Capítulo 47


Três dias depois que Lotson revelou sua situação matrimonial para Iris, ela finalmente se recuperou do choque, embora ainda a vejo suspirando de vez em quando. Vaine se desculpou várias vezes por ter rido, mas não acho que estava de fato arrependido. 
Para animá-la de sua perda, levei-a para caçar e Vaine veio conosco. Essa foi a última coisa que fizemos juntos antes dos dois partirem para suas casas.
Agora que os convidados saíram, a mansão ficou bastante silenciosa. Meu pai retornou na mesma época e agora diz que enfim poderia ter o lugar para si. Embora não se movesse muito, ele começou a pular de alegria recentemente. — Sim, meu pai, aquele velho gorducho estava pulando. Não pode ser…
— Pai, acalme-se já.
— Finalmente posso me divertir em minha própria casa, depois tanto tempo!
— Mamãe vai ficar brava se o senhor não parar.
— Está tudo bem, Tou-chan está muito feliz agora. — Ele dizia isso, enquanto pulava e cantarolava uma musiquinha irritante.

Posso ter tomado a casa por muito tempo e não o deixei ter liberdade. Desculpe pai, o senhor pode se divertir, não vou mais impedí-lo.

— Com licença, Kururi-sama, um relatório urgente chegou.
Um relatório foi trazido até nós e o criado que o carregava tinha uma expressão muito séria. Algo havia acontecido e o descanso curto de meu pai chegou ao fim.
— Pai, chegou um relatório urgente. — Levei o empregado para até a sala.
— Qual o problema, que é relatório?
— Meu senhor, o Lorde Feudal do território vizinho, Conde Marl Karack-sama, chegou ao domínio e estará aqui em breve.
— O QUÊ!? — Meu pai passou de feliz para angustiado em menos de um segundo.
— ARGH, minha perna, minha perna... — Socorri o meu pai que machucou sua perna após um salto, massageando o local da dor.
— A culpa é do senhor de ficar pulando que nem um velho doido.
— Kururi, meu filho, não é isso…
— O que você quer dizer, pai?
— Marl Karack…
Ele estava muito angustiado. Qual seria o motivo para tanta preocupação? Agora que penso sobre isso, o Território Marl não era o lugar de onde Iris veio? Ouvi dizer daqueles que fugiram para cá, que Marl não era um bom senhor para o seu povo.
Domínio do Lorde Marl, não tenho uma boa impressão disso. Que tipo de pessoa é esse Conde?
— Papai, você conhece o Senhor Marl? — Perguntei ao meu pai cujo rosto estava pálido.
— Esse cara era…
— Se é uma memória dolorosa, não há necessidade de se forçar a me dizer.
— Não, não é filho. Eu e aquele cara éramos antigos colegas de classe.
— Colega de classe, hein? — Então esse foi o tipo de relacionamento que tiveram, embora claramente essa palavra contenha um significado a mais.
— Marl era um estudante perfeito no passado, ele podia fazer tudo melhor que eu, estudar, praticar esportes, etc.
— Sim.
— Era mais popular com as garotas do que eu.
— Sim, eu entendo…
— Um dia, tivemos uma briga e perdi. Eu me sentia inferior a ele de tantas maneiras que cada vez que o via, me lembrava daquela briga e mais uma vez sentia medo.
— Eu entendo pai, não há necessidade do senhor vê-lo. Deixe-me cuidar dessa situação.
— Não filho, não permitirei isso. Eu o entendo melhor que qualquer um e preciso encará-lo. Não posso permitir que você tenha que carregar até mesmo esse fardo por mim, do contrário, como posso me chamar de seu pai?

Meu pai tinha um bom olhar em sua face. Ele estava muito legal agora. — O quão terrível era esse Marl? Tal pessoa se aproximando de nosso território sem aviso prévio, definitivamente não era coisa boa.

— Bem, pai, então vamos enfrentá-lo juntos, como pai e filho.
— Tudo bem mesmo, Kururi?
— Claro, vamos passar por momentos dolorosos e difíceis juntos, como família.

