
— Eu também vou fazer uma coleira e gravar o símbolo de um Cavaleiro!
Cavaleiro dos Campos? Isso soa engraçado e legal. Eu também farei alguns acessórios de escudo em sua coleira. — Já fazia muito tempo desde a última vez que havia me animado para forjar algo.
— Bem, siga-me Alfredo, preciso medir o seu pescoço.
Comecei a andar mas não vi Alfredo atrás de mim. Quando olhei para trás para ver o que estava acontecendo, ele ainda estava ao lado de Iris.
Bem, isso foi inesperado.
— Oh Alfredo, vamos lá. Vou fazer uma coleira para você, uma excelente.
'Dane-se' era o que o rosto dele dizia.
Hã!? — Fiquei surpreso. Eu estava tão animado em cuidar do cachorro com a Iris que esqueci de algo muito importante. Ele havia acabado de me conhecer, então, ainda não estava apegado a mim.
O que há com esse mal-entendido embaraçoso? Quero dizer, pensando calmamente, ainda sequer fiz carinho nele.
— Alfredo, vamos ao quarto do Kururi juntos ♥.
Quando Iris saiu, Alfredo a seguiu direitinho enquanto balançava a cauda. Em meu coração, decidi que esse cachorro pulguento se chamaria Goro e o acessório da coleira não será um escudo, mas sim uma batata.
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