— Hahaha, como tenho orgulho de meu filho! Tou-chan não pode ficar para trás então!

 Meu pai pisou no chão com o pé que ele havia machucado e levantou-se rapidamente. Ouvi dizer que aqueles que estavam determinados a pisar no campo de batalha, possuíam olhos como estes. Acho que meu pai estava assim agora.
Eu também tenho que estar preparar para enfrentar o inimigo de nossa família.

— Ei, faz muito tempo que não te vejo, Toral?
— Oh sim, tem sido um longo tempo, Lorde Marl.
A pessoa que acabou de chegar era o Lorde Marl. Ele entrou como se fosse o dono do lugar e se sentou no sofá sem nenhuma preocupação. De repente, senti meu humor piorar por causa de sua atitude arrogante perante meu pai, que havia falado de uma maneira educada, no entanto, recebeu apenas uma resposta em tom descortês. Senti uma sensação nauseante só de olhar a cara dele.
Essa pessoa na minha frente era realmente de quem estávamos falando? Eu pensei em alguém como o Príncipe, mas a diferença desse cara era demais. Em minha imaginação, ele seria uma versão mais simples de alguém que conquistou tudo o que queria na vida. — Sabe, como Kujo Jotaro [1], mas essa criatura na minha frente é realmente aquele Lorde Marl? 
Ele parecia que tinha vários porcos dentro da própria barriga, assim como seu rosto também lembrava a dois porcos. Meu pai elogiado sua inteligência, mas pelo que podia ver, seria surpreendente se ele soubesse quanto era 1+1. — Esse cara é o Kujo Jotaro!?
Sinceramente eu esperava que fosse uma brincadeira feita pelo verdadeiro Marl para nos provocar, mas poderia ser que meu pai, de alguma forma, havia exagerado em sua mente a imagem que possuía do Conde devido ao medo causado pela briga. Eu meio que entenderia se fosse o caso.

— Toral, você não mudou.
— Lorde Marl também.
Oh, então era realmente coisa da cabeça de meu pai. Nem no inferno esse cara seria popular com as garotas.
— Desculpe, mas eu gostaria de apressar isso e te perguntar uma coisa.
— Não me importo nem um pouco. O que você quer perguntar?
Marl se sentou como se fosse o dono de tudo e continuou com sua atitude grosseira, me fazendo sentir mais e mais irritado a cada minuto que passava aqui.
— Toral, seu domínio tem sido próspero ultimamente não tem?
— Sim, graças às nossas reformas.
— Sim, por causa dessas reformas, muitos dos meus trabalhadores fugiram para cá, assim, os impostos que recebi foram reduzidos.
— Bem, sim, é o que parece.
— Por isso quero que você me compense com dinheiro em espécie ou enviando trabalhadores do seu domínio.
— Isso não é possível. O reino não permite esse tipo de compensação e o movimento de cidadãos não é imposto pela lei capital.
— Então, basta entregar o dinheiro e eu vou sair.
Eu estava ouvindo atrás do meu pai, mas por mais incrível que pareça, era tudo merda. Pelo que ouvi de Iris, o imposto era pesado em seu território, então as pessoas fugirem de lá seria natural, considerando os baixos impostos e as oportunidades favoráveis de emprego aqui.
Um lorde deve satisfazer o povo e manter seu domínio próspero, mas esse porco agia como se ele fosse a vítima. Não, de sua atitude, ele sabia o que estava acontecendo e apenas portava-se como se nada estivesse errado. Compreendo que meu pai tenha atendido muitas de suas demandas, mas isso não vai acontecer dessa vez.
— Oink, oink, oink, para um mero proco, você com certeza diz coisas muito egoístas.
Minha paciência com esse cara já acabou. Originalmente, pensei que seria uma conversa muito civilizada e respeitosa, mas sua atitude e egoísmo, e mais do que qualquer outra coisa, o jeito que ele estava olhando para o meu pai, eu simplesmente não podia mais suportar.

— Do que você está falando? Toral, tira-o daqui. Pessoas de fora devem saber o seu lugar.
— Meu nome é Kururi Helan e sou o próximo senhor desse território e filho de Toral Helan. Não sou de forma alguma um estranho.
— Toral, controle seu filho.
— Kururi…
— Papai, por favor, fique em silêncio agora, eu vou lidar com ele. Conde Marl, o que você está dizendo é impossível e nunca irá acontecer. Por favor, saia daqui imediatamente.
— Não, isso não ficará assim! Meu território sofreu porque o seu de repente ficou melhor, assim eu devo ser compensado!
— Então para compensação pelos danos, eu deixarei você levar 10 melancias para sua mansão.
— Isso não é suficiente, pirralho!
— Ah, então 15, mas com exceção dessas 15 melancias, você não sairá com mais nada.
— Surpreendente, estou muito bravo agora!
Marl estava acariciando seu queixo. Ele realmente achava que eu aceitaria esse tipo de demanda? Foi bom ter meu pai como seu colega de classe, não foi? Mas agora você terá que enfrentar a mim e não pense que conseguirá passar com essas demandas nunca mais!
— Toral, convença seu filho tolo já!
— Kururi…
— Do que tem medo, pai? O senhor deveria estar chutando a bunda dele e não cumprindo suas demandas! O senhor é que está com a razão aqui, pai, não importa o que porco algum diga! — Disse ao pai para se livrar do Conde Marl com confiança de que estávamos certos.
— TORAAAALLLL!!!
— PAPAAAAAAAAAIIIII!!!
Meu pai manteve a cabeça baixa e não parecia que ele ia responder, mas isso estava bem para mim. Nenhuma resposta aqui significava que ele concordava comigo. Depois, era só chutar o porco.
— Toral, você sempre foi assim. Sempre mantendo a calma em tempos difíceis. Eu vou lhe perguntar novamente: Qual a sua resposta ao meu pedido?
— Não, meu pai e eu não iremos ceder às suas demandas!
Conde Marl me encarou e eu o encarei de volta. Caso vacilasse aqui e desviasse o olhar, então iria perder.
— Muito bem então, deixe-me mudar a perspectiva de minha pergunta. Irei chamar Deauville-senpai  aqui.
— O QUÊ!? AYAN DEAUVILLE-SENPAI!?
Era impossível eu não conhecer o nome de Ayan Deauville.
O primeiro-ministro. Seu poder sobre o país só poderia ser rivalizado pelo Rei. Mas, na verdade, seu poder era sem dúvida muito maior que o do rei devido suas conexões e ele também era pai de Eliza.
Original no jogo, ele foi demitido por corrupção ao ser descoberto pelo Príncipe, agora ele estava seguro. O primeiro-ministro é o Senpai dele.

— Toral, porque seu filho me provocou, agora vou ter que envolver outra pessoa para você levar isso a sério.
— Deauville… — O rosto do meu pai ficou pálido pelo susto que ele recebeu.
— Toral, deixe-me informar seu filho idiota do nosso relacionamento. 
Deauville-senpai e eu somos amigos desde os tempos de escola, sou querido por ele e temos estado juntos mesmo depois de nossa formatura.

Observava seu rosto suíno sorrir enquanto um suor frio deslizava pelo meu pescoço. O vento mudou completamente em sua direção, e o mais irritante de tudo era ele pensar ser superior a nós.
— Eu só tinha planos de pedir um pouco de dinheiro do seu pai mas vendo sua atitude, menino, mudei de ideia. Vou pedir ao Deauville-senpai para me ajudar a tomar todo este domínio secretamente de vocês. — Ele deu uma risada doentia que só poderia vir de um porco.

Do rosto de meu pai, posso dizer que essa história era real e esse homem tinha ligações com o primeiro-ministro.
Por que o pai de Eliza estava sendo usado por esse tipo de gente é que ele foi demitido? O que você está fazendo, futuro sogro?
Porcaria, eu não tinha nada que pudesse opor-se ao primeiro-ministro, então o único resultado seria a derrota. Meu trunfo era a futura rainha, mas Iris não tinha esse tipo de poder agora e nem havia a certeza de que isso viria a se concretizar.
— Peço desculpas por tomar minha atitude indelicada, mas não acredito que seja uma boa ideia o senhor envolver o primeiro-ministro… Peço desculpas, então por favor.
— Não, não, eu não quero seu pedido de desculpas, eu quero uma compensação em dinheiro, não?
— Vamos entregar produtos especiais tanto quanto possível, embora o nosso território esteja prosperando, não podemos nos dar ao luxo de poupar dinheiro, por favor, perdoe-me.
— Garoto, você é realmente idiota não é? Você não entende nada, como esperado de seu filho, Toral. Estúpido como você nos tempos de escola, os genes completos e absolutos de um tolo!
Ele estava apenas dizendo o que queria, essa era a primeira vez em toda a minha vida que tive que engolir algo assim, mas não tinhamos escolha. Embora não ache que isso funcionará, ficarei incomodado se você ligasse para o primeiro-ministro. A revitalização do nosso domínio apenas começou, não haveria dinheiro extra depois de todas as reformas que eu fiz. Teria que inclinar minha cabeça para proteger o Território Helan.

— Por favor, sinto muito, mas não chame o primeiro-ministro ou peça dinheiro. — Estou desesperado e não tenho mais cartas para jogar, por favor, que isso funcione!
— Você é mesmo burro. Eu não vou dar ouvidos a uma criança, vou chamar o Deauville-senpai! BUWAHAHAHAHAHA!
Não deu certo? Eu arruinei nosso domínio com meu ato idiota? Eu realmente não sei nada…
— Kururi…
Ouvi o pai chamar meu nome e quando olhei para ele, pude ver em seus olhos como estava furioso.

— Kururi, não há necessidade em se desculpar.
— Mas, pai...
Meu pai foi à frente do Conde Marl.
— Conde Marl… Não, seu porco idiota!
— Huh!? O quê disse!?
Quase não consegui ouvir o que meu pai havia dito para ele.
Ele chamou de porco estúpido o seu inimigo mortal?
— Eu posso até suportar todo o abuso que você fizer contra mim, mas não irei tolerar que você insulte meu filho brilhante!!! TOME ISSO, SEU PORCO ESTÚPIDO!!! — Imediatamente enquanto gritava, meu pai deu um soco no queixo de Marl, que foi atingido com força e caiu da cadeira.
— TORAL, VOCÊ!!!
Marl tomou um belo soco no queixo. Eu não sabia que meu pai era capaz de fazer isso.
— Escute, seu porco idiota!! Chame o primeiro-ministro ou o Rei! Assim que fizer, declararemos guerra à você!
— Eu tentei resolver isso com palavras, Toral. Você vai se arrepender do que fez.
— Eu não consigo entender sua língua de porco estúpida, agora deixe meu território de uma vez!
— Toral, seu desgraçado, não há como voltar atrás depois!
— Eu não planejo voltar. Se você não sair logo, vou mandar os guardas te matarem!
— HIIIII!!!
Depois da troca, Marl correu para sua carruagem como um porco assustado.

Quando me aproximei de meu pai, seu corpo estava tremendo um pouco. Meu pai covarde se tornou um leão pelo bem de seu filho tolo.

— Pai, o senhor foi tão legal.
— Fui?
Dessa forma, agarrei suas mãos trêmulas e sorri para ele.

— …Kururi, o quê devo fazer? — Depois que o modo despertado acabou, ele voltou a ser o covarde adorável de sempre. Embora o pai desperto seja incrível, eu preferia ele assim. Sem sombra de dúvidas.
— Deixe o que vier depois comigo! — Eu disse isso com um sorriso no rosto. 

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